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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PRESIDENCIAIS
DEBATE
FRANCISCO LOPES-CAVACO SILVA
Por motivo de força-maior, só hoje tivemos oportunidade de assistir á gravação do debate de Francisco Lopes, com Cavaco Silva.
A primeira das nossas observações, é para dar os nossos sinceros parabéns a Francisco Lopes, que neste debate excedeu as nossas expectativas e esteve ao seu melhor nível, perante aquele que potencialmente seria o seu mais difícil e complicado adversário.
Neste debate, a sua experiência política, calejada na defesa das classes trabalhadoras, veio ao de cima em todo o seu esplendor.
Chegou mesmo a obrigar os habituais sorrisos de circunstância de Cavaco Silva, se transformassem muitas vezes, em dolorosos esgares de mal contido rancor, que muita azia deve ter provocado aos seus “assessores de imagem”.
A sua calma, serena precisão no rigor dos argumentos, elevaram o nível do debate a um padrão, raramente produzido na nossa televisão “pós 25 de Abril”.
Por outro lado, os argumentos de Cavaco Silva, revestiram-se de algum artificialismo e diríamos até, de alguma demagógica ingenuidade.
Bem pode Cavaco Silva lembrar a “generosa”criação do 14º mês para os pensionistas, esquecendo que já era uma aquisição normal das classes trabalhadoras.
Falar da integração dos trabalhadores agrícolas na Segurança Social, quando já quase não havia trabalhadores agrícolas e os que ainda existiam, lá iam tendo algum apoio social, nas tradicionais Casas do Povo.
Quanto á sua terceira “grande” obra, para demonstrar a sua eficácia como primeiro-ministro, lembrou a sua intervenção em Setúbal, chamando a si a resolução em 1983, dos problemas da fome em Setúbal.
Ele, devia era ter vergonha do comportamento dos governos nessa época e concretamente na ocultação que tentaram fazer, dos graves problemas com que se defrontava a zona de Setúbal, só porque a maioria da sua população era comunista.
Não lhe ouvimos uma palavra sobre a acção meritória do então Bispo de Setúbal, D.Manuel Martins e da intensa campanha que levou a cabo, combatendo e denunciante os erros, incoerências, hipocrisias, injustiças e a fome que grassava, consequência directa do desemprego dos trabalhadores, vítimas do encerramento de grandes unidades fabris, ou da redução de pessoal, nos estaleiros da Lisnave e Setenave, que deixaram cerca de 30 mil pessoas sem trabalho e outras tantas, com salários em atraso.
Não fora D. Manuel Martins, ter instituído nessa ocasião um Fundo de Solidariedade na dependência da Cúria Diocesana, de onde lhe vinham os apoios e sabe-se lá qual seria o trágico fim de muitos desses trabalhadores e de suas famílias.
Afrontando o poder político, mostrando a realidade insistentemente, chegou ao extremo de dizer, que o governo estava a "matar pela raiz os direitos sociais", obrigando o Executivo a mudar de opinião e a admitir finalmente que havia fome em Setúbal, contrariamente ao que o governo afirmava.
Só então decidiram adoptar um “Plano de Emergência” para a região.
Não fora o empenho, as denúncias e generosa actividade de D. Manuel Martins e a situação dramática, teria descambado em tragédia, porque “os pobres não têm voz” como ele frisou muitas vezes.
Para aquele governo, se morressem todos os comunistas, não faziam cá falta nenhuma, dizemos nós!!!
Lembramos com orgulho, que foi a propósito das suas firmes e exemplares tomadas de posição em defesa dos trabalhadores, dos pobres e dos explorados, que passou a ser chamado “Bispo Vermelho”, numa alusão ao Partido Comunista.
Curiosamente, muitas vezes confessou o Bispo, que esse cognome nunca o incomodou, antes pelo contrário, pois sempre tomou partido na defesa dos mais fracos, seus direitos e da sua dignidade.
Cavaco Silva no debate, continuou a procurar elencar a sua “ OBRA” e argumentou que era ele que “tinha tido o mérito de inaugurar a Auto-Europa em Setúbal”.
Achei o argumento tão ridículo, que teria desculpado uma boa gargalhada a Francisco Lopes.
Este, no entanto manteve-se impávido e sereno perante a demagógica e caricata afirmação, fruto da sua inegável superioridade moral e política e certamente pela seriedade com que encarava esse debate.
Talvez por isso e para continuar a realçar os seus “feitos”, entusiasma-se, e avançando na cadeira de dedo em riste e pondo uma intimidante expressão no rosto, regougou::
“Quando saí do governo, as contas públicas estavam equilibradas e agora, as nossas dívidas externa é aquilo que “abafa totalmente o nosso país”.
“Agora vou conduzir o pais para uma linha de rumo, através da minha magistratura activa que permita resolver os dois grandes problemas que é o desemprego e o endividamento externo !!!”
Faltaram foguetes….fogo de artifício e uma pergunta simples: então porque não o fez antes, perguntamos nós!!!
Fez bem lembrar Francisco Lopes, que Cavaco Silva nos anos 90, nos prometia caminharmos no pelotão da frente.
Hoje concluímos que de facto cumpriu a promessa: só que o pelotão é outro, não o da prosperidade prometida, mas sim da pobreza, do desemprego, dos baixos salários da precariedade, da decadência, da destruição do aparelho produtivo.
Estarmos na cauda da Europa, muito por sua responsabilidade.
Para concluir, consideramos que Francisco Lopes nos reservou uma intervenção, lúcida, sensível e inteligente, na argumentação; sólida quanto às verdadeiras causas dos nossos problemas.
Chegou mesmo a demonstrar que Cavaco Silva está ao lado dos especuladores, quando recomenda ao governo que tenha em atenção o que dizem esses exploradores do erário público.
Em plano completamente diferente, dando-lhe uma bela lição de patriotismo, Francisco Lopes citou o magnífico exemplo de Timor, prova que quando as autoridades da Nação se juntam ao povo para definir uma política justa, não há adversário que possa resistir.
Como português e como patriota, fico-lhe grato, por saber que ainda há neste país quem não esteja vendido ao poder do dinheiro e aos interesses das grandes empresas e dos grandes capitalistas.
Não é a nossa condição de comunista, que influencia os critérios, com que analisámos ambas as intervenções.
Diríamos mesmo, que subconscientemente estariamos preparados, para que a “ronha” e a experiência de Cavaco Silva, constitui-se um handicap, capaz de perturbar a argumentação de Francisco Lopes.
Mas o que aconteceu, foi um espectáculo da inabalável solidez dos conhecimentos de Francisco Lopes e a irritada e por vezes quase descontrolada superficialidade, frases feitas e lugares comuns, de Cavaco Silva.
Chegámos a sentir que o candidato Cavaco Silva, tido nos meios de comunicação social, como uma “Avis rara” dos políticos portugueses, era afinal um tigre de papel.
Qualquer adepto ou simpatizante da sua candidatura, terá facilmente percebido que ele não passa de um bluff, que afinal preenche a Presidência, com a empáfia de que quem sente, que tendo um olho num país de cegos ….é rei!!!
Por outro lado, Francisco Lopes provou que sabe da “poda”.
Quem, como ele, vive o quotidiano no seio da luta dos trabalhadores, que está profundamente irmanado com os seus ideais, que fez da sua vida como que um sacerdócio de dedicação integral e exclusiva á luta pela defesa dos interesse dos seus semelhantes, para que definitivamente deixe de haver portugueses de primeira e portugueses de segunda ou terceira, ficou a merecer de todos aqueles que ainda lhe não reconheciam o valor, o talento, o compromisso e a lucidez…… o mais profundo respeito!!!.
A intervenção de Francisco Lopes muitas vezes nos surpreendeu pela serena, exaustiva e meticulosa enumeração dos factos, que provaram ter sido Cavaco Silva um dos principais responsáveis pela gravidade da situação que o país actualmente atravessa, na medida em que foi Primeiro-ministro durante dez anos e é Presidente da Republica há cinco anos.
Em nenhuma circunstância perdeu o fio do seu raciocínio e demonstrou grande inteligência e acutilância na forma como desmontou a falácia das alegações do seu adversário, sobretudo quando se referiu á natureza da cooperação estratégica do Presidente com o governo de Sócrates, não esquecendo de elucidar a importante influência do Presidente, no apoio ao devastador e ruinoso Orçamento de Estado.
Não esqueceu igualmente de o co-responsabilizar na nacionalização do prejuízo do BPN, resultado da mega-fraude de Oliveira e Costa, antigo secretário de Estado para os assuntos fiscais no seu governo e que até agora, já custou ao erário público, mais de 5.000 milhões de euros.
Acusou-o igualmente de aceitar, que os grandes grupos económicos e financeiros continuem a não pagar os impostos que lhes deveriam ser tributados, aceitando e aconselhando o actual governo a obedecer e cumprir as exigências das Agência Financeiras de Rating.
Ao denunciar as consequências funestas do Orçamento de Estado, incriminou este de provocar um trágico aumento do desemprego, falência de pequenas e médias empresas e destruição da classe média.
Para concluir, não esqueceu de enumerar as alternativas possíveis a essas medidas, em defesa dos interesses das classes trabalhadoras, dos reformados, dos pequenos e médios comerciantes, não descurando a necessária estabilidade das classes médias, sem desprezar a necessária e objectiva moralização da Banca e a correcção dos imorais privilégios dos Bancos e grandes grupos empresariais.
Por fim, a memória que durante muito tempo vamos reter do candidato Cavaco Silva, tem a ver com os seus hilariantes sinais exteriores de pânico, ou de ódio mal contido, perceptíveis pelos trejeitos da face e nos movimentos do corpo, quando atacado pelo candidato Francisco Lopes.
Tão evidentes e incomuns foram eles, que só encontra justificação pela angústia de estar a ser derrotado, denunciado e sobretudo inferiorizado por um comunista, a cuja ideologia, é notória, indisfarçável e insuportavelmente alérgico.
Para terminar temos que confessar haver uma coisa em que Cavaco Silva foi superior.
O seu sempre impecável nó da gravata...... estava melhor que o de Francisco Lopes.

PARA VER O VIDEO DO DEBATE
FRANCISCO LOPES-CAVACO SILVA, PODE CLICAR AQUI

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