Mensagem

Mensagem

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


AFINAL É TUDO UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE!!!

A história que vou reproduzir no fim desta introdução, tem um extraordinário interesse, porque sendo uma lição de vida, envolvendo um estudo de psicologia social, encerra em si uma moralidade tão delicada e ao mesmo tempo tão frágil e melindrosa, que ao sermos colocados perante o dilema que nos é descrito, temos a exata noção do longo caminho que nos falta percorrer, para que a sociedade se torne mais perfeita, no sentido de respeitar o ser humano em toda a sua dimensão.
Eu próprio que me esforço por ser um cidadão correto e empenhado civicamente, procurando ter relações amistosas com todos os que me rodeiam, por uma questão de honestidade, interrogo-me, se nas circunstâncias descritas, o meu comportamento seria diferente.
Tendo inicialmente encarado a história com alguma displicência, ao reflectir sobre o tema, senti necessidade de aprofundar o assunto e procurei encontrar o rasto do FB da Costa, assinalado no título da mensagem que me enviaram (Universidade de São Paulo, FB da Costa) chegando à conclusão que se tratava de uma síntese muitíssimo resumida (a tese tem mais de 400 páginas) da tese de doutoramento  do Professor Fernando Braga da Costa, intitulada “Moisés e Nilce: retratos biográficos de doisgaris. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante eentrevistas”, cujo texto integral pode ler AQUI 
A tese de natureza sociológica, aborda a questão da humilhação social, como um problema político. Aproveita o drama pessoal dos garis (empregados de limpeza) marginalizados pela sociedade, dada a humildade da sua função, os colocar no fundo da escala social.
Na página 20 é afirmado: “Até que ponto não nos vemos “uniformizados, mascarados, vestidos em nossas armaduras de classe?” 
Porque estamos a viver com grande expectativa o que se está a passar na Grécia, sendo o argumento do novo governo, a necessidade de recuperar a dignidade nacional, após as sucessivas humilhações exigidas pela “Troika”, não pudemos deixar de relacionar com o tema, na medida em que embora noutra dimensão, o problema da dignidade, do aviltamento das instituições e a humilhação a que estão a sujeitar o povo grego, permite estabelecer um paralelo, dado que em ambos os casos a questão do factor financeiro é igualmente determinante.
De facto para quem consulte a tese de doutoramento, pode verificar que na página 20 afirma “São actividades cronicamente reservadas a uma classe de homens proletarizados: homens que se tornam historicamente condenados ao rebaixamento social e político” 
A moralidade do sistema capitalista, porque classifica a importância das nações na única escala que reconhece; a do poder económico e respectiva capacidade financeira, coloca neste caso a Grécia no fim da escala.
A primeira consequência desta subversão de valores, é gerar uma sociedade em que a escala social baseada no poder financeiro que cada um, subverte todos os outros méritos que caracterizam e dignificam a natureza humana. 
Nota do Blogue - As pessoas que no Brasil desempenham as funções de limpeza pública chamam-se “garis”, porque o primeiro funcionário de limpeza contratado pelo governo do Rio de Janeiro em 1876 era francês e se chamava Aleixo Gary.
Em Lisboa os funcionários da limpeza são designados por “almeidas” porque a generalidade dos primeiros funcionários, eram procedentes de Almeida, no distrito da Guarda, tal como as celebres “varinas” de Lisboa assim designadas, por as originais serem oriundos de Ovar, no distrito de Aveiro. 


Universidade de São Paulo FB da Costa  B 

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE
Um psicólogo fingiu ser varredor durante 1 mês e viveu como um ser invisível.
O psicólogo social FB da Costa vestiu a farda de varredor durante 1 mês e varreu as ruas da Universidade de São Paulo, onde é professor e investigador, para concluir a sua tese de mestrado sobre 'invisibilidade pública'. Ele procurou mostrar com a sua investigação a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente condicionada pela divisão social do trabalho, onde se valoriza somente a função social e não a pessoa em si. Quem não está bem posicionado sob esse critério, torna-se uma mera sombra social.
Constatou que, aos olhos da sociedade, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'.
...
Ele trabalhava apenas meio dia como varredor, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas, mas garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples BOM DIA, que nunca recebi como varredor, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”, explica o investigador. Diz que sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. “Os meus colegas professores que me abraçavam diariamente nos corredores da Universidade passavam por mim e não me reconheciam por causa da farda que eu usava.”

- O que sentiu, trabalhando como varredor?
Uma profunda angústia.
Uma vez, um dos varredores convidou-me para almoçar no refeitório central. Entrei no Instituto de Psicologia para levantar dinheiro, passei pelo piso térreo, subi as escadas, percorri todo o segundo andar, passei pela biblioteca e pelo centro académico, onde estava muita gente conhecida. Fiz todo esse percurso e ninguém EM ABSOLUTO ME RECONHECEU. Fui inundado de uma indescritível tristeza.
 

- E depois de um mês a trabalhar como varredor? Isso mudou?
Fui-me habituando a ser ignorado. Quando via um colega professor a aproximar-se de mim, eu até parava de varrer, na esperança de ser reconhecido, mas nem um sequer olhou para mim.
 

- E quando voltou para casa, para o seu mundo real, o que mudou?
Mudei substancialmente a minha forma de pensar. A partir do momento em que se experiência essa condição social, não se esquece nunca mais. Esta experiência mudou a minha vida, curou a minha doença burguesa, transformou a minha mente. A partir desse dia, nunca mais deixei de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe, que é importante, que tem valor.
 

Aprendi verdadeiramente, com esta experiência, o valor da dignidade. 

Sem comentários: