HAMILTON NAKI
O CIRURGIÃO CLANDESTINO OU A IMPORTÂNCIA
DO QUE ÊLE NÃO FOI
Hamilton Naki, um negro sul-africano, nasceu em 13 de Junho de 1926 em Ngcingane, no Eastern Cape (Cabo Oriental).
A história da sua vida foi uma das mais pungentes e exemplares do século XX. No entanto tem permanecido em total obscuridade, até aos dias de hoje.
Quando nos apercebemos da tenacidade e sofrimento que foi necessário para sobreviver e resistir naquele criminoso regime de apartheid, sentimo-nos tão pequenos e dolorosamente convencionais, que não podemos deixar de nos emocionar com a dimensão do drama que foi a sua vida e pela forma humilde e corajosa como a soube enfrentar.
Quando nos apercebemos da tenacidade e sofrimento que foi necessário para sobreviver e resistir naquele criminoso regime de apartheid, sentimo-nos tão pequenos e dolorosamente convencionais, que não podemos deixar de nos emocionar com a dimensão do drama que foi a sua vida e pela forma humilde e corajosa como a soube enfrentar.
Filho de uma família muito pobre, descalço, apascentava os bois antes e depois das aulas, na escola da aldeia.
Aos 14 anos abandonou os estudos e foi para a cidade do Cabo á procura de trabalho. Conseguiu emprego na escola médica do célebre” Groote Schur Hospital”.
Começou a trabalhar como ajudante de jardinagem, limpezas de canis e instalações de animais empregues em experiências científicas.
Começou a trabalhar como ajudante de jardinagem, limpezas de canis e instalações de animais empregues em experiências científicas.
Enfim um faz-tudo, que ia aproveitando sempre que podia para ver como actuavam os médicos e outros cientistas que trabalhavam nessas experiências de transplantes em animais.
Ele próprio dizia a brincar “que roubava as informações com os olhos”.
Ele próprio dizia a brincar “que roubava as informações com os olhos”.
Um dia Robert Goetz, responsável pelo laboratório, ao operar uma girafa, pediu-lhe para o ajudar.
Para sua para surpresa, além dessa simples tarefa, Hamilton Naki demonstrou uma enorme maestria em outros procedimentos cirúrgicos mais complexos, incluindo suturas, anestesias e cuidados pós-operatórios.
Apesar da ausência de estudos formais, as suas capacidades foram sendo reconhecidas, recebendo, uma autorização especial para continuar os seus trabalhos, incluindo mesmo a prática de transplantes em animais.
Sempre que tinha horas vagas, aproveitava para ir lendo e estudando os manuais médicos.
Um dia o Doutor Christian Barnard, reconhecendo a excepcional habilidade e conhecimentos de Hamilton Naki, requisitou-o para a sua equipe, embora legalmente o regime do apartheid não permitisse um negro, trabalhar como médico de seres humanos.
No entanto seu desempenho era tão hábil e competente, que em breve se tornou o número dois dessa equipe que em 3 de Dezembro de 1967, fez o primeiro e mais célebre transplante de um coração.
Foi êle que nessa qualidade, procedeu á extracção do coração de Dennise Darvall, uma jovem que tinha sofrido um acidente automóvel, ao atravessar a rua para ir comprar um bolo.
Este facto foi sempre ocultado pelo regime vigente de apartheid.
Na versão oficial, teriam sido Marius Barnard, irmão de Christian Barnard e Terry O’Donovann que o realizaram, mas na realidade, foi Hamilton Naki quem teve a responsabilidade e a competência necessária, para extrair do coração todo o vestígio de sangue e mantê-lo a trabalhar por meio de dois eléctrodos e finalmente definir o momento para bombear o sangue novo, fazer o coração recomeçar a palpitar, agora no peito de Louis Washkanky.
Na versão oficial, teriam sido Marius Barnard, irmão de Christian Barnard e Terry O’Donovann que o realizaram, mas na realidade, foi Hamilton Naki quem teve a responsabilidade e a competência necessária, para extrair do coração todo o vestígio de sangue e mantê-lo a trabalhar por meio de dois eléctrodos e finalmente definir o momento para bombear o sangue novo, fazer o coração recomeçar a palpitar, agora no peito de Louis Washkanky.
O Dr. Barnard, bem sabia que podia confiar nele.
Foram umas mãos pretas, que extraíram o coração do cadáver de um branco e o preparou tecnicamente para o transplante, em consequência do qual, ficou celebre o Dr. Christian Barnard. Nada do que este fez, foi mais exigente e hábil do que o trabalho feito por Hamilton Naki.
Esta operação, pioneira em cirurgia de coração aberto e de uma enorme delicadeza e complexidade, permitiu que o doente transplantado, sobrevivesse. Infelizmente faleceu de uma pneumonia 18 dias depois, mas com um coração que batia fortemente.
O êxito desta operação teve na época uma incrível repercussão e deu uma extraordinária reputação ao Dr. Barnard, jovem, bonito e fotogénico, que os “midia” tornaram numa reputada "estrela", visitado com frequência por famosos da época, entre os quais a célebre estrela do cinema Sofia Loren, com quem se dizia que teve um romance.
Quando para comemorar o feito, foi publicada a fotografia do doente junto da equipe que tinha levado a cabo semelhante proeza, por "descuido" incluíram…. Hamilton Naki de bata branca ao lado do Dr. Barnard!!!.
O facto de êle ser negro não lhe podia permitir que aparecer na fotografia e para desculpar semelhante “delito”, foi noticiado que se tratava de um faxineiro.
Naki recordou mais tarde ter sido advertido pelo hospital, para não revelar seu envolvimento nessa operação: “Você sabe que é negro e este sangue é de um branco. Por isso ninguém deve saber o que você fez”.
É o próprio Dr. Barnard (êle tambem anti-apartheid, justiça lhe seja feita!!!) que em 1991, numa entrevista dada á televisão sobre a história da África do Sul, revelou a verdadeira história e a importância da intervenção de Hamilton Naki.
Nela admitiu, que a primeira cirurgia de transplante de coração nunca teria acontecido, não fora a habilidade cirúrgica e o brilhantismo do negro Hamiltom Naki, que apesar da legislação do Regime Apartheid, então vigente no país, não permitir um negro tocar no sangue de um branco, foi neste caso aberta uma excepção.
E terminou a entrevista confessando: “ Se Hamilton Naki tivesse tido oportunidade, teria sido melhor cirurgião do que eu”.
Barnard morreu em Chipre, na Grécia, em 2 de Setembro de 2001, vítima de um ataque agudo de asma.
Hamilton Naki, apesar de ser um cirurgião “clandestino” e dar aulas a estudantes brancos, vivia numa barraca, no gueto de Langa, onde nem sequer tinha electricidade ou água corrente. Quando os jornais descreveram as repercussões do avanço científico que discretamente ajudou a impulsionar, modestamente ficou silencioso, sem reclamar, impassível na sua humildade.
“Temos que aceitar aqueles dias, não tinha outro jeito. Era a lei desta terra”, afirmou já na década de 90.
Sendo formalmente jardineiro, o seu salário era o correspondente ao de um auxiliar de laboratório, porque era a maior remuneração permitida a um negro.
Foi na qualidade de jardineiro que se reformou com o ordenado de 275 dólares por mês, indo para um asilo destinado aos jardineiros, mas continuando a trabalhar como cirurgião em um ônibus adaptado como clínica móvel.
A maior parte do dinheiro era usada para ajudar escolas rurais para crianças pobres.
Apenas um de seus cinco filhos pôde completar o segundo grau.
Só após a queda do ”Apartheid” lhe foi reconhecido o mérito.
Em 2002 recebeu a maior honraria da África do Sul a “National Order of Mapungubwe”, e a graduação honorária em medicina pela Universidade da Cidade do Cabo em 2003.
Faleceu poucos anos depois, em 29 de Maio de 2005, com 78 anos de idade.
A sala do hospital Groote Schuur onde foi realizado o transplante se tornou um museu onde se exibe a foto de Hamilton Naki, a quem os nativos consideram um herói.
O tempo geralmente destrói os mitos.
A história às vezes os salva.
Esperemos que seja este o caso, pois a sua dimensão humana, e discreta resignação, transcende a morte da sua memória, com a heróica beleza do seu exemplo.
PODE VER ALGUMAS IMAGENS RELATIVAS A ESTE CASO.
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1 comentário:
Obrigado Juvenal por sua publicação.
Muito Obrigado!
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