A CARIDADE E A IGREJA
Alfredo Bruto da Costa, Doutorado em
Sociologia, Conselheiro de Estado, Presidente da Comissão Nacional Justiça e
Paz da Conferência Episcopal Portuguesa (Organização que se
propõe promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da
Doutrina Social da Igreja) tem larga experiência de estudo e investigação no
domínio da pobreza, tema do seu doutoramento na Universidade de Bath (Reino
Unido).
Tem contra ele entre outras coisas, uma indesculpável alergia
às propostas que os comunistas têm feito na luta contra a pobreza, pois nem por
acareação as refere ou pior do que isso, como “profissional” nessa luta, o seu
anticomunismo nestas circunstâncias, torna-se primário e irracional, na medida
em que sendo um sociólogo empenhado na nobre missão de defender a justiça e a
paz, descura um aliado, sem o qual ou contra o qual, essa luta não faz sentido.
Enfim, é o que temos e com a sua enfatizada devoção ao Papa
Francisco, bem explícita quando comparou de forma encomiástica as semelhanças
com o pensamento do Patriarca D. Manuel Clemente após a cerimónia da sua
elevação a cardeal, deixa-nos a esperança que um “milagre” de lucidez, tenha no
Vaticano, o raio de luz que ilumine a Igreja portuguesa.
Pelos caminhos que as coisas estão a tomar, não será despiciendo
admitir, que a “Encíclica Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, velha de mais de 120
anos, sobre a qual assenta a doutrina social da Igreja, (razão primeira da
existência da mui católica “Comissão Nacional Justiça e Paz”)
venha a ser encarada, não como «o» afrontamento ao Marxismo-Leninismo e
sabotagem do movimento operário que esteve na sua origem, mas com a
racionalidade que as modernas relações sociais exigem, no actual contexto da
luta de classes e da exploração a que estão sujeitos os povos e em particular
os trabalhadores.
Sociologicamente é hoje bastante claro, que se torna imperioso
a Igreja não se intrometer na política, como é sua secular tradição e deixe de
ver na ideologia comunista um inimigo, mas sim uma força que define os campos
de intervenção de forma clara, dando aos intervenientes as responsabilidades
que a cada um compete, no exercício das suas vocações naturais.
A Deus o que é de
Deus, a Cesar o que é de Cesar (Mateus 22-11) frase muito conhecida dos evangelhos, que define de forma cristalina como devia
ser a relação entre o cristianismo e as autoridades seculares.
A luta contra a pobreza e pela dignificação do género humano,
passa pela exigência de um justiça igual para todos, de uma sociedade fraterna
e solidária na procura de uma paz social que reflita de forma clara, o direito
de todos à felicidade e à dignidade.
Contrariamente ao que diariamente estamos a assistir, o
apelo “ao bom coração das pessoas” para iniciativas de caracter filantrópico, são
as soluções previstas por uma misericordiosa caridade, tão querida à Igreja Católica
dos nossos dias e mais não é, do que a tentativa de calar e camuflar as injustiças
provocadas pelas actuais relações de produção.
O Capitalismo ao definir
que 2/10 da população bastarão para satisfazer todas as necessidades da
humanidade, colocam conscientemente os restantes 8/10, como lúmpen do
proletariado, submerso em dificuldades de sobrevivência.
Esta realidade, baseada na posse dos meios de produção pelo
Capital, facilitada pela robotização e evolução informática, produzem objectivamente
o aumento desmesurado da desproporcionalidade entre a remuneração do capital e
do trabalho, a que não é estranha a trágica problemática da fome e do
desemprego, que estamos a viver.
É neste contexto que os argumentos aduzidos na relevante entrevista
do Professor Alfredo Bruto da Costa à Antena 1, que mostramos a seguir, independentemente
do facciosismo religioso que preside ao seu pensamento, assume uma importância
enorme pela garantia que nos dá, não só na denúncia dos erros cometidos por
este governo de canalhas, mas também porque por de trás das suas considerações,
estar uma verdade, que forçosamente obrigará mais cedo do que tarde, a igreja a
alterar o trajecto de fazer da caridade a sua arma preferencial.
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