Mensagem

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sábado, 16 de maio de 2009

BLOCO DE ESQUERDA

Hoje vou falar do Bloco de Esquerda, do que ele representa e em particular dos problemas que creio estar a levantar ao PCP.
Faço-o com algumas reservas, dado que nunca me interessei particularmente pela sua actividade, mas o que sei e o que penso, de certeza não andará muito longe da verdade.
Começo por afirmar que vejo algumas vantagens para a sua existência nesta altura, no contexto da luta dos trabalhadores.
Uma segunda reflexão baseia-se no facto de achar que o ideal seria, todos os que lutam por uma sociedade mais justa e equitativa, com a finalidade primeira de acabar com a exploração do homem pelo homem, utilizassem uma linguagem comum e unissem esforços para conquistar esses objectivos.
Para tranquilidade dos meus camaradas que militam no PCP, que aos seus ideais têm dedicado a vida, faço desde já uma declaração de princípios:
Sou comunista e tenho imensa dificuldade em poucas palavras expressar, todas as razões do imenso orgulho que tenho no meu Partido, o Partido Comunista Português.
Considero desde sempre e por razões objectivas, que o meu Partido, não é exclusivamente um partido político, representante de interesses político-económicos específicos, como todos os outros.
Ele é a forma de vida de uma sociedade organizada, onde os padrões de justiça social, e as opções morais dos cidadãos, tendem a fazer desaparecer as Classes sociais de interesses antagónicos, ou seja um Socialismo onde não haja a possibilidade da exploração do ser humano, seja em que circunstância for e que tem sempre em conta o bem-estar geral e a procura da felicidade, na base da dialéctica da Natureza, tendo por horizonte o comunismo.
Tudo isto, racionalizado e expresso fundamentalmente por Marx e Lenine a que junto, com todo o orgulho de português e cidadão do mundo, o nosso querido Álvaro Cunhal, cujas teses e análises científicas, por mais voltas que os detractores lhes queiram dar, com interpretações pseudo-evoluidas de modernidade, estão na realidade, condenadas pela prática da vida e pela evolução dos tempos.
Posto isto, também á laia de declaração de princípios, vamos então falar do Bloco de Esquerda.
Começo por dizer, que acho que ele é um conjunto de indivíduos, onde se destacam algumas inteligências.
Reconheço que não consigo descortinar ideologicamente, qual a sua coerência doutrinária.
Tem um líder brilhante, bem-falante, tecnicamente bem preparado, calmo, com um aspecto simpático e o apoio incondicional dos meios de comunicação social.
Esse apoio é quase semelhante ao que dispensam ao Paulo Portas e ao CDS, sabendo nós muito bem, as secretas e ardilosas intenções que lhes estão subjacentes, fundamentalmente para enfraquecer a influência do PCP.
Essas indiscutíveis qualidades de Francisco Louçã e outros companheiros seus, aliadas ao diligente aproveitamento que tem feito da evolução das forças em presença desde o 25 de Abril, peneirando e aglutinando nos diversos líderes e forças ditas de extrema-esquerda (nesse tempo, designados genericamente de “esquerdalhos”), criou uma força política, com um projecto de justiça social, anti-capitalista, julgo eu!!!.
Vai daí, tudo o que sofre na pele os malefícios da exploração capitalista e que têm os ouvidos cheios de anti-comunismo, viram no Bloco de Esquerda um Partido, onde era possível lutar, contra essa exploração, sem ter de vestir a pele de comunista, daqueles que toda a imprensa, rádio, televisão e restantes lacaios do capital, apelidam de extremistas, radicais, anti-democratas, anti-isto e aquilo no que se refere á religião e ao conceito de que por direito natural, sempre houve ricos e pobres.
Hoje ouve-se falar do Bloco de Esquerda nos “Média”, como se porventura fosse “A” alternativa á esquerda ou “MAIS” á esquerda, como queiram.
Vou contar uma pequena história exemplar e comprovativa do modo como caracterizo a natureza e o funcionamento daquela organização.
Há dias, na “SIC Noticias”, vi parte de um debate entre um elemento do PS (salvo erro) e uma deputada do Bloco de Esquerda, Joana Amaral Dias.
Perante um argumento que a referida senhora atirava para a discussão, dizia o seu interlocutor:
“Mas essa não é a posição do seu Partido!!!”.
Ao que a referida senhora retorquiu: “isso não me importa. Eu tenho cabeça para pensar por mim própria”.
Para mim estava tudo dito!!!.
Aquele é típicamente“um” dos problemas do Bloco de Esquerda.
Cada qual, "pensa" e “fala” pela sua cabeça.
No Partido Comunista Português, "por acaso"também cada um pensa pela sua cabeça.
Mas a grande diferença, a diferença essencial, para se conseguir errar o menos possível, é que cada camarada põe sempre a sua razão, em discussão, no colectivo a que pertence.
Se a sua opinião é a mais válida, o seu ponto de vista prevalece e é aceite.
Se não, a ideia é discutida até que se encontre o consenso mais correcto, rigoroso, eficaz e lógico.
Quando sobre o tema estão todos em sintonia, a partir daí é fácil cada elemento desse colectivo, enriquecido com as várias nuances que a discussão proporcionou, estar armado para defender a conclusão final, como se fosse sua.
É por isso que uma situação como a que assisti na SIC Noticias, nunca poderia ser protagonizada por um militante responsável do Partido Comunista Português.
É por estas e por outras que os meios de comunicação social, sabendo perfeitamente que o PCP é o mais sólido e consistente adversário do Capitalismo, vão dando ao Bloco de Esquerda os favores da sua “generosa imparcialidade”, destacando-lhe os apoios, em detrimento do PCP.
Quantas vezes tenho visto atribuir ao Bloco a paternidade de numerosas iniciativas legislativas e outras actividades que sabem perfeitamente serem originárias do Partido Comunista Português.
É de tradição, que os malvados dos comunistas só querem roubar os ricos, que todos ganhem o mesmo, chegando ao extremo de matar os velhinhos com uma injecção atrás da orelha e até comer criancinhas ao pequeno-almoço.
Já ouvi disto e muito mais, a sério, e não coravam de vergonha!
Nada disto consta dos curricula do Bloco de Esquerda e no entanto de vez em quando se referem a Marx ou Lenine, julgo que teriam muito mais vontade de só falar de Trotsky e um pouco menos de Mao Tse Tung.
A minha querida, extraordinária e muito católica mãe, cuja dimensão da fé era alicerçada no facto de em 1921, ter sido considerada uma das primeiras miraculadas de Fátima, por ter conseguido curar uma médicamente bem documentada tuberculose, depois de beber água que lhe tinham trazido da Cova da Iria, assediada pelos amigos e conhecidos que lhe criticavam o filho por ser comunista, ela própria convicta e humildemente dizia: Ai, o meu filho é comunista, mas é dos bons!!!
E é com coisas destas, não só as “ingénuas” como as cientificamente estudadas, que se foi criando um clima contra os comunistas.
Infelizmente, estas enormidades introduzem-se no espírito das pessoas e reflexamente moldam os raciocínios, a lucidez e os critérios, de forma a tornarem todos os objectivos justos, equitativos, lógicos e morais que os comunistas perseguem, em atentados á normalidade das pretensas “almas bem formadas”.
É neste caldo de cultura que se desenvolve a mobilização do Bloco de Esquerda.
Mas, certamente para espanto de muitos camaradas meus, acho que nesta altura é bom que exista o Bloco de Esquerda.
Eu arriscaria mesmo a dizer que considero uma questão dialéctica, a necessidade da sua existência e até chegaria ao extremo de considerar, que não me preocupa o êxito que possam ter. Muito dos meus amigos e camaradas que me conhecem, não esperariam ouvir-me dizer isto.
Mas eu explico.
Considero que as grandes e definitivas transformações porque tem passado a sociedade humana, assentam todas em movimentos de massas, que na ocasião transportam a verdade efectiva das suas justas reivindicações.
Os históricos processos de desenvolvimento civilizacional, provam que na sequência destas alterações sociais se verificam paragens e recuos, derivados sempre da inexistência de uma força geradora de consensos, capazes de mobilizar e dar continuidade para estágios superiores e mais avançados, desses processos revolucionários.
Em todas essas ocasiões, foi a inexistência dessa força organizada, indispensável para manter o ímpeto do seu desenvolvimento natural e lógico, que provocaram prejudiciais divisões e foram aproveitadas para diminuir as consequências desses movimentos revolucionários.
No entanto a civilização, foi sempre evoluindo, melhorando e progredindo, muito á custa destes saltos, sistematicamente desenvolvidos pelas massas populares.
Lembremos obrigatoriamente como a Revolução de Outubro, trouxe novas e radiosas perspectivas, á humanidade.
A queda do muro de Berlim, para gáudio do Capitalismo, fechou aparentemente esse ciclo da evolução, deixando as massas populares desarmadas e entregues aos desaforos de um capitalismo desbragado, explorador, que levou o mundo á maior crise económica e civilizacional da história.
Principal razão, o desvio ideológico de um processo que se tinha iniciado colectivamente e por razões de força maior foi condenavelmente abandonado.
Só que a riqueza e o exemplo desse processo revolucionário, desenvolvido através de uma teoria sociológica, desenvolvida por Marx e Lenine, demonstrou a capacidade das massas quando unidas num objectivo comum, sendo um elemento profundamente inspirador, para avanços numa nova etapa da civilização humana.
A História nunca se repete, mas os erros do passado, são lições inesquecíveis, para as gerações que se seguem.
Erros em todas as épocas se cometeram e descontando a experiência radicalmente nova que era o comunismo na União Soviética, encontramos aí justificação para tirando as ilações necessárias não voltar a cometer os mesmos erros.
Com a certeza que a natureza das coisas, se encarregará de elucidar as melhores opções para que uma Nova Sociedade se possa afirmar, tendo por base o que de melhor teve o passado e evitando cometer os mesmos erros, ou pelo menos, os que foram fundamentais para o retrocesso civilizacional que constituiu o desaparecimento da União Soviética.

É nesta ordem de ideias que atribuo ilimitada confiança ao Partido Comunista Português, por saber que só ele, como Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, garante a matriz das maiores virtudes que o socialismo pode desenvolver, como organização, onde o que conta é o colectivo, e essa é não só a maior, como a única maneira de se errar menos.
Não há inteligência, por mais genial que seja, que possa substituir com vantagem um colectivo, na definição objectivos correctos.
Uma organização assente num colectivo, que faça da multiplicidade das opiniões correctamente organizadas, a tomada de decisões, tem á partida uma vantagem indiscutível.
É aí que reside a força do Partido Comunista Português
É por o Bloco de Esquerda, assentar no valor pessoal e no critério individual o essencial das suas decisões, que mais cedo que tarde estará condenado ao fracasso.
Que a ele vão aderindo os indivíduos que exigem protagonismo, que se envergonhem ou não tenham coragem de defender o comunismo, como base de uma sociedade igualitária, ou que por outra qualquer razão não vejam no PCP, essas suas virtudes, paciência!!!.
Uma coisa tenho a certeza, quando na altura própria, estiverem criadas as condições para o salto qualitativo que forçosamente a humanidade irá dar, lá estará o Partido Comunista Português e os Partidos irmãos, para aglutinarem num projecto comum, com colectivos sólidos, todos aqueles que ambicionam para a humanidade um projecto de vida de acordo com as Leis da Natureza e onde se possa de facto viver com respeito para todos dos tão apregoados Direitos Humanos.
Nessa altura os que de “Boa-fé” ou qualquer outra honesta razão aderiram ao Bloco de Esquerda ou a outro Bloco de semelhante origem e finalidade, estarão ao nosso lado para concretizar essa revolução, que por demais natural, é fatal vir a acontecer!!!
E se assim não fosse, era sinal que a história não tinha sempre razão, e sobretudo, que o homem tinha perdido o instinto de sobrevivência ou se tornara irracional.

2 comentários:

Miguel Jeri disse...

Não poderia ir sem dizer que achei o texto fenomenal. Nota 10 em 10, dos melhores que li de sempre na internet.

Um abraço e parabéns, passarei a seguir o blogue.

Carlos disse...

Muito bom texto. Os problemas apontados à génese e modo de actuar do Bloco são os que eu atribuo. Acho que paradoxalmente a maior virtude atribuída ao PCP pode ser a sua maior fraqueza, isto é, acho que por vezes se dá tão grande importância à discussão e decisão do colectivo que depois isso pode ser limitativo em excesso nas intervenções públicas. Sem dúvida, são evitados erros de desvios perigosos no tocante ao pensamento ideológico que deve ser o cimento de uma organização política, para cada um não andar a dizer o que lhe apetece arbitrariamente prejudicando a coerência da organização, contudo, essa coerência não raras vezes desemboca num tom monocórdico, parecendo que se está sempre a repetir a mesma tecla e falta um golpe de asa que mantendo-se dentro dos limites da decisão colectiva e da coerência ideológica leve mais eficazmente a mensagem do ideal comunista a todos. Seria ouro sobre azul, como se costuma dizer, ou o melhor de dois mundos. Penso que com todo este discurso o autor do poste já percebeu aonde é que eu quero chegar. De qualquer modo um poste óptimo que eu li avidamente.