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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


  A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA  

Este é um comentário algo atrasado, a um texto de Clara Ferreira Alves, que foi publicado pelo semanário “Expresso” no dia 19 de Outubro de 2013, na coluna “Pluma Caprichosa” que mantem semanalmente.
Nós “normalmente” gostamos do que escreve Clara Ferreira Alves, embora por vezes achemos irreflectidas ou mesmo capciosas, algumas das sua opiniões!!!
Esta declaração de interesses justifica-se porque, embora na altura tivéssemos reflectido sobre o interesse de fazer referência a esse texto, algo nele havia com que não concordávamos e portanto não pensámos mais no assunto.
Entretanto alguns camaradas enviaram-nos o artigo e o evoluir da situação política, agudizou a sua actualidade e acentuou a sua importância.
Perante essa circunstância, vamos reproduzi-lo, antecedendo-o da nossa explicação para o atrazo.
De facto, em determinada altura do texto, ela faz um comentário com o qual não estamos nada de acordo e mais; achamos que a simpatia que lhe merece o ex-primeiro ministro Sócrates, toldou a sua lucidez, subverteu o discernimento e no caso presente, Clara Ferreira Alves foi inquinada com uns pozinhos de anticomunismo que normalmente controla, mas desta vez traíram a sua clarividência e tornaram irresistível a sua utilização.
Compreendemos que na circunstância, para reforçar o valor da sua justificada indignação contra o ignóbil comportamento de Passos Coelho, Clara Ferreira Alves, tivesse escrito, citando Francisco Louçã: 
“Ao ponto do então chefe do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que se tinha aliado ao PCP e ao PSD para deitar o Governo abaixo e provocar a demissão e eleições”. 
Não seria este, o principal motivo para nos sentirmos molestados, embora nos incomodasse não ver assinaladas, as profundas diferenças entre as razões do PCP e do PSD, por respeito à sua opinião.
O problema é que logo a seguir e em complemento desta afirmação coloca entre parêntesis:
no cálculo eleitoralista misturado com a doutrina esquerdista que ignorava a realidade e as contas de Portugal
Ora aqui é que a “galinha torce o rabo”!!!
A referência de “cálculo eleitoralista misturado com a doutrina esquerdista” confundindo a sintonia da votação do Bloco de Esquerda com a do Partido Comunista, é uma afirmação incorrecta e tendenciosa, a que se segue o desplante de afirmar que o PCP “ignorava a realidade e as contas de Portugal
Isto é de uma parcialidade, que raia a fronteira do facciosismo.
Para quem já se esqueceu do que de facto se passou, pode ver no texto e no vídeo da Assembleia da Republica (com a intervenção de Bernardino Soares), que publicámos neste Blogue no dia 28 de Dezembro de 2013, com o título “ALGO MAIS SOBRE O PEC IV”, os mais amplos e justificados argumentos que levaram o PCP, a votar daquela forma.
Posto isto, demos a palavra a justa indignação de Clara Ferreira Alves.








“A HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA”
Entre os portugueses e a luxúria do poder, Passos Coelho escolheu o poder. Fica registado.


Este Governo, o de Pedro Passos Coelho, nasceu de uma infâmia. No livro “Resgatados”, de David Dinis e Hugo Coelho, insuspeitos de simpatias por José Sócrates, conta-se o que aconteceu. O então primeiro-ministro chamou Pedro Passos Coelho a São Bento para o pôr a par do PEC4, o programa que evitava a intervenção da troika em Portugal e que tinha sido aprovado na Comissão Europeia e no Conselho Europeu, com o apoio da Alemanha e do BCE, que queriam evitar um novo resgate, depois dos resgates da Grécia e da Irlanda.
Como conta Sócrates na entrevista que hoje se publica, Barroso sabia o quanto este programa tinha custado a negociar e concordava com a sua aplicação, preferível à sujeição aos ditames da troika, uma clara perda de soberania que a Espanha de Zapatero e depois de Rajoy evitou.
Pedro Passos Coelho foi a São Bento e concordou. O resto, como se diz, é história. E não é contada por José Sócrates que um dia a contará toda. No livro conta-se que uma personagem chamada Marco António Costa, porta-voz das ambições do PSD, entalou Passos Coelho entre a espada e a parede. Ou havia eleições no país ou havia eleições no PSD. Pedro Passos Coelho escolheu mentir ao país, dizendo que não sabia do PEC4. Cavaco acompanhou. E José Sócrates demitiu-se, motivo de festa na aldeia.

Detenho-me nesta mentira porque, quando as águas se acalmam no fundo poço, é o momento de nos vermos ao espelho. Pedro Passos Coelho podia ter agido como um chefe político responsável e ter recusado a chantagem do seu partido. Podia ter respondido ao diligente Marco António que o país era mais importante do que o partido e que um resgate seria um passo perigoso para os portugueses. Não o fez. Fraquejou.

Um Governo que começa com uma mentira e uma fraqueza em cima de uma chantagem não acaba bem. Houve eleições, esse momento de vindicação do pequeno espaço político que resta aos cidadãos, e o PSD ganhou, proclamando a sua pureza ideológica e os benefícios da anunciada purga de Portugal. Os cidadãos zangados com o despesismo de José Sócrates e do PS, embarcaram nesta variação saloia do mito sebástico. O homem providencial. Os danos e o sofrimento que esta estupidez tem provocado a Portugal são impossíveis de calcular. Consumada a infâmia, a campanha contra José Sócrates continuou dentro de momentos. Todos os dias aparecia uma noticiazinha que espalhava pingos de lama, ou o Freeport, ou a Face Oculta, ou a TVI, ou todas as grandes infâmias de que Sócrates era acusado. Ao ponto do então chefe do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que se tinha aliado ao PCP e ao PSD para deitar o Governo abaixo e provocar a demissão e eleições (no cálculo eleitoralista misturado com a doutrina esquerdista que ignorava a realidade e as contas de Portugal), me ter dito numa entrevista que considerava “miserável” a “campanha pessoal” da direita contra Sócrates. Palavras dele.
Aqui chegados, convém recordar o que o Governo de Passos Coelho tem dito e feito. Recordar as prepotências de Miguel Relvas, os despedimentos, os SMS, os conluios entre a Maçonaria e os serviços secretos, os relatórios encomendados, os escândalos, a ameaça da venda do canal público ao regime angolano, e, por fim, o suave milagre de um inexistente diploma. Convém recordar as mentiras sobre o sistema fiscal, os cortes orçamentais, a adiada e nunca apresentada reforma do Estado, as privatizações apressadas e investigadas pelo MP, os negócios e nomeações, a venda do BPN, as demissões (a de Gaspar, a “irrevogável” de Portas), as mentiras de Maria Luís, os swaps e, por último, cúmulo das dezenas de trapalhadas, o espetáculo da “Razão de Estado” vista pela miopia de Rui Machete. Convém recordar que na semana da demissão de José Sócrates os juros do nosso financiamento externo passaram de 7% para 14%. E os bancos avisaram-no de que não aguentavam. Sócrates sentou-se e assinou o memorando.

Que o atual primeiro-ministro não hesitasse, mais uma vez, em invocar um segundo resgate para ganhar as eleições autárquicas que perdeu, diz tudo sobre a falta de escrúpulos deste Governo, a que se soma a sua indigência, a sua incompetência, o seu amadorismo. A intransigência. Este é o problema, não a austeridade.

José Sócrates foi estudar. Escreveu uma tese, agora em livro, que o honra porque tem um ponto de vista bem argumentado, politicamente corajoso vindo de um ex-primeiro-ministro. E vê-se que sabe o que diz. Podem continuar a odiá-lo, criticá-lo, chamar-lhe nomes. Não alinho nas simpatias ou antipatias pela personagem, com a qual falei raras vezes. O que não podem é culpá-lo de uma infâmia que levou o país ao colapso político, financeiro, cívico e moral.

Entre os portugueses e a luxúria do poder, Passos Coelho escolheu o poder. Fica registado.

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