Mensagem

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quinta-feira, 12 de março de 2015

ESCOLA DE MULHERES - OFICINA DE TEATRO


ROIDO PELA SAUDADE 
SERENA CONFISSÃO DE UM PAI

No passado dia 8 a Escola de Mulheres-Oficina de Teatro completou 20 anos de existência.
Fernanda Lapa, uma das suas fundadoras, teve ocasião de ler uma mensagem durante as comemorações desse aniversário, que reproduzirmos a seguir, extraída da sua página no Facebook
Na parte final da sua comunicação, teve a amabilidade de incluir a mensagem de felicitações enviada pelo meu filho João Lucas,(destaquei a letra, por uma questão de localização) que se viu obrigado a emigrar, graças ao intrínseco desprezo pela cultura desta canalha que nos governa ter reduzido a zero as hipóteses de, na sua área de composição musical e das artes performativas, poder sobreviver em Portugal, vendo-se obrigado adoptar o Brasil como país onde pode continuar a fazer o que gosta e para o qual tem um raro talento.
Qualquer pessoa que leia a referida mensagem, chegará à óbvia constatação que se trata sem dúvida de uma alma de eleição.
Não fora o destaque dado pela genial e querida actriz Fernanda Lapa, jamais teria coragem de trazer a público a parte que ao meu filho João Lucas dizia respeito, pois correria o risco de ser mal interpretado ao permitir que fosse considerado o meu ponto de vista como uma expressão facciosa, ou no mínimo, possibilitar a iniquidade de ser considerado exagerado o ilimitado orgulho que tenho no talento e nas qualidades humanas deste meu querido filho.


A ESCOLA DE MULHERES fez 20 anos A ESCOLA DE MULHERES fez ontem 20 anos
Marta Lapa, Conceição Cabrita, Isabel Medina, Cristina Carvalhal, Fernanda Lapa e Cucha Carvalheiro, grupo fundador da companhia

Queridos Colegas e Amigos da Escola de Mulheres,
Não vos vamos maçar com o balanço do trabalho efectuado por esta Companhia ao longo dos 20 anos passados. As imagens que acabámos de ver são disso testemunho. Foram anos de grandes lutas, grandes sucessos e desaires, de afectos e cumplicidades. Connosco esteve, e continua a estar, gente de grande qualidade artística, profissional e humana, a quem somos sinceramente gratas. Alguns desses grandes amigos aqui estão hoje, e a sua presença enche-nos de uma enorme alegria e orgulho. Fomos uma Companhia pioneira na tentativa de dar às Mulheres uma voz mais activa no Teatro. Por isso escolhemos o dia 8 de Março de 1995 – Dia Internacional da Mulher – para apresentarmos o nosso ambicioso Manifesto e o nosso primeiríssimo espectáculo. 20 anos depois, alguma coisa se alterou no panorama do Teatro Português no que diz respeito ao trabalho feminino – surgiram novas encenadoras, novas companhias dirigidas por mulheres, novas autoras a serem representadas, novas mulheres responsáveis por trabalhos técnicos como: montagem, iluminação, carpintaria etc, etc,. No entanto, a chamada divisão do “bolo” continua a ser profundamente desiquilibrada. As Companhias dirigidas por Mulheres e os projectos artísticos de autoria feminina estão invariavelmente nos escalões mais baixos dos apoios governamentais e as Mulheres de Teatro, como a maioria das outras trabalhadoras de outras profissões, são as que mais sofrem com a precariedade de emprego. Por isso, a Escola de Mulheres, para além de comemorar o passado, quer, com este encontro fraterno, celebrar o futuro. Ninguém, nesta Companhia, espera vir a ter uma vida fácil. Raramente a tivemos, e não falamos em mordomias pessoais; nós as 3 directoras, temos de ganhar o pãozinho de cada dia fora destas paredes e fazer a maior parte do nosso trabalho aqui dentro, de forma gratuita ou quase – falamos na real possibilidade de montar espectáculos de maior envergadura e com maiores exigências técnicas, de circular com eles, de os promover efectivamente nos meios de comunicação. De fazer crescer a nossa pequeníssima, mas maravilhosa, equipe de 2 produtores, sobre os quais recaem mil tarefas a que nunca se negam, a quem devemos o sucesso desta iniciativa e pelas quais recebem um salário muito abaixo das suas qualificações e do trabalho que desenvolvem. A Escola de Mulheres pode orgulhar-se de nunca ter desbaratado dinheiros públicos, e pelo contrário, de ter feito o chamado “milagre das rosas” e, com quase nada, ter produzido arte e cultura.
Queremos envolver no nosso abraço muito caloroso todos os amigos e companheiros desta jornada aqui presentes e todos os que não puderam vir mas nos enviaram as suas saudações. O nosso muito, muito obrigada. Mas, se nos permitem gostariamos de falar de alguém muito especial e que foi a grande impulsionadora desta Companhia. Foi ela que no ano de 1995 nos deu a oportunidade de fazermos o nosso primeiro grande espectáculo “As Bacantes” – falo da Directora do Serviço ACARTE da Fundação Gulbenkian em 1995, a Professora e escritora Yvette Centeno, que por motivos de força maior não pode hoje estar aqui connosco mas que fez questão de nos dar um grande abraço.
Pedimos agora que todas as fundadoras da Escola de Mulheres subam até ao palco para que as possamos aplaudir e dar o nosso abraço – A Aida Soutullo não pode estar connosco hoje porque ( é o que acontece a muitas avós) teve de ficar a tomar conta da neta para que a filha pudesse ir trabalhar – mas chamo então, a Conceição Cabrita,Cucha Carvalheiro, Cristina Carvalhal . Para terminarmos gostavamos de vos ler a mensagem de um querido colaborador da Escola de Mulheres que, connosco esteve desde a primeira hora, o compositor João Lucas
Querida Fernanda. As saudades de tudo são uma presença familiar nos meus dias. Não são melancolias nem é nostalgia, são parte da presença das coisas que edificam o meu quotidiano, do qual tenho dado pouco a saber. Mas gostaria que soubesses o que tem sido de crescimento esta minha vida brasileira, no amor e no pensamento. Alguma coisa na produção também. E em tudo persistem as marcas de todas as experiencias que me fizeram como sou, e nessas ocupas um lugar muito particular, onde reconheço a minha liberdade, o teste dos meus limites, o poder propulsor do afecto, o desafio intelectual da criação e, mais que tudo, o imenso prazer imanente das coisas feitas de vida, de intuição e de audácia. E de conhecimento, porque elas ensinam quase tudo o que eu preciso. Devo-te parte muito importante dessa companhia constante em tudo o que faço, dessa memória fragmentada de gestos aventurosos em total cumplicidade. A Escola de Mulheres tem essa aura na minha memória, vinte anos parece pouco, parece muito, parece que sempre foi assim, parece que assim ficará para sempre, aberta à minha leitura íntima da nossa leitura do mundo. E em todos os triunfos, em todas as alegrias, em todas as ambições e em todos os erros reverbera esse prodigioso diálogo.
Não estarei em Lisboa no dia 8, mas estarei na Escola de Mulheres como estou perante o que me dita a minha memória: amor, orgulho e gratidão.
Um beijo muito grande para ti e para todos os nossos amigos.
E uma longa vida à Escola de Mulheres.
João
Obrigada a todos e até já num palco perto de nós.

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