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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A HISTÓRIA COM OLHOS DE VER


GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGIA

ARGUMENTOS PARA A BARBÁRIE


O “Avante” desta semana, publicou um artigo de Ângelo Alves intitulado «Caos Controlado», (VER AQUI) que aborda o problema do Estado Islâmico, a propósito dos bombardeamentos feitos pela aviação americana e seus aliados, cuja leitura recomendamos vivamente.
O Partido Comunista Francês, também acaba de publicar um longo texto, que no nosso entender complementa o artigo do nosso “Avante” e por essa razão, resolvemos traduzi-lo, para alargar o seu conhecimento a um maior número de pessoas, dada a sua importância histórica.
De ambas as publicações ressalta no entanto a necessidade de dar mais alguns elementos, que completam a realidade factual dos graves acontecimentos que neste momento determinam a geoestratégia dos Estados Unidos, na sua intenção de dar continuidade à desestabilização do Médio-Oriente, favorecendo Israel, no sentido de consolidar a sua expansão e enfraquecer os seus principais adversários.
Estas operações, como nos lembramos, começaram quando os americanos deram apoio a Sadam Hussein para invadir o Kuweit e posteriormente, lhe tiraram o tapete debaixo dos pés e deram o dito por não dito, a que se seguiu a primeira invasão do Iraque, por ordem do Bush pai.
A estes factos, que denunciámos neste Blogue em 27 de Março de 2008, num artigo como título “AINDA A INVASÃO DO KUWAIT“ (VER AQUI) seguiu-se mais tarde a 2ª invasão do Iraque, (de triste memória para Portugal, pela miserável colaboração dada então por Durão Barroso), desta vez pelo Bush filho, sob o artificioso pretexto, de Sadam Hussein ter armas de destruição maciça.
Sabe-se hoje, que de facto não foi aquela a razão e apropriar-se do petróleo, como argumento das “más-línguas”, é uma questão secundária.
A verdadeira razão assenta no facto de Sadam Hussein, que só podia vender um pequeno contingente de petróleo, ameaçar os Estados Unidos de passar a vender o petróleo em euros e outras moedas, se não o deixassem aumentar a quota de petróleo estabelecida, desde o tempo do Bush pai.
Isto era inadmissível para os americanos, que assentavam o valor do dólar artificiosamente, no facto de este ser considerada moeda de referência internacional e garantia de pagamento no negócio do petróleo.
Se tal desiderato fosse levado por diante, a consequente desvalorização do dólar era a ruina dos Estados Unidos, até porque após a denúncia unilateral de Richard Nixon em 1971 dos Acordos de Bretton Woods, onde o ouro ficara indexado ao dólar numa base fixa de 35 dólares por onça Troy, a cobertura da cotação do dólar, era garantida pelos acordos feitos com os principais países produtores de petróleo do Médio- Oriente (os celebres petrodólares), contra a garantia entre outras, de manter as famílias reais da Arábia Saudita, Qatar e Emiratos Unidos no poder, como se fossem parte integrante dos Estados Unidos.
Outra questão importante, que ainda hoje não é do conhecimento generalizado, refere-se à alteração radical de apoio ao General Kadhafi, que nem um mês passou de lhe serem prestadas todas as mordomias e já eram financiados, treinados e apoiados os movimentos contrarrevolucionários que acabaram por o destituir e assassinar.
Também neste caso, as versões são pouco claras e a informação alternativa mais isenta, atribui como razão de fundo o facto de Kadhafi ter atribuído aos chineses a construção e financiamento de 5 gigantescos sectores de construção civil, como sejam portos, autoestradas, barragens, aeroportos e caminhos-de-ferro, a reviravolta nas suas relações com a Europa e os Estados Unidos.
Para terminar, quando estava a ler o artigo do PC francês e vi a referência que faziam à decapitação dos dois americanos, referindo que no mesmo momento estavam a decapitar quatro sauditas, pelo simples facto de possuírem haxixe com a finalidade de demonstrar a monstruosidade do regime saudita.
Julgo que seria mais significativo terem-se lembrado do caso das seis mulheres que fora igualmente decapitadas, por não acederem a ter relações sexuais, com os elementos do exército do Estado Islâmico.


Os EUA bombardeiam os islâmicos na Síria. Há um ano, eles queriam entrar na guerra ao lado deles eles. De quem é que estão a zombar?



 












Legenda: líder republicano americano John McCain fazendo uma selfie com combatentes islâmicos sírios em 2013, muitos dos quais vieram juntar-se ao EI (Estado Islâmico) 

Há notícias hoje em dia, que é preciso ouvir duas vezes para acreditar: os Estados Unidos estão agora a bombardear território sírio, sem autorização do governo local, para acabar com uma oposição islâmista que eles próprios apoiaram, alimentaram, com as guerras americanas no Iraque.
 Face à crise do capitalismo e às suas contradições inextricáveis, as mentiras do imperialismo, a única saída para o capitalismo é a guerra. A destruição, a corrida armamentista, alimentam chorudos lucros, criam tensões na comunidade que permitem "dividir para melhor reinar".
 As operações militares aereas da noite passada teriam feito 120 mortos - 70 do EI, 50 Al Qaeda – segundo o  Observatório Sírio dos Direitos do Homem. Oito civis, dos quais três são crianças, foram igualmente mortos. Sem causar tanta indignação aqui, como as decapitações dos jornalistas americanos.
 De acordo com o relato feito por uma rádio designada de RFI, a Arábia Saudita, o Qatar, a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, participaram em graus diversos nos seus ataques.
 Todas estas quatro ditaduras - incluindo a Arábia Saudita e o Qatar entre as mais obscurantistas do mundo – formam uma estranha "Santa Aliança", face ao Islamismo onde são inspirados.
 Quem ouviu dizer que no momento em que James Foley foi decapitado, Arábia Saudita decapitava quatro homens por posse de haxixe ...? Vê-se bem onde a EI é inspirada.
 Tudo isto, coloca uma série de questões urgentes:
 Porque não se diz nada sobre o apoio que se dá desde 2011, aqueles "rebeldes sírios" que agora bombardeiam?

1 – Nada é dito sobre o financiamento que desde 2011 é dado a uma rebelião islamita síria, pelos seus aliados, a Arábia Saudita e o Qatar.
 É um segredo de polichinelo, que ambas as monarquias absolutas, financiavam os islamitas  sunitas, incluindo nomeadamente a "Al-Nosra" pelo o Qatar e a  "EIIL" pela Arábia Saudita.
Desde então, a EI continua a receber doações de riquíssimas figuras do Golfo Pérsico a «título individual». Quando sabemos quantas famílias de principes, milionários, redes islamitas, estão interligados nesses países, dá vontade de rir.    
Um estranho silêncio se mantêm também, sobre a contribuição dos serviços secretos sauditas, lideradas pelo príncipe Bandar - um velho amigo da família Bush – que organizam desde 2011 estas forças islâmicas, nomeadamente a partir de campos de treino na Jordânia.
Estima-se que os sauditas são o maior contingente estrangeiro na Síria e no Iraque, para constituirem o estado islâmico (EI).
2 - Nada é dito sobre a conivência de outro aliado, a Turquia, com os rebeldes islamitas  na Siria.
 Os rebeldes islâmitas que permanecem desde   três anos, no norte da Síria, ao longo de uma fronteira 800 km com a Turquia, resistem a um dos exércitos mais poderosos da região.
Jamais isto seria possível, sem o apoio tácito do governo islamita de Erdogan.  Diversos relatórios saidos na imprensa turca revelam que combatentes islâmicos tem a Turquia como uma base de retaguarda, para se tratarem, restabelecerem e conseguir comida,  armas e apoio logístico.
Os serviços secretos turcos (MIT) prestam uma assistência cuja amplitude ainda está em debate, a polícia e os serviços de fronteira turcos fecham os olhos para o fluxo de jihadistas que passam predominantemente pela fronteira Turco-Síria.
O caso do camião cheio de armas e munições para a Síria, interceptadas em 1 de Janeiro de 2014, na fronteira em Adana, é reveladora. Este camião pertencia ao IHH (Fundação Turca para a Ajuda Humanitária), organização caridade islâmica ligada à família Erdogan, Anteparo para o financiamento de grupos jihadistas na Síria. Os serviços secretos turcos estavam envolvidos.
3 - Não há sustentação moral, política ou  financeira, que possa justificar o apoio dos Estados Unidos aos rebeldes sírios desde 2011.
Ainda no último mês de Junho, Obama prometeu 500 milhões de dólares para armar os "rebeldes sírios","moderados" claro. Não se percebe, o que é um islâmico moderado armado!
Desde 2011, que os Estados Unidos tem estado na vanguarda de uma campanha ideológica, presumidamente para se opor de uma maneira maniqueísta, a um regime opressivo, sanguinário de cidadãos indignados e amantes da liberdade, e da democracia.
Uma imagem que voou em estilhaços, quando se percebeu que a "resistência" ao regime laico e nacionalista de Assad não era composto apenas de soldados em busca de poder, burocratas corruptos, dissidentes nascidos nos flancos do Antigo regime, e islamistas extremistas.
4 - Nada há mais desastroso que o resultado de 25 anos de intromissão no Médio- Oriente, e no Iraque.
O que trouxeram as duas guerras do Golfo, particularmente a de 2003? Prometia-se a democracia, a prosperidade, a paz. Tivemos o obscurantismo, a miséria, a guerra.
O regime Saadam, longamente apoiado pelo Ocidente, independentemente dos seus detestáveis aspectos repressivos, tinha feito do seu país, aquele que dispunha de um dos melhores sistemas de saúde e de educação da região. A minoria cristã era protegido, o os curdos dispunham de uma autonomia relativa.
Depois de 2003, o país mergulhou num conflito (comunitário) sangrento, a sua "democracia" foi usada para pilhar as riquezas do país (petróleo) e alimentou um regime (comunitário) corrupto. A sua população , dos quais 500 mil a 1 milhão de pessoas morreram por causa da intervenção americana, e voltaram à  "Idade da Pedra", como lhes fora prometido pelos Bush, pai e filho.
Aqueles que se opunham à guerra no Iraque, em 2003, sublinhavam todos os riscos de caos na região, a hipocrisia de uma guerra pelo petróleo, pelo facto de os regimes "nacionalistas leigos" como os de Saadam, Kaddafi ou Assad opunham-se ao extremismo islâmico. Hoje, o campo de verdade prova ter sido uma vitória simbólica, amarga e superflua.
5 - Finalmente, não há nada de verdade, no que nos foi dito há um ano: que era preciso intervir na Síria, ao lado dos rebeldes contra Assad.
E o mais incrível, estávamos a menos de um ano, nas margens da guerra ... ao lado dos islâmicos da EI, «Al Nosra», contra o governo de Assad!
Bem lembramos aquela história de armas químicas supostamente disparados pelo regime sírio, em 21 de Agosto. Desde o início, vários especialistas e peritos dos serviços secretos dos EUA, sublinharam as contradições na versão oficial.
Desde então, o envolvimento do MIT turco, dos serviços sauditas e sobretudo, a responsabilidade prática dos islamitas no desencadeamento desses raides aereos, emerge claramente.
A despeito dos «vai p’ a guerra» - incluindo a França Laurent Fabius - Estados Unidos teve de recuar, face da intransigência da Rússia, e às manobras ambíguas sauditas, conscientes de se estarem a envolver  numa batalha duvidosa, de que eles não podiam controlar o resultado.
Um ano mais tarde, parece, pelo menos à primeira vista, que os Estados Unidos, apesar de tudo, viram-se obrigados a uma frente comum com Bashar al-Assad e o Irão ... contra rebeldes islâmicos sírios que apoiavam um ano atrás. Não estamos em 2014 mas em 1984!
Justificar a interferência na Síria e no Iraque ... para continuar alimentando o caos na região!
Mas as aparências são pouco enganadoras. Os Estados Unidos não abandonaram o seu plano de conjunto: o "Novo Médio- Oriente ", supõe a eliminação do Iraque e Síria como potências independentes, e o cerco ao Irão.
Concretamente, por uma hábil manobra geopolítica. Podemos identificar quatro linhas coerentes para os EUA, com estes primeiros bombardeamentos.
A - o objetivo dos EUA é manter o caos na região, para reduzir à impotência os principais Estados árabes.
O Iraque e a Síria são historicamente os dois grandes países árabes do Médio-Oriente, com uma população educada e prograssista,um exército forte e nacionalista, uma simpatia pela causa palestina.
Estratégia norte-americana, é enfraquecê-los enquanto estados – e eventualmente até à sua divisão. Os Estados Unidos sabem que a alternativa mais provável para o regime de Assad, é um Estado islâmico, com a bênção de seus aliados do Golfo.
Os EUA, mas sobretudo  Israel, não têm interesse nisso. A estratégia de Israel, como a americana, preferem manter nos dois casos, um estado de guerra civil permanente, a auto-destruição da Síria e do Iraque, o que reduziria estes dois estados à impotência, longe da questão palestiniana.
B - O seu objetivo é também criar um clima de insegurança na região, para alimentar a corrida aos armamentos.
O caos permanente permite dar um novo impulso à corrida aos armamentos na região, criar um inimigo mesmo que fantoche, para aumentar os orçamentos militares, e as encomendas dos países ocidentais.
Na "guerra contra o terror", o negócio ganha a dobrar, triplicar ou até quaduplicar.
Por um lado, os comerciantes de armas americanos, franceses, alemães ou britânicos, armam as ditaduras aliadas - Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos - aumentando as compras aos ocidentais. A Arábia Saudita, é de facto o principal cliente da França e da Alemanha.
Por outro lado,  estas ditaduras Sauditas ou do Qatar, financiam e armam secretamente os rebeldes islâmicos (com as nossas armas) e criam um inimigo que legitimam novas compras militares, não só destas ditaduras, mas como das outras potências da região e dos países ocidentais.
Mas não é tudo. Uma vez montadas todas as peças pelos nossos aliados, com as nossas armas,  nós legitimamos em seguida o armamento de novos rebeldes, novos resistentes (tais como os curdos iraquianos) que armaremos e financiaremos, com gastos militares excepcionais, pagos pelo Estado, legitimando a re-militarização da sua economia, que é o que fazem os alemães.
C - Isto serve de pretexto para uma intervenção aerea e logo de seguida contra Bashar al-Assad.
A dimensão da velhacaria, parece tornar cada vez mais o fantasma do EIIL/ EI uma forma de ameaça , para paradoxalmente, legitimar a intervenção armada na Síria.
Por isso, o presidente americano Obama disse que se tratava de uma longa campanha, talvez de vários anos.
Ele evocou a coordenação com a Jordânia, Arábia Saudita, e os outros rebeldes sírios, para uma campanha militar terrestre para derrotar os islamitas do EI, acompanhado por uma vaga de bombardiamentos.
Quem pode acreditar que, uma vez na Síria, as tropas americanas, Sauditas, Jordanas - que sonham desde 2011 derrubar Assad - vai parar a luta contra o EI, para colaborar com as tropas do exército regular?
A "guerra que germina", aproxima-se. Com o centenário da morte de Jaurès, uma frase ficou gravada na nossa memória : «o capitalismo traz no seu seio a guerra, como a nuvem traz a tempestade».
Seu idealismo pacifista não triunfou do capitalismo belicoso, esperemos no entanto que as forças de paz consigam encontrar as armas necessárias, para erradicar esse mal pela raiz!
 

O ORIGINAL ESTÁ AQUI

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