CARTA ABERTA
A PAULO DE MORAIS
Com o título “Marginais de sábado” publicou o “Correio da
Manhã” um texto de Paulo de Morais, que caracteriza e analisa a dramática
situação em que se encontra Portugal, na base da qual esteve a esmagadora manifestação
do passado sábado. No entanto o texto termina com uma frase ambígua, que o jornal destaca em caixa e se presta a muitas interpretações.
«Os verdadeiros marginais no sábado – foram os partidos, a classe
política, os sindicatos e todas as outras estruturas orgânicas do regime.»
Nenhuma daquelas
considerações, será capaz de ajudar o leitor desprevenido ou despolitizado, a
considerar os sindicatos e os partidos como formas organizativas indispensáveis
das populações e dos trabalhadores, essenciais no sentido de defender os seus
interesses de classe.
Bastar-lhe-ia do ponto de vista histórico, por exemplo, avaliar
a influência que a organização dos trabalhadores em sindicatos teve na evolução
da sociedade e contabilizar o efeito que o colectivo sindical potenciou, através
da organização dos trabalhadores nas suas lutas reivindicativas, constituindo o
factor fundamental das suas vitórias.
Hoje é fácil olhar para o panorama das relações de trabalho
e determinar quanto é justo ou injusto este ou aquele problema nas relações de
produção.
Se os trabalhadores não se tivessem organizado em sindicatos,
qual seria o panorama das lutas actuais contra o poder patronal, sobretudo nas
grandes empresas multinacionais, neste tempo de primazia do poder financeiro sobre
o político?
Custa-nos que um homem culto, com uma intenção clara de
denunciar a corrupção e as injustiças de que a maioria esmagadora dos
portugueses está a ser vítima, não tenha percebido a necessidade e sobretudo a
importância de que se revestem essas organizações.
Sabemos das poderosas capacidades e motivações que capital financeiro
se serve, para a obtenção de privilégios para as elites dominantes. É uma complexa
e por vezes obscura questão, que confunde muito o valor das coisas.
Mas um homem lúcido e culto como Paulo Morais, com a visão
da sociedade, múltiplas vezes demonstrada nas palavras escritas, não perceber a
importância e a necessidade da militância partidária, particularmente dos
comunistas, na criação de uma sociedade mais justa e equitativa, converte a
consideração que os seus escritos nos merecem, numa suspeição sobre as reais
motivações que se escondem, por detrás das suas justas considerações.
Bastaria uma breve reflexão da sua parte, sobre o espírito
de sacríficio, perseverança, identidade de princípios e tenacidade, que leva os
militantes comunistas, a sacrificarem até a vida pelos seus ideais, para lhe
merecer um discernimento mais correcto.
Diz o extraordinário presidente da República do Uruguai,
Pepe Mujica:
“Que seria deste mundo sem
militantes?
Como seria a condição humana
se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque
tenham sempre a razão, porque sejam super homens e não se equivoquem.
Não é isso.
É que os militantes não vêm para buscar o seu,
vem entregar a alma, por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso
da condição humana depende fundamentalmente que exista gente que se sinta feliz
em gastar sua vida ao serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar
uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em
seu sentido transcendente”.
Sem comentários:
Enviar um comentário