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quinta-feira, 26 de março de 2015



POETA CHORA POETA

A síntese dos sentimentos que só os poetas sabem fazer, transcrita nesta poesia do meu filho Pedro Lucas, que usa o pseudónimo de Miguel Martins, feita em homenagem a Herberto Hélder, de quem era grande admirador.
Direcção remota
(à morte  de Herberto Helder)

  Não são precisas
muitas palavras.

  Basta uma lágrima,
ou uma noite lúcida
mas sem sono
e de tempestade.

  A lição do mestre
é uma delícia incomparável,
uma lonjura das coisas,
que apesar disso
estão próximas.

  Como num púlpito
invisível e grave,
continuará manifesto  e
dolorido
ao longo de
todos os tempos,
doce e silente
em simultâneo.

  Há fogos que
se acendem de quando
em quando ao longo
da vertigem.

  Há prodígios que ardem
e explicam dúvidas enormes
e insólitas.

  E há prodígios
que, se não surgissem,
é porque algo do mistério
e da fonte
não tinham chegado para
justificar a necessidade
absoluta de Além.

  É lento, o destino
de cada um.

  Mas é por demais visível
o que pode transportar
 consigo
daquela capacidade, ou vulcão
de frutos, que é o
querer chegar
muito mais longe
do que o mundo
permite.

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