Mensagem

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Por Fernando Samuel

O meu post de ontem à noite - com excertos da Declaração de Francisco Lopes - suscitou uma série de comentários diversificados:
nuns casos, confirmando a ideia de que a «confiança e a certeza em dias diferentes está nas nossas mãos»; que «cá estaremos. E seremos mais»; que «foi feito o que tinha de ser feito» e que «atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir»; noutros casos, expressando «tristeza» e «alguma desilusão» com os resultados da nossa candidatura... e provocando alguns «desabafos» - contudo, em regra, afirmando inequivocamente a disponibilidade de luta para o futuro, de lutar «contra a maré».
(houve também comentários seguindo os velhíssimos trilhos do pretenso revolucionarismo - aos quais já Lénine e Álvaro Cunhal responderam, o primeiro em 1920, em A Doença Infantil do «Esquerdismo» no Comunismo, o segundo em «O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista», na década de 60. Está lá tudo: é só (saber) ler).
No que me diz respeito, não fiquei nem «triste», nem «desiludido» com o resultado eleitoral - que, aliás, considero um bom resultado.
É claro que queria mais votos, queria que a nossa votação tivesse sido superior - mas essa é outra questão: é uma questão que, penso, tem mais a ver com os meus desejos do que com a realidade concreta em que travámos esta batalha - em que, de resto, travamos todas as batalhas eleitorais.
Tenho para mim que, no regime de democracia burguesa em que vivemos ( se quisermos ser mais rigorosos podemos chamar-lhe ditadura do grande capital), as mais difíceis batalhas, para os comunistas, são as batalhas eleitorais.
Trata-se de um combate em que o inimigo «joga em casa», dispondo de meios e instrumentos de intervenção incomensuravelmente superiores aos nossos e recorrendo a todos os métodos e práticas que considera necessários para alcançar os seus dois objectivos essenciais: perpetuar-se no poder e concretizar o velho sonho que eles sintetizam em três palavras: «morte do comunismo».
Os média - não por acaso propriedade do grande capital - constituem um dos mais poderosos instrumentos utilizados, com a sua extraordinária capacidade de difusão das «notícias», das «opiniões», das «ideias» que aos seus patrões interessa que sejam difundidas - e que, de tantas vezes publicadas, acabam por transformar-se, muitas vezes, em «opinião pública».
E só com uma forte consciência política, ideológica e de classe, é possível rejeitar as «notícias», as «opiniões», as «ideias» que o poderoso arsenal de rádios, televisões e jornais fazem chegar, todos os dias, a todas as horas, a milhões de pessoas.
Este é um dado que não podemos deixar de ter em conta quando analisamos, por exemplo, a postura da multidão (homens, mulheres, jovens) que, votando contra os seus próprios interesses, elege os cavacos de que o grande capital precisa para continuar e acentuar a exploração dos que os elegem.
Então, a nossa participação em batalhas eleitorais começa por ser um acto de resistência e é, ao mesmo tempo, um caminho para adquirir mais força para a luta que tem que continuar - a luta de massas, a luta de classes, da qual a batalha eleitoral é parte integrante mas não a decisiva.
Essa participação deve ser assumida, também, (digo eu) com a consciência plena de que, em eleições burguesas, tudo está cirurgicamente programado, montado e organizado no sentido de assegurar previamente, sempre, a vitória eleitoral ao (aos) candidato(s) do sistema - e também com a consciência plena de que, no dia em que o grande capital verificar que essa vitória não está previamente assegurada... pura e simplesmente acaba com as eleições. (foi assim que fizeram, por exemplo, quando, convencidos de que o eleitorado ia dizer «não» ao tratado porreiro, pá... pura e simplesmente proibiram o referendo)
Por tudo isto, cada batalha eleitoral é, para os comunistas, uma batalha em que a vitória não se traduz em serem os mais votados (coisa impossível de acontecer neste contexto), mas em fazerem o que deles se espera e, com isso, criarem condições para para dar mais força à luta dos trabalhadores e do povo.
Nestas presidenciais, impunha-se que os comunistas apresentassem uma candidatura própria, em condições de afirmar inequivocamente a sua posição face à dramática situação actual do País, a partir da análise rigorosa dessa situação, da sinalização clara das suas causas e dos seus causadores e da apresentação das suas respostas - respostas que, necessariamente viradas para a situação actual, incorporam sempre, necessariamente, o objectivo da construção da sociedade socialista.
E foi isso que os comunistas fizeram, cumprindo as tarefas que lhes eram exigidas - entre as quais a de resistir - e ficando mais fortes para a luta.
É essa a nossa vitória.
E não a subestimemos, porque se trata de um importante resultado - aliás, conquistado a pulso, como não podia deixar de ser, e só conseguido pela notável campanha que erguemos - com um candidato notável, com um notável colectivo partidário e com milhares de notáveis amigos e companheiros de luta.
A nossa campanha foi, para além do resultado em votos, uma sementeira de convicção, de determinação, de verdade, de coragem, de lucidez, de dignidade, de esperança - uma sementeira que, por tudo isso, dará frutos.
Frutos que serão visíveis no reforço da luta de massas.
Da luta de classes - a tal que, ela sim, é decisiva para mudar transformando; para substituir a velha sociedade capitalista, baseada na exploração do homem pelo homem, pela sociedade nova, liberta de todas as formas de opressão e de exploração: a sociedade socialista e comunista.
Para lá chegarmos - sempre dando resposta à situação actual - temos muito caminho para andar.
E a questão não está em medir o caminho que temos que andar - a questão está em não desistirmos dessa caminhada, mesmo sabendo que ela é difícil, complexa, longa e que exige a cada um e a todos os caminhantes todas as forças de que dispõem.
A questão está em nos fazermos ao caminho todos os dias - e, assim e por isso, conquistarmos todos os dias uma importante vitória.

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