OS NOSSOS CRAVOS... .
FORAM MÚSICA NA PRAÇA TAKSIM
Que maravilhosa forma de expressar a revolta que nos vai na
alma, quando o fazemos tocando e cantando.
A arte é em todo o sempre, a resposta da inteligência, da
sensibilidade à bestialidade e à irracionalidade.
Estas duas linhas, são o resumo do encantador texto que se
segue, que o jornal “Público” teve o privilégio de publicar.
13/06/2013
UM PIANO DE CAUDA
NA PRAÇA TAKSIM
.
.
Tinha começado ontem à noite: um italiano levou o seu piano
de cauda para o meio da praça Taksim. Era pouco antes da meia-noite, a hora em
que se esperava o ataque derradeiro da polícia ao parque Gezi. Contingentes da
polícia de intervenção posicionavam-se dos dois lados da praça - cercando a
estátua de Ataturk e em frente ao Centro Cultural. No meio, sem ter para onde
fugir, concentrava-se a multidão.
E de repente começou. O italiano, Davide Martello, que vive
na Alemanha e veio de lá com um piano de cauda no carro, atacou os acordes de
Imagine. Havia holofotes apontando para ele e um sistema de amplificação
sonora.
Em frente à polícia, armada de escudos e capacetes,
Martello, de máscara de gás ao pescoço, interpretou Let it Be, e várias
sonatas. A polícia ia atacar a qualquer momento, mas, em vez do gás
lacrimogéneo, o som do piano enchia a praça.
Foi assim durante horas. E a violência não começou.
Entusiasmado com o êxito da receita, Martello repetiu-a
hoje. Desta vez, colocou o piano a poucos metros dos polícias, junto à estátua.
A multidão sentou-se à sua volta, e ele tocou, toda a noite. Juntou-se-lhe uma
cantora de ópera.
Ver as cabeças dos polícias encaixadas nos capacetes com um
sorriso embevecido enquanto os dois jovens músicos tocavam O Sole Mio para uma
multidão de manifestantes foi das cenas mais extraordinárias que alguma vez vi.
Aqueles polícias que pouco antes tinham mandado 5 mil pessoas para o hospital,
e que apenas esperavam a ordem de atacar de novo.
Por alguma razão misteriosa, ninguém acreditava que o ataque
começasse no meio de uma peça musical. Por isso, imitando Sherazade, o segredo
era não parar.
Já vim para o hotel, mas ainda os ouço lá na praça a cantar.
O que vale é que aos italianos nunca falta repertório.
Sem comentários:
Enviar um comentário