JOSEPH STALIN À LUZ DO NOSSO TEMPO
Do ponto de vista ideológico, tem sido difícil libertar-nos do estigma criado por Kruchev durante o XX Congresso do Partido Comunista Soviético, contra Joseph Stalin, o dirigente que esteve à frente dos destinos da Ex-União Soviética durante mais de 30 anos.
O peso e influência dos autores da denúncia e as circunstâncias em que
ela foi feita, divorciaram-nos em tempos passados, de uma investigação mais
aprofundada, até porque nos faltavam elementos fundamentais para o seu esclarecimento
e as razões invocadas não nos tocavam ou até pouco nos interessavam, numa
perspetiva da história, ou ideologicamente, como militante do Partido Comunista
Português.
O que verdadeiramente contava, era saber que aquele regime político nascera
e tentava sobreviver em circunstâncias tão adversas, era único que representava
uma esperança válida para a humanidade se libertar da exploração do homem pelo
homem.
O que para nós contava naqueles longínquos tempos, independentemente de
erros passados que aqui ou acolá tivessem sido cometidos, tinha como resultado
final, um sistema político que transformara em pouco tempo, uma nação
miserável, numa superpotência, facto que sem o apoio heroico, empenhado,
militante e consciente da maioria do seu povo, seria absolutamente impossível.
A necessidade de medidas originais e inovadoras, a par dos gigantescos
problemas de sustentabilidade e desenvolvimento do regime, serviam-nos de
justificação e desculpa para os erros humanos, políticos e económicos, bem como
a parcialidade e fraca credibilidade que nos mereciam as fontes informativas
que tínhamos.
Após o 25 de Abril, a prática revolucionária não nos dava tempo nem
ensejo para aprofundar todas essas questões de natureza histórica e ideológica,
até porque a grandiosidade, originalidade e natureza patriótica da nossa
revolução, colocava na acção, exigências de caracter prático, relegando a
análise teórica para um papel secundário.
Hoje, dispomos de mais tempo para nos debruçarmos sobre alguns aspectos mais
violentos da história desses tempos, em que se iniciava a luta de libertação
dos povos e a tentativa de pôr fim à exploração capitalista.
Lembramos as guerras travadas pelo heroico povo soviético, desde a
Grande Revolução de Outubro, passando pela Grande Guerra Patriótica até à
chamada Guerra Fria, na sequência da qual se deu a destruição da União
Soviética.
Não resistimos à tentação de as comparar
os brutais efeitos de muitas guerras, que destruíram nações e sacrificaram massas
humanas incomensuráveis, com o simples propósito de impor um sistema
capitalista explorador e de escancarar das portas à Globalização e ao
neocapitalismo, que vêm permitindo a exploração obscena dos trabalhadores de
todo o mundo e em particular (por enquanto!), dos trabalhadores gregos,
espanhóis e portugueses.
Estamos a viver tempos em que a realização prática da Globalização e a
aplicação das teses neocapitalistas, tornam evidentes a sua intenção de
expurgar dos benefícios da vida de uma sociedade normal, justa e solidária, oito
décimos da população, por considerarem que bastam dois décimos para satisfazer
todas as necessidades, que as classes dominantes possam ter.
A este propósito mais uma vez recomendamos a leitura do texto, cujo link
está no cabeçalho do Blogue e que nos leva directamente para o post que tem o
título “A sociedade dos dois décimos”.
A comparação moderna entre das forças em confronto, é tão desnivelada,
cruel e desumana, que nos permite recordar o chamado período do Stalinismo, com
um olhar mais condescendente, não o condenando como sempre o tínhamos feito,
reservando muita da nossa ignorância sobre a verdade integral dos factos, não
para o absolver, mas para salvaguardar de forma mais contida e ponderada, o seu
enquadramento histórico.
Há um princípio que determina de forma intransigente, a nossa posição: A
repugnância que nos causa a morte intencional ou violenta de qualquer ser
humano, seja qual for a razão invocada para tal!
As dolorosas e trágicas consequências das alterações geoestratégicas que
se deram com o desaparecimento da União Soviética, a naturalidade com que os
senhores da guerra determinam a morte de milhões e milhões de seres humanos, para
manter a hegemonia política, económica e militar mundial que lhes permita continuar
a exploração dos povos, não tem comparação possível, quer na intenção, quer na
dimensão, das desumanidades que tiveram lugar no tempo de Stalin.
Podemos entender algumas das suas decisões, enquadradas nas profundas
transformações por que o mundo estava a passar e muitas das violências que lhe
são atribuídas, não passaram de resposta à natureza, poder e qualidade dos
inimigos externos, ou então às denúncias, deslealdades, traições de
correligionários e adversários políticos internos, que uma transformação histórica
tão radical da sociedade, obviamente ocasiona.
Hoje estamos a assistir ao crescimento de um despótico sistema de
exploração, que perdeu toda a contenção e cresce desbragadamente, tentando absorver
tudo quanto pode espoliar aos trabalhadores.
Banqueiros, grandes capitalistas
e empresários, donos e senhores de toda a comunicação social, aliados
preferenciais da multinacional que é a “Igreja Católica” com sede no Vaticano,
donos da fábrica de dólares, disfarçada de “Reserva Federal”, manipuladores da
“intelligentsia”, da finança internacional e da ciência ao serviço dessas
elites, tornaram-se adversários de tal maneira poderosos e perigosos para o
progresso da humanidade, que em relação aos crimes atribuídos a Stalin, por
mais que os exagerem e desfigurem, são metáforas infinitamente inferiores aos crimes
contra a humanidade, cometidos pelos vários presidentes que têm passado pelo
governo dos Estados Unidos.
Não podemos esquecer nos dias que correm, os argumentos utilizados para
justificar as barbaridades e selvajarias, que cobrem como um manto diáfano de
fantasia, as guerras contra o terrorismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário