Mensagem

Mensagem

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

LIBERATION


       ECONOMIA DE GUERRA      
             EM PORTUGAL               

Acabamos de receber um texto publicado no Jornal “Liberation”, com o título acima referido, onde se analisa a crise em Portugal.
O texto é de autoria de Cristina Semblano, professora na Sorbonne, especializada na economia portuguesa, que traça um retrato negro, do futuro que nos espera.
Não dá nenhuma novidade, mas é um testemunho idóneo, vindo do exterior à máquina desenformativa portuguesa.
A tradução, os sublinhados e os detaques, são da responsabilidade do Blogue, podendo ter acesso ao original, através do link que colocámos no fim deste texto.





Portugal é um país exangue. 
O desemprego oficial que se aproxima de 20%, tem diminuído ao longo dos últimos dois trimestres «à custa» de uma baixa da população activa .
Este é o resultado de uma emigração em massa, cujo fluxo atingirá ou até ultrapassará o dos anos 60, onde se tinha visto um grande êxodo de Portugueses, fugindo à miséria, à ditadura e a guerra colonial (1).
Metade dos desempregados não recebe subsídio de desemprego e contam-se por milhares as pessoas excluídas do rendimento mínimo de inserção, dos abonos de família ou do complemento social de velhice.
Certo é, se bem que não estando em guerra, Portugal está sob a égide da troika, no seu terceiro ano de economia de guerra, em consequência (ou por causa) dos resultados das políticas económicas desastrosas, cometidos nos últimos três anos. 
Portugal é aquele país, onde se pode dizer com rigor, que está a servir de cobaia a ardilosas experiências laboratoriais e que os milhões de euros de sacrifícios impostos à população, não tiveram nenhum efeito positivo sobre a dívida ou sobre o deficit; antes pelo contrário, a sua progressão é vertiginosa, apesar de sistematicamente revistos para cima, a cada avaliação da troika
 É portanto, face aos resultados desta experiência, que Lisboa acaba de apresentar o Orçamento de Estado mais austero da história da democracia depois de 1977.
O ajustamento orçamental representa 2,3% do PIB e faz-se essencialmente através da redução de salários da função pública e das pensões de reforma dos funcionários públicos.  
Nestas condições, só o governo pode fingir acreditar, que a despeito da nova redução drástica do rendimento disponível para as famílias as consequência inevitáveis do "seu" orçamento, permitirão o aumento do consumo privado e do investimento, para apoiar a sua hipótese de crescimento 0,8 %.
Acrescentando tudo isto, à violenta carga fiscal de 2013 que será mantida, fará com que em 2014 assista a novas reduções nos gastos com educação, saúde e transferências sociais. 
Restam as exportações, mas estas estão dependentes da procura externa. 
Como em todas as economias de guerra, aquela que está a ocorrer em Portugal, não faz mais que perdedores.
Enquanto que funcionários públicos e aposentados da função pública de contribuem com 82% deste esforço de guerra em 2014, aos bancos e monopólios de energia, é pedido uma contribuição excepcional de 4% e o governo ainda se dá ao luxo de baixar dois pontos o imposto sobre as empresas, tendo como objectivo reduzir o IRC para 19%, ou 17% em 2016, em conformidade com o princípio sacrossanto da criação de um clima neoliberal, propício ao investimento.
Há outros vencedores com a crise, começando pelos credores aos quais se destina em 2014, a título de juros, um «pé-de-meia» equivalente ao orçamento da saúde.  
É para estes credores que são exigidos sacrifícios ao povo de um dos países mais pobres e desiguais da União Europeia. É para eles que se fecham as escolas, se racionam os medicamentos, se limita o acesso a cuidados de saúde de grande parte da população e que são vendidas ao desbarato os bens públicos. 
As políticas de austeridade violentas, alimentam-se a elas próprias: geram a sua própria intensificação no pressuposto de estarem a remediar os déficits que elas próprias ajudaram a cavar.  
Cada euro de deficit «economizado» em Portugal traduz-se numa perda de € 1,25 do PIB e um aumento de 8,76 euros de dívida; é assim que os credores ficam seguros, de ter sempre uma dívida a financiar. 
À semelhança de outros países que estão sobre a intervenção «efectiva» da troika , para não falar senão deles, a dívida portuguesa, não terá razoavelmente possibilidades de ser reembolsável. Não é o resultado de deriva de um povo, que tenha vivido acima das suas possibilidades , mesmo quando os especialistas do FMI sublinham a necessidade de reduzir o salário mínimo em Portugal, que é de 485 euros brutos por mês , ou seja um dos mais baixos na zona do euro e da União Europeia. País semiperiférico, dotado de uma economia de baixo valor acrescentado e altamente dependentes do exterior, Portugal «pagou» a sua adesão à zona do euro, com uma quase estagnação da sua economia, se bem que a dívida pública não conheceu uma trajetória ascendente senão depois da crise financeira e das significativas transferências do orçamento do Estado, para apoiar a economia e salvar os bancos. 
Não podendo voltar-se para o Banco Central Europeu (BCE) para assegurar o seu financiamento, Portugal tornou-se depois da Grécia e Irlanda, a terceira vítima da especulação nos mercados financeiros, o que abriu o caminho para a intervenção Troika. 
Após dois anos e meio e milhões de euros de sacrifícios impostos à sua população, Portugal é um país mais pobre, voltando à taxa de natalidade do final do século XIX e à emigração em massa dos tempos da ditadura. 
A sua população, uma das mais velhas da União Europeia, está a diminuir.
A dívida em relação ao PIB aumentou quase 25 pontos e o déficit não está controlado.  
Os credores representados pela Troika já avisaram que em 2015, há uma quantidade de cortes a fazer na despesa que irá para além do "Memorando", que termina em Junho de 2014. 
Seja na forma de um novo plano de «resgate» ou de outra forma qualquer, no quadro actual das instituições europeias, Portugal permanecerá sob o domínio da troika e a sua população será submetido a novos sacrifícios.
Portugal é já uma outra Grécia e se alguma dúvida subsistisse, para o demonstrar, bastaria ver a imagem das mães portuguesas forçadas a abandonar as suas crianças em instituições sociais, enquanto os novos ricos entram no clube dos milionários.
 

(1) O número de Portugueses que emigrou em 2012 é estimado em 120.000, ou seja um êxodo de 10.000 pessoas, em média, por mês, numa população de cerca de 10,5 milhões de pessoas.
PODE LER O ORIGINAL AQUI

Sem comentários: