O ESTADO DAS NAÇÕES
Normalmente quando um texto tem muito interesse, depois de
falar sobre ele, fazemos um link.
Não é o caso presente, pois dada a importância excepcional
do seu conteúdo, achamos por bem deixar o seu registo histórico assinalado
neste Blogue de forma especial.
De facto, trata-se de um texto publicado no “Diário.info” no
passado dia 29 de Agosto, de autoria de James
Petras e numa tradução de André Rodrigues e que constitui um lúcido relato histórico, da perigosa situação em actualmente
se encontra a humanidade e dos elevados riscos que estamos a correr, de fazer
desaparecer o homem da superfície da Terra.
O título com que encimámos esta apresentação, é uma glosa ao
habitual debate sobre o estado da nação praticado em diversos países, tornando neste
caso o relatório extensivo a praticamente todo o mundo.
A FúRIA DO IMPERADOR: O CAOS TOMARÁ O MUNDO!
Introdução: O caos está instalado e vai-se espalhando à medida que chefes de estado
enfurecidos nos EUA, na Europa e seus clientes e aliados prosseguem guerras
genocidas. Guerras mercenárias na Síria; o bombardeio terrorista de Israel em
Gaza; guerras por procuração na Ucrânia, Paquistão, Iraque, Afeganistão, Líbia
e Somália.
Dezenas de milhões de refugiados fogem de cenários de destruição total. Já nada
é sagrado. Não há santuários a salvo. Casas, escolas, hospitais e famílias
inteiras constituem alvo de destruição.
Caos por encomenda
No centro do caos, o Presidente Obama, de olhar ameaçador, ataca cegamente,
alheio às consequências, disposto a arriscar um descalabro financeiro ou uma
guerra nuclear. Reforça sanções contra o Irão; impõe sanções à Rússia; constrói
bases de mísseis que podem atingir Moscovo em cinco minutos; envia drones
assassinos contra o Paquistão, Iémen e Afeganistão; fornece armas aos
mercenários na Síria; treina e equipa curdos no Iraque e financia a selvajaria
de Israel contra Gaza.
Nada funciona
O presidente responsável pelo caos ignora o facto de que impor a fome aos
adversários não assegura a sua submissão: promove a unidade na resistência. A
mudança de regime, impondo intermediários pela força e usando subterfúgios,
pode destruir o tecido social destas complexas sociedades: milhões de
camponeses e trabalhadores tornam-se refugiados desenraizados. Movimentos
sociais populares são substituídos por grupos criminosos organizados e
exércitos de bandidos.
A América Central, produto de décadas de intervenções militares diretas e por
intermediários, que impediram as mudanças estruturais mais básicas, tornou-se
um inferno caótico, insuportável para milhões. Dezenas de milhares de crianças
fogem da pobreza em massa induzida pelo “mercado livre”, estado militarizado e
violência gangster. Crianças refugiadas na fronteira com os EUA são detidas em
massa e presas em campos de detenção improvisados, sujeitos a abuso
psicológico, físico e sexual por funcionários e guardas lá dentro. Cá fora,
estas crianças miseráveis são expostas ao ódio racista de um público
norte-americano assustado, não ciente dos perigos a que estas crianças escapam
e do papel do governo os EUA na criação deste inferno.
As autoridades de aviação de Kiev, apoiadas pelos EUA, redirecionaram
companhias aéreas internacionais de passageiros para voar sobre zonas de guerra
repletas de mísseis antiaéreos, enquanto aviões de Kiev bombardearam as cidades
rebeldes. Um voo foi abatido e cerca de 300 civis morreram. Imediatamente se
seguiu uma explosão de denúncias de Kiev culpando o presidente russo Putin,
inundado meios de comunicação ocidentais, sem factos reais para explicar a
tragédia / crime. O beligerante Obama e os primeiros-ministros lacaios da UE
dispararam ultimatos, ameaçando converter a Rússia num estado excluído.
“Sanções, sanções por toda a parte… mas primeiro… A França deve dar por
terminada a sua venda de 1,5 mil milhões à marinha russa.” E Londres protege os
oligarcas russos, livres das sanções, envolvidos como estão na lavagem de
dinheiro feita nesta cidade, na economia parasita do estilo FIRE (Fire,
Insurance and Real Estate). A Guerra-fria regressou e deu uma destas voltas… À
excepção dos negócios.
A confrontação ente os poderes nucleares está eminente: e os maníacos estados
do Báltico e a Polónia reclamam mais alto pela guerra com a Rússia, esquecendo
a posição em que estão, na linha da frente de fogo.
A cada dia, a máquina de guerra israelita dizima mais crianças em Gaza,
enquanto continua a deitar mentiras cá para fora. Judeus israelitas assistem,
entusiásticos, das suas colinas fortificadas, e celebram cada míssil que atinge
os prédios e as escolas do bairro Shejaiya, densamente povoado, numa Faixa de
Gaza cercada. Um grupo de empresários ortodoxos e seculares em Brooklyn
organizou excursões para visitar as cidades sagradas durante o dia e desfrutar
a pirotecnia em Gaza durante a noite… óculos para visão nocturna estão
disponíveis por pouco mais, para ver as mães em fuga e as crianças queimadas.
Mais uma vez, o Senado dos EUA vota unanimemente em apoio à última campanha de
genocídio israelita; parece que não há crime suficientemente deplorável para
abanar os escrúpulos dos líderes dos EUA. Ficam próximo de um texto assinado
pelos 52 presidentes das maiores organizações judaicas dos EUA. Todos juntos
abraçam a besta do Apocalipse, agarrados à carne e aos ossos da Palestina.
Mas, helas! os sionistas franceses dominam o “presidente socialista” Hollande.
Paris bane qualquer manifestação contra Israel apesar dos relatórios
inequívocos de genocídio. Os manifestantes que apoiam a resistência em Gaza são
gaseados e batidos pelas forças especiais antimotim. O “socialista” Hollande
serve as exigências das poderosas organizações sionistas, desprezando as
tradições republicanas do seu país e os seus sagrados “Direitos do Homem”.
Os jovens manifestantes de Paris responderam com barricadas e pedras da calçada
nas melhores tradições da Comuna de Paris, agitando as bandeiras de uma
Palestina Livre. Nem uma “bandeira vermelha” em vista: a esquerda “francesa”
escondeu-se debaixo da cama ou então foi de férias.
Há sinais preocupantes longe dos campos de batalha. As bolsas de valores
agitam-se enquanto a economia estagna. Os especuladores selvagens regressaram
no seu esplendor, aumentando a distância entre a economia fictícia e real que
havia antes do “dilúvio”, o caos que anuncia outro crash inevitável.
Em Detroit, outrora grande centro da América industrial, a água potável é fechada
a dezenas de milhares de pobres que não podem pagar serviços básicos. Em pleno
Verão, famílias urbanas têm de fazer as necessidades em ruelas, azinhagas e
descampados. Sem água, os sanitários entopem, as crianças não se lavam. Roscoe,
o canalizador, diz que o trabalho está para além das suas possibilidades.
De acordo com os nossos economistas famosos, a economia de Detroit está “a
recuperar … os lucros subiram, apenas as pessoas sofrem”. A produtividade
duplicou, os especuladores estão satisfeitos; as pensões são cortadas e os
salários descem; mas os Detroit Tigers estão em primeiro lugar.
Os hospitais públicos fecham por todo o lado. Em Bronx e em Brooklyn, serviços
de urgência estão à pinha. É o caos. Os internos fazem turnos de 36 horas… e os
doentes e feridos arriscam a sorte perante um médico com privação de sono.
Entretanto, em Manhattan, os clínicos privados e a cirurgia estética para as
elites prosperam.
Os escandinavos apoiam o poder instalado por via de um golpe de estado em Kiev.
O Ministro dos Estrangeiros sueco Bildt grita por uma nova guerra fria com a
Rússia. O emissário dinamarquês e líder da NATO, Rasmussen, saliva obscenidades
ante a perspetiva de bombardear e destruir a Síria, repetindo a “vitória” da
NATO sobre a Líbia.
Os líderes alemães patrocinam o genocídio israelita em Gaza; estão
confortavelmente protegidos de qualquer consciência moral pela sua nostálgica
“culpa” pelos crimes nazis de há 70 anos.
Terroristas da Jihad no Iraque financiados pela Arábia Saudita mostraram a sua
“misericórdia infinita” simplesmente retirando milhares de cristãos da antiga
Mossul. Quase 2 000 anos de contínua presença cristã foi o bastante. Pelo menos
muitos escaparam ainda com a cabeça entre as orelhas.
Caos por toda a parte
Mais de cem mil agentes da Agência de Segurança Nacional dos EUA são pagos para
espiar dois milhões de cidadãos e residentes muçulmanos nos EUA. Mas, por todas
as dezenas de milhares de milhões de dólares gastos e dezenas de milhões de
conversas gravadas, a caridade islâmica é alvo de processos e há filantropos
que são apanhados em emboscadas.
Onde caem as bombas ninguém sabe, mas as pessoas estão a fugir. Milhões fogem
do caos.
Mas não têm para onde ir! Os franceses invadem meia dúzia de países africanos
mas os refugiados veem recusado asilo em França. Milhares morrem no deserto, ou
afogados a atravessar o Mediterrâneo. Aqueles que conseguem são chamados
criminosos ou relegados para guetos e campos.
Reina o caos em África, no Médio Oriente, na América Central e em Detroit. Toda
a fronteira dos EUA com o México se tornou um centro militar de detenção, um
campo prisional multinacional. A fronteira está irreconhecível para a nossa
geração.
Reina o caos nos mercados, mascarado de sanções de natureza comercial: ontem o
Irão, hoje a Rússia, amanhã a China. Washington deverá tomar cuidado! Os seus
adversários estão a encontrar terreno comum, a estabelecer comércio, a forjar
acordos, a construir defesas; os seus laços estão mais fortes.
Reina o caos em Israel. Obcecados pela guerra, os israelitas descobrem agora
que o povo eleito de Deus também sangra e também morre, os seus corpos também
perdem membros e olhos nas ruas de Gaza, onde homens e rapazes pobres defendem
a sua terra. Quando as celebrações derem lugar a lamentações, irão reeleger
Bibi, o seu açougueiro de serviço? Os seus irmãos do outro lado do oceano, que
financiam Israel, os homens dos lobbies e os comentadores beligerantes, irão
automaticamente adoptar uma nova face, sem questões, arrependimentos, ou (Deus
não permita!) autocrítica; se é “bom para Israel e para os Judeus”, tem de ser
justo.
O caos reina em Nova Iorque. Julgamentos favorecem os piratas e os seus fundos
depredatórios, que exigem um retorno de mil por cento em fundos argentinos. Se
a Argentina rejeitar esta chantagem financeira, as ondas de choque irão
sentir-se nos mercados financeiros globais. Os credores irão tremer de
incerteza: irá crescer o medo de um novo crash financeiro. Conseguirão sacar
mais um resgate de triliões de dólares?
Mas onde está o dinheiro? As máquinas trabalham dia e noite para o imprimir. Há
poucos botes salva-vidas… o suficiente para os banqueiros e Wall Street, os
outros 99% terão de nadar ou servir de comida para os tubarões.
A imprensa financeira corrupta agora aconselha os senhores da guerra sobre que
país bombardear, e os políticos sobre como impor sanções económicas; já não
fornecem informação escorreita sobre economia, nem aconselham os investidores
sobre os mercados. Os seus editoriais irão incitar um investidor a correr para
comprar este mundo e o outro enquanto os bancos vão à falência.
O presidente dos EUA está quase a ter um esgotamento: é um mentiroso de
proporções dantescas e com um caso grave de paranoia política, histeria bélica
e megalomania. Está fora de controlo, aos berros: “eu mando no mundo: são os
EUA ou o caos”. Mas, cada vez mais, o mundo tem outra mensagem: “São os EUA e o
caos”.
Wall Street abandona-o. Os russos traíram-no. Os mercadores chineses fazem
agora negócios em todos os lugares onde estávamos e deveríamos estar. Jogam com
dados viciados. Os teimosos somalis recusam submeter-se a um presidente negro:
rejeitam este “Martin Luther King dos drones”… Os alemães mordem os dedos,
furiosos, à medida que os americanos monitorizam e gravam cada uma das suas
conversas… para sua própria segurança! “As nossas corporações são ingratas,
depois de tudo o que fizemos por elas”, rosna o primeiro presidente negro.
“Fogem dos nossos impostos enquanto subsidiamos as suas operações!”
Soluções finais: o fim do caos
A única solução é continuar: o
caos gera o caos. O Presidente esforça-se por proteger a sua “liderança”. Faz
aos seus conselheiros mais próximos perguntas muito difíceis: “Por que razão
não podemos bombardear a Rússia, como Israel bombardeia Gaza? Porque não
construímos uma ‘cúpula de ferro’ sobre a Europa e anulamos os misseis
nucleares russos, enquanto abrimos fogo sobre Moscovo das nossas novas bases na
Ucrânia? Que países deverá a nossa ‘cúpula’ proteger? Tenho a certeza que os
povos da Europa de Leste e dos estados bálticos farão de bom grado o sacrifício
supremo. No fim de contas, os seus líderes espumavam por uma guerra com a
Rússia. A sua recompensa, uma devastação nuclear, será um preço pequeno para
assegurar o nosso sucesso!”
O lobby sionista insistirá que a nossa ‘cúpula de ferro’ deverá proteger
Israel. Mas os sauditas poderão tentar subornar os russos a poupar os campos do
petróleo enquanto Moscovo aponta às bases de mísseis dos EUA perto de Meca. Os
nossos aliados nucleares no Médio Oriente terão mesmo que mudar para uma nova
terra sagrada.
Obama e os seus conselheiros pensarão em reduzir a população asiática em um ou
dois milhões? Estarão a planear várias centenas de Hiroshimas pelo facto de os
chineses terem pisado as “linhas vermelhas” do Presidente? A economia e o
comércio chineses cresceram demasiado depressa, expandiram-se demasiado
depressa, tornou-se demasiado competitiva, demasiado competente, demasiado
bem-sucedida em obter quotas de mercado, e os chineses ignoraram os nossos
avisos e o nosso poderio militar sem paralelo.
A maior parte da Ásia irá respirar poeira nuclear, milhões de indianos e
indonésios morrerão como danos colaterais. Os que sobreviverem irão
banquetear-se com peixe radioactivo pescado num mar contaminado.
Para além do caos: um novo american way
Porque a nossa ‘cúpula de ferro’ irá falhar, teremos de reemergir das cinzas
toxicas e sair dos nossos abrigos, sonhando com uma América livre de guerras e
da pobreza. O reino do caos terá chegado ao fim. A “paz e a ordem” irão reinar
no cemitério.
Os imperadores serão esquecidos.
E nunca chegaremos a saber quem disparou o míssil que atingiu o malogrado voo
malaio com os seus 300 passageiros e tripulação. Teremos perdido a conta aos
milhares de palestinos, entre pais e filhos, esmagados em Gaza pelo povo eleito
de Israel. Não saberemos no que deram as sanções contra a Rússia.
Não importará, numa era pós-nuclear, depois do caos.