MATÉRIA-PRIMA PARA UM
SINDICATO DE BANDIDOS
Devido a uma grave avaria no meu computador, só hoje posso
abordar a questão da destituição de Dilma Rousseff, que constituiu para mim um
facto de extrema relevância.Tenho de confessar que me dei ao trabalho de assistir aquela degradante manifestação politica na Camara de Deputados do Brasil, até para lá das 3h da manhã, não por masoquismo, mas para ter a certeza que de que não estaria a exagerar quando afirmasse que tinha assistido à sessão política mais infame e aviltante, que me fora dado presenciar, em toda a minha vida.
Julgo que se alguma vez me tivesse dedicado a fantasiar, qual
o máximo de indignidade a que o debate político pode chegar, creio não ter
imaginação e criatividade suficientes, para imaginar algo parecido com o que se
passou naquela sessão da Camara de Deputados do Brasil.
Ouvir aquela turba de vendilhões do templo, evocar os deuses
mais variados, 65 vezes e os elementos das suas famílias pelo menos 136 vezes,
segundo alguém que teve a paciência de contabilizar estes grotescos elementos
estatísticos, é um exercício doloroso, da minha integridade mental.
Chefiados pelo seu presidente Eduardo Cunha, uma versão
moderna do senador romano Catilina, também esse, naquele tempo, conspirador compulsivo
em derrubar o governo da republica, com uma vida igualmente cheia de crimes e
vícios, apetece-me dizer como Cícero na oratória das suas “Catilinárias” “, adaptando-as
à nossa realidade “até quando, os Catilina
e companhia, quer no Brasil, quer em Portugal, quer pelo mundo fora, abusarão
da nossa paciência? Por quanto tempo as suas loucuras hão-de zombar de nós?”
É certo que vivemos
tempos estranhos. Tempos em que os valores que deviam consolidar uma sociedade na
via na democracia, da liberdade, teriam na justiça social o seu mais nobre
objectivo, como elemento estruturante da evolução do ser humano.
As classes
dominantes, apoiando-se e apropriando-se em proveito próprio, da tremenda
evolução que o desenvolvimento das várias ciências está proporcionando,
nomeadamente no campo dos automatismos, da informática, na transformação
genética de elementos naturais, cria distorções na harmonia da evolução natural.
O sistema
Capitalista, apropriando-se dos meios de produção, proporciona todo este
compadrio em que andamos a chafurdar e o espetáculo miserável a que
assistimos, na tentativa de abater Dilma Roussef, eleita há bem pouco tempo
presidente da República, por 54 milhões de brasileiros, não passa de um
resultado sinistro, do poder do dinheiro.
Não é pelo menos trágico, assistimos a um canalha, como o deputado
Jair Bolsonaro, que politicamente foi eleito pelo povo, traindo essa delegação,
aproveitar esse voto para elogiar um coronel torturador de Dilma Rousseff, que
levou o requinte do seu sadismo, ao ponto de torturar igualmente o seu marido à
sua frente???
Não é sórdido, uma deputada gritar histericamente “Sim, sim,
sim” evocando a exemplaridade da honestidade da gestão do seu marido, Ruy
Muniz, perfeito de Montes Claros em Minas Gerais e este ser preso no dia
seguinte pela Polícia Federal, acusado desmandos e corrupção, com 30 anos de
prisão à vista???
Não é infame, que Eduardo Cunha, presidente da Camara de
Deputados, acusado pelo deputado Glauber Cunha de “gangster”, referindo que a
cadeira dele cheirava a enxofre, seja o mentor desse “impeachement”, quando ele
próprio, é acusado de ter contas na Suíça e para já, na Operação Lava Jacto,
constar ter sido subornado com 5 milhões de dólares???
Não é moralmente obsceno, que numa Camara de 594 deputados,
352 estejam a contas com a justiça, enfrentando acusações criminais do mais
variado tipo???
Não é ridículo que o celebre “Tiririca”, o terceiro deputado
mais votado em toda a história do Brasil, com 1,35
milhões de votos, que fez história com a consigna "Vota Tiririca.
Pior do que já está, não fica", que durante 5 anos de exercício do seu
mandato proferiu apenas sete palavras, o que dá uma média de uma palavra e um
sétimo por ano, esgotou toda a vivacidade da sua verve de um ano, para dizer “sim”
ao “impeachement” da presidente???
Não é degradante que um deputado, no caso Jean Wyllys, sinta
necessidade de cuspir noutro deputado, como remate da sua indignação, porque
esgotou os impropérios para classificar o comportamento desse Bolsonaro
fascista, disfarçado de deputado, que tem como colega???
E tudo isto passou pelos meus olhos, naquela inesquecível
noite de bruxas e terror.
Pensei colocar alguns vídeos que testemunhassem as
afirmações que faço neste texto, mas porque as redes sociais o têm feito
abundantemente, e há um Blogue designado “CONGRESSO EM FOCO (JORNALISMO PARA
MUDAR)”, que pode ver AQUI, que contem uma informação abundante e minuciosa
sobre todo o processo do “impeachement”.
Limito-me a terminar com um vídeo, que hoje mesmo chegou ao
meu conhecimento, de uma estação norte-americana, a CNN, legendado em
português, onde é feita uma entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, do “The Guardian”,
que foi um dos jornalistas que denunciou os documentos da NSA fornecidos por Edward
Snowden, o que lhe proporcionou o Prémio Pulitzer do jornalismo e cuja
analise e imparcialidade é historicamente importante.
Para quem não tenha assistido e se revista da santa
paciência a que tive de me socorrer para ouvir até ao fim tamanho desaforo,
aqui fica para memória futura a recordação daquela farsada, organizada pela
direita brasileira, para evitar que grande parte dos actores vá parar à prisão.
Pobre Brasil, que tais filhos pariu!!!
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