QUE FAZER DESTA DOR?
Com este título escreveu Anabela Fino um texto no jornal
“Avante”, que consegue expressar tudo o que sentimos perante a tragédia que se
abateu sobre a Palestina, desde que os judeus se acharam no direito de chamar
sua, a terra de onde foram expulsos há milhares de anos.
Há na violência que exercem sobre aquele povo, algo que em
consciência nos angustia, não só pela infâmia que representa, como pelo
retrocesso civilizacional que simboliza.
O artificioso apoio financeiro e militar que os Estados
Unidos desde sempre lhes deu, nada tem de altruísmo para com um povo
historicamente perseguido.
Esse argumento hipócrita oculta a secreta necessidade de ter
naquele espaço territorial, uma testa-de-ponte que possa conter militarmente qualquer
veleidade árabe, que ponha em risco a cobertura financeira do dólar, a partir
da denúncia unilateral do Acordo de Bretton Wodds que estabelecia a paridade do
dólar com o ouro.
Hoje o ouro do Fort Knox é o petróleo árabe do médio oriente
e a garantia de que só será transacionado em dólares, com a promessa dos norte-americanos
garantirem a perenidade das monarquias na Arábia Saudita e no Qatar, como se
dos próprios Estados Unidos se tratasse.
A dimensão da angústia que o drama de Gaza nos provoca e corrói
a nossa consciência, deriva mais da incompreensível impunidade com que os
judeus dispõem dos territórios vizinhos, usando e abusando da sua força bruta para
matar indiscriminadamente gente inocente, umas vezes sob a injustificável e imoral
neutralidade da Europa e da sua comunicação social e outras até, com a sua própria
conivência.
Até hoje só nos tínhamos pronunciado sobre alguns aspectos
históricos e legais do confronto entre os palestinos e judeus, relacionados com
a forma como Israel tripudia todas as decisões da ONU, tendo-se inclusivamente
tornado uma potência nuclear clandestina, sem que sobre isso jamais se tenha pronunciado
sequer o Conselho de Segurança da ONU, devido às pressões dos Estados Unidos, deixando
para segundo plano aquilo que para nós até é o mais importante, que é o
genocídio árabe, a que nos é dado assistir, desde o fim da segunda guerra
mundial.
Sabemos que tudo tem origem do poder absoluto que o Lobby
judeu goza nos Estados Unidos e o melhor retrato que disso podemos dar, é a
eleição de Barack Obama que desde sempre classificámos como o primeiro
presidente judeu dos Estados Unidos, tal como se pode confirmar AQUI, através do
texto que nessa ocasião escrevemos no nosso Blogue.
Sempre colocámos os sentimentos pessoais em segundo plano, tentando
denunciar a legalidade pervertida, porque essa é a razão universal que estratifica
o primado moral, sobre qualquer outro.
Ainda não nos tínhamos pronunciado especificamente sobre o
sofrimento moral que nos causa tamanha injustiça, nem nos atrevemos a tentar
expressar os nossos sentimentos sobre a tragédia de que os palestinos são
vítimas, limitando-nos a episodicamente relatar algumas das ignomínias praticadas
por Israel, sob o pretexto de serem eleitos de Deus e assumirem por isso o
direito divino de chamar seu, um território que não lhes pertence há milhares
de anos.
E não o fizemos pela simples razão, que para descrever a
dimensão da nossa revolta, a angústia da nossa indignação, só o poderíamos
fazer com o sangue da nossa alma. Jamais nos sentimos à altura de retratar a
amargura que nos causa a dimensão das infâmias que Israel pratica.
O seu próprio governo não se apercebe que o ódio que está a
semear em todo o mundo, está a arruinar a hipótese de virem a ter no futuro,
qualquer remota hipótese de estabilidade.
Quanto a nós, foi preciso ler o texto que Anabela Fino
escreveu esta semana no jornal Avante, para encontrar o relato perfeito dos
nossos sentimentos e traspassar para ela a capacidade de os traduzir em
palavras.
QUE FAZER DESTA DOR ?
Por: Anabela Fino
Em certas alturas escrever é um exercício penoso, não pela
falta de temas ou sequer de inspiração, mas pelo facto de parecer que o que
importa realmente dizer estará sempre, por mais voltas que se dê ao texto,
necessariamente carregado de mágoa, de raiva, de revolta. É um sentimento que
nem a certeza de que os tiranos serão vencidos – por mais que façam planos para
dez mil anos – consegue apagar. Porque a injustiça que invade a vida, mesmo que
seja alheia, dói. Porque a dor que grassa pelo mundo, mesmo que em terras e
gentes distantes, dói. Porque a morte infligida a seres humanos é um bocado de vida
que nos roubam e isso dói. Não há conforto de sofá que nos proteja da dor sem
medida das mães que perderam os filhos assassinados na praia quando jogavam
futebol; não há palavras que nos resguardem do desespero das crianças que tudo
perderam, até a própria infância; não há luz que nos ilumine face aos olhos
parados de homens a quem tiraram o chão debaixo dos pés; não há nada,
absolutamente nada, que nos prepare para o nascimento de um filho de uma mulher
morta num bombardeamento.
E tudo isto está a acontecer em Gaza.
Dizem-nos as notícias que os «confrontos» começaram a 8 de
Julho – pouco mais de vinte dias, portanto – assim administrando o narcótico
mediático com que se pretende apagar da memória 66 (sessenta-e-seis!) anos de
ocupação, repressão, discriminação e extermínio levados a cabo por Israel
contra o povo palestiniano. Dizem-nos que Israel tem o «direito de se
defender», apagando décadas de história em que um Estado se formou usurpando a
terra, as casas, a água, o direito à vida de um povo. Dizem-nos que não haverá
«paz» sem o desarmamento do oprimido, omitindo que o opressor é o único país do
mundo que desrespeita todas as resoluções das Nações Unidas, incluindo a que há
décadas estabeleceu as fronteiras entre Israel e a Palestina. Enquanto os palestinianos
vão tombando, pelos vistos ainda não em número suficiente para que na Casa
Branca se admita o termo genocídio, a dor não tem limites.
Que fazer com tanta dor? Brecht deu-nos a receita: O que é esmagado que se levante! / O que
está perdido, lute! / O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha? / E
nunca será: ainda hoje / Porque os vencidos de hoje são os vencedores de
amanhã.
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