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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

LINGUAGEM NOVA...
FACTOS ANTIGOS

Quando elaborei o título que daria lugar ao separador  "Coisas que leio e gostaria de ter escrito", foi exactamente a pensar em matérias que, embora do meu conhecimento, estão tão bem escritas, ou fazem uma abordagem tão explícita dos temas, que pela minha parte sinto que não só não faria melhor, como   talvez  não fosse tão explicito.
É o caso deste magnífico texto, que abordando um tema que é familiar a todos nós, tem um sentido descritivo e uma narração histórica num espaço tão curto, assume a síntese de uma verdadeira lição a memorizar e a divulgar.
Da  sua resolução ou não, dependerá muito do futuro da nossa descendência.

A MÃO NO PODER
Por:PAULO MORAIS, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO 
 
Há grupos económicos portugueses que mantêm intactos os seus privilégios desde os tempos da monarquia. Ao longo de séculos, conseguiram domesticar todos os regimes.Até hoje, cativam uma parte significativa do orçamento de estado, à custa do qual se habituaram a enriquecer. Beneficiam de rendas das parcerias público-privadas da saúde, como acontece com o grupo Mello ou Espírito Santo. Recebem milhões pelo pagamento de juros da dívida pública. Obtêm concessões em monopólio, como acontece com a Brisa, detentora, por autorização governamental, das auto-estradas de Porto a Lisboa.
Os favores que recebem do estado têm revestido as mais diversas formas. No tempo do fascismo, obtinham licenças num regime de condicionamento industrial, em que só os amigos do regime podiam criar empresas. O seu domínio sobre a economia e a política vem dos tempos da monarquia, onde pontificava o conde do Cartaxo, antepassado da família Mello. Já os Espírito Santo descendem do poderoso conde de Rendufe.
Assim, estes grupos conseguiram trazer até ao século XXI, incólume, a lógica feudal, a tradição de atribuição de prebendas aos poderosos. Com uma diferença. Enquanto no tempo do feudalismo o rei atribuía privilégios que consistiam na doação de benefícios económicos (terras), a par de poder político (títulos), hoje apenas se concedem favores económicos. Assim, estes grupos mantêm o poder sem os incómodos do escrutínio democrático. Sabem que mais importante do que ter o poder na mão é ter a mão no poder. Até porque sempre influenciaram a política. Conseguiram-no no tempo de Salazar, através do fascínio que Ricardo Espírito Santo exercia sobre o ditador. Em democracia, contratam políticos de todas as tendências. Eanistas como Henrique Granadeiro, socialistas como Manuel Pinho ou social-democratas como Catroga.
Neste jogo democrático viciado, os cidadãos são hoje como os servos da gleba de outrora, mas agora sob a forma de contribuintes usurpados. E reféns do sistema vigente, que muitos chamam de neoliberalismo, mas que não é novo nem é liberal. É apenas a manutenção do velho feudalismo.

1 comentário:

gina henrique disse...

Simplesmente fantástico!
Já li e ouvi algumas dissertações deste professor e subscrevo sem reserva as suas opiniões.