NELSON MANDELA
Agora que já terminaram oficialmente as cerimónias fúnebres
e de homenagem a esse grande homem que foi Nelson Mandela, chegou a altura de
dizermos o que pensamos sobre essa personalidade.
Os acontecimentos que rodearam a sua morte e respectivo funeral a que “com muito gosto” (talvez por ir enterrar um antigo terrorista, como ele o considerava em 1987) integrou Cavaco Silva, com o seu sempre impecável nó de gravata, que agora já o considera "figura maior da África do Sul e da História mundial e do seu extraordinário legado de universalidade, que perdurará por gerações, bem como da sua coragem política e estrutura moral", na intenção de certamente lavar a “borrada” que constará “ad eternun” na sua biografia, como um dos três votos (os outros foram Ronald Reagan e Margaret Thatcher) contra 129, que impediram a ONU de intervir na sua libertação.
Em primeiro lugar, achamos que todo o espetáculo criado à volta da personagem Mandela peca por exagero.
Tendo em vista que de facto a sua meritória acção, salvou a África do Sul de uma guerra civil e consequentemente de um banho de sangue, teremos de estabelecer aí o seu principal serviço.
Não podemos no entanto esquecer, o efeito que os meios de comunicação social ao serviço do capitalismo, notoriamente ocultaram, como seja o facto da exploração das riquezas nacionais, nada ter sido tocado e continuarem impávida e serenamente, a encher os bolsos dos seus habituais e eternos exploradores, razão primeira, da unanimidade desses elogiosos critérios da comunicação social internacional.
Em segundo lugar, deve ter constituído uma reflexão permanente de Nelson Mandela, que objectivamente o condicionou, a falta de quadros nativos qualificados, para dirigir a complexidade de um Estado/Nação, não lhe restando outra alternativa senão aliar a essa direcção (pelo menos nas décadas mais próximas) o seu ancestral opressor, o homem branco.
Falando agora propriamente do homem Mandela, lutador consequente de uma luta ciclópica, completamente esmagado pela força do inimigo, sem um horizonte temporal que animasse as suas espectativas, temos de reconhecer a superioridade da sua natureza humana, a que certamente não será estranha uma superior inteligência e determinação, que eleva para além do comum dos mortais, estas almas de eleição, que a Natureza prodigaliza, em resposta à própria dialética da evolução da sociedade.
É essa prodigiosa característica da Natureza, que gera os Mandelas e os Alvaros Cunhais deste mundo, que nos leva a acreditar na regeneração desta sociedade, dominada ainda pela exploração do homem pelo homem.
E por chamar à colação Álvaro Cunhal, aproveitamos para esclarecer que em todas as situações, dada a similitude dos percursos e opções políticas, fomos naturalmente obrigados a tomar Álvaro Cunhal como bitola de comparação ou avaliação.
Ambos eram comunistas, o que facilita e simplifica muita da comparação exigida, dadas as características universais dessa ideologia.
Neste caso concreto, uma comparação torna-se possível, analisando os percursos revolucionários, as respectivas personalidades e incidências políticas, para podermos estabelecer as diferenças entre ambos.
É neste campo, que consideramos Álvaro Cunhal como figura impar de revolucionário.
Não seriam as oito-páginas-oito, que o “Expresso” dedicou a Mandela após a sua morte, comparadas com os miseráveis espaços dedicados à vida e obra de Álvaro Cunhal, que serviriam de bitola, nessa comparação.
Embora não sendo um especialista em Mandela, desde já há uma diferença que consideramos fundamental.
Nelson Mandela, do revolucionário inicial, transformou-se no homem pacificador, certamente como base nas dificuldades criadas pela falta de quadros, para levar por diante de outra forma, um projecto político integrante de uma população negra na sua maioria esmagadora.
No entanto, mesmo nesse papel pacificador, estabeleceu e afirmou perentoriamente, que só iria desempenhar um só mandato como Presidente da Republica, para nessas circunstâncias, chamar ao poder quem achava mais competente e posteriormente poder gozar a vida que nunca tinha tido.
Com Álvaro Cunhal jamais se colocaria a opção de um projecto pessoal de vida.
Sabemos que enquanto a sua saúde o permitiu, esteve sempre na primeira linha de combate e mesmo quando essas condições lhe limitaram as capacidades, tudo o que lhe restava, deu para que os seus camaradas levassem a bom termo a transformação deste país, num espaço onde a felicidade, a justiça social, a solidariedade e a alegria de viver fossem a consequência lógica do fim da exploração a que o povo trabalhador deste país estava sujeito, desde tempos imemoriais.
Os acontecimentos que rodearam a sua morte e respectivo funeral a que “com muito gosto” (talvez por ir enterrar um antigo terrorista, como ele o considerava em 1987) integrou Cavaco Silva, com o seu sempre impecável nó de gravata, que agora já o considera "figura maior da África do Sul e da História mundial e do seu extraordinário legado de universalidade, que perdurará por gerações, bem como da sua coragem política e estrutura moral", na intenção de certamente lavar a “borrada” que constará “ad eternun” na sua biografia, como um dos três votos (os outros foram Ronald Reagan e Margaret Thatcher) contra 129, que impediram a ONU de intervir na sua libertação.
Em primeiro lugar, achamos que todo o espetáculo criado à volta da personagem Mandela peca por exagero.
Tendo em vista que de facto a sua meritória acção, salvou a África do Sul de uma guerra civil e consequentemente de um banho de sangue, teremos de estabelecer aí o seu principal serviço.
Não podemos no entanto esquecer, o efeito que os meios de comunicação social ao serviço do capitalismo, notoriamente ocultaram, como seja o facto da exploração das riquezas nacionais, nada ter sido tocado e continuarem impávida e serenamente, a encher os bolsos dos seus habituais e eternos exploradores, razão primeira, da unanimidade desses elogiosos critérios da comunicação social internacional.
Em segundo lugar, deve ter constituído uma reflexão permanente de Nelson Mandela, que objectivamente o condicionou, a falta de quadros nativos qualificados, para dirigir a complexidade de um Estado/Nação, não lhe restando outra alternativa senão aliar a essa direcção (pelo menos nas décadas mais próximas) o seu ancestral opressor, o homem branco.
Falando agora propriamente do homem Mandela, lutador consequente de uma luta ciclópica, completamente esmagado pela força do inimigo, sem um horizonte temporal que animasse as suas espectativas, temos de reconhecer a superioridade da sua natureza humana, a que certamente não será estranha uma superior inteligência e determinação, que eleva para além do comum dos mortais, estas almas de eleição, que a Natureza prodigaliza, em resposta à própria dialética da evolução da sociedade.
É essa prodigiosa característica da Natureza, que gera os Mandelas e os Alvaros Cunhais deste mundo, que nos leva a acreditar na regeneração desta sociedade, dominada ainda pela exploração do homem pelo homem.
E por chamar à colação Álvaro Cunhal, aproveitamos para esclarecer que em todas as situações, dada a similitude dos percursos e opções políticas, fomos naturalmente obrigados a tomar Álvaro Cunhal como bitola de comparação ou avaliação.
Ambos eram comunistas, o que facilita e simplifica muita da comparação exigida, dadas as características universais dessa ideologia.
Neste caso concreto, uma comparação torna-se possível, analisando os percursos revolucionários, as respectivas personalidades e incidências políticas, para podermos estabelecer as diferenças entre ambos.
É neste campo, que consideramos Álvaro Cunhal como figura impar de revolucionário.
Não seriam as oito-páginas-oito, que o “Expresso” dedicou a Mandela após a sua morte, comparadas com os miseráveis espaços dedicados à vida e obra de Álvaro Cunhal, que serviriam de bitola, nessa comparação.
Embora não sendo um especialista em Mandela, desde já há uma diferença que consideramos fundamental.
Nelson Mandela, do revolucionário inicial, transformou-se no homem pacificador, certamente como base nas dificuldades criadas pela falta de quadros, para levar por diante de outra forma, um projecto político integrante de uma população negra na sua maioria esmagadora.
No entanto, mesmo nesse papel pacificador, estabeleceu e afirmou perentoriamente, que só iria desempenhar um só mandato como Presidente da Republica, para nessas circunstâncias, chamar ao poder quem achava mais competente e posteriormente poder gozar a vida que nunca tinha tido.
Com Álvaro Cunhal jamais se colocaria a opção de um projecto pessoal de vida.
Sabemos que enquanto a sua saúde o permitiu, esteve sempre na primeira linha de combate e mesmo quando essas condições lhe limitaram as capacidades, tudo o que lhe restava, deu para que os seus camaradas levassem a bom termo a transformação deste país, num espaço onde a felicidade, a justiça social, a solidariedade e a alegria de viver fossem a consequência lógica do fim da exploração a que o povo trabalhador deste país estava sujeito, desde tempos imemoriais.
Para além disso, como se fosse pouco, Álvaro Cunhal deixou no
campo da política, uma obra teórica exemplarmente notável, só comparável com a
dos grandes teóricos na matéria.
No campo da Arte, foi um artista de elevada sensibilidade, tendo desenvolvido actividades que vão da pintura ao desenho, passando por uma actividade literária de reconhecido mérito.
A sua vida como prisioneiro da ditadura fascista, tem as suas similitudes com a de Mandela, mas mesmo assim, só desfavorável no tempo de detenção a que ambos foram sujeitos.
Por outo lado, duvido que Mandela tenha sido submetido a espancamentos e torturas da dimensão a que foi sujeito Álvaro Cunhal, porque não esqueço as torturas a que foi sujeito e sobretudo os 9 anos de prisão no segredo de absoluto silêncio, para lhe quebrar a vontade, onde até os carcereiros estavam proibidos trocar com ele qualquer palavra, contrariamente ao que acontecia com Mandela.
Consta até, que após a inteligente insistência de Nelson Mandela em dar sistematicamente os bons dias aos carcereiros e perguntar pela família deles, conseguiu que dois anos depois de estar preso, estes também lhe retribuíssem esse cumprimento, questionando igualmente sobre a sua família, sabendo certamente que só de 6 em 6 meses, dela tinha notícias.
Não me consta que Mandela alguma vez tenha tentado fugir da prisão (embora saiba que seria essa a vontade dos carcereiros, para o poderem matar durante a fuga), o que em comparação com o êxito baseado na eficácia do planeamento, quando da espetacular fuga da prisão de alta segurança em Peniche, de Álvaro Cunhal e mais 9 camaradas, demonstra à saciedade, as diferenças de empenhamento revolucionário.
Diferenças que são notáveis, embora de dois seres humanos verdadeiramente excepcionais, mas como diria o outro, “há sempre uns, mais excepcionais que os outros”.
Diferenças que são notáveis, comparando o limitado tratamento que os meios de comunicação portugueses deram na altura à sua morte, embora fosse um português, considerado nas 4 partidas do mundo, como um verdadeiro exemplo de lutador indomável e um revolucionário exemplar, para todos aqueles que vêem no seu exemplo, uma inspiração, para tornar o mundo melhor.
De tudo o que vi e li sobre Mandela, a sua vida e a sua morte, relevo a excepção que foi o artigo que foi publicado no “Avante”, de autoria de Correia da Fonseca, na coluna “TVISTO”, pela lucidez e imparcialidade da análise.
Dizia a páginas tantas Correia da Fonseca:
“Foi unânime e decerto justificada a homenagem àquele homem que vinte e sete anos de prisão não abateram, que liderou um movimento político que acabou por vencer as forças convergentes do ódio, das armas e do medo (pois parece claro que a minoria branca temia, aliás justificadamente, a eventualidade de uma terrível tempestade que sobre ela poderia desabar em consequência de uma sua total intransigência), que pelo menos nas décadas finais da sua vida surgiu mais com a imagem de um homem de pacificação que a de um homem de luta. Ainda assim, porém, as unanimidades entre contrários são sempre intrigantes e suscitam perguntas. Acerca de Mandela, seria tonto e inútil perguntar o que fez ele para desencadear esta unanimidade: a resposta óbvia é que foi o vencedor de uma luta justa e que foi vencedor sem enorme derramamento de sangue, o que está longe de ser pouco. Mas não será inútil nem tonto formular uma outra pergunta, complementar da anterior: o que não fez Mandela para que essa mesma unanimidade se apresente agora tão evidentemente cerrada e viçosa, e a resposta estará decerto na própria República da África do Sul. Tanto quanto se sabe, e quanto a este ponto sabe-se o bastante, Mandela não pôde (ou não o quis suficientemente) eliminar no seu país, ou sequer reduzir de um modo muito substancial, a exploração dos homens por outros homens ou, se quiser uma outra fórmula, eliminar a regra geral de essa exploração ser ainda praticada por uma minoria branca sobre a maioria negra. Assim, com razão ou sem ela, poder-se-á admitir que essa omissão decerto involuntária é que permite a unanimidade na homenagem e nos aplausos provenientes dos quatro cantos do mundo. São aplausos decerto merecidos, nem sequer seria de bom gosto suscitar alguma dúvida quanto a esse merecimento. Mas, à semelhança do que dizem acontecer com as belas, não há unanimidade sem senão. E é saudável que não o esqueçamos”.
No campo da Arte, foi um artista de elevada sensibilidade, tendo desenvolvido actividades que vão da pintura ao desenho, passando por uma actividade literária de reconhecido mérito.
A sua vida como prisioneiro da ditadura fascista, tem as suas similitudes com a de Mandela, mas mesmo assim, só desfavorável no tempo de detenção a que ambos foram sujeitos.
Por outo lado, duvido que Mandela tenha sido submetido a espancamentos e torturas da dimensão a que foi sujeito Álvaro Cunhal, porque não esqueço as torturas a que foi sujeito e sobretudo os 9 anos de prisão no segredo de absoluto silêncio, para lhe quebrar a vontade, onde até os carcereiros estavam proibidos trocar com ele qualquer palavra, contrariamente ao que acontecia com Mandela.
Consta até, que após a inteligente insistência de Nelson Mandela em dar sistematicamente os bons dias aos carcereiros e perguntar pela família deles, conseguiu que dois anos depois de estar preso, estes também lhe retribuíssem esse cumprimento, questionando igualmente sobre a sua família, sabendo certamente que só de 6 em 6 meses, dela tinha notícias.
Não me consta que Mandela alguma vez tenha tentado fugir da prisão (embora saiba que seria essa a vontade dos carcereiros, para o poderem matar durante a fuga), o que em comparação com o êxito baseado na eficácia do planeamento, quando da espetacular fuga da prisão de alta segurança em Peniche, de Álvaro Cunhal e mais 9 camaradas, demonstra à saciedade, as diferenças de empenhamento revolucionário.
Diferenças que são notáveis, embora de dois seres humanos verdadeiramente excepcionais, mas como diria o outro, “há sempre uns, mais excepcionais que os outros”.
Diferenças que são notáveis, comparando o limitado tratamento que os meios de comunicação portugueses deram na altura à sua morte, embora fosse um português, considerado nas 4 partidas do mundo, como um verdadeiro exemplo de lutador indomável e um revolucionário exemplar, para todos aqueles que vêem no seu exemplo, uma inspiração, para tornar o mundo melhor.
De tudo o que vi e li sobre Mandela, a sua vida e a sua morte, relevo a excepção que foi o artigo que foi publicado no “Avante”, de autoria de Correia da Fonseca, na coluna “TVISTO”, pela lucidez e imparcialidade da análise.
Dizia a páginas tantas Correia da Fonseca:
“Foi unânime e decerto justificada a homenagem àquele homem que vinte e sete anos de prisão não abateram, que liderou um movimento político que acabou por vencer as forças convergentes do ódio, das armas e do medo (pois parece claro que a minoria branca temia, aliás justificadamente, a eventualidade de uma terrível tempestade que sobre ela poderia desabar em consequência de uma sua total intransigência), que pelo menos nas décadas finais da sua vida surgiu mais com a imagem de um homem de pacificação que a de um homem de luta. Ainda assim, porém, as unanimidades entre contrários são sempre intrigantes e suscitam perguntas. Acerca de Mandela, seria tonto e inútil perguntar o que fez ele para desencadear esta unanimidade: a resposta óbvia é que foi o vencedor de uma luta justa e que foi vencedor sem enorme derramamento de sangue, o que está longe de ser pouco. Mas não será inútil nem tonto formular uma outra pergunta, complementar da anterior: o que não fez Mandela para que essa mesma unanimidade se apresente agora tão evidentemente cerrada e viçosa, e a resposta estará decerto na própria República da África do Sul. Tanto quanto se sabe, e quanto a este ponto sabe-se o bastante, Mandela não pôde (ou não o quis suficientemente) eliminar no seu país, ou sequer reduzir de um modo muito substancial, a exploração dos homens por outros homens ou, se quiser uma outra fórmula, eliminar a regra geral de essa exploração ser ainda praticada por uma minoria branca sobre a maioria negra. Assim, com razão ou sem ela, poder-se-á admitir que essa omissão decerto involuntária é que permite a unanimidade na homenagem e nos aplausos provenientes dos quatro cantos do mundo. São aplausos decerto merecidos, nem sequer seria de bom gosto suscitar alguma dúvida quanto a esse merecimento. Mas, à semelhança do que dizem acontecer com as belas, não há unanimidade sem senão. E é saudável que não o esqueçamos”.
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