MÚSICA CLÁSSICA NA FESTA DO AVANTE
A FESTA DO AVANTE VAI AO CINEMA
Como sabeis, no primeiro dia, a Festa do Avante dedica
habitualmente a totalidade da programação do palco principal, ou seja do palco
25 de Abril, à música clássica.
Este ano a proposta é baseada em música de filmes.
Certamente os mais velhos, vão ter ocasião de reviver com
emoção, muitas das suas belas recordações.
Os mais novos, que por acaso não tenham tido ocasião de ver
alguns dos filmes, a pesar dessa limitação, poderão agora deliciar-se com as
músicas que constituíam a sua banda sonora, nas magníficas interpretações da
excelente Orquestra Sinfonieta de Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de
Azevedo, tendo como solista no piano António Rosado.
Sem querermos fazer uma descrição exaustiva das nossas
memórias, não podemos deixar de referenciar aquele louco comandante americano,
que no filme “Apocaliypse Now” gostava de surfar, matar vietnamitas e sorver o matinal
cheiro do napalm, ao som da Cavalgada das Valquírias de Strauss, assim como o eterno
enchapelado Harrison Ford, o imortalizado “Indiana Jones”, cuja vida escapava
sempre por um fio, ao som da trilha sonora de John Wiliams.
Ao falarmos do filme “Aquela Noite em Varsóvia” que tinha
como banda sonora o concerto de Varsóvia de Addinsel, veio-nos à memória Gerald
Shaw, o organista que era uma atracção do cinema S. Jorge, onde desde sempre animou
os intervalos, tocando no monumental órgão que se erguia de um elevador no
centro do palco, banhado de uma enorme profusão de focos luminosos coloridos.
Curiosamente, num dos seus programas, resolveu dedicar o
tema a demonstrar que os autores clássicos eram uns plagiadores inveterados, incluindo
na lista o próprio Beethoven.
Recordo que entre os vários plágios que tentava denunciar,
encontrava-se o concerto de Varsóvia de Addinsel. Aí os plagiados eram entre
outros o concerto nº1 de Tchaikovsky, o concerto nº3 de Rachmaninoff, ou mais
remotamente da Rapsódia Húngara nº2 de Liszt.
Muito no fundo, ainda hoje achamos que tinha alguma razão. Sem
ser uma pura especulação, o argumento tinha uma sustentação melódica, que de
certo modo o tornava digerível.
Creio que também foi no S. Jorge ou no Tivoli, que vimos o
Lawrence da Arábia.
Para o caso, isso não é importante.
O que foi rigorosamente verdade e nos lembramos como se
fosse hoje, no decorrer do filme, sentirmos imensa sede.
Não fomos só nós, pois os próprios empregados do bar confessavam
que desde que estavam a projectar aquele filme, havia um anormal aumento do
consumo de bebidas frescas.
Tratava-se de um reflexo psicológico, causado pelo realismo
das cenas de calor no deserto, trilhado pelo Lawrence da Arábia, cuja inumana
resistência ao cansaço e à sede, surpreendeu os inimigos, que descuram o flanco
sul de Damasco, dada a desértica travessia, ser uma inimaginável façanha.
Aí, até a banda sonora de Maurice Jarre, nos fazia “suar as estopinhas”.
Na banda sonora do filme os 7 magníficos, com o careca Yul
Brynner e o prematuramente falecido Steve McQueen, numa impúdica e americanada
adaptação dos “Sete Samurais» de Kurosawa, é outra memória muito rica, que nos
faz lembrar o remoto encantamento das salas escuras da nossa juventude, onde esquecíamos
as nossas preocupações, para viver os dramas que nos écrans se desenrolavam, com
a certeza que esses acabavam sempre bem e o nosso herói casava sempre com a mais
bela rapariga que entrava na história.
Ainda hoje assim é, mas na nossa juventude, no velho Coliseu
dos Recreios, estas fastidiosas coboiadas, eram às vezes histórias compridas,
em 31 partes, divididas por 2 sessões, separadas por uma semana, em que a
assistência gritava desesperadamente, para alertar o herói que o bandido estava
atrás da árvore, da esquina ou do rochedo, para lhe dar um dos muitos tiros,
que nunca lhe acertavam.
No repuxar da memória, fica o encantamento nascido da nossa
entrega aos dias e noites que passámos nos cinemas, organizando racionalmente a
visita a três e quatro cinemas num dia, com a vulgar oportunidade de ver 2 e 3 filmes
no mesmo cinema, como nos acontecia quando íamos ao terraço do velho Capitólio
no Parque Mayer, onde com um bilhete, se podia ver um filme na sala, outro no
terraço, ou ainda espreitar para o Pavilhão Português que tinha cinema ao ar
livre e ficava do lado direito tendo como alternativa, se nos apetecesse,
disfrutar os combates de box que se disputavam num ring, igualmente ao ar livre
no lado esquerdo, onde ainda vimos combater o celebre Belarmino Fragoso, cuja
vida Fernando Lopes achou digna
de ser registada em película, dadas as semelhanças da sua vida, com os heróis do
filme de Visconti, “Rocco e os seus irmãos” inspirando o realizador para fazer
o documentário de longa metragem a que deu o título de “Belmiro”.
As memórias não param, mas o texto já vai longo e tem de
parar.
Resta-nos lembrar que colocamos no Blogue, na coluna da
direita, os vídeos de todas as músicas
que vão fazer parte do programa do palco 25 de Abril, na primeira noite da
Festa do Avante, que como sabem é sempre dedicada à música clássica.
Até nisso os
comunistas são diferentes…felizmente!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário