TEXTO DE EDUARDO LUCIANO
Deliciem-se com esta oportuna crónica, publicada na última
5ª-feira na Rádio Diana.
A propósito da indicação de Vital Moreira para encabeçar a lista do PS às próximas eleições para o Parlamento Europeu, tudo o que é comentador encartado ou “detective” político se encarregou de escrever sobre o percurso de vida da personagem.
Tendo sido abordado pelos mais variados prismas, o traço comum a quase todas essas peças era o realçar a sua condição de ex-comunista.
Eminente jurista, brilhante professor, cronista prolixo, advogado de defesa deste PS que ocupa o poder, tudo isso foi obliterado pelo facto de ter sido militante do Partido Comunista Português. Alguns mais afoitos entretiveram-se a olhar para os cabeças de lista dos outros partidos e lá colocaram no Miguel Portas o rótulo de ex-comunista, acima de qualquer outra qualidade, virtude ou defeito.
A força e a vitalidade do PCP são de tal ordem que quem por lá passou, nem que fosse de raspão, fica para o resto da vida com o epíteto de ex-comunista.
É algo que se cola à pele e que não sai com juras de arrependimento ou actos de contrição.
Os ex-comunistas são quase sempre apresentados como heróis que descobriram a luz e se libertaram das trevas e atirados para lugares cimeiros dos velhos partidos a que aderiram de novo. Mas uma coisa parece ser certa: passadas décadas sobre a sua saída do PCP continua a ser a sua passagem pela militância comunista o facto mais relevante das suas vidas políticas.
Os ex-comunistas são quase sempre apresentados como heróis que descobriram a luz e se libertaram das trevas e atirados para lugares cimeiros dos velhos partidos a que aderiram de novo. Mas uma coisa parece ser certa: passadas décadas sobre a sua saída do PCP continua a ser a sua passagem pela militância comunista o facto mais relevante das suas vidas políticas.
Não deixa de ser curioso o facto do prefixo “ex” não ser usado em mais nenhuma mudança de filiação partidária.
Ninguém se lembraria de dizer que Sócrates é ex-PSD, porque começou a sua carreira política na organização de juventude daquele partido, ou que Roseta é ex-PSD e ex-PS, ou que Freitas do Amaral é ex-CDS.
Estou convencido de que os próprios “ex-comunistas” não se conseguem imaginar despojados desse rótulo, tal as marcas que a riqueza da intensa vida partidária, das aprendizagens que só o generoso trabalho colectivo pode proporcionar, lhes imprimiram por debaixo da pele.
Há uns tempos, em conversa com um ex-comunista, verifiquei um facto curioso.
Ao fim de algum tempo de diálogo o meu interlocutor falava de forma muito crítica da organização política a que tinha pertencido usando sempre o termo “o Partido”, enquanto que se referia à sua actual família política como “o PS”. Parece-me que muitas destas figuras, quando batem a uma qualquer porta, respondem à pergunta “quem é” como se tivessem ouvido “quem foi”.
Ser ex-comunista é um estatuto que, pelos vistos, aumenta em muito a possibilidade de ser escolhido para um qualquer lugar cimeiro.
Eu diria que essa condição funciona como um certificado de qualidade (a formação é uma vantagem competitiva) que o candidato pode sempre apresentar.
Deve ser por isso que se o PSD apresentar a Zita Seabra e o CDS a Celeste Cardona, teremos uma comunista e quatro ex-comunistas a disputarem as eleições europeias como primeiras figuras das suas listas.
Se isso acontecer deixo-vos um conselho: escolham a que não tem prefixo. A garantia de qualidade aumenta exponencialmente.
2 comentários:
Mais palavras para quê? É mesmo uma delícia.
Abraço.
Isaura
Fenomenal, nem mais nada acrescentar...
Uma saudação fraterna da Ilha da Madeira...
Resistir já vencer....
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