UMA REFERÊNCIA DE HONESTIDADE
Fio
de Prumo
Por:
Paulo Morais
Paulo Morais
Professor
Universitário
Direitos de passagem
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O governo português
entregou a gestão dos aeroportos portugueses ao grupo francês Vinci, através do
obscuro processo de privatização da ANA, Aeroportos de Portugal.
Como
a Vinci é também o acionista de referência da Ponte Vasco da Gama, adivinha-se
já que não deixará de construir um novo aeroporto em Alcochete, a que apenas se
pode aceder pela ponte. Assim, dentro de pouco tempo, todos quantos viajem de
avião de e a partir de Lisboa terão de remunerar duplamente a Vinci. Pagarão
não só as taxas de aeroporto, como até o acesso a Alcochete.
Com
a construção do novo aeroporto de Lisboa (NAL) na margem sul, o tráfego da
ponte aumentará previsivelmente em mais de 40%. Também se multiplicarão os
lucros da Lusoponte, da Vinci e dos seus parceiros.
Além
disso, o desmantelamento do aeroporto da Portela irá permitir a
disponibilização de terrenos no centro de Lisboa que, uma vez libertos, irão
servir a especulação imobiliária. Já se antevê a construção de empreendimentos
imobiliários para classe média-alta europeia na zona da Portela. Quem lucrará
com isso? A Vinci, que assim financia a construção do NAL e, claro, os
favorecidos de sempre, promotores imobiliários e banca.
A
pressão para que este negócio se concretize é de tal ordem que até veio
desembrulhar um problema insolúvel durante décadas, que opunha governo e Câmara
de Lisboa: o da transferência para a ANA dos terrenos da Portela que pertenciam
à autarquia lisboeta.
Com
toda esta operação, privatização da ANA associada à alienação dos terrenos pelo
município lisboeta, os novos donos dos aeroportos portugueses estão de mãos
livres (que não limpas) para fazerem o que muito bem entenderem.
É óbvio que vão
desmantelar o aeroporto da Portela e construir o NAL em Alcochete. E assim, no
futuro, quem viajar até Lisboa de qualquer parte do mundo e todos aqueles que a
partir de Lisboa rumem a qualquer paragem, terão de pagar a portagem da Ponte
Vasco da Gama. Esta portagem será a versão pós-moderna e equivalente aos
direitos de passagem que eram devidos aos senhores dos feudos da Idade Média.
Com a conivência de governantes portugueses, o presidente do grupo Vinci terá
poderes feudais em Portugal.
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