EXTINÇÃO
Por Jorge Cadima
Professor da Universidade de Lisboa e analista de política internacional
Artigo publicado em “Odiários.info”
Por Jorge Cadima
Professor da Universidade de Lisboa e analista de política internacional
Artigo publicado em “Odiários.info”
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“O «Tigre Celta», que durante anos foi propagandeado como «caso de sucesso» da integração europeia, acabou devorado pela União Europeia e o FMI. (…) Se alguma virtude tem esta mais recente tempestade europeia, é a de mandar às malvas boa parte das patranhas que nos têm sido vendidas (com argumentos de direita ou «de esquerda») sobre o capitalismo europeu e a União Europeia. Cada dia se torna mais claro que a UE não é mais que um centro de comando do grande capital.”
O «Tigre Celta», que durante anos foi propagandeado como «caso de sucesso» da integração europeia, acabou devorado pela União Europeia e o FMI. É o destino fatal dos «casos de sucesso» do capitalismo dos nossos dias. Já foi assim com a Islândia, como antes o fora com os «tigres asiáticos» ou a Argentina. Desta vez, a versão oficial é que os bancos irlandeses «se excederam».
Mas em Julho passado, os dois grandes bancos irlandeses (Anglo Irish e Bank of Ireland) foram aprovados nas «provas de resistência» que a União Europeia conduziu ao seu sistema bancário.
Os «excessos» sempre tiveram a chancela oficial daqueles que lucraram com os excessos. Que não são os mesmos que agora vão pagar a factura.
Fala-se do pacote de 85 mil milhões de euros e diz-se que é dinheiro do FMI e da UE «para a Irlanda». Mas mais de 20% (17,5 mil milhões) desse montante é dinheiro irlandês, na sua maioria do Fundo Nacional de Reserva para as Pensões (Financial Times, 29.11.10). Que agora vai ser saqueado para entregar à banca. Mais concretamente, para entregar aos credores seniores das obrigações dos bancos, que não vão ficar a arder nem um cêntimo: «Após muito debate, foi também decidido que os obrigacionistas seniores que emprestaram dinheiro aos bancos irlandeses [para cometer «excessos» - NA] não vão sofrer perdas. “Não haverá nenhum corte de cabelo na dívida sénior” disse Olli Rehn, o Comissário da UE para as questões económicas e monetárias» (FT, 29.11.10).
E quem são estes credores seniores, que ficarão com a melena intacta, enquanto o povo irlandês vai à máquina zero?
Segundo o Financial Times (23.11.10), os bancos europeus são credores de mais de 500 mil milhões de dólares de dívida irlandesa. Os bancos ingleses de 150 mil milhões (6,6% do PIB britânico). Os bancos alemães vêm logo a seguir com 139 mil milhões de dólares (4,2% do PIB alemão). No caso da pequena Bélgica a dívida é de 54 mil milhões (uns estonteantes 11,7% do seu PIB).
O pacote UE/FMI não foi para salvar a Irlanda, mas para salvar o grande capital financeiro dos centros da UE, que se arriscava a sair tosquiado do regabofe. Mais uma vez, salva-se a banca e enterram-se os estados.
As dívidas da Irlanda já não serão dívidas aos bancos, mas aos estados da UE (através dos mecanismos EFSM e EFSF). Amanhã dirão de novo que as contas dos estados são insustentáveis, que é preciso cortar salários, pensões, serviços públicos.
E o saque continua: «o governo espanhol está a estudar a venda de participações na empresa gestora da lotaria nacional e nos aeroportos, enquanto a Irlanda encara privatizações nos seus sectores de electricidade e gás, como parte de um pacote de ajuda conjunta da União Europeia e FMI» (Telegraph, 1.12.10). Do tigre não vai sobrar nem a carcaça.
Se alguma virtude tem esta mais recente tempestade europeia, é a de mandar às malvas boa parte das patranhas que nos têm sido vendidas (com argumentos de direita ou «de esquerda») sobre o capitalismo europeu e a União Europeia.
Cada dia se torna mais claro que a UE não é mais que um centro de comando do grande capital.
O «Tigre Celta», que durante anos foi propagandeado como «caso de sucesso» da integração europeia, acabou devorado pela União Europeia e o FMI. É o destino fatal dos «casos de sucesso» do capitalismo dos nossos dias. Já foi assim com a Islândia, como antes o fora com os «tigres asiáticos» ou a Argentina. Desta vez, a versão oficial é que os bancos irlandeses «se excederam».
Mas em Julho passado, os dois grandes bancos irlandeses (Anglo Irish e Bank of Ireland) foram aprovados nas «provas de resistência» que a União Europeia conduziu ao seu sistema bancário.
Os «excessos» sempre tiveram a chancela oficial daqueles que lucraram com os excessos. Que não são os mesmos que agora vão pagar a factura.
Fala-se do pacote de 85 mil milhões de euros e diz-se que é dinheiro do FMI e da UE «para a Irlanda». Mas mais de 20% (17,5 mil milhões) desse montante é dinheiro irlandês, na sua maioria do Fundo Nacional de Reserva para as Pensões (Financial Times, 29.11.10). Que agora vai ser saqueado para entregar à banca. Mais concretamente, para entregar aos credores seniores das obrigações dos bancos, que não vão ficar a arder nem um cêntimo: «Após muito debate, foi também decidido que os obrigacionistas seniores que emprestaram dinheiro aos bancos irlandeses [para cometer «excessos» - NA] não vão sofrer perdas. “Não haverá nenhum corte de cabelo na dívida sénior” disse Olli Rehn, o Comissário da UE para as questões económicas e monetárias» (FT, 29.11.10).
E quem são estes credores seniores, que ficarão com a melena intacta, enquanto o povo irlandês vai à máquina zero?
Segundo o Financial Times (23.11.10), os bancos europeus são credores de mais de 500 mil milhões de dólares de dívida irlandesa. Os bancos ingleses de 150 mil milhões (6,6% do PIB britânico). Os bancos alemães vêm logo a seguir com 139 mil milhões de dólares (4,2% do PIB alemão). No caso da pequena Bélgica a dívida é de 54 mil milhões (uns estonteantes 11,7% do seu PIB).
O pacote UE/FMI não foi para salvar a Irlanda, mas para salvar o grande capital financeiro dos centros da UE, que se arriscava a sair tosquiado do regabofe. Mais uma vez, salva-se a banca e enterram-se os estados.
As dívidas da Irlanda já não serão dívidas aos bancos, mas aos estados da UE (através dos mecanismos EFSM e EFSF). Amanhã dirão de novo que as contas dos estados são insustentáveis, que é preciso cortar salários, pensões, serviços públicos.
E o saque continua: «o governo espanhol está a estudar a venda de participações na empresa gestora da lotaria nacional e nos aeroportos, enquanto a Irlanda encara privatizações nos seus sectores de electricidade e gás, como parte de um pacote de ajuda conjunta da União Europeia e FMI» (Telegraph, 1.12.10). Do tigre não vai sobrar nem a carcaça.
Se alguma virtude tem esta mais recente tempestade europeia, é a de mandar às malvas boa parte das patranhas que nos têm sido vendidas (com argumentos de direita ou «de esquerda») sobre o capitalismo europeu e a União Europeia.
Cada dia se torna mais claro que a UE não é mais que um centro de comando do grande capital.
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