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quarta-feira, 9 de maio de 2012

  À LAIA DE TESTAMENTO POLÍTICO

Estou com 81 anos. Como tal penso que este texto, é uma espécie de testamento político.
Desde sempre, na procura de me integrar no combate pela melhoria de sociedade, lutei com os comunistas, ultrapassando a frustração de algumas fragilidades, tendo nesse ideário a certeza de ser uma fonte de justiça social e considerando a sua utopia, uma inspiração para a evolução da sociedade ao propor-se acabar com a exploração do homem pelo homem e sendo capaz de dar a todos a dignidade, igualdade de oportunidades e o acesso à felicidade a que todos temos direito, pela simples razão de ter nascido.
As suas potencialidades são tão grandiosas e concretas que só a etapa de evolução em que se encontra a civilização, justifica a dificuldade de adesão das massas, independentemente dos erros passados sob a capa de comunismo, não terem passado de incipientes tentativas socialistas de organização da Sociedade.
O seu principal adversário, o Sistema Capitalista, sustentado por um sistema bancário, repleto de códigos e privilégios, como sejam o “Sistema de Reserva Fraccionada” ou o chamado “Quantitative easing”, assenta no supremo poder de emitir e controlar a moeda, como sua principal arma, embora actualmente na sociedade ocidental moderna, o dinheiro (sobretudo quando se trata de grandes quantidades) seja essencialmente simbólico, tratado e manipulado informaticamente.
No caso dos Estados Unidos, covil dos mais odiosos criminosos exploradores da humanidade, protegido pelo mais poderoso e sofisticado aparelho militar e de informação, o poder de emitir dólares está atribuído à chamada Reserva Federal, que é o seu Banco Central, instituição formada por banqueiros privados, independente do governo, sem necessidade de as suas decisões serem rectificadas pelo Presidente dos Estados Unidos ou de qualquer outro membro do Poder Executivo ou do Poder Legislativo.
A arbitrariedade desta instituição é de tal natureza, que apesar das dificuldades financeiras que os Estados Unidos criaram em todo o mundo e principalmente na Europa, Warren Buffet, investidor e um dos homens mais ricos do mundo, afirmava há pouco, que "o Banco dos Estados Unidos tem liquidez a sair-lhe pelas orelhas". 
Os Estados Unidos saíram da 2ª guerra mundial, como seus únicos vencedores e grandes beneficiários.
Impondo ao mundo um confronto com os países da chamada “Cortina de ferro”, que com sacrifício de dezenas e dezenas de milhões de mortos, destruição e saque da quase totalidade do património, se viram em inultrapassáveis dificuldades para fazer frente à economia ocidental, protegida e financiada através do crédito proporcionado pelo plano Marshal, como forma de ameaçar e combater o ideário comunista, que mal teve tempo de demonstrar as virtualidades desse sistema político.
Esta estratégia, obrigou a União Soviética a consumir-se em investimentos militares para se defender da permanente ameaça militar que sobre ela se abatia, com trágicas consequências, para a economia da nação.
Esses investimentos militares, dada a natureza política da União Soviética não eram reprodutivos, contrariamente ao que acontecia nos Estados Unidos, onde o complexo militar-industrial produziu e continua a produzir lucros brutais, transformando-se numa fonte de riqueza incomensurável.
O Sistema Capitalista tem a sua razão de ser, a sua “alma mater” na imprescindível necessidade de criar dinheiro, para ser usado na compra de bens, pagamento de serviços e transacções comerciais e financeiras.
A satisfação destas necessidades permite aos banqueiros e outras classes parasitárias, aproveitar as suas potencialidades para fazer empréstimos, especular, explorar os produtores, controlar os mercados, quer através das “Bolsas de valores”, quer dos chamados “Mercados de comodities”, que negoceiam a prazo matérias-primas, de extracção mineral ou cultivadas, com facilidade de armazenagem, durante largos períodos, sem perca de qualidade.
No campo espiritual e nomeadamente na perspectiva religiosa, a igreja católica, dominante no chamado mundo ocidental, utilizou a crença e a superstição para enriquecer de uma forma artificiosa, recrutando e fomentando a germinação de uma elite, que embora actuando no seu particular interesse, é ainda hoje, a aliada preferencial das classes dominantes.
Não esqueçamos que a igreja sempre teve a suprema vantagem de ir recrutando para o seu seio os melhores e mais inteligentes do povo, recrutando-os para uma vida cheia de privilégios e livre da escravidão a que a generalidade do povo de onde provinha, estava sujeita.
Curiosamente o Capitalismo utiliza hoje a mesma técnica, para ir buscar a inteligência esteja ela onde estiver, servindo-se como não podia deixar de ser, de argumentos diferentes e mais complexos, embora utilizando o mesmo artifício da melhoria das condições de vida, através das altas remunerações e condições de trabalho excepcionais, colocando essa inteligência ao seu serviço, enquanto se torna útil, independentemente do prejuízo que possa causar ao país de origem, a perca desses potenciais valores.
Descrevi resumidamente, embora de forma global, os dados da equação que se coloca a qualquer cidadão que analise e se preocupe, com o presente e o futuro da humanidade e que esteja justificadamente alarmado com o caminho que as coisas estão a levar.
Poucos serão os que de um ponto de vista económico, não estejam terrivelmente assustados em relação ao futuro dos seus filhos, netos e restantes familiares.
Numa forma mais longínqua e abstracta, quanto à sobrevivência de própria humanidade, onde alguns grupos específicos, acrescentam o receio de, continuando a senda consumista actual e a destruição ambientalista a que assistimos, a vida na terra se torne impraticável para os seres humanos.
As transcendentes dificuldades que a actual crise apresenta, tiveram origem como é do conhecimento geral, no problema do “Subprime” criado pelo rebentar da bolha imobiliária americana, cuja génese esteve na transformação de alguns bancos comerciais americanos em bancos de investimento, acrescentando-lhes a particularidade de poderem emitir títulos lastrados em hipotecas, sem garantia de cobertura, com rentabilidade elevada, para atrair investimentos e no qual embarcaram muitas entidades, bancos e fundos financeiros internacionais.
O rebentamento da bolha imobiliária, tornou-se uma ruína para todos os investidores que foram naquele “canto de sereia” especulativo.
A Europa, que também tinha investido muito nesses fundos, vê-se agora obrigada a pagar parte dessas operações ruinosas e fraudulentas, numa dimensão praticamente secreta, não fora uma inconfidência de Durão Barroso a que tive o privilégio de assistir, em que ele próprio referiu, que a dívida da Europa aos Estados Unidos era de 4 triliões de euros…4 triliões de euros!!!!
Considero ter sido um acaso da sorte ter ouvido essa afirmação, porque jamais alguém, algum jornal ou noticiário, se referiu a esse importantíssimo dado, o que me leva a considerar que foi um “lapsus linguae” de Durão Barroso, que prontamente foi censurado e metido na ordem, certamente pelas mais altas estâncias político/financeiras europeias e quiçá americanas, para que as populações não se apercebam dos sacrifícios que as esperam!!!
Tem sido a gravidade de todos estes dados que nos têm obrigado a meditar sobre a alternativa, para sair desta situação.
Veio-nos então à memória a sugestão do Partido Comunista Português, quando das eleições legislativas de Setembro de 2009, de voltar a incluir a nacionalização da banca comercial, no seu programa.
Essa solução, tornou para nós claro, que embora seja de muito difícil execução na correlação de forças actuais, essa medida, quando bem compreendida em todo o seu alcance, seria muito abrangente e capaz de mobilizar as massas despolitizadas, anti-comunistas por instinto, indiferentes aos partidos políticos mas cívicamente empenhadas, gente de esquerda não comunista, e todos aqueles que honestamente preocupados com a situação, procuram uma alternativa que lhes fale à consciência.
Julgamos ser essa a única saída para Portugal e por extensão, dada a crise ser global, para o mundo em geral.

A NACIONALIZAÇÃO DA BANCA É UM DESÍGNIO CIVILIZACIONAL. 

Nunca como hoje, a nacionalização da banca constituiu a solução óbvia, para a maioria dos problemas da humanidade.
Este primeiro passo permitirá que a moral privilegie de forma isenta, o desenvolvimento das políticas no interesse das populações e nomeadamente dos trabalhadores.
Até hoje, a multiplicidade dos testemunhos, a categoria dos pensadores e economista, nunca impediram a existência de um vazio sem resposta, a esta questão central: Como conseguir uma sociedade que levasse à criação do homem culto, civilizado, solidário, generoso, desejoso de viver em harmonia com a Natureza, no respeito pelo seu semelhante e honrando a inteligência que a dita Natureza lhe prodigalizou, para poder ser feliz, e justificar o sentido da vida, o "homem novo", que o Marxismo-Leninismo preconizava e que tanta esperança tinha criado, em resultado da Grande Revolução de Outubro.
Faço parte de um Partido que me tem ajudado a caminhar nessa pesquisa.
A ele devo a gratidão de ter algumas certezas e muitas interrogações.
Entre as certezas está o primado do colectivo, que defende o erro dos iluminados donos da razão.
Entre as certezas os objectivos que persegue, que são lógicos, exequíveis, sensatos, solidários, tendo como espinha dorsal acabar com a injusta exploração, do homem pelo homem.
Entre as certezas a minha dedicação de corpo e alma aos seus objectivos e acordo total com as suas propostas, lamentando que por uma questão de idade e saúde tivesse de abandonar os organismos dirigentes de que fazia parte, onde discutia os meus pontos de vista e me sentia muito mais útil.
Entre as interrogações, a maturidade que a minha própria idade me deu, colocando em primeiro lugar os novos desafios que a ciência coloca à humanidade, no campo da nanotecnologia, da robótica, da informática, da astronomia, etc., etc.
Em segundo lugar, por quanto tempo mais, será possível as dificuldades que os média e a direita antidemocraticamente continuam a colocar ao meu Partido, para difundir as suas mensagens, as sua propostas alternativas ???
Em terceiro lugar e como dado fundamental, a luta dos Partidos Comunistas e da esquerda em geral, serão capazes de impor a nível mundial a Nacionalização da Banca, seguindo a sugestão do PCP, como primeiro passo para o avanço civilizacional que se torna necessário e como primeiro golpe mortal no Sistema Capitalista???
Todos os dados da equação, sobre a qual vamos meditando isoladamente, encontram nesta medida, a resposta dialéctica, à necessária estratégica de alteração das relações de produção, absolutamente imprescindível, para responder à questão do emprego, do desenvolvimento e avanço do Socialismo, única solução para a sobrevivência da humanidade.

VIVA A BANCA NACIONALIZADA!!!

2 comentários:

cid simoes disse...

81 anos... "esse é o primeiro dia do resto da tua vida" como diria o poeta.O importante é continuarmos a intervir neste infinito processo histórico.

Nozes Pires disse...

Bela idade! Um abraço camarada e que belo testamento!