Mensagem

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quarta-feira, 30 de maio de 2012


                       TOURADAS 
    E EMPRESAS TAUROMÁQUICAS



Nas nossas preocupações políticas, a defesa das populações em geral e das mais desprotegidas em particular, são a base dos nossos raciocínios e da nossa acção.
Por isso, as nossas preocupações intelectuais e o gosto pelo desporto e pelas artes em geral, assumem um papel secundário, a partir do memorável dia 25 de Abril 1974, na medida em que o combate político passou a preencher em urgência, a nossa consciência cívica.

Entretanto desde que me conheço, a tourada sempre teve um lugar muito negativo nas minhas afeições, mormente a partir do dia em que por uma questão de cultura geral, assisti em Sevilha a uma tourada dita “com touros de morte”.
 Horrorizado assisti ao acto heróico de um ”intrépido” cavaleiro, espetando os touros com um ferro (puia), com cerca de 20 centímetros, coberto de uma corda enrolada para  depois de o espetar no lombo do desgraçado bicho, fazê-lo sofrer, enterrando-o até ao travessão, a que se seguiam empurrões e puxões.


O sangue a gorgolejar, era uma cena de um primitivismo insuportavelmente doloroso à vista e causou-me um magoado incómodo e uma angustiante repulsa.
A ideia era, segundo me foi explicado, por um entusiasmado aficionado sentado a meu lado, que aquela tortura barbara, tinha como intenção causar o maior sofrimento possível e consequentemente enfurecer o touro, para melhorar a investida.
O único prazer que aquele triste espectáculo me deu, foi o touro a determinada altura, derrubou o “valente” cavaleiro, obrigando-o a ir receber tratamento no hospital, em consequência do trambolhão.
Vem isto a propósito de uma notícia que chegou agora ao meu conhecimento sobre a generosidade do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas ( IFAP), a lista dos subsídios atribuídos às empresas e membros das famílias da tauromaquia, em cada semestre de 2011, no valor de  9.823.004,34 €.

 Eis a lista dos privilegiados:
Ortigão Costa - 1.236.214,63 € - Lupi - 980.437,77 € - Passanha - 735.847,05 € - Palha - 772.579,22 € - Ribeiro Telles - 472.777,55 € - Câmara - 915.637,78 € - Veiga Teixeira - 635.390,94 € - Freixo - 568.929,14 € - Cunhal Patrício - 172.798,71 € - Brito Paes - - 441.838,32 € - Pinheiro Caldeira - 125.467,45 € - Dias Coutinho - 389.712,42 € - Cortes de Moura - 313.676,87 € - Rego Botelho - 420.673,80 € - Cardoso Charrua - 80.759,12 € - Romão Moura - 248.378,56 € - Brito Vinhas - 53.686,78 € - Romão Tenório - 283.173,89 € - Sousa Cabral - 318.257,79 € - Varela Crujo - 188.957,35 € - Assunção Coimbra - 330.789,44 € - Murteira - 137.019,76 €

Tendo em vista as dificuldades por que passa o nosso panorama artístico, onde só 1% do Orçamento de Estado é destinado à cultura, estes subsídios para a “arte” (?) tauromáquica “tortura não é cultura”, cheiram a ultraje.
Quando por outro lado a Direcção-Geral das Artes foi atingida por um corte de 100% no apoio a todos os seus projectos artísticos, enquanto no ano passado, lhe tinham sido atribuídos 2,1 milhões de euros para 107 candidaturas e a Secretaria de Estado da Cultura, decidiu também que todas as empresas incluídas no sector empresarial do Estado, terão obrigatoriamente uma redução de 20% no seu orçamento para 2012.
Estamos a racionalizar a nossa indignação e canaliza-la exclusivamente no corte radical que foi feito nos subsídios que tantos e tantos artistas, das mais variadas artes, viram sua capacidade de sobrevivência ameaçada.
Quando entramos num âmbito mais alargado, envolvendo as conhecidas carências que em todos os domínios sofre a população em geral e em particular os reformados, pensionistas e sobretudo os desempregados, chega a ser cruel e doloroso pensar na atribuição àqueles parasitas aquelas subvenções, quando a fome e carências de toda a espécie estão a elevar os suicídios a valores nunca atingidos, nem mesmo após a destruição da Reforma Agrária.

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