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domingo, 26 de outubro de 2008

CUBA…..MEU AMOR

Nunca fui a Cuba.
O meu amor por Cuba é uma espécie de amor platónico.
Que me faz sofrer na alma o seu calvário.
Que me pesa o conhecimento de cada um que desiste, que me dói cada um que foge, que me revolta cada um que atraiçoa, que me angustia cada um que perde a esperança.
Cuba é no percurso da vida humana, uma marca.
Do homem das cavernas á civilização a humanidade tem no seu percurso social e politico etapas, que são uma espécie de marcos, definidores dessa evolução.
Cuba nessa história tem um lugar privilegiado, como exemplo de um povo que na defesa da sua dignidade pode elevar a moral a um nível nunca igualado.
Bem sei que a solidariedade é uma arma, na sobrevivência de um povo acossado.
Mas Cuba, fez dessa solidariedade a sua mensagem para a eternidade e da defesa da dignidade da sua gente a razão primeira da sua heróica resistência.
A admiração que tenho pelo povo cubano, já vem de muito longe.
Já em 1974, logo após o 25 de Abril, dediquei a Cuba toda a atenção, sobre a forma como resistia e enfrentava o seu poderoso adversário.
A capacidade que o ser humano possui, de se ultrapassar, quando estimulado por causas que defendem valores morais em detrimento dos interesses materiais, sublima o que de melhor existe no ser humano.
A história da sua resistência, a integridade dos seus dirigentes, o seu apaixonado fervor revolucionário e objectivos, fizeram-me acreditar que o destino teria escolhido Cuba para complementar o que de bom tinha trazido a Grande Revolução de Outubro, como exemplo para toda a humanidade.
Recordo que do ponto de vista ideológico, mantive algumas divergências com alguns muito queridos camaradas, que consideravam a minha admiração exagerada e algumas vezes me senti marginalizado pelo facto de defender Cuba com tanto empenho.
Nesse período revolucionário, que se seguiu ao 25 de Abril, fiz de Cuba o meu horizonte revolucionário e do seu povo, a minha inveja.
O tempo deu-me razão!!!.
Cuba é hoje o meu orgulho, a minha esperança e a materialização da garantia, que o homem há-de vencer a tirania da exploração do homem pelo homem.
Não ficará tudo dito sob a heroicidade do povo cubano quando lerem o comovente texto CUBA: OS DESAFIOS DE UM GRANDE POVO “ILHADO””de Frei Gilvander Moreira, mas certamente ficarão a conhecer uma das mais belas facetas da humanidade quando estimuladas no amor ao próximo e na capacidade de uma nação conseguir ser solidária, com outros povos, apesar de ter de ultrapassar dificuldades inenarráveis, para ela própria sobreviver.
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CUBA: os desafios de um grande povo “ilhado” Chico Buarque, cronista das esperanças políticas do seu tempo, ao falar sobre as suas viagens a Cuba, registrado no terceiro DVD da série retrospectiva de sua obra, ironiza: “antigamente, o passaporte brasileiro dizia: válido para todos os países com exceção de Cuba. Dá vontade de ir, né? ” Por Frei Gilvander Moreira Chico Buarque, cronista das esperanças políticas do seu tempo, ao falar sobre as suas viagens a Cuba, registrado no terceiro DVD da série retrospectiva de sua obra, ironiza: “antigamente, o passaporte brasileiro dizia: válido para todos os países com exceção de Cuba. Dá vontade de ir, né? ” Até bem pouco tempo, voltar ao Brasil após uma visita a Cuba podia custar alguns aborrecimentos. O próprio Chico Buarque foi protagonista de um fato que acabou virando manchete nos jornais. O jornal “Folha de São Paulo”, no dia 21 de fevereiro de 1978, trouxe a seguinte notícia: “CHICO VOLTA DE HAVANA E É DETIDO. Chico Buarque, sua mulher Marieta Severo, o escritor Antonio Callado e sua mulher Ana Arruda foram detidos ao chegar, na manhã de ontem, em aviões diferentes, no aeroporto do Galeão. Como foi divulgado pela imprensa, Chico Buarque e Callado integraram o júri de um prêmio literário em Havana, Cuba, na semana passada. Como eles, fizeram parte desse júri o jornalista Fernando Morais, também brevemente detido ao chegar em Congonhas, sábado, e o escritor Inácio de Loyola, que presumivelmente ainda não regressou ao País. O Brasil não tem relações diplomáticas com Cuba, mas um advogado ouvido ontem no Rio opinou "não haver nenhum crime em se visitar um país”. A Polícia carioca apreendeu a bagagem dos detidos, e ambos foram avisados de que serão convocados para novos depoimentos.” Afora os constrangimentos, nem mesmo na época da ditadura militar era crime visitar Cuba. No entanto, falar de Cuba, do socialismo e do grande líder revolucionário Fidel Castro ainda causa muito constrangimento e indignação. A mídia, geralmente, desfila um rosário de preconceitos acerca do regime político cubano e da história da Revolução. Todavia, mesmo correndo o risco de causar constrangimentos e indignação, retornando agora ao Brasil, após passar nove dias em Havana, quero assumir o compromisso e a responsabilidade de compartilhar a experiência de conhecer de perto a resistência e a determinação desse povo que luta contra o capitalismo e contra o imperialismo criminoso dos Estados Unidos da América. Abaixo destaco alguns aspectos presentes no modo de vida em Cuba e que, no meu entendimento, são relevantes para pensarmos no socialismo hoje para uma vida melhor em sociedade. Eis, abaixo, dez pontos que dão um panorama de nove dias em Cuba: primeiras impressões; o impacto já ocorre na chegada; a relação de Cuba com os demais países da América Latina; contra o bloqueio, muita criatividade; exercício do poder em Cuba; sistema de Saúde socialista; telenovelas brasileiras em Cuba; cristãos em Cuba; produção de alimentos e economia cubana. 1) Primeiras impressões De 19 a 28 de dezembro (de 2006) realizei um sonho de mais de 20 anos: pisar no solo sagrado de Cuba e conviver alguns dias com os cubanos, esse povo heróico que defende ainda nos dias atuais o socialismo, mesmo quando para muitos a única resposta possível para a humanidade é a chamada democracia burguesa e o capitalismo. Antes de emitir qualquer opinião sobre Cuba acredito ser relevante ter em mente dois aspectos fundamentais: o primeiro, a localização estratégica da ilha que fica a apenas 150 km do maior império da atualidade. Esta é a distância que separa Cuba do estado da Flórida nos Estados Unidos. O segundo aspecto é o fato de o país ter sofrido, e continuar sofrendo, ao longo de sua história, permanentes tentativas de invasão , exatamente em vista de sua posição estratégica na entrada do golfo do México. Cuba é uma ilha de 110.000 Km2, 20% do estado de Minas Gerais, estreita e comprida, assemelhando-se a um jacaré. Com 11 milhões de habitantes é uma ilha encantada por sua beleza natural e encantadora pelo seu povo. Cristóvão Colombo, ao chegar em Cuba, em 1492, já afirmara: “Esta é a terra mais bela que olhos humanos viram.” Nos dias atuais, pode-se afirmar que em Cuba, além de vermos coisas que nossos olhos nunca tinham visto antes, vamos sentir uma grande nostalgia diante de tantos objetos antigos que fizeram parte do nosso cotidiano em um tempo em que nossas vidas eram bem mais simples e livres do atual estresse em que vivemos nos dias atuais. Vamos nos deparar com coisas totalmente inusitadas e criativas: táxis em bicicletas, carros remendados com madeira e plásticos, ônibus construídos sobre antigas carretas, chamadas “camelos”. Tudo isso permite àquele povo resistir, com intrepidez e dignidade ao criminoso e diabólico bloqueio estadunidense. Convivem, no mesmo cenário, recursos materiais limitados, tão abundantes nos paises ocidentais, com o que há de mais moderno e avançado na criação humana. Seja nas ciências, nas artes, nos esportes, os cubanos destacam-se sempre. Ouvi relatos e reflexões que meus ouvidos nunca tinham ouvido. Procurei ouvir mais do que emitir qualquer parecer acerca do modo de vida que surge e que se atualiza desde o triunfo da Revolução em 1959. Aliás, este um fato que gera tanta especulação: as possibilidades de sobrevivência do regime socialista cubano diante da globalização, da pressão capitalista em todos os moldes e, principalmente, após a morte de Fidel. Com ouvido atento procurei descobrir a beleza daquela grande nação. O tempo todo tinha a sensação de estar na ilha imaginária de Thomas Morus , UTOPIA, na qual o autor, inspirado na República de Platão, pensa uma sociedade ideal em todos os sentidos, solidária, sem propriedade privada, sem violência e com dignidade para todas as pessoas. No entanto, não tenho a pretensão de defender a existência de uma sociedade perfeita. O meu propósito neste ensaio é mostrar que, somando o que há de bom em Cuba, fica um grande saldo em vista das limitações existentes, sobretudo se levarmos em conta que a maioria das carências, impostas ao povo, advém não do regime político socialista e sim do bloqueio da política imperialista dos Estados Unidos, que causa enormes danos à economia cubana. 2) O impacto já ocorre na chegada Na chegada a Havana, capital de Cuba, já é possível sentir a diferença de se estar em um Estado socialista. Do aeroporto José Marti ao centro da capital há um percurso de aproximadamente 30 quilômetros. Neste trajeto somos presenteados com uma delicada e bem cuidada paisagem, onde não há sequer uma propaganda comercial. Nas ruas de Havana, ocorre o mesmo, nenhum outdoor que estimule o consumo. Só podem ser vistas, e poucas, as propagandas do regime socialista. Lembro-me de algumas: “Neste momento mais de 2 milhões de crianças estão passando fome nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana.” “Pela vida. Não ao bloqueio econômico dos Estados Unidos.” “Che Guevara, teu exemplo é uma luz na nossa marcha socialista.” “Em Cuba, 100% das crianças estão na escola. ” Em 1961, após uma intensa campanha de alfabetização, Cuba foi declarada território livre do analfabetismo. Vimos pelas ruas pessoas simples e trabalhadoras que nos dão a certeza da existência, naquele território, de um povo educado e saudável. Também chama a atenção a enorme diversidade, nas pessoas, nas cores dos carros, no modo de vestir. Pessoas alegres e que falam com muito orgulho do seu país. Determinados mesmo quanto à independência e da opção e luta obstinada pelo socialismo e pela soberania. Nos quatro canais de TV abertos, todos estatais - há vários outros canais regionais –, não há também propaganda comercial. Só há programas culturais, informativos e esportivos. Poucos são os programas de entretenimento, dentre eles uma novela brasileira, atualmente, “Senhora do Destino”, à qual os cubanos se referem com grande entusiasmo. Gostam muito de telenovelas e radionovelas . Vale até lembrar que se orgulham de terem criado as radionovelas , a primeira que se tornou famosa no Brasil, “O direito de nascer”. 3) A relação de Cuba com os demais países da América Latina A eleição de Hugo Chaves, na Venezuela, criou novos laços entre os países da América Afrolatíndia e desenvolveu uma outra forma de solidariedade entre as nações do continente. Cuba recebe o petróleo venezuelano em troca do apoio na área da saúde. São milhares de médicos e outros profissionais trabalhando na Venezuela. Milhares de venezuelanos estão indo a Cuba para fazer tratamento de saúde. A excelência cubana na área da saúde também tem ajudado muitos outros países como o Brasil e a Bolívia. Ao visitar o Museu da Revolução, antiga sede presidencial do ditador Fulgêncio Batista, encontramos um grupo de jovens bolivianos, orgulhosos do governo Evo Morales. Aqueles jovens informaram que, logo após assumir a presidência, Morales enviou 400 jovens para cursar medicina em Cuba. Formados, serão missionários de uma revolução no sistema de saúde boliviano e poderão trabalhar também em outros países, voluntariamente. Na ELAN – Escola Latina Americana –, criada em 1999, há 4 mil jovens latinoamericanos cursando medicina. O estado cubano custeia tudo: além dos professores e da manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros, cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos gastam-se 350 mil dólares para formar um médico, em Cuba 120 mil dólares são suficientes. Há milhares de estudantes estrangeiros em Cuba, na graduação e na pósgraduação. Só do Brasil são 700 jovens, 70 dos quais são enviados pelo MST para fazer medicina e outros cursos. 4) Contra o bloqueio, muita criatividade Cuba foi inicialmente uma colônia espanhola. Em 1898 foi ocupada militarmente pelos Estados Unidos. A partir de então, cresceram os negócios dos norte-americanos na ilha que somente em 1902 tornou-se um país independente. O destino de Cuba foi profundamente marcado pela influência norte-americana tanto no plano político, mediante o apoio a partidos ou grupos, quanto no econômico. A beleza caribenha e a localização estratégica atraíram também para o local o lazer e a orgia dos ianques. Também uma chaga que gera um grande incômodo: uma base militar dos Estados Unidos em território cubano, a base de Guantánamo . Essa base militar resultou das negociações para a retirada das tropas americanas na independência. Após a Revolução em 1959, muitos cubanos migraram para os EUA e por discordar do regime são, ainda nos dias atuais, manipulados e financiados pelo governo estadunidense com o intuito de derrubar o regime liderado por Fidel Castro. Hoje, incluindo os descendentes, há mais de um milhão de cubanos que vivem naquele país. A grande maioria colabora efetivamente para a economia cubana enviando dólares para os parentes que moram na ilha. Uma minoria, conhecida como a máfia cubana de Miami, que perdeu dinheiro e poder após a Revolução de 1959, conspira o tempo inteiro contra a política socialista. Essa pressão de uma minoria cubana interessa à política imperialista dos Estados Unidos que usa de artifícios para isolar o último país de resistência socialista existente no planeta. Basta ver que quando um estrangeiro chega clandestinamente aos Estados Unidos é imediatamente mandado de volta ao seu país. Os cubanos são a exceção . Para incentivar a saída de Cuba, o governo dos Estados Unidos acolhe como cidadãos os cubanos que chegam ao seu território. Ou seja, os únicos estrangeiros que têm visto de permanência incondicionado nos Estados Unidos são os originários de Cuba. O bloqueio dos Estado Unidos a Cuba consiste na proibição do comércio dos produtos cubanos nos Estados Unidos e a venda de qualquer produto norteamericano a Cuba. Além é claro da proibição do uso de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. Não existe relação diplomática e comercial entre os dois países. Isso gera enormes dificuldades à economia cubana devido ao custo do transporte que é acrescido a todos os produtos que vêm de países bem mais distantes, como os países europeus, o Canadá ou China. Cuba tem de pagar sobretaxas para importar produtos norte-americanos de outros países. Deste modo, a única forma de o governo cubano sobreviver ao bloqueio, é usar de muita criatividade e contar irrestritamente com o apoio de um povo educado e que conhece muito bem a sua história. Vimos muita criatividade no sistema de transporte cubano: táxis em triciclos, uns motorizados, como os cocotáxis para os turistas, outros movidos somente com a força do pedal por valentes condutores, que levam passageiros a pequenas distâncias. Automóveis que foram sofisticados na década de 1950 e que continuam rodando suntuosos pelas avenidas de Havana. Pequenos automóveis Fiat , parecendo miniaturas dos antigos 147. Carros russos, como o Lada – das décadas de 1970 e 1980. Alguns seminovos em uma grande variedade de tipos e cores. Micro pick-ups com apenas 03 rodas, ônibus antigos tipo jardineira e os “ camellos ”, carretas com a carroceria transformada em “ super-ônibus ”, como base para o transporte coletivo dos trabalhadores, quase de graça. Incrível a diversidade de tipos e cores dos meios de transporte em Cuba. Vimos um grande número de pessoas pegando carona e muitos motoristas oferecendo carona, especialmente nos horários de pico. Depois ficamos sabendo que cerca de 80% dos automóveis são estatais e são orientados a dar carona. Os carros particulares, que são poucos, também cultivam essa prática de dar carona. É muito difícil ver uma pessoa sozinha no veículo. Normalmente andam duas, três ou quatro pessoas no mesmo automóvel, inclusive nos táxis. Percebemos que dar e receber carona é um valor socialista e faz parte da cultura, é o normal. Muita gente vai trabalhar e volta sem ter que pagar pelo transporte. Não existe o menor receio de violência como seria de se esperar no Brasil. Também uma forma bastante inteligente de economizar energia. O petróleo é muito oneroso para o governo cubano. E desta e de outras maneiras Cuba vai driblando o bloqueio norte-americano. 5) Exercício do poder em Cuba Conversamos com taxistas, médicos, lixeiros, comerciantes, professoras, psicólogas, agrônomos, advogados. Não vimos nem uma pessoa reclamar de Fidel Castro, nem do socialismo, nem da Revolução cubana. Pelo contrário, ouvimos o reconhecimento e a constatação de que a Revolução deu dignidade para milhares de pessoas em Cuba. Conforme já afirmamos acima, o diabólico bloqueio econômico que o ( des )governo dos Estados Unidos impôs a Cuba desde 1961 é identificado pelo povo cubano como o responsável pelas dificuldades enfrentadas em todos os níveis. Em Havana as praças públicas são realmente públicas. O povo circula à vontade. Não vimos ninguém alertando sobre riscos de roubo e assalto. A população está desarmada. Afirmam que existem armas guardadas em vários locais e que podem ser disponibilizadas à população em caso de invasão dos Estados Unidos. “Aqui não há delinqüentes e nem delinqüência. Aqui temos paz social, fruto da justiça social existente. É muito raro acontecer um assassinato ou um assalto”, diz uma criminóloga cubana. E acrescenta: “Em caso de invasão, cada um dos cubanos sabe onde deve estar imediatamente. ” Perguntamos a várias pessoas: “Como é exercido o poder em Cuba? Fidel manda muito?” Explicaram-me: “A base do exercício do poder em Cuba está nos CDRs – Comitês de Defesa da Revolução. Esses comitês que surgiram para proteger a população das tentativas de golpe, existem em todas as quadras das cidades e também na zona rural. No CDR todas as pessoas da quadra estão cadastradas. Fazem assim um retrato de toda a população. Sabem quantas crianças, quantos idosos e gestantes existem no país, com uma margem de erro insignificante. Há em cada comitê um/a presidente/a, um secretário/a e um vigilante que é o responsável pela saúde, educação das pessoas que moram naquele local. Além do CDR, há o delegado de circunscrição que exerce a função como voluntário, isto é, não recebe salário para desempenhar a função. De três em três meses esse delegado presta contas ao povo. Vinte delegados escolhem um delegado de território. A organização política cubana inclui também uma Assembléia municipal (poder executivo + legislativo) que cuida de finanças, esporte, educação, saúde, moradia, comércio, transporte, ruas e estradas, comunidades. Existem ainda as Assembléias provinciais (14 províncias). Da Assembléia Nacional fazem parte 601 deputados. Vale destacar que recebem apenas o necessário para viver. Exercem o mandato de deputado e continuam trabalhando na sua profissão e por isso recebem salário, não pelo fato de serem deputados, mas como padeiros, professores, médicos, ou qualquer outra profissão que exerçam. Em Cuba uma pessoa é reconhecida na sociedade pelo que faz em prol da coletividade e não pelo que consegue angariar para si mesma, como pela capacidade de ganhar dinheiro ou ter sinais externos de riqueza. Há um Conselho de Ministros com um presidente, que agora é Ricardo Alareni . As grandes decisões nacionais são tomadas na Assembléia Nacional. Fidel Castro é, desde o triunfo da Revolução em 1959, reeleito como deputado. É o primeiro secretário do PCC e comandante das Forças Armadas. Ilude-se quem pensa que Fidel decide tudo sozinho. É claro que ele tem muita influência nas decisões por razões históricas e pela idoneidade moral que adquiriu e conserva. Conforme vemos, há uma rede de participação que vai dos CDRs até ao Comitê Central da Revolução. Essas pessoas são integrantes do Partido Comunista de Cuba, mas só se ingressa no Partido após verificar com rigor a idoneidade e o interesse da pessoa pelo bem comum. 6) Sistema de Saúde socialista “Cuba é uma fábrica de médicos”, exclama Mongui , um cubano que se sente embaixador do Brasil em Havana. Na medicina a excelência cubana tem o seguinte objetivo: conquistar os melhores remédios para todos com o custo mais econômico possível e de forma sustentável. O Ministério da saúde, as faculdades de medicina e os médicos incentivam e incluem cada vez mais todos os tipos de medicina alternativos e naturistas – homeopatia, geoterapia, ervas medicinais, massagem. Prioriza-se muito a medicina preventiva que passa necessariamente por uma boa alimentação. Há 60 mil médicos cubanos trabalhando voluntariamente em missões internacionalistas, em 69 países, contribuindo com o resgate da saúde de milhares de pessoas. Só na Venezuela estão mais de 15 mil. Na Venezuela, atualmente, existem cerca de 20 mil médicos cubanos alavancando uma revolução no sistema público de saúde. São responsáveis pelo atendimento primário da população, algo parecido com o médico de família. Estão nas favelas e bairros pobres; lá vivem e atendem com competência e dedicação os pobres. Recordo-me de ter ouvido em Caracas, no 6o Fórum Social Mundial, três jovens camelôs dizendo com veemência: "Por mais de 50 anos, os médicos venezuelanos recém formados se recusaram a ir para interior, para os bairros, para a periferia. Só queriam ficar na capital, ganhar dinheiro às custas da dor. Agora, com Hugo Chávez, eles tiveram sua chance de ajudar o povo. Não quiseram. Então foi preciso apelar para a solidariedade. Vieram os médicos de Cuba e estamos tendo acesso à saúde nos lugares mais distantes e pobres". Ainda, em Caracas, em conversa com duas médicas e um médico, ouvimos, entre tantas coisas, o seguinte: “Não viemos aqui para ganhar dinheiro, mas por amor ao próximo. Estudamos medicina para cuidar das pessoas, nunca para ganhar dinheiro. Quando terminamos o curso de medicina em Cuba, fazemos um juramento de cuidar sempre da vida ameaçada em Cuba e em qualquer país do mundo. Quando se é de esquerda, socialista, somos mais cristãos, pensamos mais no próximo. Todo o povo do mundo é meu próximo, é minha família. Somos e devemos nos comportar todos como irmãos. Vivo para servir a sociedade. Aqui na Venezuela, recebemos apenas uma ajuda de custo para pagar metrô, ônibus coletivo e comprar alimentos e alguma coisa mais necessária.” O estipêndio recebido pelos médicos cubanos não chega a um salário mínimo da Venezuela, que é cerca de R$405,00. Mesmo com as dificuldades internas para a produção de alimentos, em Cuba, todas as crianças de 0 dia a 7 anos de idade e as gestantes têm garantido um litro de leite por dia. Cuba é administrada considerando todos os cubanos como sendo uma só família. Fidel é o pai de todos e os cubanos são todos irmãos e irmãs. Por isso todos são tratados com igualdade de oportunidades. Há prioridades que devem ser satisfeitas: alimentação, saúde, educação, transporte público, cultura e esporte. As reivindicações pessoais são atendidas, desde que sejam viáveis e no interesse de todos. Por exemplo, só tem computador individual – o que é um “luxo” em Cuba – quem está desenvolvendo um trabalho social relevante e que precisa deste instrumento. Só será permitido comprar celular quando se encontrar um sistema que seja acessível a todos. E estão quase conseguindo. O povo cubano é um povo sadio. Come-se o necessário para viver, sem exageros. Não vimos sequer uma pessoa obesa. A alimentação é orientada por nutricionistas e contém todos os nutrientes necessários para uma boa saúde. Norma, uma psicóloga cubana, passou três meses no Rio de Janeiro. Contounos que convidada para participar de diversos churrascos e rodízios, estranhou muito diante de tanta fartura de carne e tão pouca fartura na cultura e nas artes. Quando quis ir assistir a um show de Gilberto Gil no Canecão avisaramlhe que era muito caro. Ela revelou: “Entre comer muito, participar de rodízios, prefiro alimentar meu espírito. O que mais nos alimenta são os bens espirituais: cultura, arte, esporte e trabalho voluntário, tudo isso dentro do espírito revolucionário socialista. A sociedade capitalista enche a barriga das pessoas, mas deixa o espírito vazio . ” Vimos que a agricultura está diretamente associada à saúde. Os alimentos são produzidos de forma orgânica e ecológica. Usa-se muito pouco produtos químicos na agricultura. Está em curso um grande projeto de reflorestamento com árvores nativas e exóticas. 7) Telenovelas brasileiras em Cuba Em Cuba, a TV veicula uma telenovela por noite. Uma noite, uma telenovela cubana e na noite seguinte, uma telenovela brasileira ou de outro país. Antes da veiculação, uma comissão do setor de relações internacionais analisa a telenovela estrangeira, dá um parecer, corta cenas de sexo, de banalização. Perguntei a várias pessoas cubanas se já tinham pensado sobre os possíveis efeitos das telenovelas brasileiras sobre o povo cubano. Caridad , psicóloga do setor de relações internacionais da TV cubana me explicou: “A programação dos 4 canais cubanos é basicamente cultural. O povo estava pedindo mais programas de entretenimento. É muito melhor passar uma telenovela latinoamericana do que filmes dos Estados Unidos, filmes que geram uma cultura de violência e de consumo. A questão central não é veicular ou não uma novela. A questão é como veicular. Em Cuba as telenovelas são veiculadas sem nenhum comercial, apenas uma por dia. Assim o/a telespectador/a acompanha mentalmente o desenrolar da ficção. No Brasil, são muitas novelas por dia e são envenenadas pela propaganda intermitente, entremeada na novela. Quando o/a telespectador/a começa a raciocinar, interrompe-se a novela e joga uma propaganda. A pessoa deixa de pensar na novela e começa a pensar na propaganda. Esta mistura de novela com propaganda faz um estrago mental em quem está assistindo. Fica como abelha tonta. É impedida de pensar. Resultado: a novela vira tranqüilizante. Além disso, em Cuba o povo é culto e não aceita pacificamente o que é apresentado na telinha. Também não encontra na realidade o luxo espelhado nas telenovelas. Fica só no ficção.” 8) Cristãos em Cuba Participamos de uma celebração na Igreja Batista, presidida pelo pastor Raul Soares, deputado do PCC – Partido Comunista de Cuba. De origem camponesa, já está no 3o mandato como deputado. É um dos três pastores deputados em Cuba. Além de Raul, há um outro da igreja episcopal e outro presbiteriano. Raul Soares nos disse: “Não há contradição entre ser pastor e ser deputado socialista. Em Cuba 80% das pessoas se declararam religiosas. Acreditam em Deus. Seguimos o testemunho do Concílio Vaticano II, das Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação. Os pobres nos evangelizam. Em 1959, a Igreja Católica cubana traiu os pobres, a Jesus e a Deus, porque se colocou contra a Reforma Agrária que Fidel Castro estava fazendo. Sou um pastor de esquerda. Espero que Lula não traia os pobres e que faça uma verdadeira reforma agrária no Brasil. Não há saída para a humanidade fora do socialismo. Precisamos melhorar o socialismo. Capitalismo é anti-cristão e anti-humano.” Conhecemos o Centro Martin Luther King, com sede nas dependências da Igreja Batista. A partir da pedagogia de Paulo Freire, esse centro tem ajudado a construir cerca de 60 casas populares, por ano, em mutirão com a participação ativa dos sem-casa . Esse centro participa de brigadas populares de limpeza de praças públicas em trabalho voluntário. 9) Produção de alimentos Sentimos como Cuba vive, desde o fim do apoio soviético ao país, um grande desafio para alimentar o seu povo. Todavia, mesmo diante dessa dificuldade, em Cuba, os produtos transgênicos são proibidos. Lá, de fato, as sementes são patrimônio da humanidade. Preserva-se a diversidade das sementes e espécies. A produção de alimentos, em Cuba, acontece de forma diversificada. Há “granjas”, grandes fazendas do Estado, que produzem cana-de-açúcar, tabaco, arroz e gado. Poucas pessoas, com implementos agrícolas, garantem uma grande produção para o abastecimento de toda a população ou industrializa os seus produtos de exportação, como o açúcar e os famosos charutos e rum cubanos. Há pequenas, médias e grandes CCS – Cooperativas de Crédito e Serviço – que reúnem muitas famílias de pequenos proprietários; são empreendimentos mistos: privado e estatal. O cultivo é feito em sistema de rodízio. Por exemplo, ara-se um pedaço de terra, planta banana (só um pé em cada cova, 1,5 metro entre as fileiras, pois assim produz mais). Após a colheita, ara-se novamente a terra e planta-se uma nova cultura que pode ser mandioca, ou milho, depois feijão, tomate, e assim por diante. Deste modo, é preservada a fertilidade da terra. Há ainda as “fincas”, que são pequenas chácaras, nas quais a agricultura familiar é tocada por uma, duas ou três pessoas. Em Cuba a maior parte da terra rural pertence ao Estado. É muito raro o comércio de terras. O agricultor possui, geralmente, apenas o usufruto da área em que trabalha. Atualmente o Estado cede terra para usufruto por três anos. Se a pessoa progride, passa a ter direito sobre aquela porção de terra. Se não, a terra é devolvida para o Estado que a repassa para outro. Todos os trabalhadores, tanto do campo quanto os da cidade, têm todos os direitos trabalhistas respeitados. Aposentadoria aos 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, férias mesmo para aqueles que trabalham por conta própria, saúde e educação, licença maternidade de 1 ano para as mães. Em Cuba há apenas 3% de desempregados. Após a queda do socialismo real, em novembro de 1989, Cuba entrou em um Regime Especial. A agricultura urbana é incentivada e está sendo desenvolvida para melhorar a alimentação do povo da cidade. Lotes vagos, fundo de quintal e pequenos espaços de terra na cidade estão sendo aproveitados na produção da horticultura. Há técnicos agrícolas que orientam o plantio. Sementes são doadas. Fertilizante orgânico e húmus a partir de minhocas chinesas garantem o êxito da produção de verduras. 10) Economia cubana Em Cuba a economia é estatal. Cada pessoa só pode ter uma casa e os que têm, só podem ter um carro. Existem diversos mecanismos para se impedir a acumulação de riquezas. Com uma economia tão “engessada” diriam os economistas de plantão, Cuba cresceu mais de 12,5% no ano passado. Em Cuba é proibido enriquecer-se, pois o enriquecimento de uns gerará o empobrecimento de outros. Para garantir esse princípio, uma série de medidas econômica é tomada. Por exemplo, de dois em dois anos, mais ou menos, muda-se moeda para evitar acumulação. Quem juntar dinheiro em casa, ainda que pouco-a-pouco, vendendo artesanato, com táxi, turismo, só poderá trocar pouco dinheiro velho pelo novo. Assim controla e impede a acumulação. Em 2005, foi proibido o comércio com dólar em Cuba. Agora o turista é obrigado a trocar o dólar para “peso convertible ” com uma desvalorização de 20%, isto é, U$1,00 vale 0,80 de peso “ convertible ”. Este vale 24 “pesos nacionais”, que é a moeda utilizada pelos cubanos. Uma pessoa cubana paga em peso nacional a maioria dos produtos. Um estrangeiro paga em peso “ convertible ”. É proibida a existência de classes entre os cubanos. O salário-mínimo está em 225,00 pesos nacionais por mês, piso mínimo para os aposentados. Há acréscimos como prêmio aos melhores funcionários. Uma pessoa não consegue ganhar mais do que 900,00 pesos nacionais por mês, incluindo todos os incentivos e prêmios por mérito. As empresas estatais dão “estímulos”, tais como cesta-básica, direito de fazer um curso especial em Cuba ou no exterior. Em Cuba as tarifas por serviços públicos são baixíssimas. A tarifa de energia é de 9,00 pesos nacionais ( cerca de 35 centavos de real) para 100 quilowatts de energia. Tanto as famílias quanto as empresas pagam o mesmo valor por 100 quilowatts. Não é como em Minas Gerais, onde as famílias pagam de 6 a 10 vezes mais do que o que pagam as empresas e cujas contas dos serviços públicos essenciais sugam grande parcela da renda das pessoas. Paga-se muito pouco também pelo consumo de água e gás de cozinha. Os cartões de crédito – exceção feita ao American Express e aos emitidos nos Estados Unidos – são aceitos em Cuba, em muitos lugares. Muitos se perguntam como pode-se viver com tão pouco em Cuba. O incrível é que não há violência no país, pelo rosto vê-se que as pessoas gozam de boa saúde, todos estudam ou só não estuda quem não quer. Quase todos têm trabalho. Não falta alimento nutritivo para ninguém. Só não há luxo e desperdício alimentar . Como a educação e a cultura são prioridades do governo os cubanos pagam muito barato para entrar nos teatros, nos museus, e em todos os locais que custam mais caro para os turistas. Esse pode ser um exemplo a ser seguido aqui no Brasil. Para um brasileiro é muito caro pagar para assistir a um show que os estrangeiros, cheios de dólares acham muito barato no Rio de Janeiro ou para entrar em uma igreja histórica em Ouro Preto. Por isso já cantou Elis Regina que “o Brasil não conhece o Brasil”. Se olharmos bem, após conhecer Cuba, podemos ver que o Brasil é um país para poucos. Cuba é um país para todos. Uma cubana nos provocou: “O Brasil é um país lindo, mas me dói o coração e me deixa indignada ver os deputados brasileiros aumentarem em quase 100% seus próprios salários, já astronômicos. Isso é uma desumanidade gritante. Não entendo como o povo brasileiro não se levanta contra essa e tantas outras injustiças. ” Assim, volto ao Brasil, cheio da energia boa que transcende Havana. Deixamos em terras cubanas novos amigos, aqueles que tanto como nós admiram Ronaldinho, o futebol brasileiro, o samba e algumas telenovelas brasileiras veiculadas em Cuba. A maioria dos cubanos admira a Teologia da Libertação, frei Betto, Leonardo Boff, as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, o MST e os Movimentos Populares do Brasil. Isso fortalece os nossos laços de amizade e a vontade de voltar ao país que recebe a todos os brasileiros como irmãos. Engana-se, vou arriscar um palpite, quem pensa que Cuba esfacela-se após Fidel Castro. A admiração e o respeito que os cubanos tem pelo Grande Comandante, a ponto de o chamarem de “nosso pai”, garantirão a firmeza na marcha socialista mesmo após sua morte. Fidel está internalizado no povo e será muito mais vivo e forte após sua morte. Em Cuba pode-se afirmar, sem sobra de dúvidas, que há 11 milhões de defensores da Revolução. Quem viver verá! Frei Gilvander Moreira

No ponto de vista de narração histórica dos factos, o excelente artigo de António Vilarigues sob o título “O BLOQUEIO DE QUE MUITOS FALAM SEM SABEREM O QUE DIZEM





O bloqueio de que muitos falam sem saberem o que dizem Políticos, jornalistas, comentadores, analistas, assessores, consultores e mais recentemente os chamados think tanks (em inglês é mais intelectual, é mais in), falam e escrevem sobre o bloqueio a Cuba. Mas saberão, no concreto, sobre o que se pronunciam? E o que escondem deliberadamente nas suas elucubrações? Através de um documento desclassificado em 1991, ficou a conhecer-se que a 6 de Abril de 1960, o então subsecretário de Estado adjunto para os Assuntos Inter-Americanos, Lester Dewitt Mallory, escreveu num memorando discutido numa reunião dirigida pelo presidente dos Estados Unidos John Kennedy: «Não existe uma oposição política efectiva em Cuba; portanto, o único meio previsível que temos hoje para alienar o apoio interno à Revolução é através do desencantamento e do desânimo, baseados na insatisfação e nas dificuldades económicas. Deve utilizar-se prontamente qualquer meio concebível para debilitar a vida económica de Cuba. Negar dinheiro e abastecimentos a Cuba, para diminuir os salários reais e monetários, a fim de causar fome, desespero e a derrocada do governo». (negritos meus). Isto, sublinhese, um ano antes da invasão da Baía dos Porcos organizada pelos EUA contra Cuba. O presidente dos Estados Unidos, J. F. Kennedy, cumprindo o mandato que lhe tinha sido atribuído pelo Congresso, decretou o bloqueio total contra Cuba a partir das 12:01 AM do dia 7 de Fevereiro de 1962. Esta é a data formal. Mas desde 1959 que se multiplicavam os actos de bloqueio efectivo. O objectivo fundamental era debilitar pontos vitais da defesa e da economia cubanos. Actos como a supressão da quota açucareira, principal e quase único suporte da economia e das finanças da Ilha. Ou o não abastecimento e refinação de petróleo por parte das empresas petrolíferas norte-americanas que monopolizavam a actividade energética. Ou ainda um sufocante boicote a qualquer compra de peças de substituição para a indústria cubana, toda ela de concepção e fabrico norte-americanos. A partir de Fevereiro de 1962 os americanos decretam então o embargo total ao comércio com Cuba, excluindo certo tipo de medicamentos e alimentos. Esta decisão é simultaneamente apoiada e aprovada por todos os países da Organização de Estados Americanos (OEA), com excepção do México. A 22 de Dezembro, Kennedy anuncia sanções aos países que comerceiem com a ilha. No dia 8 de Julho de 1963, os EUA confiscam todos os bens cubanos instalados no seu território, avaliados então em 424 milhões de dólares. A 14 de Maio de 1964, os Estados Unidos anulam todos os fornecimentos de alimentos e medicamentos a Cuba. O presidente dos EUA goza de amplas prerrogativas em matéria de política externa. A que acresce uma vasta faculdade discricionária permitida ao executivo pela «Lei do Comércio com o Inimigo». Assim as sucessivas administrações (onze!!!) modificaram e aprovaram novos regulamentos que refinaram o bloqueio. Nos anos seguintes os EUA proíbem aos seus cidadãos que viajem para a ilha o uso de cartões de crédito de bancos americanos. Interditam às companhias subsidiárias norteamericanas no exterior a possibilidade de comercializarem com Cuba. Impõem aos seus cidadãos um limite de 100 dólares diários nos seus gastos de hotel, alimentação, diversões e compra de artigos cubanos. Com o desmembramento da União Soviética os EUA redobram as medidas do bloqueio a Cuba e advertem a Rússia (e os restantes países ex-socialistas) de que será prejudicada na «ajuda americana» se, de alguma forma, continuar a apoiar a ilha. Democracia à americana Em 1992 foi aprovado pelo Congresso norte-americano a «Lei para a Democracia Cubana», ou Lei Torricelli. Esta lei consiste, essencialmente, na intromissão directa dos EUA nos assuntos internos não só do povo cubano, mas também nos de outros povos. Proíbe, por um período de 180 dias (contados à data da sua saída de Cuba), a entrada nos portos americanos a navios que toquem portos cubanos. Sanciona as instituições norte-americanas sediadas no exterior que negoceiem com a ilha (mesmo contrariando a lei dos respectivos países onde se radiquem). Viola assim claramente o Direito Internacional e as leis estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio. Quatro anos mais tarde, em 1996, foi promulgada a «Lei para a Liberdade e a Solidariedade Democrática Cubana» (o leitor já reparou bem nos nomes destas leis?...), conhecida como Lei Helms-Burton (não apoiada, até hoje, por nenhum país do mundo). Com a desintegração dos países ex-socialistas, Cuba perde, literalmente de um dia para o outro, os mercados onde comerciava, a preços favoráveis, 85% das suas exportações. Vê-se por isso forçada a reduzir drasticamente as suas importações em 75%. O país conhece, de imediato, a falta de alimentos, medicamentos, petróleo, transportes e tudo o que é de mais essencial à economia de um Estado e à vida de um povo. Impedida, por força do bloqueio americano, de recorrer a financiamentos e créditos externos, os EUA acreditaram que estava na hora de Cuba se render pela fome. A Lei Helms-Burton tinha esse objectivo. É evidente a intenção de impedir os investimentos estrangeiros na ilha e, desta forma, impossibilitar o seu desenvolvimento económico. Nos termos desta lei fica proibido que subsidiárias norte-americanas sediadas em terceiros países realizem qualquer tipo de transacção com empresas em Cuba. Que empresas de terceiros países exportem para os Estados Unidos produtos de origem cubana ou produtos que na sua elaboração contenham algum componente dessa origem. Que empresas de terceiros países vendam bens ou serviços a Cuba, cuja tecnologia contenha mais do que 10% de componentes com origem nos EUA, ainda que os seus proprietários sejam nacionais desses países. Que entrem nos portos dos Estados Unidos navios que transportem produtos desde ou para Cuba, independentemente do país de matrícula. Que bancos de terceiros países abram contas em dólares norte-americanos a pessoas jurídicas ou naturais cubanas ou realizem transacções financeiras nessa moeda com entidades ou pessoas cubanas. Esta legislação proíbe ainda os cidadãos americanos ou cubano-americanos de viajarem para Cuba. Impõe restrições às relações entre cubanos residentes em Cuba e nos EUA. Retém ajuda a qualquer país, entidade ou empresa que forneça assistência técnica ou financeira para completar a Central Nuclear de Juragua, na cidade de Cienfuegos. Estabelece a negação de vistos para entrar nos EUA a pessoas, de qualquer nacionalidade (e seus familiares), ou representantes de empresas, que comprem, arrendem ou obtenham benefício de propriedades expropriadas em Cuba depois de 1959. Etc., etc., etc.. Sobre esta lei disse Fidel Castro: «Ao bloqueio económico, comercial e financeiro, os EUA acrescentam agora a lei Helms Burton. No seu desesperado anseio de destruir a revolução cubana, pretendem punir todo o mundo e tentam fechar o cerco que nos rodeia. Podemos garantir que o nosso país jamais se renderá. Não permitiremos que nos roubem a dignidade do homem plenamente conquistada pela revolução». Doze anos depois a realidade aí está a comprovar a justeza destas palavras. Mais recentemente a administração de George W. Bush continuou pelo mesmo caminho. Mas como é apanágio de toda a sua actuação, foi mais longe e aprovou um novo pacote de medidas denominado «Plano Bush». A administração norte-americana propõe-se, pela milionésima vez, aniquilar a Revolução cubana e proclama-o com a sua conhecida arrogância. Estamos perante novas e brutais acções contra o povo de Cuba e contra os cubanos residentes nos Estados Unidos. Medidas definidas pelos seus autores como parte de um plano para provocar «o rápido fim» do Governo revolucionário. Intensificaram a perseguição a empresas e às transacções financeiras internacionais de Cuba, mesmo aquelas para pagamentos aos organismos das Nações Unidas. Roubaram marcas comerciais, como as reconhecidas Havana Club e Cohiba. Adoptaram maiores represálias contra os que fazem comércio com a Ilha, ou com ela realizam intercâmbios de natureza cultural ou turística. Pressionaram ainda mais os seus aliados para forçá-los a subordinar as relações com Cuba aos objectivos de «mudança de regime» que norteiam a política dos Estados Unidos. Impuseram uma escalada sem precedentes no apoio financeiro e material às acções que visam o derrube da ordem constitucional cubana. Consequências políticas, económicas, sócias e culturais Um Avante! inteiro não chegava para enumerar todas as acções e respectivas consequências para o povo de Cuba. Desde logo o facto, muito esquecido, de que cerca de 7 milhões, dos mais de 11 milhões que constituem a população cubana, nasceram sob o estigma do bloqueio. Que, saliente-se, dura há 46 anos e tem afectado sem distinção de sexo, idade, credo religioso ou posição social todo povo da Ilha. O prejuízo económico directo causado ao povo cubano pela aplicação do bloqueio, em cálculos estimados, ultrapassou os 89 mil milhões de dólares. Este número não inclui os danos directos causados a objectivos económicos e sociais do país pelas sabotagens e actos terroristas fomentados, organizados e financiados pelos Estados Unidos. Também não inclui o valor dos produtos deixados de produzir ou os prejuízos derivados das onerosas condições de crédito impostas a Cuba. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba elevou o total de perdas estimadas da economia cubana durante 45 anos (1962/2007) de bloqueio a 222 mil milhões de dólares. Quase duas vezes o PIB de um país como Portugal. Vejamos mais em pormenor alguns dos numerosos exemplos desta realidade quotidiana: Estima-se que só em 2006 o comércio internacional cubano foi afectado pelo bloqueio em valores que ultrapassaram os 1 305 mil milhões de dólares. Os maiores impactos registaram-se pela impossibilidade de aceder ao mercado dos EUA. As importações que Cuba realiza não subiram apenas como resultado de preços mais altos, da utilização de intermediários e da necessidade de triangulação para determinados produtos. Encareceram também pelo transporte desde mercados mais longínquos, com o consequente aumento dos fretes e seguros. No final de 2001, pressionado pelo sector agro-exportador norte-americano, o Congresso dos EUA aprovou legislação autorizando que Cuba comprasse alimentos aos produtores do país. No entanto, essas importações são acompanhadas por severas restrições. Cuba tem de pagar adiantado, sem a possibilidade de obter créditos financeiros, mesmo privados. Em 2004, essas importações atingiram a casa dos 474,1 milhões de dólares. A venda e o transporte de mercadorias requerem a obtenção de licenças especiais para cada operação. Cuba não pode utilizar sua própria frota mercante para realizar esse transporte, devendo recorrer a navios de outros países, especialmente dos próprios EUA. E os pagamentos são feitos através de bancos de outros países, uma vez que as relações bancárias directas com Cuba estão proibidas. Carência quase absoluta de meios de transporte de passageiros e de mercadorias. O sector ferroviário é paradigmático. Há anos que o governo tem planos para renovar seu parque de locomotivas. Mas a manutenção e reparação das máquinas requer diversos componentes norte-americanos. Cuba também não tem conseguido alugar navios, devido à pressão realizada pelo governo norte-americano sobre as locadoras. Assim, o governo cubano vê-se obrigado a pagar fretes elevadíssimos. Falta de medicamentos, equipamentos e material consumível no sector da saúde. Em sete anos, 1998/2005, os custos do bloqueio ascenderam a 2 269 milhões de dólares. Apenas 50 milhões teriam sido suficientes para remodelar todas as clínicas e hospitais. Sem quantificar, por não terem preço, a dor e o sofrimento provocados por esta política criminosa. O que não impedia que, em Junho de 2006, mais de 30 mil funcionários cubanos da área de saúde estivessem espalhados pelo mundo, trabalhando em missões humanitárias, cuidando especialmente de vítimas de catástrofes e fenómenos naturais. Há décadas que Cuba é vanguarda nesse tipo de acção. A importação de matérias-primas, materiais e equipamentos de uso escolar para assegurar o processo docente educativo, como meios audiovisuais, computadores, equipamento de laboratório, reagentes, etc., é seriamente afectada. A cada dia que passa diminuem os intermediários que se atrevem a correr o risco de realizar transacções com Cuba. O que se traduz num aumento de 20% (e mesmo de 100% nalguns casos), dos preços dos produtos adquiridos. Nem a Internet escapa. Em Cuba, o acesso à rede é lento, caro e limitado. A ilha está impossibilitada de se conectar aos cabos de fibra óptica que passam muito perto de suas costas. Como alternativa utiliza desde 1996 uma ligação via satélite que torna as conexões muito mais lentas e caras. Qualquer modificação do canal exige licença do Departamento do Tesouro dos EUA. O governo aponta essa situação, assim como sua estratégia de prioridades sociais no uso da rede, para explicar as restrições que aplica ao acesso à Internet. Limitações que poderão ser reduzidas em poucos anos por meio de um cabo submarino alternativo de 1 550 km que ligará Cuba à rede da Venezuela. Refira-se ainda que, as instituições e cidadãos dos Estados Unidos estão proibidos de utilizar a Web para transacções electrónicas com instituições cubanas. O bloqueio de downloads de software e informações (inclusive gratuitas) é outra realidade. É sistematicamente negado aos artistas cubanos o direito a participar nas cerimónias dos prémios Grammy e Grammy Latino. Razão evocada: os regulamentos sobre a imigração, que proíbem a entrada nos Estados Unidos a qualquer indivíduo que possa ser prejudicial aos interesses desse país. O mesmo se aplica a cineastas, ao Ballet Nacional de Cuba, a conferencistas universitários, etc., etc., etc.. Mas a política de bloqueio prejudica também aos cidadãos norte-americanos e de terceiros países, como o indicam muitos e variados estudos. A eliminação do bloqueio poderia, por exemplo, criar 100 mil postos de trabalho e rendimentos adicionais de 6 mil milhões de dólares à economia dos EUA. Em 2006 as perdas totais das empresas dos estados Unidos por cada milhão de turistas norte-americanos que não puderam visitar Cuba, atingiram os 565 milhões de dólares. Não é pois de estranhar que a 26 de Abril de 2005, tenha sido anunciado oficialmente a formação da Associação Comercial Cuba-EUA. É composta por mais de 30 companhias, agências estaduais e organizações de 19 estados norte-americanos, com o fim de trabalhar pela eliminação das restrições ao comércio com Cuba. Entre os seus membros encontram-se as grandes empresas ADM, Caterpillar e Cargill. Entre os fundadores contavam-se personalidades como o ex-secretário de Comércio, Bill Reinsch, Kirby Jones, o ex-secretário adjunto de Estado, William D. Rogers, David Rockefeller, a ex-representante comercial Carla Hills, o ex-secretário de Defesa Frank Carlucci e o ex-secretário de Defesa e ex-director da CIA, James Schlesinger. É esta realidade que é ignorada, e/ou escondida, e/ou escamoteada, e/ou deturpada pelos defensores do pensamento único dominante. Uma política, profundamente isolada e rejeitada todos os anos pela Assembleia Geral das Nações Unidas . Tem, como vimos, uma forte oposição interna nos próprios EUA. O que mais reforça o nosso lema: «O que é preciso é informar a malta». In jornal «Avante!» - Edição de 21 de Agosto de 2008

Este texto, acrescenta ao conhecimento da verdade, muitos dos problemas que levaram á grande Revolução Cubana de Fidel Castro, e á dimensão da bestialidade da acção dos americanos contra este valente e corajoso povo, que são um exemplo épico de resistência e luminosa lição de humanidade.

1 comentário:

João Correia (Jota) disse...

http://www.cubaaventura.blogspot.com
O meu foto blog onde resumo um pouco de todo a país,tambem levei anos para ir,depois de foi o confirmar do amor que já antes sentia.