FACES OCULTAS DO CASO BES
O texto que vamos publicar a seguir, foi-nos enviado pelo
Manifesto 74 e fala da “pacífica” e escandalosa repressão levada a cabo pela
PSP, no caso de uma das manifestações dos lesados do BES.
Porque achamos o tema exemplar, hesitamos em colocar qualquer
comentário antes do texto.
No entanto, como a acção dos despojados do BES, graças ao
seu significado, dimensão e persistência, começa a fazer parte do nosso
quotidiano, optámos por fazer anteceder o referido texto de um preâmbulo, no
sentido de criar uma maior expectativa sobre a importância desse conteúdo.
Se a nossa análise estiver de acordo com a vossa conclusão,
daremos por bem empregue esta nossa opção.
Quando chegarem ao fim, estarão certamente a pensar o mesmo
do que nós.
Que país é este?
Como foi possível chegarmos a este estado?
Como é possível esta canalha que nos governa, manter-se no
poder e ainda por cima aspirar a ganhar as próxima eleições?
Como é possível ter um Presidente da Republica mais
preocupado com o incrível e sistemático rigor geométrico do seu nó da gravata,
do que com os crápula que nos governam?
Nós não criticamos neste caso, o neutralismo da polícia por
ter um comportamento extremamente pacífico, com os lesados do BES.
O que achamos escandaloso e o texto do Manifesto 74 ajuda a
realçar, é a suprema violência com que a PSP age sistematicamente contra os
trabalhadores que se manifestam justamente em defesa dos seus direitos, e o
“civismo” como actuou contra a justa indignação daqueles a quem roubaram as
poupanças de uma vida.
Será que afinal o Presidente da Republica, cheio de culpas
no cartório, não estará por detrás deste “fenómeno pacificador”, para se
penitenciar dos estímulos que deu à quadrilha, que levou a cabo aquele
surripianço?
Será que o “desgoverno” que temos, utiliza para este caso a
mesma tecnologia de repressão, que utiliza com os comunistas, silenciando a sua
actividade e diminuindo por todos os meios a sua publicidade, reservando-se exclusivamente
para assustar os improváveis medrosos, com a violência desmedida?
Ou será que esta atitude tem como alicerce, não saberem onde
começa a diferença entre os ricalhaços, que não seria necessário pacificar e já
acordaram o futuro das suas indemnizações e os desgraçados a quem extorquíram
as poupanças de toda uma vida de sacrifícios e que só lhes resta gritar a
crueldade que os vitimou, ou desistir da luta e seguir o caminho do suicídio que
já foi o escolhido, por alguns desses infelizes?
A PSP, os lesados do BES e seus chutos e pontapés
Zapping matinal. Num dos canais de informação passavam
imagens dos "lesados do BES" em manifestação em frente à sede do
defunto banco, renascido como Novo Banco. Barulho, algumas pessoas,
entrevistas semi-audíveis. Cinco minutos disto e continuação do zapping. De
repente chego à CMTV, que continuava em directo do local. A temperatura
subia, vertiginosamente. Manifestantes que tentavam entrar na sede do Novo
Banco empurravam, insultavam e berravam aos ouvidos dos agentes do Corpo de
Intervenção da PSP. Bastões à vista: zero. Resposta da PSP: pacífica, apenas
mantendo a posição.
Cinco minutos disto e continuação do zapping. Volto à CMTV - entretanto só a
TVI24 voltava ao directo por breves momentos. O que parecia uma dispersão da
manifestação, transformou-se num corte do trânsito da Avenida da Liberdade.
Pelo meio, um carro da PSP que tenta cruzar a Avenida furando por entre os
manifestantes, é parado. Há quem se sente na bagageira, há quem insulte os
agentes que estão no interior e há quem decida dar uns valentes sacolões ao
carro. Bastões à vista: zero. Resposta da PSP: zero. Entretanto o carro segue
o seu caminho.
No momento em que deixei o directo e vim escrever este texto, não se via
nenhum polícia no eixo central da Avenida tentando repôr a normal circulação.
Tal como na última manifestação do tipo
que houve em Lisboa promovida por este movimento, a resposta da PSP é aquela
que não vemos em nenhuma outra situação. Pacífica, mantendo posição, não
reagindo e portanto não aumentando a tensão que acaba por se desvanecer.
Fora esta uma manifestação que pedisse, por exemplo, a demissão do governo,
mais justiça e menos discriminação racial nos guetos que existem pelo país, o
fim da presença de Portugal na NATO ou um piquete de greve geral, e fosse
este o comportamento dos manifestantes e é garantido que bastões seriam mais
que muitos, algemas sairiam ligeiras dos cintos, encontrões, pontapés e outro
tipo de agressões da Polícia seriam constantes e justificadas com "a
reposição da ordem pública".
Como duvido que este movimento tenha marcado concentração ou desfile pelo
eixo central da Avenida - facto que pode ser comprovado pela inexistência de
acompanhamento policial na dita faixa de rodagem, prática obrigatória nestas
ocasiões -, mais uma vez percebemos que o comando da Polícia e os seus
superiores hierárquicos deram ordens bem claras aos agentes no terreno:
permitir uma ocupação ilegal da via pública e proteger com unhas e dentes,
mas com calminha, uma propriedade privada de um banco que, até prova em
contrário, não só enganou um país inteiro como foi literalmente aos bolsos de
milhares de pessoas que perderam assim as poupanças de uma vida.
Nestas coisas, a malta do dinheiro e os partidos que os amparam, não deixam
nunca os seus créditos em mãos alheias.
No meio disto tudo há sempre quem se manifeste sem nenhum tipo de razão,
porque sabia exactamente o que era papel comercial e os riscos associados, mas
isso era outra história.
Uma coisa é certa, quem quiser vingar-se das bastonadas que leva no seu
bairro só por causa do tom da sua pele, dos pontapés que leva pelas costas em
comemorações desportivas, dos encontrões valentes que leva em piquetes de
greve, basta aparecer numa manifestação dos "lesados do BES".
Entretanto, e tentando perceber se os outros canais davam as imagens, ironia
das ironias, a ministra da Administração Interna dava uma conferência de
imprensa sobre os fogos. Certamente que ao final do dia dará nova conferência
em que justificará porque é que a PSP não teve ordens imediatas para conter
um corte ilegal de estrada. Ou então não.
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