Mensagem

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terça-feira, 2 de abril de 2013


  GOVERNO DE MARGINAIS  

Curiosamente, esta manhã, quando eu e a minha companheira nos dirigíamos para o café, onde rotineiramente complementamos o pequeno-almoço com um cafezinho e a leitura do jornal, verifiquei que ela, contrariamente à sua tradicional maneira de ser calma, serena, transigente e super pacífica, rezingava contra indefinidos, por agora no fim da vida, via os filhos e ela própria sujeita a medidas que lhe infernizavam a vida.
Lá a fomos consolando em conformidade, até que começámos a ler o jornal em comum, como é hábito e nem de propósito, deparámos logo com o artigo do Paulo de Morais, (que publicamos a seguir) justificando no texto, os argumento de que nos  tínhamos servido para  generalizar a situação, tirando de cima dela, mais uma vez, a sensação de ser vítima exclusiva das enormidades que a canalhada que nos tem governado, faz à população deste país, transformando o seu comportamento e anulando algumas das boas qualidades que nos caracterizavam, como povo pacífico, ordeiro e respeitador da lei, de uma forma geral.
Curiosamente o comentário mais votado, selecionado pela redação, era a síntese perfeita das consequências dessas medidas e rezava assim:
Os suicídios entre os desempregados são já uma realidade quotidiana.

2013, annus horribilis e o governo a TRÓIKA e o FMI agradecem.




Fio de Prumo
Deslaço
Por:Paulo Morais, Professor Universitário

Os suicídios entre os desempregados são já uma realidade quotidiana. 2013, annus horribilis.
A crise económica colocou milhões no limiar da sobrevivência. Em desespero, muitos adotam comportamentos menos sérios, que jamais teriam, não fosse a situação de aflição em que se encontram. Trabalhadores que sempre foram honestos, incapazes de cobrar uma despesa indevida, que nunca apresentariam um almoço a mais na sua empresa, inventam agora faturas numa tentativa de comporem o seu orçamento familiar. Empregados de cafés e tabacarias fingem enganar-se nos trocos e aproveitam a distração de clientes, que assim são alvo de confisco, sob a forma de gorjetas involuntárias. Quebram-se redes de confiança de anos entre concidadãos que partilham o dia-a-dia. Também entre empresas o ambiente se deteriorou. Empresários outrora ciosos dos seus compromissos atrasam pagamentos, por impossibilidade ou até por desleixo.
Os que não recebem não conseguem também pagar, numa cadeia infernal de incumprimento e desconfiança. Onde havia relações sólidas de negócios e amizade, chega agora a charlatanice. Dentro das organizações, o respeito mútuo desaparece. É já comum as entidades patronais baixarem unilateralmente salários e atrasarem pagamentos. Muitos dirigentes já nem sequer dão satisfações aos seus funcionários; estes já não sabem se e quando recebem aquilo a que têm direito. Esta praxis instala-se progressivamente, justificada pelo comportamento do próprio Estado, que reduz vencimentos e pensões, desrespeitando todos os compromissos. Porque não seguir--lhe o exemplo os patrões na privada? Desmotivados, os trabalhadores falham também as suas obrigações.
Com a crise, adveio a degradação ética nos negócios, acabou a moral nas empresas, diminuiu o respeito pelos trabalhadores. Mas também a vida familiar se corrompe. Com o aumento do desemprego e das dificuldades económicas, amplificam-se os conflitos. Cresce assustadoramente a violência doméstica. A inatividade gera vícios, o alcoolismo e a droga recrudescem. Os comportamentos pessoais, familiares e sociais adulteram-se.
Os suicídios entre os desempregados são já uma realidade quotidiana. 2013, annus horribilis. O ambiente empresarial é depressivo. A cadeia de confiança entre os cidadãos está a romper. As famílias desintegram-se. A rede social deslaçou.

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