Mensagem

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sexta-feira, 14 de junho de 2013


             OS NOSSOS CRAVOS...          . 
FORAM MÚSICA NA PRAÇA TAKSIM
Que maravilhosa forma de expressar a revolta que nos vai na alma, quando o fazemos tocando e cantando.
A arte é em todo o sempre, a resposta da inteligência, da sensibilidade à bestialidade e à irracionalidade.
Estas duas linhas, são o resumo do encantador texto que se segue, que o jornal “Público” teve o privilégio de publicar.



 

PAULO MOURA

13/06/2013


UM PIANO DE CAUDA 
NA PRAÇA TAKSIM
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Tinha começado ontem à noite: um italiano levou o seu piano de cauda para o meio da praça Taksim. Era pouco antes da meia-noite, a hora em que se esperava o ataque derradeiro da polícia ao parque Gezi. Contingentes da polícia de intervenção posicionavam-se dos dois lados da praça - cercando a estátua de Ataturk e em frente ao Centro Cultural. No meio, sem ter para onde fugir, concentrava-se a multidão.
E de repente começou. O italiano, Davide Martello, que vive na Alemanha e veio de lá com um piano de cauda no carro, atacou os acordes de Imagine. Havia holofotes apontando para ele e um sistema de amplificação sonora.
Em frente à polícia, armada de escudos e capacetes, Martello, de máscara de gás ao pescoço, interpretou Let it Be, e várias sonatas. A polícia ia atacar a qualquer momento, mas, em vez do gás lacrimogéneo, o som do piano enchia a praça.
Foi assim durante horas. E a violência não começou.
Entusiasmado com o êxito da receita, Martello repetiu-a hoje. Desta vez, colocou o piano a poucos metros dos polícias, junto à estátua. A multidão sentou-se à sua volta, e ele tocou, toda a noite. Juntou-se-lhe uma cantora de ópera.
Ver as cabeças dos polícias encaixadas nos capacetes com um sorriso embevecido enquanto os dois jovens músicos tocavam O Sole Mio para uma multidão de manifestantes foi das cenas mais extraordinárias que alguma vez vi. Aqueles polícias que pouco antes tinham mandado 5 mil pessoas para o hospital, e que apenas esperavam a ordem de atacar de novo.
Por alguma razão misteriosa, ninguém acreditava que o ataque começasse no meio de uma peça musical. Por isso, imitando Sherazade, o segredo era não parar.
Já vim para o hotel, mas ainda os ouço lá na praça a cantar. O que vale é que aos italianos nunca falta repertório.

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