Mensagem

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quinta-feira, 30 de julho de 2009

CARTA ABERTA A ALGUEM QUE ABANDONOU O PCP,
PARA ENTRAR NAS LISTAS DO PS,

"DISFARÇADO" DE “INDEPENDENTE”.

Camarada
Recebi á pouco a notícia que irias fazer parte das listas do PS, creio que como independente.
Não imaginas o choque que foi para mim, saber que um camarada, que considero um amigo e meu irmão nos ideais políticos, tinha desistido de os defender no lugar certo e na forma justa e empenhada como até agora o tinhas feito.
A pergunta que faço e que só tu saberás a resposta é:
Será possível que em consciência, estejas bem contigo próprio?
Eras não só um comunista, como um quadro do único Partido, que defende a ideologia comunista, como reflexo da dialéctica da natureza e portanto na expectativa de dar ao homem condições para evoluir em sociedade, em total harmonia e na busca da felicidade.
Dir-me-ás hoje, que o PCP, não tem o exclusivo dessa finalidade.
Enganas-te!!! E sabes porquê?
Porque ninguém sabe tudo, ninguém pode garantir qual é o melhor caminho!
O que no PCP se sabe e disso és testemunha qualificada, é que quando algo ali se discute e se põe em causa, as opções são aquelas que os colectivos, especializados em cada matéria, acham serem as melhores, não para um ou para outro, para ti ou para mim, mas para “todos” os trabalhadores do sector.
Pode-se errar, mas a inteligência do colectivo cedo ou tarde, encontra o melhor caminho.
Pode levar mais tempo do que seria desejável, mas não falha.
É indefensável que se eternize a falta de razão, quando há oportunidade de democraticamente discutir os assuntos.
E sabes bem, que no Partido é assim que as coisas funcionam, embora de antemão reconheça, que nos sectores intelectuais, há bastante mais dificuldade em aceitar a razão dos outros.
Enquanto for assim e eu tenho a certeza que por enquanto é, a minha luta será a luta do PCP, com todas as forças do meu espírito e do meu corpo.
E eu, meu amigo, julgava-te vacinado dos belos cantos da sereia anticomunista, que com o fim da União Soviética, transformaram a sociedade numa selva de obscena descriminação.
Ceder ao conforto do nosso desacordo com esta ou aquela medida que o PCP possa tomar, rumando para zonas politicamente mais confortáveis, é mais do que um egoísmo, é uma desistência que tem uma dupla consequência.
Em primeiro lugar, na tua consciência, pois não podes impunemente deitar para traz das costas, tanta luta que travaste, por uma causa e com argumentos, que durante tanto tempo achastes nobres e justos.
Em segundo lugar, as consequências para aqueles, para quem servias de exemplo, e por maior fragilidade ideológica, tenderão a vacilar na luta pelos ideais que foram teus desde sempre e que continuarão a ser os das classes exploradas, independentemente da tua desistência ou de seja quem for.
Custa-me admitir que o carácter da tua personalidade, passa para zonas onde habitam os Mários Soares, Edmundos Pedro, Vitais Moreiras, Zitas Seabras, Pinas Mouras, Carlos Britos e infelizmente mais alguns etceteras.
Podes me dizer, que a tua luta vai continuar a ser a mesma!
Não...não vai. Não te iludas!
1º - Quem te vai acompanhar, não te dará a mínima garantia de lealdade no apoio a essa luta.
2º - Os tempos te ensinarão, que ou vendes a tua consciência, ou reconhecerás que esta tua atitude foi um erro tremendo.
A tua juventude permite-me ter a certeza, que isso acontecerá antes de envelheceres.
Não acredito que alguma razão do mundo, justifique um homem a desistir dos seus ideais.
No quadro da realidade social e política portuguesa, a transformação revolucionária, é muito difícil e tem poucos elementos gratificantes, para além do dever cumprido.
Mas isso já tu sabias e creio que nunca foi argumento, para desistires.
A acusação que nos fazem de sermos “ideologicamente indigentes ou conservadores””popular obreiristas”, são slogans, semelhantes á velha “cassete” e subordinam-se como deves saber, pela forma rigorosa e persistente como lutamos em defesa das classes trabalhadoras, contra tudo e contra todos.
Não existem motivos razoáveis, para se proceder de outra maneira, tendo em linha de conta o Marxismo-leninismo.
Até que me provem que assim não é, continuarei a lastimar todos aqueles que desistem da luta sob a bandeira do PCP, embalados por argumentos classistas, falsos ou falaciosos, como o próximo futuro se encarregará de demonstrar.
Temos uma experiência única.
Lembras-te como começou e acabou a "Perestroika" e a imensamente elogiada e celebrada pelo capitalismo......a famosa "Glasnost"?
Lembras-te do "nosso" 25 de Abril?
Ninguém devia se devia esquecer do que foram as promessas do 25 de Abril e de como serena e placidamente fomos sendo enganados e sobretudo, quem foi responsável por isso!!!
Todas estas razões servem também para alguns “bloqueadores” que apregoam ter um novo “elixir”, para revigorar o Marxismo!!!
Parece-me que pelo menos essa lucidez tu tiveste!!!

2 comentários:

J.S. Teixeira disse...

O poder seduz sem dúvida.

Peço imensa desculpa, por ser seu amigo mas, ele que durma bem com os seus euros e de consciência em tormenta (se a tiver) que eu prefiro dormir com os cêntimos mas com consciência tranquila de alguém que não se venderá.

Uma pena mas, por cada um que muda de lado, nascem dois novos que farão ainda melhor luta.

J.S. Teixeira disse...

Desculpe acrescentar ainda, mas estava a ler uns blogues e deparei-me com o post no "Isto tem dias" intitulado "De ratos e Homens" (Of mice and Men), livro que li nos meus anos de faculdade e que escreve, como muito bem refere Ana Camarra, "os ratos são capazes de tudo para sobreviver, tudo mesmo, de comer o seu semelhante, são oportunistas, cobardes e atacam os mais fracos".

Um óptimo exemplo, o do seu amigo

(Mais uma vez, peço desculpa por ser seu amigo, mas estes casos dão-me volta ao estômago).