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sexta-feira, 22 de abril de 2016


MATÉRIA-PRIMA PARA UM SINDICATO DE BANDIDOS
Devido a uma grave avaria no meu computador, só hoje posso abordar a questão da destituição de Dilma Rousseff, que constituiu para mim um facto de extrema relevância.
Tenho de confessar que me dei ao trabalho de assistir aquela degradante manifestação politica na Camara de Deputados do Brasil, até para lá das 3h da manhã, não por masoquismo, mas para ter a certeza que de que não estaria a exagerar quando afirmasse que tinha assistido à sessão política mais infame e aviltante, que me fora dado presenciar, em toda a minha vida.

Julgo que se alguma vez me tivesse dedicado a fantasiar, qual o máximo de indignidade a que o debate político pode chegar, creio não ter imaginação e criatividade suficientes, para imaginar algo parecido com o que se passou naquela sessão da Camara de Deputados do Brasil.
Ouvir aquela turba de vendilhões do templo, evocar os deuses mais variados, 65 vezes e os elementos das suas famílias pelo menos 136 vezes, segundo alguém que teve a paciência de contabilizar estes grotescos elementos estatísticos, é um exercício doloroso, da minha integridade mental. 
Chefiados pelo seu presidente Eduardo Cunha, uma versão moderna do senador romano Catilina, também esse, naquele tempo, conspirador compulsivo em derrubar o governo da republica, com uma vida igualmente cheia de crimes e vícios, apetece-me dizer como Cícero na oratória das suas “Catilinárias” “, adaptando-as à nossa realidade até quando, os Catilina e companhia, quer no Brasil, quer em Portugal, quer pelo mundo fora, abusarão da nossa paciência? Por quanto tempo as suas loucuras hão-de zombar de nós?”
É certo que vivemos tempos estranhos. Tempos em que os valores que deviam consolidar uma sociedade na via na democracia, da liberdade, teriam na justiça social o seu mais nobre objectivo, como elemento estruturante da evolução do ser humano.
As classes dominantes, apoiando-se e apropriando-se em proveito próprio, da tremenda evolução que o desenvolvimento das várias ciências está proporcionando, nomeadamente no campo dos automatismos, da informática, na transformação genética de elementos naturais, cria distorções na harmonia da evolução natural.
O sistema Capitalista, apropriando-se dos meios de produção, proporciona todo este compadrio em que andamos a chafurdar e o espetáculo miserável a que assistimos, na tentativa de abater Dilma Roussef, eleita há bem pouco tempo presidente da República, por 54 milhões de brasileiros, não passa de um resultado sinistro, do poder do dinheiro.
Não é pelo menos trágico, assistimos a um canalha, como o deputado Jair Bolsonaro, que politicamente foi eleito pelo povo, traindo essa delegação, aproveitar esse voto para elogiar um coronel torturador de Dilma Rousseff, que levou o requinte do seu sadismo, ao ponto de torturar igualmente o seu marido à sua frente???
Não é sórdido, uma deputada gritar histericamente “Sim, sim, sim” evocando a exemplaridade da honestidade da gestão do seu marido, Ruy Muniz, perfeito de Montes Claros em Minas Gerais e este ser preso no dia seguinte pela Polícia Federal, acusado desmandos e corrupção, com 30 anos de prisão à vista???
Não é infame, que Eduardo Cunha, presidente da Camara de Deputados, acusado pelo deputado Glauber Cunha de “gangster”, referindo que a cadeira dele cheirava a enxofre, seja o mentor desse “impeachement”, quando ele próprio, é acusado de ter contas na Suíça e para já, na Operação Lava Jacto, constar ter sido subornado com 5 milhões de dólares???
Não é moralmente obsceno, que numa Camara de 594 deputados, 352 estejam a contas com a justiça, enfrentando acusações criminais do mais variado tipo???
Não é ridículo que o celebre “Tiririca”, o terceiro deputado mais votado em toda a história do Brasil, com 1,35 milhões de votos, que fez história com a consigna "Vota Tiririca. Pior do que já está, não fica", que durante 5 anos de exercício do seu mandato proferiu apenas sete palavras, o que dá uma média de uma palavra e um sétimo por ano, esgotou toda a vivacidade da sua verve de um ano, para dizer “sim” ao “impeachement” da presidente???
Não é degradante que um deputado, no caso Jean Wyllys, sinta necessidade de cuspir noutro deputado, como remate da sua indignação, porque esgotou os impropérios para classificar o comportamento desse Bolsonaro fascista, disfarçado de deputado, que tem como colega???
E tudo isto passou pelos meus olhos, naquela inesquecível noite de bruxas e terror.
Pensei colocar alguns vídeos que testemunhassem as afirmações que faço neste texto, mas porque as redes sociais o têm feito abundantemente, e há um Blogue designado “CONGRESSO EM FOCO (JORNALISMO PARA MUDAR)”, que pode ver AQUI, que contem uma informação abundante e minuciosa sobre todo o processo do “impeachement”.
Limito-me a terminar com um vídeo, que hoje mesmo chegou ao meu conhecimento, de uma estação norte-americana, a CNN, legendado em português, onde é feita uma entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, do “The Guardian”, que foi um dos jornalistas que denunciou os documentos da NSA fornecidos por Edward Snowden, o que lhe proporcionou o Prémio Pulitzer do jornalismo e cuja analise e imparcialidade é historicamente importante.

Para quem não tenha assistido e se revista da santa paciência a que tive de me socorrer para ouvir até ao fim tamanho desaforo, aqui fica para memória futura a recordação daquela farsada, organizada pela direita brasileira, para evitar que grande parte dos actores vá parar à prisão.
Pobre Brasil, que tais filhos pariu!!!

 

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