Mensagem

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sábado, 15 de novembro de 2014



MORREU JOSÉ CASANOVA
Estou muito triste!
Soube agora que morreu esta noite, o meu amigo e camarada José Casanova
Bem sei que morrer é o corolário natural da lei da vida, mas há pessoas que pelo seu comportamento e pelo seu valor, fazem tanta falta à humanidade, que tornam essa regra profundamente injusta.
José Casanova é um caso, onde a vulgar classificação de perda irreparável, tem o seu mais profundo significado.
Para nós, ele faz parte daquela lista de militantes desaparecidos, na linha de um Zé Magro, Octávio Pato, ou Álvaro Cunhal, que fazem parte do Quadro de Honra dos dirigentes mais notáveis que a ideologia comunista gerou e que deram continuidade e exemplar significado ao Partido Comunista Português.
Extraordinariamente inteligente, perspicaz, lúcido e culto, era de uma humildade afável e cativante, com a uma capacidade rara de apreender o essencial dos problemas e sintetizar a resposta necessária.
Jamais esquecerei, quando na segunda volta das eleições presidenciais de Janeiro de 1986, se deparava aos comunistas a opção entre Diogo Freitas do Amaral e Mário Soares, foi entendido pelo Comité Central do PCP, que se deveria optar por votar em Mário Soares, para evitar de entregar a presidência da República aos fascistas, personalizado na ocasião, por Diogo Freitas do Amaral.
Foi nessa ocasião que se deu a salomónica solução preconizada por Álvaro Cunhal, quando interrogado por uma peixeira em quem deveria votar e lhe foi aconselhado que colocar a cruzinha em Mário Soares, ao mesmo tempo em que com a mão…tapasse a cara dele.
Aquela decisão do Comité Central, causou como se sabe, enorme desconforto na grande massa de militantes do PCP, derivado à repulsa instintiva que já na ocasião, causavam a personalidade e as atitudes de Mário Soares.
Eu próprio, quando me disseram que a opção seria votar Mário Soares, apesar de toda a minha estrutura mental ser disciplinadamente comunista, disse aos camaradas que me confidenciaram tal resolução, que pela primeira vez me via obrigado em consciência, a desobedecer a uma orientação do Comité Central, coisa para mim até aí, absolutamente impensável.
Nessa noite, tendo sido solicitada uma reunião de urgência, no Centro de Trabalho Victória foi esta dirigida pelo camarada José Casanova.
Com a sala cheia a deitar por fora, durante a reunião, vozes vociferantes ameaçavam rasgar o cartão de militantes, a par de outros que entre lágrimas de raiva, expressavam barbaridades, só admissíveis em camaradas revoltados e de cabeça perdida.
Aproximando-se a meia-noite e porque muitos camaradas não tiveram ocasião de falar, foi decidido continuar a reunião no dia seguinte.
Tomada esta decisão, foi tempo do camarada José Casanova fazer a intervenção final, analisando a situação criada, o tipo de argumentos aduzidos e encerrando a sessão, com um esclarecimento exaustivo das motivações que tinham levado o Comité Central a tomar aquela polémica decisão.
Foi de tal maneira convincente e a argumentação de tal modo clarividente e esmagadora, que no dia seguinte os mesmos camaradas que entre outras tropelias, juravam abandonar o Partido, muitos deles entre lágrimas emocionadas, confessavam que afinal sempre iriam votar Mário Soares. Alguns chegaram mesmo a comovidamente, titubear o orgulho que tinham no seu partido, o glorioso Partido Comunista Português.
 Esta espantosa viragem, ficou-se indiscutivelmente a dever ao talento e capacidade argumentativa de José Casanova, ao expressar de maneira clara e convincente, as razões subjacentes à decisão do Comité Central, naquela dificílima situação.
Assim Mário Soares pode ganhar as eleições com uma diferença de apenas 140.000 votos, graças aquela deliberação do Comité Central do PCP, evitando o efectivo perigo que representava na altura, a subida à presidência da República, de Diogo Freitas do Amaral.
É um facto que a Diogo Freitas do Amaral com o tempo deixou crescer umas asinhas brancas, no sentido de disfarçar a sua natureza de classe, bem como o tipo de opções políticas que com ele seriam desenvolvidas, em prejuízo dos trabalhadores e das classes mais exploradas deste país.
Qual seria o rumo da história, se naquela ocasião não tivesse o talento de José Casanova alterado o clima em que aquelas larguíssimas centenas de militantes, extremamente representativos e influentes, viviam o drama de votar Mário Soares?
Pelo meu lado, fico-lhe a dever não só esse voto não me ter ficado a pesar na consciência, como também por influência sua, ter tido um dos dias mais felizes da minha vida, ao abandonar a minha vida profissional e tornar-me a tempo inteiro, um orgulhoso funcionário do Partido Comunista Português.
Obrigado por tudo José Casanova!!!
Paz à sua alma e inesquecível memória!!!

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