Mensagem

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quinta-feira, 18 de abril de 2013


QUANTA SAUDADE ÁLVARO CUNHAL

Não perdemos uma oportunidade para relembrar Álvaro Cunhal.
A propósito da inesquecível sessão cultural evocativa de Álvaro Cunhal, levada a cabo na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa no passado dia 22 de Março, recordamos uma mensagem que só agora nos chegou à mão e que foi magistralmente lida nessa ocasião, por Maria do Céu Guerra.
O magnífico texto era de João Monge.
Vejam e digam-me se não é lindo!!!
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CARTA ABERTA A UM AMIGO QUE NÃO SOUBE

Fizeste-me falta, pá! Não por mim, que lá estive, mas por ti que não soubeste… Eu sei da felicidade que retiras destas coisas e da partilha que dela fazes. Foi isso que me fez falta: a tua felicidade.
Sabes como a malta é, pusemos a mesa com microfones e tudo, chamámos os jornais, chamámos as rádios, chamámos as televisões… Só para te avisar, pá. Era a forma mais expedita que tínhamos à mão, e gostávamos tanto de te ter por perto. Mas não, a coisa não saiu, ou saiu envergonhadamente. Sinais destes tempos sem vergonha.
Depois o Álvaro não é tipo que se ignore e o número era redondo – o centenário – mas mesmo assim tu ficaste sem saber. Tiraram-te esse direito.
Foi tão bonita a festa, pá.
Lembras-te daquela tirada do Álvaro que começa assim: «Arte é liberdade. É imaginação, é fantasia, é descoberta e é sonho. É criação e recriação da beleza pelo ser humano e não apenas imitação da beleza que o ser humano considera descobrir na realidade que o cerca»? Lembras-te? Foi o nosso guião. Foi o guião dos músicos, dos cantores e dos actores que passaram pelo palco. A melhor maneira de comemorar a liberdade é exercê-la e, como tu sabes, pá, evocar o Álvaro é projectá-la para os dias que hão-de vir, para as liberdades que hão-de vir. E são tantas, amigo, e são tantas as liberdades que nos faltam…
O Álvaro teve a casa cheia, pelas costuras. Tu sabes como a malta é, abrimos as portas de casa para que alguém te fizesse chegar uma pequena luz do que lá se passou. Mas, enfim, foi o costume: tiraram-te esse direito.
Fizeste-me falta, pá. Mas ainda te vou ver a sorrir. Temos uma prenda para ti: filmámos tudo. E assim damos um outro sentido à falta que me fizeste.
É que, como diz o Palma, “enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, a gente vai continuar”. 

Um abraço, pá
E até já!

João Monge

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