Mensagem

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sábado, 9 de abril de 2016


                  UMA LIÇÃO SOBRE
            DIALÉTICA DA NATUREZA
Se outra vantagem não tiver o escândalo dos “Panamá Papers”, tem pelo menos a virtude de generalizar ainda mais, o sentimento de revolta contra as elites globais que escondem as suas fortunas, para escapar ao fisco, branquear capitais, pagar comissões ilegais, financiar terrorismo, pagar todo o tipo de “luvas” no mundo da corrupção, aproveitando a legalidade dos alçapões do sistema financeiro internacional contem.
Clara Ferreira Alves diz hoje na revista do Expresso, que daqui a uns dias já ninguém quererá saber, patati, patatá, etc. e tal.
Pela dimensão do escândalo, tenho fundamentadas expectativas que tal afirmação seja coisa de uma “Pluma caprichosa”, cujos devaneios jornalísticos, às vezes muito aprecio.
No entanto como gato escaldado tal e coisa e o meu primeiro impulso quando rebentou esta bronca foi exagerado, à cautela, prudentemente, vou-me preparando para pôr as barbas de molho, socorrendo-me das esperanças frustradas em 2008, na sequência do “Subprime”.
Há na raiz da minha potencial ingenuidade inicial, uma substância de caracter científico que rege todas as minhas espectativas e dá força à minha esperança.
Acredito piamente em Engels e Marx e no sentido cosmológico da “Dialética da Natureza”.
A dimensão generalizada da indignação que pressinto, até para meu espanto espelhada na comunicação social, justificam justeza do meu otimismo e sendo a percepção que tais sentimentos são generalizados no conjunto da sociedade, torna lógico considerar abusivo, acreditar que qualquer “Clara Caprichosa” possa ter razão.
Parece-me impossível admitir que este gigantesco escândalo seja esquecido tão rapidamente como ela profetiza, independentemente de ser obrigado a ter em conta a nossa Caixa Geral dos Depósitos que tem nas ilhas Caimão, a CGD Cayman e uma sucursal igualmente nas Bahamas. Podemos acrescentar que praticamente o mesmo se passa com o Banco Comercial Português, Millenniun, BPI, Novo Banco, que em maior ou menor grau, mantem sucursais em paraísos fiscais.
Também a propósito, ontem, Francisco Louçã no programa “Tabu” da SicNoticias, relembrava um livro que já tínhamos lido há bastante tempo sobre a “Zona Franca da Madeira”, de autoria de João pedro Martins, intitulado “Suite 605”, que descrevia um escritório de 100 metros quadrados, do edifício Marina Fórum, no centro do Funchal, onde funcionavam cerca de 1.000 empresas e onde ironicamente recordava, para acentuar a inexistência de capacidade de produzir postos de trabalho, que cada uma dessas empresas tinha direito 10cm quadrados.
De facto, aquele escritório mais não é que uma caixa de correio, à semelhança do que se passa na generalidade dos restantes paraísos fiscais.
Se é esta realidade que leva Clara Ferreira Alves a pressupor que dentro de dias já não se fala do assunto, esquece-se que é a natureza elitista dos protagonistas, muitos deles responsáveis pelas dificuldades que estamos a viver, que infernizam a vida dos cidadãos.
Termino, para quem não teve o privilégio de ver, com  vídeo do programa “Expresso da Meia Noite” que a SicNoticias apresentou ontem.
Este programa teve no seu painel Micael Pereira, um dos jornalistas envolvidos na investigação, Elisa ferreira eurodeputada europeia do PS, que esclareceu as medidas que o parlamento europeu está a tomar para moralizar a situação, Nuno Sampayo Ribeiro, fiscalista que foi extremamente pedagógico, condenou os argumentos que moralizam os movimentos de capitais, defendeu a importância de uma fiscalidade progressiva e condenou muitas das realidades negras dos offshores.
Manuel Lopes da Costa, professor do ISCTE, foi a sinistra personagem que tentou defender os offshores, como uma “ferramenta” útil e que serve de resposta justa ao exagero como as pessoas são fustigadas pelos impostos.
Os seus argumentos eram tão irracionais que Ricardo Costa, contra o que é habitual, transformou o seu papel de moderador em contestador da argumentação. Aquele inescrupuloso professor, chegou ao ridículo de considerar o offshore da Madeira, como responsável de não haver desemprego naquela ilha.
Julgo que bastaria este argumento, tendo em consideração o que acima esclarecemos sobre a forma como funciona aquele offshore, para demonstrar a desonestidade intelectual daquele espertalhufo.
Resumindo, ao assentar a sua tese no anedótico argumento que os offshores servem essencialmente de “ferramenta” para atrair capitais que fogem aos impostos, porque pessoas devem ter segundo ele, a “elasticidade” de poderem pagar o menos possível sobre os lucros, ou seja entre 1 e 6% no máximo.
Ouvi-lo só por si, dá para perceber a imoralidade que preside aquelas instituições e o nível do perigo a que a sociedade está sujeita, se rapidamente não encontrar solução para a questão dos paraísos fiscais.


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