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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O CARRO E OS CORNOS

CARTA ABERTA A FRANCISCO MOITA FLORES
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO


Caro senhor

Li o texto “O Carro e os Cornos”, que publicou hoje no “Correio da Manhã” e fiquei surpreendido.
A excelente imagem que tinha de si, foi construída sobretudo com algumas intervenções que teve na rádio, em entrevistas e artigos nos jornais e na televisão.
Sempre me pareceu uma pessoa excepcionalmente sensata, coerente e judiciosa.
A minha sincera admiração por si, foi baseada e consolidada, no equilíbrio das suas opiniões, na sensatez e coerência dos seus argumentos e sobretudo na solidez e honestidade evidente dos seus conceitos.
Isto é, o que li e ouvi, dito e escrito por si, sempre me pareceram vir de um homem honesto, íntegro e sensato.
Diria mesmo que a tranquilidade que transmitia nos seus argumentos, a suavidade da sua fala, só podiam ser fruto da uma sólida e equilibrada personalidade.
Sempre que o ouvia ou lia, tinha a sensação de que estava perante um homem que era uma “avis rara” no mundo da cultura e de uma grande humanidade.
Nunca o senti inebriado pelo poder e pelo contrário, transmitia um desprendimento, que só podia derivar de um grande espírito de missão, com que encarava as suas responsabilidades, autárquicas.
Posso afirmar-lhe com verdade, que o considerava neste campo, um autarca excepcional, até por comparação com a maioria os seus colegas do PS, PSD e CDS.
O senhor era uma “avis rara”, que até me fazia pensar que andava um pouco a contragosto na tarefa de autarca.
Hoje ao ler o seu artigo, fiquei com uma sensação dolorosa.
O senhor falou do meu camarada Bernardino Soares e do Partido da minha vida, o Partido Comunista Português, de uma forma chocante.
Pensei inicialmente fazer deste texto, uma carta de protesto, que lhe significasse a revolta e a desilusão que para mim significaram a posição que tomou neste caso.
Em memória da consideração que tinha por si, deixo a minha análise á sua consciência e vou limitar-me a transcrever as suas palavras seguidas dos comentários que elas me suscitam.
“Fiz parte do grupo das primeiras vinte câmaras que assinaram com o Governo o protocolo de arranque da rede eléctrica de apoio aos novos automóveis, amigos do ambiente, que estão a chegar.
a partir de 2011, ano em que vai começar a massificação do carro eléctrico, modificar por completo a mobilidade e a qualidade de vida das cidades”.
Será possível que uma pessoa com a sua formação académica, experiência profissional passada e presente, acredite que será possível num horizonte temporal razoável a “massificação” do carro eléctrico?
Bem, das duas, seis: ou está convencido que este transporte individual, será acessível á maioria dos portugueses, ou está a pensar que a crise económica vai desaparecer rapidamente e a classe média não vai desaparecer, ou está a pensar que os carros vão ser muito baratos, ou então o governo, autarquias, particulares ou seja lá quem for, vão electrificar e aumentar os transportes públicos em termos de satisfazer nessa qualidade, o transporte massivo das populações, ou então, finalmente, com todo o respeito, está a ser ingénuo!
“Fiquei mais surpreendido por Portugal ser o país de vanguarda, a nível mundial, nesta área de protecção ambiental e não tenho a mínima dúvida que naquela segunda-feira o Governo e as câmaras ali representadas começaram a escrever a parte mais empolgante da nova história do século XXI”
“A comunicação social deu ao assunto menos importância do que à transferência de um jogador banal e muito menos do que à morte do Michael Jackson. Pouco importa. Naquela segunda-feira, no Pavilhão de Portugal, o Governo de Sócrates assinou a sua entrada para a História. E o motor dessa revolução eléctrica foi Manuel Pinho. Foi com emoção que o cumprimentei e agradeci”.
O seu “pouco importa” é a expressão da sua faceta fatalista, sensata e coerente, com a ideia que a miserável comunicação social que nós temos, fornica o “fait divers” com o gáudio sádico de um tarado que chafurda na desgraça alheia, porque sabe que isso é que dá dinheiro e vende papel.
Naquela segunda-feira, no Pavilhão de Portugal, o Governo de Sócrates assinou a sua entrada para a História.
Esta é uma das expressões que vinda de si, embora não sendo no contexto, a que mais me surpreende, deixa-me no entanto, verdadeiramente estupefacto.
Como é possível o senhor considerar que o Governo de Sócrates assinou naquela segunda-feira a sua entrada para a história?
Mesmo considerando a sua expressão como uma mera expressão de retórica, embora um tanto gongórica, tenho que o lembrar que o Governo de Sócrates, já há muito que tinha entrado para a "História Negra de Portugal"
Eu nem sequer me atrevo a relembrar-lhe as malfeitorias que este Governo tem feito às mais diversas classes profissionais, inclusive e particularmente á sua, visto o senhor se considerar “Professor Universitário”.
Abstenho-me por comiseração, de lhe falar na continuidade a que assistimos da destruição do aparelho produtivo, da protecção aos interesses particulares das grandes empresas, e sobre os Bancos, o meu pudor para não o ofender, leva-me a acreditar que aí sem dúvida o senhor estará de acordo comigo que aquilo que se passa com a banca, mais do que um escândalo, está muito perto de uma traição á pátria deste desgraçado povo, que não pára de ser explorado e enganado. "E o motor dessa revolução eléctrica foi Manuel Pinho. Foi com emoção que o cumprimentei e agradeci”.
Acredite que a última coisa a pensar de si, seria que o senhor não passa afinal de um vulgar “lambe botas” dos muitos, que vivem na política, á custa da ingenuidade da nossa gente.
Mas ao considerar, como literalmente o confessou, que Foi com emoção que o cumprimentei e agradeci, vindo esta afirmação de si i, deixa-me perplexo!
Há um excesso de humildade tão grande nesta sua afirmação, que raia a fronteira da subserviência, coisa que jamais me atreveria a pensar de si.
Garanto-lhe que se me viessem contar que o senhor “teria dito” semelhante despautério, nunca acreditaria.
Agora vou entrar na área, porque assumida pelo senhor, pela inverdade e clara má fé que traduz, me magoa verdadeiramente.
A determinada altura o senhor afirma:
“Cinco dias depois, respondendo a uma falsidade que lhe era imputada por um deputado comunista, lá tornou a ser atípico, e no calor da discussão enviou-lhe um par de cornos. Fez mal. Os cornos não se enviam daquela maneira”.
1ª Questão – Não era nenhuma falsidade a questão levantada pelo” líder da bancada comunista” Bernardino Soares, porque de facto os 200 ou 300 empregos, que o ex-ministro Pinho dizia ter resolvido, não se traduziu de facto e na prática, na existência sequer de um só trabalhador nas galerias das minas de Aljustrel.
2ª Questão - Na realidade, o cheque que o referido ex-ministro disse ter ido entregar em Aljustrel, era um cheque da EDP, para Clube Aljustrelense.
O ex-ministro Manuel Pinho, armado em moço de fretes, foi entregá-lo pessoalmente, fundamentalmente para armar em generoso, como se alguma coisa tivesse a ver, com a dádiva.
Agora quando o senhor diz Fez Mal e ao consideraratípico o comportamento do ex-ministro que no calor da discussão lhe enviou um par de cornos, utiliza generosamente um adjectivo inócuo para classificar um comportamento obsceno.
O senhor concordará comigo, que está a ver mal o filme.
Ele não só lhe enviou só um par de cornos, como o senhor diz!!!
Ele começou por o ameaçar de “QUE ELE ESTAVA TRAMADO!!”
Depois é que levou os dedos á testa e fez aquele inqualificável gesto.
O gesto dele é literalmente o mesmo que estar a dizer ao Bernardino Soares, líder da bancada comunista, em plena sessão da Assembleia da Republica, durante a discussão do "Estado da Nação", que ele deputado, É CORNO!!!
EM QUE ESTADO ESTÁ A NAÇÃO!!!
E deixe-me que lhe diga. A forma como o senhor termina o seu comentário, ainda é mais infeliz.
Ninguém de boa fé diria que os cornos não se enviam daquela maneira, sem que implicitamente deixe no ar, o que conta para si, não é a ofensa, mas a deselegante maneira como foi traduzida por gesto!!!
Isto dito por si é inadmissível!
Não há critério, generosidade, sensatez, equilíbrio, ou boa-educação, que possa admitir semelhante incoerência.
E termina, colocando a cereja no cimo do bolo sentenciando:
“Mas celebrou com forte chiadeira o par de cornos. Está certo. Conclui-se que os nossos deputados sabem muito, e ofendem-se com razão, de cornos e encornanços e pouco lhes interessa a revolução ambiental que vai modificar o País”.
“Um dia, quando a sensatez chegar, quando a nossa frota automóvel estiver pejada de carros eléctricos sem ruído e sem emitir gases tóxicos, saber-se-á que foi um senhor chamado Manuel Pinho, o grande propulsor da nova era”.

Estava a referir-se que os meios de comunicação social, quando escrevia que celebraram “com forte chiadeira o par de cornos. Está certo.”
Não senhor Professor Universitário Moita Flores: Não está certo!!!!!!
Que alguém, ou muita gente fizesse do episódio “forte chiadeira aceito (que remédio!!!), agora que o senhor Professor Universitário ache que está certo, é que nem dá para acreditar.
Eu, humilde cidadão deste país, cuja santa mãe, tanto sacrifício fez, para me educar e facultar o pouco que sei, afirmo-lhe com segurança, que é uma indignidade, não só tudo o que se passou, como uma vergonha para pessoas que deviam ter algum nível, descerem á maior ordinarice que nos meus 79 anos, me foi dado assistir.
Se isto não o fizer reflectir, sobre a forma como encarou este escândalo impensável, então deixe-me que lhe diga: Parabéns, o senhor enganou-me, bem enganado, apesar de eu estar de sobreaviso, com a canalha política que governa este país.
E já agora, só para terminar, aquilo que o senhor diz de forma displicente
“Despedido com justa causa porque enviou um par de cornos a uma criatura qualquer”.
A “criatura qualquer”, que o senhor refere, (esquecendo o que acima lembrou, que ele tinha a qualidade de deputado da Nação), é um digno e jovem cidadão, que está a dar o melhor de si, ao serviço de um honesto Partido Político, que muitas vidas já deu pela sua liberdade e a deste país. A sua história de luta pela democracia e pela dignidade de um povo, o esforço muito mal remunerado que todos, mas todos os funcionários sempre fizeram, o espírito de missão dos seus deputados e militantes em geral, deveria, até por uma questão humanismo de que o senhor tanto se vangloria, merecer-lhe mais respeito.
O que a sua infeliz frase deixa a descoberto é reflexo da sua ignorância e da sua prosápia.
De certeza conhece mal o PCP e deve “emprenhar” pelos ouvidos, tudo o que os “média” deste país bolsam, às ordens dos seus patrões.
O senhor deixa transparecer isso, na suprema arrogância dos seus comentários, ou então o culpado é o subconsciente, que tem pruridos de classe.
Esquece o Professor Universitário Moita Flores, que tem a obrigação, pelo menos do ponto de vista cultural, ter uma opinião mais rigorosa e isenta, dos factos.
Penso também que devia ter mais respeito pela verdade e se interrogasse e testasse imparcialmente sobre quais são os reais objectivos do PCP .
Se me permitisse, dava-lhe um bom conselho: Experimente a ler de vez em quando o jornal "AVANTE" .
Aí terá ocasião de confirmar a frenética actividade que o Partido tem em todo o país, segredo bem guardado dos "média" nacionais.
Por outro lado devia preocupar-se saber, até por coerência com a cultura política que o seu cargo exige, qual a acção, características das regras de remuneração dos seus deputados, funcionários, autarcas em representação do Partido.
Facilmente , chegaria á conclusão, que estes são no geral, os que mais se sacrificam desinteressadamente pelo progresso destes pais.
Conseguiria ter uma opinião mais responsável e verdadeira, dos valores que estão em causa.
O senhor sabe porventura, que há uma regra no meu Partido, rigorosamente cumprida por todos os militantes, deputados, funcionários e autarcas do Partido, que diz assim: Nenhum militante do Partido Comunista Português, pode ser beneficiado ou prejudicado, por representar o Partido?
O senhor sabe o que isto representa? Eu explico:
Por exemplo, um deputado ao Parlamento Europeu ou á Assembleia da Republica, entrega ao Partido obrigatoriamente, todo o dinheiro que recebe destas instituições, que ultrapasse o que ganhava anteriormente, antes de estar em representação do Partido.
Estas verbas, bem como a dos autarcas que representam o PCP em Câmaras Municipais, Assembleias e Juntas de Freguesia, igualmente devolvem ao partido todo o diferencial, descontando as despesas que tiverem.
Este sentido militante, não lhe merece respeito?
Pode o senhor Professor Universitário, não estar de acordo comigo.
Pode até não concordar com as ideias que defendemos.
O que não pode em circunstância alguma, é defender a posição de um individuo, que seja em que circunstância for , devia respeitar não só o seu semelhante, o local onde estava, a tarefa que desempenhava e fundamentalmente, devia respeitar-se a si próprio.

1 comentário:

Unknown disse...

Caro Juvenal: Vejo que não conhece o Moita Flores. Um "Jogador".Foi do PCP. Chegou a convidar-me para ir para a PJ. Técnicos fazem-se, politicos há poucos dizia-me num café frente á CM de Moura. Contava-se que a seguir ao 25 de Abril afirmava ter sido torturado pela PIDE e mostrava como prova uma operação ao apendice.Fez carreira na PJ ao desescrever mum semanário os crimes desvendados pela PJ curiosamente sempre pelo mesmo inspector o seu chefe. Em Moura numa mesa comigo tambem frente á CMM elogiou o candidato da CDU á Camara munbicipal que ra sem duvida o melhor e na vespera de terminar a campanha eleitoral publicou um manifesto de apoio ao candidato do PS( Manuel Mestre na altura).Por esse tempo era da escola da PJ, pertencia á equipa do vereador Rui Godinho( do PCP) para os "cemitérios vivos" e áminha frente convidou Santiago Macias para dar uma palestra sobre a morte no periodo islâmico mas "só podia pagar 300 contos " e simultaneamente estava a efectuar um trabalho sobre os chineses dum delta qualquer para a fundação oriente do Alvaro Monjardino.Coisas parecidas e tinha acabado de sair dum esgotamento cerebral. Aparece depois como candidato do PSD a Santarem e agora a pendurar-se no PS.Deu uma festa dos 50 anos de casados dos pais na sua casa no Alandroal(?) com convidados como o gen. Ramalho Eanes e outros que tais. Ainda assim com tanta euforia sobre os carros electricos talvez mereça a pena perguntar-lhe se para fazer a electricidade que os vão alimentar que combustiveis se gastam e que emissões de gazes se fazem? A juzante tudo bem ,se não fora a autonomia máx de 160 km, e a montante ?E como são obtidos os elementos que compõem essas baterias, E como são depois reciclados? Com que gastos de enrgia?