RICARDO RODRIGUES
O CLEPTÓMANO DIGITAL
Em 17 de Janeiro passado, publicámos neste Blogue um artigo sobre o deputado Ricardo Rodrigues, onde fazemos uma pequena biografia e falamos igualmente dos casos que os jornalistas da revista “Sábado” acharam por bem voltar a questioná-lo e que são fundamentalmente os seguintes:
Em 1977 Ricardo Rodrigues foi ouvido como advogado, sócio e procurador no caso que acabou na condenação de Débora Raposo por burla e falsificação de documentos.
O caso de pedofilia conhecido como “Caso Farfalha”, que condenou José Augusto Pavão em 2003, nos Açores, levaram Ricardo Rodrigues a abandonar o Governo Regional, embora nunca tenha sido constituído arguido.
No que se refere ainda á referida entrevista, é curioso a contradição entre a sua expressão sorridente quando considera textualmente no vídeo, “ter tido uma conversa como muito agradável” e o comunicado lido na conferência de imprensa, onde acusa os jornalistas de terem sido “ de uma violência psicológica insuportável, para justificar o facto de ter roubado os gravadores de som, aos jornalistas que o entrevistaram.
O jornalista João Miguel Tavares, sobre este caso, publicado hoje no Correio da Manhã, este texto exemplar:
No país dos inimputáveis em que Portugal se transformou, um deputado pode surripiar dois gravadores digitais a jornalistas de uma revista respeitável, convocar uma conferência de imprensa e, em vez do mais elementar pedido de desculpas, afirmar-se vítima de "violência psicológica insuportável". Convém fixar esta expressão. No Portugal de 2010, liderado pelo incansável engenheiro Sócrates, "violência psicológica insuportável" é o novo nome que se dá às perguntas incómodas.
Este poderia ser um episódio anedótico, capaz apenas de sobressaltar dois ou três deputados com mais amor às suas carteiras, se ele não fosse tão sintomático do estado a que as coisas chegaram. A conferência de imprensa do senhor deputado Ricardo Rodrigues, que desde o início da legislatura se tem destacado pelo amor ao grande líder e pela defesa canina da sua santidade na comissão de inquérito ao caso PT--TVI, é mais um monumento à desvergonha política e à falta de sentido de Estado.
Num país que ainda se lembrasse do significado de palavras como "responsabilidade política" e "dignidade institucional", o senhor Rodrigues estaria a arrumar o seu gabinete e a apanhar o avião para os Açores. No país onde todos vivemos, contudo, o senhor Rodrigues faz conferências de imprensa ladeado pelo seu líder de bancada (que, depois do affaire Inês de Medeiros, está a especializar-se na defesa dos oprimidos), sem direito a perguntas dos jornalistas (esses pulhas), onde anuncia incompreensíveis providências cautelares (com que fundamento?) e chama "exercer acção directa" ao acto de roubar e "tomar posse" ("irreflectidamente", assinale-se) ao acto de gamar. Da tauromaquia à cleptomania, o Parlamento português está cada vez mais parecido com uma parada circense. E o pior de tudo é que os palhaços somos nós.
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Em 17 de Janeiro passado, publicámos neste Blogue um artigo sobre o deputado Ricardo Rodrigues, onde fazemos uma pequena biografia e falamos igualmente dos casos que os jornalistas da revista “Sábado” acharam por bem voltar a questioná-lo e que são fundamentalmente os seguintes:
Em 1977 Ricardo Rodrigues foi ouvido como advogado, sócio e procurador no caso que acabou na condenação de Débora Raposo por burla e falsificação de documentos.
O caso de pedofilia conhecido como “Caso Farfalha”, que condenou José Augusto Pavão em 2003, nos Açores, levaram Ricardo Rodrigues a abandonar o Governo Regional, embora nunca tenha sido constituído arguido.
No que se refere ainda á referida entrevista, é curioso a contradição entre a sua expressão sorridente quando considera textualmente no vídeo, “ter tido uma conversa como muito agradável” e o comunicado lido na conferência de imprensa, onde acusa os jornalistas de terem sido “ de uma violência psicológica insuportável, para justificar o facto de ter roubado os gravadores de som, aos jornalistas que o entrevistaram.
O jornalista João Miguel Tavares, sobre este caso, publicado hoje no Correio da Manhã, este texto exemplar:
No país dos inimputáveis em que Portugal se transformou, um deputado pode surripiar dois gravadores digitais a jornalistas de uma revista respeitável, convocar uma conferência de imprensa e, em vez do mais elementar pedido de desculpas, afirmar-se vítima de "violência psicológica insuportável". Convém fixar esta expressão. No Portugal de 2010, liderado pelo incansável engenheiro Sócrates, "violência psicológica insuportável" é o novo nome que se dá às perguntas incómodas.
Este poderia ser um episódio anedótico, capaz apenas de sobressaltar dois ou três deputados com mais amor às suas carteiras, se ele não fosse tão sintomático do estado a que as coisas chegaram. A conferência de imprensa do senhor deputado Ricardo Rodrigues, que desde o início da legislatura se tem destacado pelo amor ao grande líder e pela defesa canina da sua santidade na comissão de inquérito ao caso PT--TVI, é mais um monumento à desvergonha política e à falta de sentido de Estado.
Num país que ainda se lembrasse do significado de palavras como "responsabilidade política" e "dignidade institucional", o senhor Rodrigues estaria a arrumar o seu gabinete e a apanhar o avião para os Açores. No país onde todos vivemos, contudo, o senhor Rodrigues faz conferências de imprensa ladeado pelo seu líder de bancada (que, depois do affaire Inês de Medeiros, está a especializar-se na defesa dos oprimidos), sem direito a perguntas dos jornalistas (esses pulhas), onde anuncia incompreensíveis providências cautelares (com que fundamento?) e chama "exercer acção directa" ao acto de roubar e "tomar posse" ("irreflectidamente", assinale-se) ao acto de gamar. Da tauromaquia à cleptomania, o Parlamento português está cada vez mais parecido com uma parada circense. E o pior de tudo é que os palhaços somos nós.
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Ainda do mesmo jornalista, fantasiando uma entrevista imaginária a Manuel Alegre, como candidato á presidência da Republica, aproveita a glosa para denunciar a reconhecida incoerência do percurso político do poeta candidato.
"POETA QUE É POETA CULTIVA A SUA HETERONÍMIA"
– No sábado o senhor acusou Cavaco Silva de estar a "crispar as relações institucionais" e a pôr em causa as decisões do Governo para fazer face à crise.
– Acusei, sim senhor.
– Mas devo recordar-lhe que a 19 de Março o senhor criticou o silêncio de Cavaco em relação ao PEC afirmando que "o papel de um Presidente não é gerir silêncios" e defendendo a "pedagogia da palavra como um instrumento ao serviço do país".
– E então?
– E então!? Então o senhor tanto critica Cavaco por estar calado como por falar demais.
– Ó meu amigo, vai-me desculpar, mas você é um analfabeto cultural.
– Ai sou?
– Ah pois é. Poeta que é poeta cultiva a sua heteronímia. Se você tivesse alguma sensibilidade literária saberia distinguir o Manuel Alegre idealista do Manuel Alegre pragmático. E ainda há o intelectual, o marialva, o resistente… Antes de comentar o que eu digo convém primeiro saber qual dos meus eus o está a dizer. Cultive--se, homem.
Ainda do mesmo jornalista, fantasiando uma entrevista imaginária a Manuel Alegre, como candidato á presidência da Republica, aproveita a glosa para denunciar a reconhecida incoerência do percurso político do poeta candidato.
"POETA QUE É POETA CULTIVA A SUA HETERONÍMIA"
– No sábado o senhor acusou Cavaco Silva de estar a "crispar as relações institucionais" e a pôr em causa as decisões do Governo para fazer face à crise.
– Acusei, sim senhor.
– Mas devo recordar-lhe que a 19 de Março o senhor criticou o silêncio de Cavaco em relação ao PEC afirmando que "o papel de um Presidente não é gerir silêncios" e defendendo a "pedagogia da palavra como um instrumento ao serviço do país".
– E então?
– E então!? Então o senhor tanto critica Cavaco por estar calado como por falar demais.
– Ó meu amigo, vai-me desculpar, mas você é um analfabeto cultural.
– Ai sou?
– Ah pois é. Poeta que é poeta cultiva a sua heteronímia. Se você tivesse alguma sensibilidade literária saberia distinguir o Manuel Alegre idealista do Manuel Alegre pragmático. E ainda há o intelectual, o marialva, o resistente… Antes de comentar o que eu digo convém primeiro saber qual dos meus eus o está a dizer. Cultive--se, homem.
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