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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

MAHMOUD AHMADINEJAD
DISCURSO DESTE POLÍTICO NA 66ª SESSÃO DA ASSEMBLEIA-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

O real pensamento político de Mahmoud Ahmadinejad, é muito pouco conhecido, na medida em que o imperialismo americano o elegeu como inimigo público e os meios de informação que nos são acessíveis, sofrem da esmagadora influência que o capitalismo tem sobre esses meios.
Este texto, que veio publicado no “voltairenet.org”, pode ser lido na íntegra no “olhar a esquerda- desenvolvimentos”.
Aqui publicamos somente as afirmações mais relevantes para a compreensão do seu pensamento político e dos seus argumentos de natureza estratégica.
O texto é longo e nem sequer diz tudo o que seria necessário,  para descrever o perigo que os Estados Unidos representam para o mundo.
Retirámos deste texto parte do discurso que trata da sua religiosidade, ou conceitos ligados a esse aspecto, para encurtar o texto e aumentar o interesse do leitor pelos factos que directamente nos dizem respeito, enquanto portugueses, democratas e solidários com o anti capitalismo.

INTERVENÇÃO DE  MAHMOUD AHMADINEJAD

















É vivamente claro que, apesar de todas as realizações históricas, inclusive a criação da ONU – que foi produto de incansáveis lutas e esforços de homens de pensamento livre e amantes da justiça, que nunca desistiram de buscá-la, e da cooperação internacional –, as sociedades humanas ainda estão longe de ter alcançado todos os seus nobres desejos e aspirações. Muitas nações em todo o mundo sofrem hoje, sob as atuais circunstâncias internacionais.
E apesar do desejo e do ímpeto para promover a paz e a fraternidade, as guerras, os assassinatos em massa, a miséria que se alastra, crises socioeconómicas e políticas continuam a agredir o direito e a soberania das nações, deixando atrás de si danos irreparáveis, em todo o mundo.
Aproximadamente três mil milhões de seres humanos em todo o mundo vivem com menos de 2,5 dólares por dia; e mais de mil milhões de seres humanos não comem sequer uma refeição suficiente, e regularmente, por dia. Quarenta por cento das populações mais pobres do mundo partilham apenas 5% do rendimento global. E 20% dos mais ricos do mundo dividem entre si 75% do rendimento global total. Mais de 20 mil crianças inocentes e pobres morrem diariamente no mundo, devido à pobreza.
Oitenta por cento dos recursos financeiros dos EUA são controlados por 10% da população dos EUA; 90% da população tem de sobreviver com apenas 20% desses recursos.
Quais as causas e as razões que subjazem por trás dessas desigualdades? Como se pode remediar tal injustiça?
Os que dominam e comandam os centros do poder económico global culpam ou o desejo do povo por religião e a busca por trilhar o caminho dos divinos profetas, ou a fraqueza das nações, ou o mau desempenho de grupos de indivíduos. Afirmam que só o que aqueles mesmos centros do poder económico global pensem, decidam e prescrevam poderia salvar a humanidade e a economia mundial.
Não lhes parece que as causas-raízes desses problemas devam ser procuradas na ordem que hoje domina o mundo, ou no modo como o mundo é governado?
Gostaria de chamar a gentil e atenta atenção de todos para as seguintes questões:
Quem arrancou à força dezenas de milhões de pessoas de seus lares na África e em outras regiões do mundo, durante o sombrio período da escravidão, fazendo daquelas pessoas vítimas da mais cega ganância materialista?
Quem impôs o colonialismo por mais de quatro séculos, a todo aquele mundo? Quem ocupou terras e massivamente assaltou recursos naturais que eram património de outros povos, quem destruiu talentos e empurrou para a destruição os idiomas, as culturas e as identidades de tantos povos?
Quem deflagrou a primeira e a segunda guerras mundiais, que fizeram 70 milhões de mortos e centenas de milhões de feridos, de mutilados e de sem-tectos?
Quem criou a guerra na península da Coreia e no Vietnam?
Quem, servindo-se de hipocrisia e ardis, impôs os sionistas, durante 60 anos de guerras, destruição, terror, assassinatos em massa, na região do mundo onde ainda estão?
Quem impôs e apoiou durante décadas ditaduras militares e regimes totalitários em países da Ásia, da África e da América Latina?
Quem atacou com armas atómicas populações indefesas e desarmadas e guarda milhares de ogivas nucleares em seus arsenais?
Quais são as economias que dependem, para crescer, de criar guerras e vender armas?
Quem provocou e estimulou Saddam Hussein a invadir e impor uma guerra de oito anos contra o Irã? Quem o assessorou e o equipou para que atacasse nossas cidades e nosso povo com armas químicas?
Quem usou os misteriosos incidentes de 11 de Setembro como pretexto para atacar o Afeganistão e o Iraque – matando, ferindo, deslocando milhões de seres humanos de seus locais tradicionais de vida nos dois países –, exclusivamente para alcançar a ambição de controlar o Oriente Médio e seus recursos de petróleo?
Quem aboliu o sistema de Breton Woods e imprimiu milhões de milhões (triliões) de dólares sem qualquer lastro em ouro ou em moeda equivalente? Esse movimento desencadeou feroz inflação em todo o mundo, que serviu para facilitar a pilhagem de ganhos económicos que outras nações tivessem.
Qual o país, cujos gastos militares superam anualmente uma centena de milhar de milhões de dólares, mais que todos os orçamentos militares de todos os povos do mundo, somados?
Qual, de todos os governos do mundo, é hoje o mais endividado?
Quem domina os establishments da política económica em todo o mundo?
Quem é responsável pela recessão económica mundial, que hoje impõe suas pesadas consequências aos povos de EUA e Europa e de todo o planeta?
Que governos estão sempre prontos a bombardear com milhares de bombas outros países, mas sempre são lerdos e hesitantes, quando se trata de distribuir comida, para povos atormentados pela fome, como na Somália e em outros pontos?
Quem domina o Conselho de Segurança da ONU, ao qual caberia zelar pela segurança internacional?
E há outras dezenas de perguntas semelhantes e, para todas elas, as respostas são claras.
A maioria das nações e governos do mundo não têm qualquer culpa ou responsabilidade na criação das atuais crises globais e, de fato, são, elas, sim, vítimas daquelas políticas que geram crises.
É claro como a luz do dia que os mesmos senhores de escravos e potências coloniais que, antes, provocaram as duas guerras mundiais, causaram toda a miséria e a desordem que, desde então, são causa de efeitos que se vêem em todo o planeta.
Teriam, aqueles poderes arrogantes, a competência e a habilidade para comandar ou governar o mundo, ou seria aceitável que se autodesignem os únicos defensores da liberdade, da democracia, dos direitos humanos, enquanto seus exércitos atacam e ocupam outros países?
Como poderá algum dia a flor da democracia brotar dos mísseis, das bombas e dos canhões da NATO?
Se alguns países europeus ainda se servem do Holocausto, depois de sessenta anos, como pretexto, para continuar a pagar resgate, pagar à chantagem dos sionistas, não será também obrigação daqueles mesmos senhores de escravos e potências coloniais pagar indemnizações às nações afectadas?
Se os danos e perdas do período da escravidão e do colonialismo tivessem sido de fato indemnizados, o que teria acontecido aos manipuladores e potências que se escondem nos porões da cena política nos EUA e na Europa? E haveria ainda divisão entre o norte e o sul do mundo?
Se os EUA e seus aliados da NATO cortassem pela metade seus gastos militares e usassem esses valores para ajudar a resolver os problemas económicos em seus próprios países, estariam aqueles povos padecendo os sofrimentos da actual crise económica mundial? Que mundo teria, se a mesma quantidade de recursos fosse alocada às nações mais pobres?
O que pode justificar a presença de centenas de bases militares e de inteligência dos EUA em diferentes partes do mundo – 268 bases na Alemanha, 124 no Japão, 87 na Coreia do Sul, 83 na Itália, 45 no Reino Unido e 21 em Portugal? O que significa isso, senão ocupação militar?
E as bombas armazenadas nessas bases não criam risco de segurança para outras nações?
A principal pergunta tem de interrogar sobre a causa que serve de base a essas atitudes. A principal razão tem de ser buscada nas crenças e tendências do establishment.
Assembleias de pessoas em contradição com valores e instintos humanos básicos, sem fé em Deus e sem atenção à via ensinada pelos divinos profetas, impõem a ganância, a sede de poder e seus objectivos materialistas, e tentam calar todos os superiores valores humanos e divinos.
Para eles, só o poder e a riqueza contam. E justificam-se todos e quaisquer atos que promovam essas metas sinistras.
Nações oprimidas sobrevivem sem qualquer esperança de verem restaurados e protegidos os seus direitos legítimos de resistir e opor-se àquelas potências.
Aquelas potências visam só ao progresso delas próprias, prosperidade e dignidade só para elas mesmas, e miséria, humilhações e aniquilação para todos os demais povos.
Consideram-se superiores às demais nações da Terra e por isso fariam jus a concessões e privilégios. Nada respeitam, não respeitam ninguém e violam, sem qualquer consideração, direitos de todas as demais nações e governos e povos do mundo.
Proclamam-se, elas mesmas, guardiãs indiscutíveis de todos os governos e nações. Para tanto, servem-se da intimidação, de ameaças e da força. E fazem mau uso, uso abusivo, de mecanismos internacionais. Quebram, burlam, simplesmente, todas as leis e regulações internacionalmente reconhecidas e respeitadas.
Insistem em impor a todos o seu estilo de vida e suas crenças.
Apoiam oficialmente o racismo.
Enfraquecem países mediante a intervenção militar – destroem a infra-estrutura que encontrem naqueles países, para mais facilmente conseguirem saquear recursos naturais, tornando cada vez mais dependentes, nações e povos que querem ser independentes e soberanos.
Semeiam sementes de ódio e hostilidade entre nações e povos de diferentes crenças, para impedi-los de alcançar seus objectivos de desenvolvimento e progresso.
Todas as culturas, a vida, os valores e toda a riqueza de cada nação, as mulheres, os jovens, as famílias, além da riqueza material de cada nação, são sacrificadas ante o altar daquelas ambições hegemonistas e de uma inclinação doentia para escravizar e submeter os diferentes.
Hipocrisia e todos os tipos de fingimento e mentira são admitidos, se ajudam a promover os interesses imperialistas. Admitem o tráfico de drogas e a matança de inocentes, se lhes parece que, com isso, facilitam a rota para que alcancem seus objectivos diabólicos.
A NATO está há muito tempo extremamente activa no Afeganistão ocupado. E, apesar disso, houve ali aumento dramático na produção de drogas ilícitas.
Não admitem nenhuma opinião divergente, nenhum questionamento, nenhuma crítica. Mas, em lugar de tentar oferecer alguma explicação para o que fazem, põem-se, eles mesmos, na posição de vítimas.
Servindo-se de uma rede imperial de imprensa e comunicações, que sempre esteve como ainda está sob a influência do pensamento colonialista, ameaçam qualquer opinião que discuta a versão oficial do Holocausto, do 11 de Setembro e da violência dos exércitos invasores e ocupantes.
No ano passado, quando se impôs, em todo o mundo, a necessidade de fazer-se investigação séria sobre os segredos ocultados nos incidentes de 11/Setembro/2001 – ideia apoiada por todas as nações e governos independentes e pela maioria da população dos EUA –, meu país e eu, pessoalmente, fomos pressionados e ameaçados pelo governo dos EUA.
Em lugar de nomear equipe para investigar com seriedade o que realmente acontecera, assassinaram o perpetrador e jogaram o cadáver ao mar.
Não teria sido razoável levar à justiça e processar abertamente o principal perpetrador do incidente a fim de identificar os elementos por trás do espaço seguro proporcionado para os aviões introduzirem-se e atacarem as torres gémeas do World Trade?
Por que não se cogitou de usar o julgamento de um suspeito, para realmente descobrir quem mobilizou terroristas e levou a guerra e tantas outras misérias a tantas partes do mundo? Há informação secreta que tenha de permanecer secreta?
Considerar o sionismo visão ou ideologia sagrada é como obrigação imposta ao mundo. Toda e qualquer discussão sobre os fundamentos e a história do sionismo são pecados imperdoáveis. Mas eles permitem e endossam todos os sacrilégios e insultam todas as demais religiões.
Liberdade real, dignidade plena, bem-estar e segurança estáveis e duradouros são direitos de todos os povos.
Nenhum desses valores é alcançável enquanto tantos dependerem do actual e ineficiente sistema de governança mundial, nem ninguém jamais os alcançará mediante intervenção militar comandada por potências arrogantes e sob fogo dos aviões mortíferos da NATO.
Aqueles valores só se podem realizar em contexto de independência reconhecida, de reconhecimento dos direitos dos diferentes, mediante cooperação harmónica.
Haverá meio para resolver os problemas e desafios que atormentam o mundo, no contexto dos mecanismos e ferramentas que dominam o quadro internacional hoje? Há meios para ajudar a humanidade a atingir sua eterna aspiração por igualdade, segurança e paz?
Todos os que tentaram introduzir reformas que preservassem as normas e tendências hoje existentes fracassaram. Os importantes esforços conduzidos pelo Movimento dos Não Alinhados e pelos Grupos 77 e 15 (G-77 e G-15), e por tantos destacados indivíduos, fracassaram também e não conseguiram introduzir mudanças fundamentais.
A administração e o governo mundiais exigem reformas nos fundamentos. O que temos de fazer agora?
Caros Colegas e amigos,
Temos de trabalhar com decisão firme e em cooperação colectiva para traçar outro plano, que considere os princípios e os valores humanos fundamentais como o monoteísmo, a justiça, a liberdade, o amor e a busca pela felicidade.
A criação da Organização das Nações Unidas ainda é dos maiores feitos históricos da humanidade. É preciso reverenciar a importância desse feito e usar o mais extensamente possível as capacidades dessa organização como ferramentas para alcançar os mais nobres projectos de toda a humanidade.
Não podemos permitir que a organização planetária que manifesta o desejo colectivo de todos e as aspirações de toda a comunidade de nações seja desviada de seu bom curso e convertida, também ela, em arma a serviço das potências mundiais armadas.
Temos de construir condições que assegurem a participação colectiva e o envolvimento de todas as nações, num esforço que leve à paz e à segurança para todos os povos do mundo.
É preciso dar sentido profundo e real à governança partilhada e colectiva do mundo. Esse sentido profundo e real deve considerar e respeitar os princípios do direito internacional. A ideia de justiça deve servir de critério e base efectiva para todas as decisões e acções no plano internacional.
Todos temos de reconhecer que não há outro modo para governar o mundo e pôr fim à violência, à tirania, a todas as discriminações.
Não há outra via que leve a sociedade humana à prosperidade e ao bem-estar. Essa é verdade viva e reconhecida. Ao reconhecer essa verdade, deve-se reconhecer também que o que temos ainda não é suficiente. E temos de abraçar com fé o trabalho, que terá de ser incansável, para conseguir o que ainda não temos.
Caros Colegas e Amigos
Governança partilhada e colectiva do mundo é direito legítimo de todas as nações, e nós, como representantes delas, temos o dever de defender os direitos dos povos do mundo.
Embora algumas potências tentem insistentemente frustrar todos os esforços internacionais que visem promover a cooperação colectiva, temos, mesmo assim, de fortalecer nossa certeza de que alcançaremos o objectivo comum de construir cooperação colectiva e partilhada para governar o mundo.
As Nações Unidas foram criadas para tornar possível que todas as nações participassem do processo internacional de tomar decisões.
Todos sabemos que esse objectivo ainda não foi alcançado porque falta justiça nas estruturas e mecanismos hoje vigentes nas Nações Unidas.
A composição do Conselho de Segurança é injusta e desigual. Portanto, mudanças ali e a reestruturação
Na sessão inaugural da reunião do ano passado, destaquei a importância dessa questão e propus que essa década fosse declarada década da Governança Global partilhada e colectiva.
Quero hoje reiterar aquela proposta. Estou certo de que, mediante a cooperação internacional diligente, e com esforços de todos os líderes e governos do mundo, todos comprometidos com construir relações de justiça, e com o apoio das demais nações, conseguiremos construir um brilhante futuro comum.
Esse movimento trilha com certeza o caminho certo para criar o que temos de criar, para assegurar futuro promissor a toda a humanidade.

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