Mensagem

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segunda-feira, 14 de abril de 2008


A desflorestação da Amazónia e as repercussões climáticas e ambientais que produz, servem de argumento, para em alguns sectores dos Estados Unidos da América, exigirem a sua internacionalização.
É evidente que o argumento em si, só serve para denunciar a mentalidade imperialista dos americanos.
Compreende-se que esta questão posta nestes termos, ofende e indigna o povo brasileiro, como também se compreende o “desconforto” do Governo do Brasil.
Sendo este assunto da sua exclusiva e legítima responsabilidade, o seu silêncio e a censura de todas as notícias sobre esta indescritível aberração política, justifica-se pela sua dependência económica/financeira dos Estados Unidos da América.
O melindre da situação, é de tal natureza, que sobre o assunto se faz quási segredo de estado, e diplomaticamente se censura, de forma objectiva, qualquer referência sobre o assunto.
É esta a razão pela qual tem sido sonegado em todos os meios da comunicação social, o vergonhoso incidente relativo a esta problemática, que recentemente envolveu o Ministro da Educação do Brasil, Cristovam Buarque.
Num debate realizado numa Universidade dos Estados Unidos, o Ministro foi questionado por um aluno, que desejava saber qual era o seu pensamento sobre o assunto, "não na qualidade de brasileiro, mas sim como humanista".
A sua brilhante e espontânea resposta aquele argumento falacioso, encerra um mundo de perspectivas sociológicas originais e justíssimas.
Deixo-as também para vossa reflexão, até porque, algumas delas subconscientemente, construíram o edifício da minha moralidade e conceito social.
Colocadas nestas circunstâncias e com semelhantes interlocutores, elas assumem uma actualidade fascinante, pelo futuro que propõe para toda a humanidade.
Só os moldes e conceitos inculcados por uma sociedade capitalista, justifica o roubo da discussão pública aberta, o valor e moralidade desses princípios enunciados e defendidos.
Embora essa intervenção não tivesse outra intenção senão aclarar a posição de Cristovam Buarque, por “acaso” Ministro do Governo Brasileiro, o benefício que daí resulta ao abrir estes novos horizontes de organização e justiça social, justificariam imensa publicidade.
Aproveito esta circunstância para apelar ao vosso empenho na divulgação deste texto, porque o seu conteúdo merece e justifica um profundo envolvimento de todos os cidadãos conscientes, na sua difusão.
Eis então a resposta do Ministro da Educação do Brasil, Cristovam Buarque, sobre a sua opinião como humanista dos problemas da desflorestação da Amazónia.
Dizia ele:
“De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.
Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.
Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio
humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural
Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de
um país.
Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um
quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido
internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão
realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA.
Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a
humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro,
Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo,
deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos
EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas,
provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro.
Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa.
Só nossa!'

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