A QUESTÃO RELIGIOSA
A PROPÓSITO DE UMA INTERVENÇÃO DO CARDEAL PATRIARCA DE LISBOA
Nota-Por dificuldades técnicas, provocadas pelo novo grafismo do Blogue, só hoje publicámos este texto, relativo ao artigo do "Correio da Manha", de Domingo passado
Fiquei indignado com as palavras atribuídas ao Cardeal Patriarca numa festa de homenagem que, há dias, o povo da sua terra natal lhe quis fazer.
Era minha intenção escrever este texto limitando-me a repudiar as afirmações proferidas, imediatamente após ter tido delas conhecimento.
Para acautelar a hipótese de, no calor da minha indignação, ofender a sensibilidade dos católicos e ultrapassar a objectividade com que vejo o problema, reservei-me para só agora expor o meu pensamento sobre a matéria.
Por outro lado, resolvi alargar a questão a alguns conceitos mais abrangentes, que reflectissem a minha opinião sobre algumas questões religiosas com as quais discordo (independentemente da minha formação católica juvenil e de ter sofrido a fortíssima influência de uma mãe que eu adorava e cuja religiosidade tinha níveis de misticismo sincero).
Dados estes esclarecimentos prévios, vamos á questão central:
Considero as declarações do senhor Cardeal Patriarca, na homenagem que lhe foi prestada, extremamente graves, desajustadas, injustas e sobretudo ofensivas para quem, não professando a religião católica, faz da solidariedade o antídoto da caridade (tão cara aquele “príncipe” da Igreja) .
Entretanto, fruto dessa reflexão e dado o melindre do tema e da personagem envolvida, resolvi justificar detalhadamente a base em que assenta a análise dos meus argumentos, com a profunda convicção de que será suficiente para se perceber que não tenho a intenção de ofender quem da religião tem um conceito diferente do meu.
É na base desta intenção que aproveito para me pronunciar sobre a matéria que considero tendenciosa, abordada pelo Cardeal Patriarca e por arrasto, falar desses católicos que, influenciados por discursos e práticas semelhantes, vêm nos comunistas os seus principais inimigos.
Já por várias vezes escrevi que constitui para mim um mistério a forma como a hierarquia da Igreja Católica encara os comunistas.
- Não somos uma religião - razão primeira para negar a eventualidade de hipoteticamente fazer concorrência.
- Praticamos valores sociais que são tão dignos e fidedignos como os que estão inscritos na Encíclica “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII de15 de Maio de 1891.
- Alguns militantes comunistas, que até são quadros altamente responsáveis do Partido Comunista Português, são crentes e praticantes da religião católica apostólica romana
-Defendemos convictamente a separação da religião do Estado, questão tão justa e tão geralmente aceite, que até está inscrita na nossa Constituição e é praticada pela totalidade dos países europeus.
Agora também não queremos nem devemos iludir a questão!
A encíclica “Rerum Novarum” foi publicada para estancar a hemorragia de crentes sentida pela Igreja Católica na época, com o aparecimento das teorias sociais Marxistas e do Manifesto do Partido Comunista, que apelava a uma organização da Sociedade mais baseada na justiça social e solidariedade do que na fé e caridade, pólos preferenciais da actividade religiosa.
Curiosamente, sendo essa a resposta da Igreja aos desenvolvimentos revolucionários socialistas, recomendava esse papa na Encíclica Rerum Novarum (para manter a sua influência entre os humildes e os trabalhadores tentados pelas novas teorias políticas de igualdade, solidariedade e fraternidade):
a) Uma melhor distribuição de riqueza
b) A intervenção do Estado na economia a favor dos mais pobres e desprotegidos
c) A caridade do patronato aos trabalhadores.
d) A recomendação expressa de apoio ao direito dos trabalhadores de se organizarem em sindicatos.
O papa que defendia estas premissas era o mesmo que, influenciado pela classe dominante, era pressionado e aceitava convictamente o ancestral direito à propriedade privada, derivado do processo de produção capitalista.
A caridade, como função social, era uma premissa sócio-económica das relações de produção na época, admitida pela Igreja como fundamento tão essencial que perdura até aos dias de hoje.
Essa mentalidade conservadora dominante ajudava a desenvolver na Igreja os anticorpos contra o socialismo que, na base da evolução em curso, preconizava e levava á prática não só a separação entre a Igreja e o Estado como também a exclusiva responsabilização do Estado pelo bem-estar social dos seus cidadãos.
Este conceito já aparecera no brilhante período do chamado Iluminismo e precedeu o período revolucionário que deu origem à Grande Revolução de Outubro.
Contrariando a doutrina da Igreja que sempre se apoiou nas regras, prémios e castigos que garantiam serem determinados pela vontade divina (para o comum dos mortais poder alcançar as bem-aventuranças da vida eterna), o Estado passava a ter a obrigação de dar a cada um segundo o que produzisse, caminhando para uma cidadania que permitisse ir mais longe e dar a cada um segundo as suas necessidades.
Desde as primícias da humanidade que a superstição foi o caminho encontrado para explicar o inexplicável, dando aos sacerdotes o poder de decidir sobre essas matérias e influenciar de forma determinante o comportamento da Sociedade.
A grandiosidade do Universo, os fenómenos da natureza, vulcânicos, meteorológicos, astronómicos, físico-químicos, biológicos, rituais de fertilidade, exorcismos dos medos, etc., era atribuíveis a um ou vários seres superiores que dominavam a Natureza das coisas. Assim germinaram as superstições, cujas várias interpretações deram origem às mais variadas religiões, com os seus preferenciais intérpretes, os sacerdotes.
As matérias que ainda hoje o conhecimento não explica, no campo da ciência e do espiritual, são como um poço sem fundo onde se alojam todas as teorias do divino, para explicar o “ainda inexplicável”.
No campo da religião (no que diz respeito concretamente à chamada civilização greco-romana-judaica-cristã na qual nos inserimos), todos os ensinamentos de natureza divina assentam no Antigo e Novo Testamento, procurando aí divinizar o ser humano e a Natureza.
Em relação ao Cristianismo primitivo, criando os conceitos de Céu e Inferno (como prémio ou castigo do comportamento em vida) e aceitando e comungando a tese da continuidade da existência para além da morte.
No plano social, o inovador conceito do amor ao próximo (num clima de violência generalizada criado pelos exércitos romanos) dita uma sedutora regra moral de comportamento extremamente mobilizadora para novos crentes. A direcção da “seita” era atribuída a bispos, que se espraiavam pelo Império romano na captação desses novos simpatizantes.
As distâncias, a experiência pessoal de cada um, a capacidade de transmitir as mensagens, o tempo que já se passara sobre as experiências vividas pelos apóstolos, fazia com que os textos sobre as vivências de Jesus Cristo tivessem interpretações variáveis (muitas vezes sobre os mesmíssimos acontecimentos).
A primeira tentativa de obter um consenso na igreja sobre essas questões e da relação entre Jesus e Deus, o Pai, foi levada a cabo pelo imperador Constantino, no chamado Concílio de Nicéia, no ano 325 depois do nascimento de Cristo, segundo o calendário Gregoriano.
Os textos seleccionados pelos cerca de 300 bispos “sábios” reflectem a escolha do imperador Constantino, que para tal manipulou, pressionou e ameaçou os participantes de modo a obrigá-los a aceitar como autênticos os textos que preferia.
Esses textos vigoraram, com vários incidentes de percurso, até ao Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III no século XVI. Aí se decidiu considerar como autênticos (canónicos) apenas os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João (considerando os demais como apócrifos).
Esta decisão, devido às fragilidades da argumentação doutrinal, deu origem a que hoje haja 33.830 denominações cristãs, segundo a “World Christian Encyclopedia”.
Alongámo-nos um pouco sobre a religião cristã para que se entenda melhor a diversidade conceptual de crenças, rituais e designações, que leva a que, actualmente, dois biliões de seres humanos se digam praticantes de uma dessas vertentes.
No caso particular de Portugal, cerca de 85 % da população identificaram-se como católicos, embora só 10% sejam aquilo que se designa por “comungantes”.
Como se pode ler na “Wikipédia” em ”A Igreja Católica em Portugal”:
“A Igreja Católica mantém também em funcionamento uma rede apreciável de assistência social, de saúde pública e de educação, não necessariamente de educação religiosa. É ainda comum que em muitas cerimónias oficiais públicas, como inaugurações de edifícios ou eventos oficiais de Estado, haver a presença de um representante da Igreja Católica e da prática de actos religiosos católicos, como bênçãos ou missas. Em termos legais, a Igreja Católica tem ainda alguns antigos benefícios e privilégios específicos (que outras religiões não têm), consagrados actualmente na Concordata de 2004.”
Não é difícil, perante esta situação, concordar que na área religiosa, espiritual ou mística, a Igreja assume o direito de determinar o curso de algumas opções políticas que se confundam com a sua natural intervenção social.
Daí a importância que devemos atribuir ao que diz o seu principal responsável em Portugal que, como sabemos, é o Cardeal -Patriarca de Lisboa.
É importante recordar que, em Portugal, no campo religioso e especificamente até ao período fascista, o clero era geralmente mobilizado entre o povo (e eram escolhidos os que mais inteligentes se mostravam).
Para muitos destes, entrar para o Seminário representava a única forma de continuar a estudar e a ascenderam socialmente.
Não é por acaso que, na hierarquia de Igreja, a partir de certa “dignidade” o clérigo tem direito a ser tratado por Dom, resquício do vulgaríssimo tratamento devido a quem pertencia á nobreza.
Como é natural, a vida espiritual também evolui e o desconforto decorrente da falta (ou alteração) de convicção religiosa ou mística , de uma má formação, de uma deficiente escala de valores, da instintiva busca de prazeres carnais ou de uma visão materialista da história e da sociedade (se alguma vez chegasse a existir) obrigava, com o passar dos anos, a desistir da carreira religiosa ou a optar por camuflar o comportamento pastoral com uma atitude de hipócrita humildade.
Assim o exigia o ministério sacerdotal.
No entanto, a hierarquia da Igreja nunca hesitou em violentar as regras da sociedade ou do humanismo para se defender, ampliar a sua influência ou impor a sua vontade, sempre que para tal teve oportunidade, vantagem ou necessidade.
Historicamente, a Igreja católica foi desde sempre o braço direito do Poder.
Os dois mil anos da sua história já provaram que, independente do juízo dos chamados “bons corações” ou do rigoroso cumprimento de regras da doutrina cristã (por muito generosas que sejam teoricamente), não se resolve com a religião o problema da sociedade humana e sobretudo o da exploração do homem pelo homem.
Antes pelo contrário! Bem se sabe como, nos dias de hoje, o Vaticano está ligado visceralmente aos negócios da alta finança, da especulação financeira, das sociedades secretas e das dissimuladas ligações ao mundo da corrupção e manipulação financeira.
Não fora a dimensão universal da sua capacidade financeira, a influência que tem junto de grande parte dos governos (nomeadamente dos Estados Unidos), e o controle que exerce em grande medida sobre os meios de informação internacionais e muito mais se saberia.
Por outro lado, já tem atrás de si tantos anos de exercício de influência, dos mais variados tipos, que dificilmente se pode admitir que por aí venha a salvação da humanidade ou sequer a felicidade das populações. A realidade é que, paradoxalmente, os escândalos rebentam a todo o momento e de dimensão cada vez maior e mais vergonhosa.
“Diante do mundo do neo-liberalismo globalizado, a vocação religiosa tem que ajudar a formar sujeitos autónomos, livres, responsáveis, que saibam enfrentar o mundo do consumo, a idolatria do mercado, a ideologia de que não é possível mudar.”
“A vocação religiosa terá pela frente o desafio de se “ressituar”, “sem pretender formar instituições paralelas, que, muitas vezes, são pequenas ilhas de Cristandade numa sociedade que é secular, pluralista, já não de Cristandade”.
Nós comunistas, agentes activos de uma sociedade em evolução, acreditamos que só com justiça social, criando regras iguais para todos, acabando com as classes privilegiadas e com a exploração do homem pelo homem, justificaremos o destino que a Natureza traçou para o homem quando lhe deu a inteligência necessária para compreender o seu enquadramento social de uma forma justa e universal.
Como se vê, pouco ou nada nos distingue do que “teoricamente”é teologicamente proposto para criar uma sociedade mais justa, pela qual lutamos concretamente há mais de 100 anos.
As experiências fracassadas da comuna de Paris e da Grande Revolução de Outubro têm um grande significado ideológico, na medida em que as falhas cometidas são fruto de inexperiência, da originalidade dos processos e nada tiveram a ver com a verdade do socialismo, com a justeza dos seus conceitos e com a necessidade de uma verdadeira prática popular e democrática.
Gigantescos obstáculos têm tido de enfrentar o homem, na busca de uma Sociedade mais justa e solidária.
No que diz respeito á ex-União Soviética, não podemos nem devemos esquecer as sucessivas guerras de desgaste e rapina, após a guerra de 1914/18, Revolução e Contra-revolução.
Não devemos igualmente esquecer a guerra de 1939/45 e a exagerada área de reconstrução que se deparou á União Soviética, não só no seu território nacional como também no âmbito da ajuda que deu aos territórios que ficaram sob a sua influência, em resultado do Acordo de Postdam, feito no fim da 2ª Guerra Mundial, entre Wiston Churchill, Harry Truman e Josef Stalin.
Durante a chamada Guerra Fria, para salvaguardar a integridade territorial, foram levados a cabo enormes erros nas opções governativas. Produziram-se excessivos gastos militares que não geravam mais-valias e que eram um artificioso subterfúgio dos Americanos e de outros países capitalistas para debilitarem economicamente a União Soviética.
Finalmente, poderosas manobras de forças manipuladoras e dos meios de propaganda adversários minaram a confiança e os objectivos do projecto Socialista.
Nunca o Socialismo, como opção política, se opôs às opções religiosas das populações.
O que se procurou fazer foi separar a Igreja do Estado, critério comum a todos os países europeus, não privilegiando nem subsidiando a Igreja, praticando uma independência absoluta entre o político e o religioso.
Ainda hoje, para confundir a opinião pública e denegrir o regime da Ex-União Soviética, assistimos ao exagerado relevo que se dá nos média internacionais à intervenção da igreja ortodoxa nas cerimónias oficiais públicas, com a intenção de simular uma anterior proibição de culto religioso.
Outro sintoma negativo de anticomunismo é o cuidado com que se oculta o estado de primorosa conservação em que se encontram todas as igrejas e monumentos religiosos, situação que só pode ser justificada pelo apoio cívico e profundo respeito pelo direito de crença dos seus cidadãos.
Não me parece que, à luz de um qualquer critério religioso, esta ideologia (ou esta filosofia de vida), independentemente dos erros humanos de governação cometidos, possa ser justamente condenada.
Não é por acaso que existem católicos apostólicos romanos, protestantes e fiéis das mais variadas crenças que não se sentem absolutamente nada afectados, na sua vida espiritual, pelos princípios da filosofia comunista.
De resto, não é por opção política que se verão impedidos de continuar a acreditar em que após a morte terão acesso às benesses de uma vida eterna, pacífica e feliz, se for essa a sua crença religiosa.
A Globalização e o Neoliberalismo representam um refluxo civilizacional e a hierarquia da Igreja já está a colocar, como solução alternativa para matar a fome aos pobres, o exercício da caridade, em alternativa á necessária, moral e civicamente obrigatória solidariedade oficial do Estado (oferecendo igualmente o serviço das Misericórdias, em alternativa ao Serviço Nacional de Saúde).
Bastaria o nome da Instituição para se perceber o significado que terá em termos de humilhação (não por orgulho mas por um mínimo de dignidade), a todos aqueles que se vejam na necessidade de recorrer aos seus piedosos serviços.
O direito ao trabalho e o direito á saúde não são um privilégio dos cidadãos. São direitos inalienáveis.
O socialismo, tendo por horizonte a utopia, é a ideologia mais inspiradora e mobilizadora da inteligência humana na construção de uma Sociedade mais justa e na procura da harmonia através da solidariedade como resposta á evolução dialéctica da Natureza.
A área de actuação da religião é no campo espiritual.
É a política que está vocacionada para tratar das infra-estruturas que respondam às necessidades da população de um Estado civilizado e evoluído.
Pessoalmente consideramos que as regras morais e sociais sugeridas pela Igreja (sustentadas na crença de que após a morte o céu nos espera com as suas virtuais bem-aventuranças) são resultado de um enquadramento puramente supersticioso, mas respeitamos quem assim não pense.
Duma coisa estamos certos: quando a Igreja encosta a sua doutrina social às humilhantes noções de que a caridade é um fim legítimo para salvação das almas que a ela se dediquem, está a fazer uma proposta humilhante que mastiga e destrói o conceito de dignidade, inerente a todo o ser humano.
Vem toda esta reflexão a propósito de uma noticia do “Correio da Manha” , a propósito do Cardeal Patriarca de Lisboa, que em letras garrafais sentenciava:
”D.POLICARPO ATACA GRUPOS DE CLASSE”.
Curiosamente a notícia terminava dizendo:
PATRIARCA RECEBE IMAGEM DE RAFAEL BORDALO PINHEIRO
Fiquei a pensar que se trataria de uma metáfora ligada á tradicional imagem do “Zé Povinho”, simbolicamente cruzando os braços, dado o discurso deste superior responsável da igreja ser absolutamente inqualificável.
Percebi depois que se referiam à imagem de Santo António, que foi desenhada há mais de cem anos por Rafael Bordalo Pinheiro. Mal empregada!!!
Leia e pasme-se com o pensamento (ou ingenuidade, ou argúcia) atribuído ao Cardeal Patriarca na notícia do “Correio da Manha”:
“O Cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, referiu-se ontem com dureza contra "grupos de classe", entre eles os sindicatos, que põem os interesses individuais à frente do interesse nacional quando fazem reivindicações contra as medidas impostas pela troika.”
O dia era de festa mas D. José Policarpo não esqueceu os tempos difíceis que o País vive e, na homilia da missa que celebrou no pavilhão a que dá o nome, criticou os grupos que preferem defender "os nós individual" em vez do "nós grupal".
Quando li estes parágrafos, veio-me á memória a incongruência desta suprema autoridade religiosa, que pelo cargo que desempenha devia ter muito mais cuidado na forma como se expressa.
Curiosamente, está a renegar um dos fundamentais princípios da encíclica “Rerum Novarum”, que, como acima referimos, atribui aos Sindicatos um papel preponderante na defesa dos interesses dos trabalhadores.
E que outra entidade pode defender melhor esses interesses, do que a sua organização de classe - o Sindicato?.
Mais adiante acrescentava, segundo o “Correio da Manha”:
"Está a fazer-me muita confusão ver neste anúncio das medidas difíceis que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro que os grupos estejam a fazer reivindicações grupais, de classe. Não gosto", desabafou o prelado, perante 800 pessoas.
O Cardeal-patriarca não concretizou as críticas, mas ter-se-á referido a sindicatos e outras organizações que respondem com ameaças de greve contra as medidas de austeridade impostas pela troika e concretizadas pelo Governo.
Em primeiro lugar, gostaria que me pudessem explicar que responsabilidades terão os Sindicatos na gestão dos governos, que nos colocaram nesta desgraçada situação económica. Que medidas estão a ser tomadas para que os ricos ajudem “qualquer coisinha” a resolver a crise.
Que medidas defende a Igreja portuguesa para que haja justiça social e para que o povo não necessite de recorrer á “Misericórdia”mais próxima, se não quiser morrer de fome.
Que indignação pode e deve demonstrar o principal responsável da Igreja portuguesa, de modo a contribuir para que os ricos deixem de exportar para os offshores as suas fortunas, feitas de certeza à custa da exploração do trabalho dos outros.
Que atitude crítica deve aquele supremo pastor exercer, até como cidadão responsável, para que sejam tributados os bens móveis dos investidores (que não pagam um tostão de imposto sobre as acções, obrigações e outros títulos financeiros).
Como não se debruçar criticamente sobre as vergonhosas isenções fiscais que beneficiam as grandes fortunas?
Como não haver uma palavra justa da Igreja Portuguesa para condenar o privilegiado tratamento fiscal de que beneficiam os Bancos?
Que reconhecimento isento seria capaz de fazer um intelectual do gabarito de sua Excelência, sobre a injustiça que é serem os pobres (os trabalhadores, os jovens desempregados, os reformados) que sofrem os horrores da crise e que estão condenados a pagá-la integralmente?
Será que sua Excelência, D. José Policarpo, vai fazer coro com os mais ricos deste mundo, que estão a chorar por pagar mais impostos?
Olhe senhor Cardeal, a Igreja nesse campo tem muitos rabos de palha!!!
E que forma de luta mais eficaz, nos aconselhará D. José Policarpo?
Para D. José Policarpo, Portugal tem de ultrapassar este momento"em diálogo com os outros países, mas, sobretudo, dando as mãos procurando o bem de Portugal e não o bem de cada grupo, de cada pessoa". "Todos somos chamados a vencer o egoísmo, a pensar no nós e não no eu", reforçou o prelado!
Todos…??? Mais uma vez, D. José Policarpo esquece a Encíclica Rerum Novarum , onde se preconiza:
a) Uma melhor distribuição de riqueza
b) A intervenção do Estado na economia a favor dos mais pobres e desprotegidos.
c) A caridade do patronato aos trabalhadores.
Para seu conhecimento, caso não saiba (o que duvido!!) dou ao Exmº Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo (para ele as poder levar á prática), as recomendações constantes na referida Encíclica:
Quanto á alínea c, gostaria de lembrar o ilustre prelado desta informação do jornal “Sol”, de 11 de Março:
1- 46 Administradores receberam seis vezes mais do que os milhares de trabalhadores das suas empresas.
2-Nas grandes empresas privadas a situação é semelhante ou pior.
3-Parte das transferências (para paraísos fiscais) têm origem em fraudes fiscais.
Participando na conferência “Combatendo o crime na Europa", em Lisboa, organizada pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, o professor da universidade do Porto, Carlos Pimenta, afirmou:
a economia não declarada ao fisco, em Portugal, rondava os 30 mil milhões de euros em 2008.
Será possível que se trate de um passe de ilusionismo? Ou é a ingenuidade de querer fazer crer que os ricos estão incluídos na sua sentença:
"Todos somos chamados a vencer o egoísmo, a pensar no nós e não no eu"!
Então fique sabendo :
Segundo os dados do último Boletim Estatístico do Banco de Portugal, a saída de dinheiro para paraísos fiscais atingiu valores altos em 2006, quase 13,8 mil milhões de euros!
Foram mais de11,2 mil milhões de euros que saíram do País entre Janeiro e Outubro de 2009, transferidos para os paraísos fiscais, procurando rendimentos, sem dar muitas contas ao Fisco.
Os paraísos fiscais estão entre os principais destinos do dinheiro dos bancos nacionais. No primeiro semestre de 2010, de acordo com os dados do Banco Internacional de Pagamentos (BIS), as instituições financeiras portuguesas concederam empréstimos de 10,7 mil milhões para zonas offshore.
Essas fugas de capital, de Portugal para os paraísos fiscais, atingiram 1,3 mil milhões de euros nos primeiros cinco meses do ano. Uma subida de 700 por cento em relação a 2010…é um fartar vilanagem!
Os estudos de Eugénio Rosa sobre a realidade económica e social de Portugal, são de uma verosimilhança desconcertante da realidade portuguesa. Segundo este estudo, entre 2000 e 2010 foram transferidos para o estrangeiro 147.083 milhões de euros de rendimentos, causando a descapitalização do país.
Hoje, com a evolução dos tempos, estas contradições da Igreja católica são um esforço condenado.
Estamos convencidos que o que possa haver de verdadeiro na fé e consequentemente na religião, ultrapassadas que sejam as questões da superstição e dos rituais, a ciência se irá encarregando ou não de justificar.
Salvaguardando as questões da ritualização e do comportamento da hierarquia, que hoje é a sua principal fragilidade, a religião tem potencialidades que ainda estão para além da compreensão científica.
Certamente que a Igreja, com o progresso da Sociedade e do conhecimento, também ela há-de evoluir e sanar este enorme paradoxo, que é fazer seu inimigo principal quem deveria ser o seu principal aliado.
A busca de que ambas as forças se arrogam de procurar, ou seja, a utopia de uma sociedade perfeita, passa fundamentalmente por proporcionar a felicidade a todos os seres humanos e a criar o homem justo.