VERGONHA E DESEMPREGO
ONDE SE FALA DE UM TEXTO DE JOSÉ VÍTOR MALHEIROS, SOBRE O
PRESIDENTE DA REPUBLICA E DUMA
CARTA ABERTA A MÁRIO CRESPO
Falar do problema da aflitiva dificuldade de sobrevivência do Presidente da Republica, devido á carestia da vida, já começa por indução, a preocupar os mais ricos.
Soubemos que José Sócrates tinha pago 5 euros por uma laranja, num luxuoso pequeno-almoço que ofereceu num hotel do Algarve, para o cativar pelo estomago Luís Figo, para este dizer publicamente que votava nele.
Estando Boliqueime e Albufeira geograficamente colocado nessa área, o padrão de custo de vida, deve estar nas preocupações de qualquer algarvio, sobretudo se viver com uma mísera de reforma à semelhança do nosso Presidente
Tudo isto justifica plenamente as preocupações de Cavaco Silva, quando acabar o tacho da presidência, porque é sua intenção, deixar a rua do Possolo, no verão e ir até ao ALLGARVE, porque tem lá uma barraquita, num terreno que comprou (?) ao seu grande amigo José de Oliveira Costa do BPN.
Vem isto a propósito de um texto de José Vítor Malheiros, publicado no “Público”, composto por duas partes.
Na primeira, diz tudo o que eu gostaria de ter dito de Cavaco Silva, quando este fala da injusta e miserável reforma de 1.300 Euros, a que diz ter direito.
A segunda é dedicada ao patronato e ao seu comportamento explorador.
Tive ocasião de assistir há poucos dias na SIC Notícias, a uma entrevista de Mário Crespo a Arménio Carlos, que foi ontem eleito secretário-geral da CGTP.
O entrevistador, que trabalha naquela estação de televisão, em regime de “freelancer”, em determinada altura, interrompeu a despropósito a exposição do entrevistado, para em tom suavemente abespinhado, corrigir o discurso de Arménio Carlos, por ter feito uma ligeira referência à exploração de trabalhadores.
Para deixar bem claro o seu pensamento, Mário Crespo chegou mesmo a considerar com muita ênfase “que essa expressão, era uma palavra excessiva e desadequada nos tempos modernos”.
Nós percebemos que o patrão Balsemão tem ouvidos em todo o lado (incluindo na direcção do Grupo Bildeberg) e Mário Crespo, viu-se na obrigação de se insurgir, não fosse o outro pensar que ele era também de um agitador e pôr o seu lugar em risco.
Tudo menos isso!!! Tudo menos isso!!!.
Uma coisa é certa. Mário Crespo, foi surpreendido pela excepcional preparação do entrevistado, não teve tempo, pedalada ou argumentos contra aquele surpreendente, inultrapassável e bem preparado obstáculo e foi arrasado e “metido no bolso”, apesar da indecorosa e anti profissional forma com processou a entrevista.
Mas os trabalhadores não perdiam pela demora!!!
A resposta veio rapidamente, numa estratégia de cavernícula anti comunismo, cozinhado numa manobra de escandalosa manipulação.
Para apoiar tese com que tinha confrontado Arménio Carlos, de que a exploração é hoje uma figura de retórica, chamou à liça no dia seguinte, o testemunho da mais indigna e conhecida infiltrada no Partido Comunista, Zita Seabra, académica doutorada em anti comunismo.
Espécie de Judas Iscariotes de saias, abandonou os seus frágeis ideais, por insignificantes e desprezíveis questões de “pilim” e frívolas pretensões de estatuto social.
Conhecida traidora dos mais nobres, humildes, esforçados, honestos e sacrificados lutadores pelo progresso da humanidade, que são os comunistas, em cuja organização ela teve o descaramento de aceitar desempenhar os mais altos cargos.
O auto-convencido e estrela cintilante Mário Crespo, serviu-se desse testemunho canalha, para tentar provar a sua tese de que tinha quem corroborasse justificadamente a sua inexorável decisão, de não permitir fosse a quem fosse, que tivesse a audácia de dizer que em Portugal há exploração dos trabalhadores.
E ela, segundo me dizem, foi promovida em segredo de alcova, e é agora praticamente patroa, não se fez rogada!.
Aproveitou a oportunidade entusiástica e “desinteressadamente” e não deixou de requerer que os patrões deviam agora pagar menos impostos, (bruxo!!!) com o justíssimo argumente, de que embora não sejam eles que produzem, são eles que objectivamente criam postos de trabalho!
Mas enfim, isto já são contas de outro rosário.
No dia 16 de Janeiro enviei uma carta aberta a Mário Crespo, a propósito da entrevista de Arménio Carlos, onde dizia em título “O que penso” e em subtítulo “A entrevista a Arménio Carlos foi a mais tendenciosa a que assisti na minha vida” esclarecendo que já passei os 80 anos.
Depois de na carta o acusar de manipulador, de comportamento irracional, irresponsável, de vendido a interesses escusos, de se permitir a acusações em vez de perguntas, de comportamento pérfido, teve reacção de me enviar uma mensagem a agradecer a minha “gentileza”, onde na forma zombeteiramente cínica me dizia:
“É com o estímulo de pessoas como o senhor que continuo a desempenhar com empenho o meu trabalho. Bem haja pela sua generosidade e deixe-me cumprimenta-lo pela excelência da sua prosa. Aproveito para lhe desejar um Ano com tudo o que V.Exª merece. Cordialmente Mário Crespo.
Logo que recebi esta mensagem, procurei dar uma resposta ao mesmo nível, onde lhe agradecia
“a ironia (para não dizer cinismo)” como me tinha ajudado a conhecê-lo melhor”,
Voltou a responder, insistindo no tom e num brevíssimo texto escreveu:
“Prezado senhor, é um prazer saber que o ajudei. Bem haja e felicidades. Cordialmente. Mário Crespo.”
Perante este comportamento, porque sou uma pessoa educada, vejo-me obrigado a corresponder a tanta gentileza, enviando-lhe igualmente este texto, como agradecimento final, às suas gentis palavras.
Espero que a minha atitude demonstre definitivamente quanto apreciei o seu virtuoso comportamento moral e confesso que a partir de agora, vou considerar uma obscenidade, quem se atrever a considera-lo um traiçoeiro e camaleónico palinodista, cuja verticalidade da coluna vertebral, seja em tudo semelhante à do nosso coveiro Mário Soares.
Chegado a este ponto, confesso que a consideração que tenho pelo Mário Crespo, merece que lhe dedique com todo o meu carinho, a 2ª parte do artigo de José Vítor Malheiros, como desagravo por tudo o que ele acima considere injusto, insuficientemente, ou imerecidamente desvalorizado.
O seu autor (José Vítor Malheiro) está inocente de toda a imundice dita e escrita por Mário Crespo e nem desconfia a lição que deu a esse pretensioso comentador.
Calculo no entanto que a partir daqui, o inocente autor, vai entrar certamente na lista negra daquele mestre em hipocrisia.
Tal como lá estão certamente os comunistas, que só servem para de vez em quando fingirem que eles existem.
Se por acaso algum Pinochet vier patrioticamente fazer a limpeza dos prosélitos e correlegionários dos comunistas, a colaboração de Mário Crespo vai ser preciosa certamente, pela enorme experiência que tem de os descriminar , isolar e silenciar.
Para ele, como para a restante televisão, era bom que não existissem, mas para os trabalhadores, reformados, pensionistas, jovens e classe média, são indispensáveis e o único obstáculo à barbárie!!!
Neste caso particular, à um elogio que não posso deixar de fazer ao Mário Crespo.
Ele tem sido muito astuto, desde que correram com ele de correspondente da Antena 1, nos Estados Unidos.
Nunca aconteceria com ele, o que aconteceu com a Raquel Freire e os seus companheiros do programa "Este Tempo", que foram censurados e injustificadamente corridos da Antena 1, porque se recusaram a ser “a voz do dono”.
Bem me lembro do que aconteceu com Medina Carreira, e toda aquela gente que na altura falava mal do governo, logo que o espertalhufo sonhou que a Direita, “era o senhor que se seguia”.
Creio que foi Lord Byron que disse um dia: Não há nada que cause tanto mal, como o astuto que se faz passar por inteligente.
E agora vamos ao texto:
VERGONHA E DESEMPREGO
UM DOS OBJECTIVOS PRINCIPAIS DAS EMPRESAS E DO SISTEMA CAPITALISTA PASSOU A SER GERAR DESEMPREGADOS
por: JOSÉ VITOR MALHEIROS
1. Cavaco devia ter vergonha de invocar a sua condição de pensionista e de usufruir de duas pensões quando está ainda no activo, a trabalhar a tempo inteiro, como Presidente de República.
Cavaco devia ter vergonha de ter prescindido do seu salário de Presidente da República para poder receber
mais uns milhares de euros, quando deixou legalmente de poder acumular as suas pensões com esse ordenado. E de insinuar que o facto de prescindir do salário de PR em favor das suas pensões se deveu a um gesto voluntário, quando a escolha entre os dois rendimentos era um imperativo legal.
Cavaco devia ter vergonha de insinuar que o facto de prescindir do salário de PR em favor das suas pensões se deveu a um gesto de abnegação, quando a escolha que fez consistiu apenas em escolher o maior rendimento possível.
Cavaco devia ter vergonha de referir a sua pensão de 1300 euros como se fosse a sua única ou principal fonte de rendimento, quando não é. E de escamotear o montante da sua pensão como funcionário do Banco de Portugal, dizendo não saber exactamente qual é. Cavaco devia ter vergonha de dizer “aos senhores jornalistas” que poderiam inteirar-se facilmente do valor da sua pensão do BdP, quando sabe que essa informação não é fornecida pela instituição nem seria fornecida por ele próprio.
Cavaco devia ter vergonha de esconder o facto de, apesar de não receber salário como PR, ter as suas despesas pessoais pagas pela Presidência da República.
Cavaco devia ter vergonha de se queixar da sua situação financeira quando conhece a situação de fragilidade da esmagadora maioria dos portugueses, quando sabe que em Portugal o salário médio é de 800 euros líquidos, que um quinto das famílias vive abaixo do limiar de pobreza, quando conhece a situação miserável em que vive a maioria dos verdadeiros pensionistas, com pensões de 200 e 250 euros (devido aos diplomas que ele próprio promulga), quando sabe que existem em Portugal um milhão de desempregados, muitos dos quais sem subsídio.
Cavaco devia ter vergonha de se recusar a esclarecer cabalmente os seus negócios com o BPN e a compra da sua casa em Albufeira e de tentar intimidar quem pede os esclarecimentos a que todos temos direito. Cavaco devia ter vergonha de dizer que já esclareceu tudo o que há para esclarecer sobre as suas finanças quando apenas publica notas crípticas a propósito de metade dos factos que todos os portugueses gostariam de conhecer.
Cavaco devia ter vergonha de ter uma tal duplicidade de critérios que considera a sua pensão de 1300 euros como miserável, mas as pensões muito inferiores de muitos outros cidadãos como adequadas.
Cavaco devia ter vergonha de se apresentar como um pobre pensionista com dificuldades quando possui uma situação de total desafogo financeiro e de objectivo (e compreensível) privilégio. Cavaco devia ter vergonha de estar em tal dessintonia com o país e com os portugueses que diz representar.
Cavaco devia ter vergonha. Mas não tem. Cabe-nos a nós ter vergonha por ele.
2. O “acordo de concertação social” assinado na semana passada vem aumentar o número de dias de trabalho, liberalizar os despedimentos e reduzir os apoios aos despedidos e desempregados. Como o Governo, os patrões e a troika pretendiam. O acordo é sustentado por um discurso oficial que diz que estas medidas promovem a “competitividade da economia” e fazem “crescer o emprego”. Mas é apenas uma táctica para facilitar despedimentos e pauperizar os desempregados. Os trabalhadores vão ganhar menos, ser mais maltratados nos seus empregos, postos na rua mais facilmente, despedidos por razões arbitrárias ou por delito de opinião, vão ter indemnizações mais baixas, subsídios de desemprego mais reduzidos e durante menos tempo e, quando encontrarem outro emprego, vão ser mais mal pagos e mais maltratados que no emprego anterior. E os desempregados que deixarem de ter direito a subsídio vão aceitar condições de trabalho mais “competitivas”, constituindo uma pressão poderosa para baixar os salários de todos. Os patrões chamam a isto “competitividade” mas avisam que esta não chega. E vão continuar a exigir mais
“competitividade” até termos os salários e as condições de trabalho da China ou da Nigéria.
O que este acordo deixa claro é que, cada vez mais, o objectivo principal das empresas e do sistema capitalista passou a ser gerar desempregados. Isso é visível na Bolsa, quando vemos as cotações das empresas que despedem milhares de trabalhadores a subir. Os mercados gostam de desempregados.
Claro que os patrões dizem que despedem em nome da eficiência e garantem que, se houver mais competitividade, o emprego vai “retomar”. Mas sabemos que não é assim. Os patrões também não gostam do emprego.
A situação poderia não ser dramática se as empresas apenas pedissem flexibilidade para mudar os trabalhadores daqui para ali (o que se compreende), ou mesmo para os despedir em certos casos, mas se houvesse uma sólida rede de segurança social para sustentar os desempregados e as suas famílias até ao próximo emprego. Mas os patrões também não querem isso. Mesmo que não sejam eles a pagar. Os patrões querem uma massa de desempregados miseráveis, sem subsídio de desemprego, dispostos a aceitar qualquer trabalho por qualquer preço. O mais grave é que um desempregado não é apenas alguém que não tem trabalho. Um desempregado é alguém que está de facto excluído da sociedade e da política, que condena à pobreza os seus fi lhos e que ainda é acusado de parasitismo pelos Álvaros desta vida. Vamos mesmo aceitar uma sociedade com uma massa crescente de sub-humanos sem direitos?
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