GOVERNO DE MARGINAIS
Curiosamente, esta manhã,
quando eu e a minha companheira nos dirigíamos para o café, onde rotineiramente
complementamos o pequeno-almoço com um cafezinho e a leitura do jornal,
verifiquei que ela, contrariamente à sua tradicional maneira de ser calma, serena,
transigente e super pacífica, rezingava contra indefinidos, por agora no fim da
vida, via os filhos e ela própria sujeita a medidas que lhe infernizavam a vida.
Lá a fomos consolando em conformidade,
até que começámos a ler o jornal em comum, como é hábito e nem de propósito,
deparámos logo com o artigo do Paulo de Morais, (que publicamos a seguir) justificando
no texto, os argumento de que nos tínhamos servido para generalizar a
situação, tirando de cima dela, mais uma vez, a sensação de ser vítima
exclusiva das enormidades que a canalhada que nos tem governado, faz à
população deste país, transformando o seu comportamento e anulando algumas das
boas qualidades que nos caracterizavam, como povo pacífico, ordeiro e
respeitador da lei, de uma forma geral.
Curiosamente o comentário mais votado,
selecionado pela redação, era a síntese perfeita das consequências dessas
medidas e rezava assim:
Os suicídios entre os
desempregados são já uma realidade quotidiana.
2013, annus horribilis e
o governo a TRÓIKA e o FMI agradecem.
Fio de Prumo
Deslaço
Por:Paulo Morais,
Professor Universitário
Os suicídios entre os
desempregados são já uma realidade quotidiana. 2013, annus horribilis.
A crise económica colocou
milhões no limiar da sobrevivência. Em desespero, muitos adotam comportamentos
menos sérios, que jamais teriam, não fosse a situação de aflição em que se
encontram. Trabalhadores que sempre foram honestos, incapazes de cobrar uma despesa
indevida, que nunca apresentariam um almoço a mais na sua empresa, inventam
agora faturas numa tentativa de comporem o seu orçamento familiar. Empregados
de cafés e tabacarias fingem enganar-se nos trocos e aproveitam a distração de
clientes, que assim são alvo de confisco, sob a forma de gorjetas
involuntárias. Quebram-se redes de confiança de anos entre concidadãos que
partilham o dia-a-dia. Também entre empresas o ambiente se deteriorou.
Empresários outrora ciosos dos seus compromissos atrasam pagamentos, por
impossibilidade ou até por desleixo.
Os que não recebem não
conseguem também pagar, numa cadeia infernal de incumprimento e desconfiança.
Onde havia relações sólidas de negócios e amizade, chega agora a charlatanice.
Dentro das organizações, o respeito mútuo desaparece. É já comum as entidades
patronais baixarem unilateralmente salários e atrasarem pagamentos. Muitos
dirigentes já nem sequer dão satisfações aos seus funcionários; estes já não
sabem se e quando recebem aquilo a que têm direito. Esta praxis instala-se
progressivamente, justificada pelo comportamento do próprio Estado, que reduz
vencimentos e pensões, desrespeitando todos os compromissos. Porque não
seguir--lhe o exemplo os patrões na privada? Desmotivados, os trabalhadores falham
também as suas obrigações.
Com a crise, adveio a
degradação ética nos negócios, acabou a moral nas empresas, diminuiu o respeito
pelos trabalhadores. Mas também a vida familiar se corrompe. Com o aumento do
desemprego e das dificuldades económicas, amplificam-se os conflitos. Cresce
assustadoramente a violência doméstica. A inatividade gera vícios, o alcoolismo
e a droga recrudescem. Os comportamentos pessoais, familiares e sociais
adulteram-se.
Os suicídios entre os
desempregados são já uma realidade quotidiana. 2013, annus horribilis. O
ambiente empresarial é depressivo. A cadeia de confiança entre os cidadãos está
a romper. As famílias desintegram-se. A rede social deslaçou.
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