Mensagem

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sábado, 17 de janeiro de 2015


   MAIS UMA VEZ A QUESTÃO 
DAS   RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

Sou leitor de uma publicação on-line, «SOCIAL EUROPE» que acaba de publicar um texto com data de 14 deste mês, do economista norte-americano de origem judia Nouriel Roubini, especialista em análise financeira, cujo original, poderá ler AQUI 
Este economista, por volta dos anos 2000 era apelidado de Doutor Catástrofe, porque as suas previsões econômicas eram de facto catastróficas para a época.
Com a crise do “Subprime” em 2008, provou-se que estava cheio de razão.
Segundo a “Wikipédia”, em 2005, na revista Fortune, Roubini afirmava que "o preço dos imóveis residenciais surfava em uma onda especulativa, que brevemente faria afundar a economia." "Naquela época, foi qualificado de Cassandra. Agora, é considerado um sábio." Suas previsões atuais são igualmente apocalípticas: uma recessão persistente, com mais de dois triliões de dólares de perdas em créditos e uma crise bancária sistêmica. "O FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) é uma a agência federal dos Estados Unidos da América, cuja principal função é a de garantia de depósitos bancários”, gastou 10% das suas reservas para socorrer IndyMac, e esta foi a primeira onda de falências," diz Roubini. "Será que daqui a pouco não teremos que socorrer o FDIC?" 
Traduzimos o texto que referimos no início e iremos coloca-lo a seguir, dada a sua evidente importância e actualidade, embora no que se refere às necessárias alterações na divisão social do trabalho e nomeadamente no modo de produção, no que ao processo de acumulação capitalista e às relações de produção diz respeito, seria indispensável ter ido mais longe.
Julgamos que as suas “hesitações” injustificadas, porque se baseiam na expectativa de considerar que “ainda é incerto que a procura por mão-de-obra continue a crescer, à medida que a tecnologia avança.” 
Incerto??? 
Não temos nenhuma dúvida, com a velocidade e dimensão a que se processa a evolução tecnológica, o capitalismo aproveitará rapidamente para excluir do direito ao trabalho parcelas da humanidade, que serão relegadas como escória, para a mais profunda miséria, para não referir sequer as dramáticas consequências, sociais, políticas e culturais que o presente contexto histórico terá para as novas gerações e até para o próprio futuro da humanidade.
Bastará ler as conclusões a que chegou a elite do capitalismo industrial, reunida na Fundação Gorbachev, em S. Francisco da Califórnia, na década de 90, estando entre eles George Bush, George Schultz, Margaret Tatcher, Washington SyCip (magnata de negócios da Ásia do Sul) Ted Turner (dono do maior grupo mediático do mundo), John Gage, CEO da “Sun Mcrosystems” estrela maior da informática norte-americana, Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de segurança de Jimmy Carter, etc., etc., para se ficar a saber que aqueles ilustres cangalheiros da humanidade, consideravam que 2/10 da população satisfariam todas as necessidades da humanidade. Quando interrogados sobre a solução para os restantes 8/10, a resposta variou entre o trabalho voluntário “para manter a dignidade” o desporto e televisão para distrair, e varrer ruas com uma baixa remuneração.
O que era uma conclusão orientadora daquela reunião, é já hoje a nossa trágica realidade.
(NOTA IMPORTANTE- A descrição dessa reunião tem um link no cabeçalho deste Blogue a seguir onde diz:«PREVISÃO CAPITALISTA-2/10 DA POPULAÇÃO SATISFAZEM TODAS AS NECESSIDADES»
O excessivo otimismo que o Capitalismo ali vomitou, não teve em consideração a resistência e a luta das populações e dos trabalhadores.
O capitalismo e aquelas demoníacas decisões serão derrotadas, até porque é dialéctico.
Contrariamente ao que acontece com Cavaco Silva “que nunca se engana e raramente tem dúvidas”, a Dialética da Natureza nunca se engana mesmo e no que ao povo e aos trabalhadores diz respeito, nenhumas dúvidas existem sobre isso.  
Nós consideramos entretanto, que só uma nova, revolucionária e profunda alteração das relações de produção, poderá solucionar a justa e necessária transformação das questões ligadas à propriedade dos meios de produção, bem como equacionar judiciosamente, a problemática do trabalho. 
Realizar uma revolucionária alteração da divisão social do trabalho, é a única forma de evitar o mais do que previsível fim da sociedade humana, tal como hoje a conhecemos. 
A diminuição do horário de trabalho como solução mais imediata e provisória, para diminuir o desemprego, o fim dos “Offshores, a alteração mais equitativa na distribuição dos lucros das empresas, exigirá numa grande empenho e unidade na luta das classes trabalhadoras, como forma não só da sua sobrevivência, como também e em ultima instância, na própria sobrevivência da humanidade.
Até mesmo gente muito capacitada, como é o caso de Nouriel Roubini, perde a noção da verdadeira realidade, porque as suas vidas se desenrolam a níveis que carecem de experiência prática, para vivenciarem as diferenças entre, por exemplo, as dificuldades próprias do trabalho precário e o desemprego estrutural, a problemática da miséria e sobretudo o gravíssimo problema da pobreza envergonhada, que é um dos maiores na actualidade, dado o acelerado desaparecimento da classe média.
Para se aperceber melhor da nossa realidade recomendamos que leia (AQUI) um texto que escrevemos em tempos neste Blogue, onde entre muitos outros casos, poderá verificar por exemplo, que os argumentos invocados por Nouriel Roubini sobre a empresa chinesa “Foxcon”, não são tão simples como ele os descreve, mas assentam já, na antevisão do que será em breve a atitude generalizada do patronato.
De facto sobre aquela problemática, Roubini refere unicamente: 
“Da mesma forma, na próxima década, a Foxconn, que produz iPhones e outros produtos eletrônicos, planeja substituir grande parte da sua força de trabalho chinesa de mais de 1,2 milhões por robôs.” 
Não podemos deixar de o acusar de “ligeireza”, quando o autor trata de forma quase leviana, um assunto tão grave, complexo e paradigmático, gerador de uma realidade social dramática e perversa.
Sobre este caso específico, o que se passou concretamente, foi o seguinte: 
A fábrica chinesa FOXCON, acusada entre muitas outras coisas, de causar numerosos suicídios entre os seus trabalhadores, como consequência das exageradas pressões que sobre eles exercem e à dimensão da exploração a que estão sujeitos.
Na sequência de uma tentativa artificiosa, para os obrigar a fazer horas extraordinárias, sem lhes pagar, passaram a atrasar os transportes que habitualmente levavam os trabalhadores para casa, depois do período laboral.
A revolta e os distúrbios que se seguiram, após os trabalhadores tomaram consciência da astúcia, obrigou a intervenção da polícia e a gerência resolveu fechar aquela unidade de produção, enviando centenas de milhar de trabalhadores, para o desemprego.
No sentido de resolver o problema que essa falta de mão-de-obra lhe causou, a administração da casa mãe para continuar a fornecer os seus clientes, resolveu substituir os seus trabalhadores por robôs.
Esta empresa não é uma empresa qualquer.
É pura e simplesmente uma multinacional com fábricas na China, Brasil, Europa, India, Japão, Malásia, México e fornece as principais fabricantes de computadores e telemóveis, nomeadamente a Apple, Microsoft, Nokia, Sony, Toshiba, Acer, Cisco, Hewlett-Packard, etc., etc.
Na sequência dos acontecimentos e das decisões tomadas para resolver a continuidade dos fornecimentos, já entraram nas linhas de produção dez mil robôs designados FoxBots, numa das suas unidades fabris, estando planificado serem instalados mais 20.000, até ao final do ano, ao preço de 20.000 dólares cada, correspondente ao encargo com o ordenado médio de um trabalhador, durante três anos.
Ela própria produz os robôs necessários.
Daí acreditarmos que a notícia de que vão fabricar mais um milhão de robôs, para substituir os seus trabalhadores, seja perfeitamente verosímil.” 
A pesar desta discordância sensívell, continuamos a pensar que vale a pena ler o texto de Nouriel Roubini dada a sua autoridade na matéria e os elementos novos que traz à colação, pelo que a sua tradução para português que fizemos se impunha, no sentido de poder torna-lo mais acessível. 
SERÁ QUE A TECNOLOGIA DESTROI EMPREGOS?
por Nouriel Roubini
Inovadores em tecnologia e CEOs, parecem considerar positivamente nos dias que correm, o que de vertiginoso trará o futuro.
Novas tecnologias de fabrico, geraram uma excitação febril, sobre aquilo que alguns consideram já como a Terceira Revolução Industrial. Nos próximos anos, os avanços tecnológicos na área da robótica e da automação, irão aumentar a produtividade e a eficiência, o que implica ganhos económicos significativos para as empresas. Mas, a menos que políticas adequadas para alimentar o crescimento do emprego sejam postas em prática, ainda é incerto que a procura por mão-de-obra continue a crescer, à medida que a tecnologia avança.  
Os recentes avanços tecnológicos têm três vertentes: Tendem a ser de capital intensivo (favorecendo, assim, aqueles que já têm recursos financeiros); especialização intensiva (favorecendo, assim, aqueles que já têm um alto nível de competência técnica); e (ao reduzir assim o número total de empregos não qualificados e semi-qualificados na economia) poupar postos de trabalho.
O risco, é que a robótica e a automação irá deslocar operários de “fato-macaco” (tradução de trabalhadores de colarinho azul, em contraponto com trabalhadores de colarinho branco, referindo os trabalhadores dos serviços) antes que a poeira da Terceira Revolução Industrial se instale.  
O rápido desenvolvimento do software inteligente ao longo das últimas décadas, tem sido talvez a força mais significativa, que irá moldar a revolução industrial que aí vem. A inovação no software, em conjunto com as tecnologias de impressão em 3D, irão abrir a porta aos trabalhadores que sejam qualificados suficientemente para participar; para todos os outros, no entanto, podem sentir como se a revolução estivesse a acontecer noutro lugar. Na verdade, a fábrica do futuro pode ser de 1.000 robôs e um trabalhador a comandá-los. Até mesmo o chão da fábrica pode ser varrido melhor e mais barato por um robô da marca “Roomba”, do que por qualquer trabalhador.  
Para os países desenvolvidos, isto pode parecer notícia antiga. Afinal, nos últimos 30 anos, a base de produção nas economias emergentes da Ásia tem-se deslocado das antigas potências industriais da Europa Ocidental e da América do Norte. Mas não há garantia de que os ganhos no mercado de trabalho do setor de serviços, continue a compensar as perdas de emprego resultantes da indústria.  
Para começar, a tecnologia está até a criar muitos empregos de serviços transaccionáveis, o que lhe permite ser deslocalizada para a Ásia e outros mercados emergentes. E, eventualmente, a tecnologia vai substituir igualmente empregos fabris e de serviços, também em mercados emergentes.  
Hoje, por exemplo, um paciente em Nova Iorque pode ter sua ressonância magnética  (MRI), enviados digitalmente para, digamos, Bangalore, onde um radiologista altamente qualificado poderá analisá-lo, por um quarto do que custaria um radiologista sediado em Nova York. Mas quanto tempo levará, antes que o software de um computador possa ler essas imagens, mais rápido, melhor e mais barato do que o pode fazer o radiologista em Bangalore?  
Da mesma forma, na próxima década, a Foxconn, que produz iPhones e outros produtos eletrônicos, planeja substituir grande parte da sua força de trabalho chinesa de mais de 1,2 milhões por robôs. Brevemente, o software de reconhecimento de voz será suficiente para substituir os call centers de Bangalore e Manila.
Será que a evolução da tecnologia destruir empregos em larga escala?

Inovações tecnológicas na redução de postos de trabalho, afetará educação, saúde, o governo e até mesmo os meios de transporte.
Por exemplo, será que ainda precisamos de tantos professores nas décadas futuras, se a elite da profissão pode produzir cursos on-line, cada vez mais sofisticados, que milhões de estudantes podem utilizar? Então, como é que os ex-professores irão ganhar a vida?
Os governos também estão desperdiçando postos de trabalho - particularmente os governos sobrecarregados com elevados défices ou dívidas. E, por transformar a maneira como os serviços são prestados ao público, a tendência do e-governo, pode compensar as perdas de empregos, com ganhos de produtividade.
Mesmo os transportes estão sendo revolucionados pela tecnologia. Em questão de anos, carros sem motorista - cortesia do Google e outros - podem tornar milhões de empregos obsoletos.
E, é claro, sendo a inovação tecnológica de capital intensivo e de poupança de postos de trabalho, tem como consequência o aumento das desigualdades – para alem do beneficiado absorver todos os efeitos – no que respeita ao aumento da rendimento e da riqueza. O aumento da desigualdade, em seguida, torna-se um empecilho para a procura e crescimento (bem como uma fonte de instabilidade social e política), pois distribui o rendimento daqueles que gastam mais (famílias de renda média e baixa,) para aqueles que poupam mais (os de elevado património, quer indivíduos ou empresas corporativas).
Os ganhos de tecnologia devem ser canalizados para uma base mais ampla da população, do que aquela que tem estado a beneficiar até agora.
Obviamente, não é a primeira vez que o mundo enfrenta tais problemas e o passado pode ajudar a servir de modelo, para a sua resolução. Os líderes do século XX e os do início do século XIX procuraram minimizar as características mais negativas da industrialização. O trabalho infantil foi abolido em todo o mundo desenvolvido, as horas de trabalho e as condições tornaram-se mais humanas e uma rede de segurança social foi posta em prática, para proteger os trabalhadores mais vulneráveis e estabilizar a (muitas vezes frágil) macroeconomia.

Quando começamos a buscar soluções esclarecidas para os desafios que a presente terceira revolução industrial apresenta, um tema geral se agiganta: Os ganhos das novas tecnologias, devem ser canalizados para uma base mais ampla da população do que aquela que até agora tem beneficiado. Isso requer uma grande componente educativa. Para criar uma prosperidade generalizada, os trabalhadores precisam de habilitações que lhes permita participar no admirável mundo novo, implicitamente baseado numa economia digital.
No caso de não ser suficiente, será mesmo necessário fornecer suporte de renda permanente, para aqueles cujos empregos são substituídos por software e máquinas. Aqui, também, devemos aprender atentamente as lições do passado.

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