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terça-feira, 1 de abril de 2014

         UM ERRO DE CASTING       

           JUSTINO PINTO DE ANDRADE…
                    UM CONVENCIDO!!!

Justino Pinto de Andrade, professor de Economia da Universidade Católica de Luanda e líder do Bloco Democrático, irmão de Vicente Pinto de Andrade e familiar próximo de Mário Pinto de Andrade, primeiro presidente do MPLA e de Joaquim Pinto de Andrade, presidente honorário do mesmo movimento.
Justino Pinto de Andrade foi preso em finais de 1969, enquanto estudante, sob a acusação de pertença ao MPLA.
Enviado por simples medida administrativa para o Tarrafal, só viria a sair à data da libertação do campo, em 1 de Maio de 1974.
Após a independência de Angola, sofreu nova prisão, como elemento da Revolta Activa.
É considerado como um dos maiores analistas políticos de Angola e director da Faculdade Economia da Universidade Católica. Teve durante anos uma coluna permanente na Rádio Eclésia.
Actualmente é presidente do Bloco Democrático.
Esta é uma síntese da biografia de Justino Pinto de Andrade, último entrevistado de Ana Aranha no programa da Antena 1 “No Limite da Dor”.
Começámos por fazer uma rápida pesquisa sobre este personagem, para complementar a publicação da sua entrevista, na medida em que consideramos a sua intervenção tão presunçosa e diferenciada das anteriores, que nos chegou a passar pela cabeça não publicar este depoimento, por respeito ao imenso sofrimento infligido às outras vítimas da PIDE.
Esta atitude justificava-se porque de facto este individuo, independentemente do respeito que me merece pelo facto de ser um antifascista, demonstra nas respostas que dá à entrevistadora uma presunção que atinge as raias da petulância.
Independentemente da relativa “suavidade” a que foi sujeito durante o tempo da detenção, a forma como a descreve, mostra que é verdadeiramente surpreendente ter sido um militante e activista do MPLA e se calhar não é por acaso que se tornou dissidente.
Mas passemos aos factos que mais nos impressionaram negativamente:
1º - Despertou para a política, segundo confessa expressamente porque na sequência de uma rusga, sentiu que era “humilhante” ser levado para um ponto de concentração para ser identificado e depois colocado sentado no chão, com ar de prisioneiro.
2º - Considera que na nova função o campo de concentração, era muito mais “democrática” porque não eram torturados e até relatava que alguns dos presos eram soltos com pedidos de “habeas corpus”, embora no caso dele e do irmão Vicente tal não fora possível, apesar dos esforços de sua mãe, que chegou a contratar vários advogados, nos sentido de obter a sua libertação.
3º - Com o decorrer do relato percebe-se que foi castigado por duas ou três vezes, por se ter “portado mal”. E porque se portara mal? Ouçamos o seu relato: 
“Quando fui preso, tentaram intimidar-me colocando um cão (pastor alemão?) à minha frente e logo ele pôs as patas no meu peito. Então disse aos polícias para tirarem daqui o “bicharoco” porque eu não tenho medo dele”. 
4º - Quando a seguir a entrevistadora lhe pergunta se tinha sido agredido fisicamente disse que não, argumentando: ”nunca me bateram porque considero que nunca permiti que as coisas chegassem a esse ponto”. “Procurei manter alguma altivez e conversei com eles com personalidade e nunca me humilhei”. Limitaram-se a colocar-me de estátua, mas mantive “alguma” altivez”. 
5º - Em seguida, faz a consideração mais próxima da fanfarronice que se possa imaginar, tendo em atenção que estava preso e a lidar com a Pide.

Conta ele:”Quando estava a ser interrogado, o polícia tinha uma pistola em cima da mesa e a primeira coisa que fiz foi dizer-lhe: tire daí essa porcaria (!!!) porque tenho a certeza absoluta que não vai disparar contra mim, porque se o fizesse era o fim da sua carreira” “aquela resposta  foi um choque para ele que replicou “é pá tu vens para aqui dar ordens?, e a partir daí ficaram limitados os campos”.
6º - Justificando porque não tinha sido vítima de violência física, afirma ”por um lado tinha alguma respeitabilidade, socialmente era uma pessoa respeitada, estudante universitário, Pinto de Andrade, uma família de terroristas , como eles diziam….mas respeitada, o que me dava uma certa protecção e por outo lado, claro, o modo como os enfrentei”, “Eu fui educado assim e disse-lhes que não mudava a minha forma de ser, só pelo facto de estar sob a alçada deles. Eu quero contar-lhe uma história engraçada: Um dia que recebemos a visita de uns Pides à hora do almoço e eu não me levantei. O director do campo ficou atrapalhado porque um preso rebelde manteve-se sentado. Todos os presos se levantaram e eu disse que não me levantava porque tinha sido educado a não me levantar quando estivesse a comer e a resposta do director foi de que o senhor não está em sua casa, está preso. Eu disse: mas eu trouxe comigo comigo a educação que recebi em minha casa, estou a comer…não me levanto.Fui então para a cela disciplinar 30 dias”. 
Ana Aranha percebeu definitivamente então que não conseguia obter nada de mais importante e deve ter-se arrependido mil vezes de o ter trazido ao programa, tendo em consideração a comparação com os indizíveis sofrimentos dos presos que o antecederam e os que certamente se seguirão.
Por isso classificamos este depoimento com um “Erro de Casting”.
Colocamos a reprodução integral do programa para complementar e testemunhar estas nossas considerações.



Para os mais novos, que não saibam verdadeiramente o que foi o Tarrafal, que ficou conhecido como o “campo da morte lenta” e percebam porque consideramos quase uma ofensa, colocar o depoimento de  Justino Pinto de Andrade ao mesmo nível dos outros torturados da Pide, desmerecendo “o limite da dor”, damos a seguinte informação complementar.
O campo de concentração do Tarrafal foi inaugurado em 29 de Outubro de 1936 e encerrado em 1954. Neste período de tempo, o campo serviu como exílio e extermínio para presos políticos portugueses. Voltou a ser reaberto em 1962, para os elementos das ex-colónias, mas encerrou após o 25 de Abril de 1974.
A sua história está descrita AQUI, AQUI,AQUI e AQUI 
Terminamos com um vídeo de homenagem aos verdadeiros heróis do Tarrafal, cuja memória devemos preservar e honrar, como expoentes da superior dignidade de que um ser humano é capaz, colocando a vida ao serviço da comunidade, no sentido de construir uma sociedade onde não fosse possível a exploração do homem pelo homem. 

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