JE SUIS CHARLIE....TAMBEM!!!
Há muitos dias que tenho o computador em reparação e daí não
ter ainda comentado este facto extraordinário da nossa vida colectiva, que foi
a morte dos cartonistas e jornalistas da revista satírica de extracção semanal
«CHARLIE HEBDO».
Por outro lado, este interregno teve a vantagem de me permitir reflectir mais demoradamente.
Ao temer inicialmente que a reação dos governos europeus fosse muito semelhante à dos Norte-Americanos com o 11 de Setembro, não estava muito longe da verdade.
Para começar, já estamos a mendigar ao secretário de estado norte-americano John Kerry, que nos liguem, ou pelo menos nos informem dos resultados das escutas do sistema de comunicações da NSA (denunciados pelo Eduard Snowden e que lhe está a custar o exílio!).
Por outro lado, este interregno teve a vantagem de me permitir reflectir mais demoradamente.
Ao temer inicialmente que a reação dos governos europeus fosse muito semelhante à dos Norte-Americanos com o 11 de Setembro, não estava muito longe da verdade.
Para começar, já estamos a mendigar ao secretário de estado norte-americano John Kerry, que nos liguem, ou pelo menos nos informem dos resultados das escutas do sistema de comunicações da NSA (denunciados pelo Eduard Snowden e que lhe está a custar o exílio!).
Este traste do John Kerry, destacado elemento da sociedade
secreta «Skull and Bones», tal como George W.Bush (seu adversário nas eleições
presidenciais de 2004),cujas ligações à CIA, aos illuminati, Bilderbergers,
Maçonaria e sabe Deus que mais, são conhecidas, acaba de chegar à Europa, para
conferenciar com alguns dos seus governos, certamente para coordenar os
esforços americanos com os da Europa, não certamente pelas melhores razões.
É que foi este
figurão, que há bem pouco tempo negociou com a Arábia Saudita e o Qatar, para
invadir o mercado de petróleo barato, na intenção de arruinar a economia da
Rússia.O que mais tememos, é que os acontecimentos de Paris se tornem nas “Torres gémeas” de Nova Yorque, e a liberdade, que tão manipulada já é, não resista às condicionantes que lhe irão impor, embora disfarçadamente.
Melhor que qualquer opinião que pudéssemos expandir sobre a
tragédia do “Charlie Hebdo”, falou por nós o texto que se segue e que recebemos
de um amigo.
Assunto: Resposta dos cartoonista e Eu Sou Charlie
Je suis - I am - Ich bin - Yo soy - Jag är - мне - Ја сам -
Mən - мені
Eu Sou Charlie
Eu Sou Charlie
Sou o Charlie. Sou português, democrata, amante da liberdade, da democracia, da paz, do progresso e do desenvolvimento social. Amo a minha terra, o meu país, o meu povo, bem como todos os povos do mundo com as suas realidades, histórias, percursos, particularidades e direitos soberanos. Queria falar-vos de quem sou e de como me sinto.
Sou o Charlie, sou Português. No meu País existem 3 milhões de pessoas pobres, o desemprego real deve estar a rondar os 23%. Os jovens do meu País estão sem perspectivas. Não admira, 38 anos de políticas sempre iguais destruíram aquilo que devia fazer funcionar este país, o seu sistema produtivo.
Vejo cada vez mais pessoas na rua, sem casa. A fome já chegou a muitas zonas
deste País. Os mais idosos vivem mal, e são-lhes cortadas as pensões. Nestas
férias de natal muitas escolas ficaram abertas para poder dar refeições em
condições a crianças que estão a viver grandes dificuldades. Entretanto já
começou a morrer gente à porta das urgências dos Hospitais... não porque os
médicos não sejam bons, mas porque os cortes e mais cortes, fizeram com que os
hospitais não dêem resposta às necessidades.
Expresso - 5 de janeiro de 2015
Bastonário da Ordem dos Médicos afirma que as falhas nas urgências dos hospitais públicos poderão ter provocado mais mortes do que as duas noticiadas. A falta de recursos e os cortes impostos pelo Governo são algumas das explicações referidas por José Manuel Silva. O bastonário aponta ainda o dedo à falta de profissionais: "O principal problema terá sido a falta de recursos médicos, enfermeiros e até espaço físico".
Sou o Charlie, sou jornalista Francês, sinto-me um dos jornalistas assassinados a sangue frio anteontem em Paris, mas sou também aquele que é colocado perante a chantagem de obedecer cegamente aos interesses dos donos dos jornais, das rádios ou das televisões onde trabalho ou ir para o desemprego. Sou um jornalista que por dizer a verdade sou afastado da ribalta das televisões e dos jornais. Sou um jornalista igual a outros que em variados países são assassinados por exercer a minha profissão com dignidade e ética ou que morre a cobrir guerras desencadeadas para dominar povos e países inteiros e lhes sugar as suas riquezas.
O meu nome é Charlie, sou Palestiniano... milhares e milhares de compatriotas meus já morreram ao longo destes mais de 50 anos. Milhões, não os consigo ver porque são refugiados em campos onde vivem há décadas sem poderem visitar a Palestina. Sou uma das 600 crianças que morreu sob as bombas de Israel há poucos meses, sou a criança que brincava na praia e fui atingido por fogo disparado a partir de um barco israelita que nunca compreendi porque ali estava. Tenho muita pena dos jornalistas de Paris que foram mortos, tal como tenho dos 308 jornalistas que no ano de 2014 foram vítimas de violação de direitos humanos por Israel. Só no verão passado, durante a guerra que Israel fez contra o meu povo em Gaza morreram 17 jornalistas.
UOL Notícias - 22/07/2014
Um total de 121 crianças palestinas, 80 delas de menos de 12 anos, morreram desde que Israel começou, há 15 dias, a ofensiva militar contra o território palestino de Gaza, confirmou a Unicef, o organismo das Nações Unidas para a proteção da infância, nesta terça-feira. Esse número indica que os menores representam um terço das vítimas civis registradas desde que Israel começou a bombardear continuamente Gaza. Até hoje morreram 586 palestinos, a grande maioria civis. Dos menores mortos pelos ataques israelenses, 84 eram meninos e 37 meninas, com idades que variavam entre cinco meses e 17 anos, segundo os dados do Unicef. Pelo menos 904 outras crianças ficaram feridas, acrescentou o órgão.
O meu nome é Charlie, sou Sírio, vivia num país que não era o paraíso mas onde vivíamos em paz e em convivência de várias confissões religiosas e etnias. Hoje o meu País está destruído por uma guerra sem sentido, desencadeada por gente que não é do meu País e que, pelo que percebo, são pagos e treinados por países e forças que nada têm que ver com o meu país. São esses, que até andaram a reunir com uns figurões dos EUA, como um tal de McCain, que agora querem retalhar o meu País, atacar os nossos irmãos libaneses, e construir um Estado que dizem que é Islâmico mas que os meus amigos muçulmanos dizem que não tem nada que ver com a religião deles.
Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico (EI ou ISIS)
Voz da Rússia-Andrei Ontikov - 15 Outubro 2014
Riadh Sidaoui, diretor do Centro Árabe de Estudos Políticos e Sociais: "Quem está apoiando este grupo? São, obviamente, o Qatar e a Arábia Saudita. E isso não é apenas uma suposição minha, nem apenas a opinião de todo o tipo de jornais e cientistas políticos. Anteriormente, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden disse com toda a franqueza que os terroristas na Síria eram financiados por Riad e Doha. Da minha parte, só posso acrescentar que as monarquias não poderiam agir sem a aprovação dos Estados Unidos, ou até mesmo fizeram-no sob ordens diretas de Washington. Tudo isso esta sendo feito a fim de destruir a Síria e derrubar o regime de Bashar Assad".
O meu nome é Charlie, sou Espanhol, sou um jovem e metade de todos os meus amigos estão desempregados há vários anos, muitos vivem hoje na rua. O Desemprego é uma coisa tramada, não consigo pensar no futuro, porque todos os dias penso como vou aguentar mais tempo sem meios para sobreviver. Os discursos dos meus governantes parecem que nada têm que ver com a vida que eu vivo.
O meu nome é Charlie, sou Francês, vivo nos subúrbios de
Paris, os meus avós vieram das ex-colónias francesas em África, ajudaram a
construir este País. Sou pobre, e cada vez mais sinto que por ser descendente
de africanos ou muçulmanos sou empurrado para guetos e não tenho acesso a
certas profissões. Muita da malta que mora no meu bairro está desempregada há
muito, a pobreza também é muita.
O meu nome é Charlie, sou Afro Norte-Americano. Dizem que
vivo na terra da liberdade e das oportunidades, mas eu cada vez mais me
interrogo se isso é mesmo assim. Eu e o pessoal do meu bairro somos cada vez
mais afectados pela crise económica, e agora vieram os bancos tirar-nos as
casas, muita malta mora em tendas nos parques, andamos revoltados e até fizemos
manifestações, a resposta da polícia e mesmo dos militares foi brutal, e alguns
amigos meus morreram.
O meu nome é Charlie, sou Líbio. A minha família foi toda
morta, assim como parte da comunidade onde pertencia, onde hoje existem vários
grupos terroristas que se ocupam do tráfico de armas, do tráfico de pessoas, do
contrabando do petróleo e de outras actividades que nada têm que ver com aquilo
que já vivi. A guerra invadiu o meu País, dividiu o meu povo e sinceramente não
consigo ver como poderemos vir a ser outra vez um País digno desse nome.
O meu nome é Charlie, sou oriundo do norte de África e da
África Subsariana. Tenho dezenas de amigos que morreram a trabalhar. Outros vão
morrer dentro em pouco porque sofrem de doenças que se diz que fazem parte do
passado. Muitos dos meus conterrâneos passam fome, não têm casa, outros acho
que nunca mais os irei ver, foram contactados por gente de fora que lhes disse
que iam viver e trabalhar para a Europa. Ouço dizer que uns estão presos, outros
estão fechados nuns campos de detenção na Europa e outros, diz-se, morreram no
mar.
UOL Notícias - 09/05/2011
Sessenta e um imigrantes africanos morreram no Mar
Mediterrâneo a bordo da embarcação em que viajavam em direção à Itália, após
militares europeus e unidades da NATO (Organização do Tratado do Atlântico
Norte) terem ignorado pedidos de ajuda, denunciou nesta segunda-feira (09/05)
em sua edição on-line o jornal britânico The Guardian.
O meu nome é Charlie, sou Muçulmano, fui torturado violentamente
por militares norte-americanos que nunca me explicaram porque estava preso. Não
tive direito a julgamento. Chamam-me terrorista, mas eu penso que os
terroristas são eles quando me deixam semanas sem dormir e me fazem coisas que
tenho vergonha de contar. Acho que quero morrer, não aguento mais ser tratado
como um animal.
Sou o Charlie, o meu país chama-se Sérvia. Dantes chamava-se
Jugoslávia. Em 1999 os Estados Unidos e os Países da Europa bombardearam dias a
fio o meu País e no fim foi dividido. Foi uma guerra terrível precedida de
coisas que não percebi muito bem e que viraram partes do meu povo contra os
seus compatriotas. Naquela guerra foram utilizadas armas terríveis, faziam
buracos imensos. Soube depois que eram de Urânio Empobrecido e hoje muitos
amigos meus e compatriotas sofrem de cancros, os seus filhos têm malformações
genéticas. Quando vi a terrível notícia do atentado em Paris pensei de imediato
no dia em que os aviões da NATO bombardearam a nossa televisão em Belgrado.
Morreram muitos jornalistas na altura também. Um primeiro-ministro de nome Tony
Blair disse na altura que a nossa TV e a vida dos jornalistas era "um alvo
legítimo". É um bocado contraditório, não é?
O meu nome é Charlie, sou Iraquiano, o meu País vive desde a
década de 90 do século passado em estado de guerra. Tenho pena de não vos poder
mostrar o meu País como ele era há algumas décadas. Dizem que somos um dos
berços da civilização moderna. Não sei se somos, mas que tínhamos muitas
riquezas culturais, lá isso tínhamos. Não vivíamos bem, e eu até nem gostava do
governo do meu País, mas caramba! Nós podíamos ter tratado do assunto pelas
nossas mãos e consciências. Nunca quisemos a guerra, a morte e a destruição do
nosso País. Apenas queríamos viver um pouco melhor. Centenas e centenas de
milhares de patriotas meus morreram nestes anos numa guerra que foi justificada
com mentiras sobre o meu País como a das armas destruição maciça Para quê? Não
sei… só sei que hoje anda por cá muita gente de fora a guardar-nos como se
fossemos estranhos na nossa própria terra e a guardarem – dizem eles – os
nossos campos de petróleo. Ao ver as notícias de Paris lembrei-me dos
jornalistas que morreram num bombardeamento dos EUA contra um Hotel em Bagdade
onde eles estavam a trabalhar.
Los Angeles Times - 14/09/2007 (há mais de sete anos)
O número de civis mortos no Iraque pode ter ultrapassado um milhão de pessoas.
(Este artigo saiu em 2007 - quatro anos depois da invasão americana em 2003. Entretanto, já se passaram mais sete anos com massacres praticamente diários devido a "bombistas suicidas").
O meu nome é Charlie, sou Ucraniano. O meu País está
dividido por uma guerra civil. Tudo começou quando uns senhores vindos da
Europa (coisa estranha... e eu que pensava que o meu País fazia parte da
Europa) vieram falar com o nosso governo, que não era grande coisa diga-se em
abono da verdade, para ele fazer uns acordos esquisitos que nos amarravam a
umas políticas que pelo que vejo lá na Europa deles não estão a dar muito bom
resultado. O nosso governo não quis esses acordos, mas também não nos perguntou
nada. Depois não percebo bem o que se passou, só sei é que hoje andam por aí,
quer no governo quer nas ruas, aqueles que – aprendi na escola – nós combatemos
no passado - os nazi-fascistas. Esses, mais uns criminosos que acho que
pertenciam a umas forças ditas de segurança, foram responsáveis por um terrível
massacre em Odessa, onde morreram queimadas ou baleadas dezenas de pessoas que
se tentavam refugiar. Na altura não se falou muito disso no Mundo, e eu não
percebo porquê! Entretanto já morreu muita gente nesta guerra, já foi destruída
muita coisa e o meu povo vive pior que nunca. Apetece-me chorar quando vejo o
exército do meu próprio país a atacar o povo a que pertenço.
Eu sou o Charlie, um Afegão. Em 2001 houve um ataque a umas
torres enormes nos EUA, chamavam-lhe as torres gémeas. O mundo culpou gente por
esse ataque que segundo eles estava instalada no meu país. O meu país tem uma
história triste de guerras. Esses mesmos que falam inglês andaram a criar os
Taliban para combater o que diziam ser a invasão da URSS. Depois passados
vários anos voltaram cá para combater esses Talibans. Hoje negoceiam com eles e
eu já não percebo nada disto. A única coisa que sei é que já se perdeu a conta
aos mortos do meu país em virtude destas guerras e agressões. As coisas pioram
de dia para dia no nosso povo, e até a produção de droga aumentou
exponencialmente. Diziam então que os direitos das mulheres não eram respeitados,
e eu até acho que não eram, mas caramba, cabia-nos a nós resolver esse
problema. É que agora elas continuam a andar de Burka, correcção: aquelas que
estão vivas continuam a andar de Burka. Cada vez mais acho que esses senhores
se estavam eram a borrifar para os direitos do meu povo e das mulheres do meu
povo.
Basicamente, o Charlie sou eu, um homem comum, que vive em
qualquer parte do mundo e que é vítima de uma política insana que cada vez traz
mais guerra, mais morte, mais fome, mais desemprego, mais pobreza, mais
doenças, mais problemas ambientais, menos cultura, mais discriminação, mais
ódio racial, menos democracia, mais intolerância, menos humanidade, mais
desrespeito por vários direitos humanos. Sou aquele que verdadeiramente sofre
com os ataques e crimes como o de Paris, porque há sempre aqueles que lucram
com eles. Cada vez mais acho que enquanto não se inverter a essência das
políticas que ditam o sentido dominante do Mundo não terminarão os dias tristes
como o de ontem em Paris.
Sou o Charlie, sou amante da Paz e da amizade entre os
povos. Luto pela justiça social, pelo desenvolvimento económico e social de
todos os países, pelo respeito pelos direitos económicos, sociais, culturais,
democráticos e de soberania dos povos. Luto para que o Mundo não seja um jogo
de xadrez onde as pessoas são meras peças, e a sua vida tem um valor relativo
consoante os interesses que estão em jogo. Sou o Charlie, indigno-me tanto com
a morte dos meus “colegas” jornalistas em Paris como com a morte de um trabalhador
da construção civil que caiu numa obra por falta de medidas de segurança.
Sou o Charlie, amante da Paz, da tolerância, da cooperação
entre povos e Estados soberanos. Acredito que um mundo mais justo é possível.
Acredito que é possível fazer da política aquilo que ela deve ser, uma festa de
ideias e princípios usados no interesse de todos.
Sou o Charlie e nunca irei permitir que a minha indignação
pelo que se passou em Paris seja utilizada para cortar ainda mais direitos nos
democráticos aos povos, para imprimir medo a todos, para que poucos dominem,
para eleger os muçulmanos, ou outros, como inimigos da civilização, ou para
desencadear novas guerras num mundo que está já tão perigoso.
Sou o Charlie, tomo o partido do lado da verdade, contra a
manipulação. Do lado da paz, contra as guerras, as ingerências e as manobras de
desestabilização. Do lado da verdadeira luta contra o terrorismo, contra a
hipocrisia e a mentira. Do lado da justiça e da igualdade, contra a exploração.
Do lado da democracia verdadeira, contra a ilusão de uma democracia formal. Do
lado dos povos, contra “os donos disto tudo”.
Sou o Charlie, e não quero ser usado para instigar o
racismo, a xenofobia e a islamofobia.
Sou o Charlie e não quero que os meus sentimentos de solidariedade
para com as vítimas de Paris sejam usados para abrir campo à extrema-direita ou
para desencadear paranóias que abram campo a ainda mais mortes, guerras e
destruição.
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