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domingo, 28 de setembro de 2014

A RELIGIÃO E A VIDA


 REFLEXÕES SOBRE A RELIGIÃO 
O problema da religião e particularmente da religião católica apostólica romana, fazem parte sistemática, das minhas reflexões.
Recomendo vivamente a leitura de dois textos que escrevi neste Blogue sobre a religião nos seus variados aspectos, como sejam a génese, desenvolvimentos e influência no processo civilizacional.
O primeiro tem o título «DA CRENÇA E DA RELIGIÃO» e foi escrito no dia 7 de Janeiro de 2010 e pode ser lido AQUI.
O segundo, tem o título «A QUESTÃO RELIGIOSA» e foi escrito no dia 27 de Agosto de 2011 e também pode ser lido AQUI.
Vem isto a propósito de uma entrevista a Frei Bento Domingues feita pela jornalista Sara Belo Luís, no dia 18 de Setembro e publicada na da revista Visão no passado dia 26 de Setembro de 2014, com o título «Frei Bento Domingues: "Que mundo é este que queremos fazer?"»LER AQUI
Tenho lido com agrado algumas entrevistas que têm feito a este frade. Independentemente dos aspectos teológicos que aborda, por dever (ou deformação) profissional, quando entra na área social ou política, a minha identificação com o seu pensamento, não sofre qualquer melindre.
De resto, já assim acontecia em muitas dissertações do ex-frade da Ordem dos Frades Menores, Leonardo Boff, mentor da Teologia da Libertação, exorcizado da Igreja Católica pela «Congregação para a Doutrina da Fé», dirigida por Joseph Ratzinger, que posteriormente se tornou papa com a designação de  Bento XVI, por considerarem que "as opções analisadas pelo Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar".
Considerando que o então frade Leonardo Boff, era professor de Teologia Sistemática e Ecumênica no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis no Rio de Janeiro, durante 22 anos, temos de acreditar que o seu saber de experiência feita, lhe era ditado pelas opções que eram inspiradas pela significativa adesão aos novos caminhos, trilhados principalmente pelas classes mais humildes da América Latina.
Ao chamar a colação estes dois frades (e mais alguns poderia nomear…felizmente) não posso deixar de referir que os seus pensamentos e comportamentos mais não são que reflexo de dois momentos importantes da Igreja Católica: a Encíclica “Rerum Novarum” e o Concílio do Vaticano II.
A Encíclica “Rerum Novarum” foi levada a efeito pelo Papa Leão XIII em 1891, compelido pela incontrolável explosão revolucionária, que à época as teses de Karl Marx (1818-1883) exerciam sobre as classes trabalhadoras.
O Concílio do Vaticano II, dito Ecumênico da Igreja Católica, convocado em 1961, reflete a necessidade de revigorar esse entusiasmo dos fiéis, que na ocasião já se encontrava muito debilitado, pelo conservadorismo da hierarquia da igreja católica apostólica romana.
Com ele renasceu alguma espectativa, digamos revolucionária, cujo principal sinal foi-nos dado pelo aparecimento de uma corrente teológica, personalizada principalmente pelo frade Leonardo Boff e não é por acaso que uma das primeiras afirmações de Frei Bento Domingues na entrevista que referimos, quando lhe perguntam nunca se cansa de pregar?” a resposta do frade foi:"A única coisa que me importa é a insurreição" .
Mais adiante e perante a pergunta: Os anticlericais são os desagradáveis...”, responde significativamente “Não, não são nada desagradáveis. E têm muitas razões para serem anticlericais.”
No entanto a resposta que considero fundamental para definir a alta qualidade do seu pensamento, foi  quando lhe perguntaram: “Essa necessidade de ver o mundo a partir dos que mais precisam é cada vez mais atual?”
Frei Bento Domingues a esta pergunta dá esta resposta avassaladora:
“Sempre foi. O poder sempre foi dos ricos, dos poderosos, dos impérios. Vale-nos a cintilação daqueles que, tanto no paganismo como no cristianismo, dizem "mas". Como quando, na descoberta do Mundo Novo, dos chamados países da América Latina, uma pequena comunidade de dominicanos escreveu um texto a denunciar o que estava a acontecer aos índios, em nome da exploração do ouro. Estes é que são os momentos evangélicos. Aqui é que reconhecemos que somos irmãos e filhos de Deus. Organizem a economia como quiserem, organizem as finanças como quiserem, organizem os hospitais como quiserem, mas não o façam segundo o princípio da exclusão.”
E vou terminar fazendo uma confissão do meu foro íntimo.
Todos os dias adormeço com os fones nos ouvidos e sintonizado na Antena 1, porque tem uma programação cultural e informativa excepcional. 
Ao sábado um dos últimos que ouço, é o esplêndido programa de Ruben de Carvalho, que é uma verdadeira enciclopédia viva sobre música popular e quando na sequência natural, depois do programa sou vencido pelo sono, acordo sistematicamente ao domingo, a ouvir a missa na Igreja S.João de Brito.
Bastaria ouvir o que lá se diz e pratica de repetitivo, soturno, enfadonho e “antediluviano”, para se concordar com o Frei Bento Domingues quando lhe perguntam: “Em alguns momentos da história, a Igreja Católica também excluiu...” e ele responde:
“Claro que sim. Dou um exemplo muito simples: entra-se numa igreja, numa missa de domingo e alguém fala para aquelas pessoas que não podem abrir a boca. O Papa Francisco já disse aos outros bispos e aos padres para não aborrecerem as pessoas, que mesmo na ordem moral há uma hierarquia de verdades, há umas coisas mais importantes que outras... E há uma certa forma de fazer que leva a que, depois, as pessoas digam "isto não resolve nada". As pessoas vão à eucaristia para receberem iluminação para a semana, para se fortalecerem, para se encontrarem umas com as outras, para ?participarem nesta coisa de ir mudando a nossa vida... Apesar de ser minhoto, eu gosto muito da filosofia alentejana...”
Está tudo dito!!!

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