UMA RESPOSTA EM DOIS TEMPOS
A IMPORTÂNCIA DE SER CIGANO
ONDE SE FALA DE RACISMO
COMENTÁRIOS PRODUZIDOS NO FACEBOOK, NO GRUPO MARINHA
GRANDE-CAPITAL DO VIDRO
Porque me parece ser um tema importante, as questões ligadas
ao racismo, resolvemos reproduzir neste Blogue, a história de alguns
comentários produzidos no Facebook, na página do GRUPO MARINHA GRANDE-CAPITALDO VIDRO.
A questão começou por nós termos pretendido responder a um
comentário, que apareceu na minha página do Facebook e tresandava a
racismo.
Pouco depois, ao tentar fazê-lo, verificámos que já tinha
sido retirado o texto.
Disposto a não perder a oportunidade, fui à página do Grupo,
escrevi o comentário e ao finalizar cliquei no “enter” e desapareceu tudo o que
tinha escrito.
Deduzimos que dada a crueldade revelada no texto que nós
pretendíamos comentar, ele terá sido retirado e muito bem, pelo administrador
do grupo.
Rezava assim o meu comentário desaparecido:
Este meu comentário vem na sequência de ter lido uma crítica
feroz a uns ciganos - que não tinham um comportamento correcto, ao espalharem o
lixo quando nele esgravatavam - quem sabe se para encontrar algo que comer ou
que valesse a pena usar ou vender. Se o pensamento desumano que li, corresponde
à razão pela qual não aparece aqui a notícia, estou de acordo. As palavras que
li, sobre o comportamento dos ciganos são de um racista, não de alguém que
critica apenas um comportamento socialmente incorrecto. Esgravatar no lixo é
consequência de miséria. Era capaz de apostar 1 contra mil, mesmo sem conhecer
o caso. Mais criticável é os vereadores responsáveis pela recolha desse lixo,
deixarem os homens que o recolhem, andar sem máscaras e sem luvas, arruinando a
sua saúde, só porque não sabem o perigo que correm. Outro tanto não acontece
com certeza com os chefes ou pelo menos com o vereador responsável. Por outro
lado, sei de gente que já anda em Portugal a esgravatar o lixo para ver se
encontram algo de comer. Isso é que é socialmente condenável. Isso é que é
verdadeiramente condenável e desumano !!!
Mais tarde, para meu espanto, vejo reproduzido este meu
comentário no post Grupo Marinha Grande-Capital do Vidro, seguido de dois
comentários apoiando e subscrevendo o que nós tínhamos escrito, seguido de
outros dois:
Um de ANDREIA FERNANDES, que facilmente se percebe ser a
autora do texto inicial que deu aso à censura do administrador do Grupo e ao
meu comentário e outro de DANIEL ABRUNHEIRO, favorável à tese racista.
ANDREIA FERNANDES, em
continuação, expressa-se desta forma:
Peço que pense da seguinte forma: eu sou uma pessoa de raça
branca mas tenho sangue africano (portanto não fale em racismo), sou
trabalhadora com descontos desde os meus 17 anos, tenho 2 filhos e não recebo
qualquer abono, estou inserida na sociedade desde que nasci...e eles? Estes
ciganos vivem à anos com diferenças culturais porque querem. Mantém a todo o
custo viver na imundice, sem higiene, tentativa de serem como nós, de obter um
trabalho (seja ele qual for)... Não me peça para aturar com pessoas que não
querem nada sem ser o dinheiro...que apesar de ir ao lixo podiam deixar o chão
limpo...
Eu falo com muito conhecimento de causa, venho de Almada
onde vivem muitos ciganos, mulçumanos, africanos, todas as nacionalidades e
raças que possa imaginar, juntas em poucos quilómetros e vivi com as diferenças
sociais sem quaisquer problemas...
Entenda me da forma que quiser mas estes ciganos são tudo o
que faz mal a uma sociedade...e principalmente a esta pequenina cidade!
.
.
A estes dois últimos comentários tornou-se irresistível
respondermos nos seguintes termos:
Cara ANDREIA
1º Começo por lhe pedir que nos deixe pensar como quisermos,
porque respeitamos todas as opiniões, inclusive a sua.
2º Temos uma neta de
raça branca com sangue africano e um presidente de Câmara cigano, a quem
reconhecemos obra feita, independentemente de ser do PS e eu, como comunista, ter imensas razões de queixa
das políticas levadas a cabo pelas várias direcções desse partido, a começar
pelo execrável Mário Soares.
3º Se me permitisse aconselhava-a ir conhecer a História do
povo cigano.
Pode começar por ir ao Google, abrir em “Ciganos” e na Wikipédia.
De forma simples, rápida embora elementar, fica a conhecer a história deste
povo sem pátria, originário das longínquas Índias, nómada pela força das
circunstâncias e desde sempre marginalizado por todas as sociedades por onde
passaram.
Se entretanto quiser aprofundar os seus conhecimentos sobre
o tema, recomendamos-lhe “O povo cigano” de Olímpio Nunes, editado pela
Livraria A.I. do Porto.
4º Uma grande parte desta etnia, continua a resistir a
qualquer processo de integração, em defesa das suas tradições e da unidade da
comunidade cigana, como forma de sobrevivência à secular rejeição de uma
sociedade que lhes tem sido tradicionalmente agressiva.
5º Em Portugal levará algum tempo a sua integração, pois só
depois do 25 de Abril se decidiu pela sua incorporação como cidadãos de pleno
direito, passando só então, a usufruir dos mesmos direitos e obrigações que eu,
a senhora, ou qualquer outro cidadão português temos normalmente.
6º Os pormenores de que se queixa, são do ponto de vista de
higiene e comportamento cívico, absolutamente censuráveis, mas passivos de se alterarem
com o tempo, desde que se integrem as novas gerações e se convençam que se
podem tranquilizar, porque finalmente em Portugal pelo menos, têm os seus
direitos assegurados.
Muitas vezes isso foi prometido e atraiçoado, não só em
Portugal, como em muitos outros países.
7º Os seus hábitos, costumes, lealdades e tradições, estão
na base da sua necessidade de se defenderem para sobreviver, sem uma pátria que
não seja a de acolhimento.
Outros exemplos lhe poderíamos citar, de povos que
voluntariamente ou forçadamente tiveram de abandonar as suas terras de origem e
nómadas se tornaram em terras estranhas, sendo o caso dos judeus, o mais
conhecido actualmente, por perversas razões, dadas as formas violentas,
desumanas e por demais criminosas, como tentam recuperar a terra de origem, perdida
há milhares de anos.
Perante estes argumentos pense o que quiser e decida em
consciência.
Mas se nos seus pensamentos passar a haver lugar para alguma
solidariedade para com a raça cigana, será justo, pode crer.
Dizia DANIEL ABRUNHEIRO:
Já percebi que o post que, digamos, iniciou este tema foi
retirado. Eu fiz um comentário ou dois nele cujo teor é idêntico a este da
Andreia Fernandes. A mim não me move qualquer preconceito racista. Na questão
cigana, porém, a haver racismo é do lado de lá. E é uma excelente desculpa para
fazerem de nós (que trabalhamos e descontamos para o colectivo) a manjedoura
deles. Não pagam um cêntimo de descontos toda a vida. E toda a vida ele é casa,
ele é saúde, ele é tudo - por conta. Agora, algo facílimo de observar: reparem
na frota automóvel estacionada às portas de cada bairro social. Quantos
contribuintes de facto (pretos, brancos, azuis ou amarelos) têm possibilidade
de um Audi4 ou BMW ou Mercedes ou Etc.? O que a Andreia diz - é de extrema
pertinência. Quereis um exemplo: estou desempregado há 14 (catorze) meses.
Alguém me viu a pedir um subsídio? Alguém me viu a pedir um rendimento, por
mínimo? Não. Procuro trabalho e hei-de encontrá-lo. O complexo da esmola não
faz parte da minha educação. O civismo faz. E faz a ponto de não escarafunchar
contentores do lixo para deixar tudo no chão. E sim, sou de esquerda, filho de
operário. Não tenho é complexos do coitadinho, cigano ou não cigano.
Respondendo ao DANIEL ABRUNHEIRO:
1 -Discordo quando diz “a haver racismo é do lado de lá”,
eliminado a possibilidade de quem quer que seja, ficar isento de ser um
potencial racista.
Racismo há, ou pode haver, em todo o lado, quer seja branco, preto, amarelo
ou vermelho.
É uma característica da natureza humana. Uns mais do que outros, por razões diferenciadas: por tradição, cultura ou educação. As causas, argumentos ou justificações não são universais.
2- Discordo quando diz “fazerem de nós (que trabalhamos e
descontamos para o colectivo) a manjedoura deles.
Eles como você e eu, dando de barato que às vezes não
comemos na mesa, mas de certeza que por muito burros que sejamos, jamais
comemos na manjedoura, até porque conseguimos perceber, que na manjedoura além de não ser "confortável ou prática" não
há normalmente comida própria para os seres humanos.
3 – Discordo que esteja a discutir os benefícios legais de
um qualquer cidadão português, pois regateando-os para si, como diz mais
adiante (estou desempregado há 14 (catorze) meses. Alguém me viu a pedir um
subsídio? Alguém me viu a pedir um rendimento, por mínimo? Não.) é uma posição
que só a si diz respeito e embora não concorde, achando-a até incompreensível,
respeito-a.
Esclareço-a que a minha luta e dos meus camaradas tem como
objectivo no imediato, fazer este governo cumprir a nossa Constituição e lá reza que esse é um direito inalienável, de todos os cidadãos.
O direito de que está a abdicar voluntariamente, está
previsto nessa lei que é a base do Direito Português, constantemente tripudiado
pelas forças que estão no poder.
Quereriam eles e principalmente os seus mandantes, que toda
a gente procedesse como você.
Entendemos que isso não é justo e não estamos na disposição
de lhes facilitar essa luta.
Como tal lutamos com todas as nossas forças, para obrigar o
governo a cumprir a Lei Fundamental que é a Constituição da República
Portuguesa.
4 – Discordo frontalmente do seu comportamento, quando diz
(estou desempregado há 14 (catorze) meses. Alguém me viu a pedir um subsídio?
Alguém me viu a pedir um rendimento, por mínimo? Não. Procuro trabalho e hei-de
encontrá-lo.
Aí está uma coisa que mais de um milhão e duzentos mil portugueses
estão a fazer, sem solução.
Desejo-lhe sinceramente o maior sucesso!!!
5 – Discordo quando diz “O complexo da esmola não faz parte
da minha educação”.
Deixa-me a dúvida que entenda a diferença entre caridade e
solidariedade.
6 – Discordo quando diz “E faz a ponto de não escarafunchar
contentores do lixo para deixar tudo no chão. E sim, sou de esquerda, filho de
operário. Não tenho é complexos do coitadinho, cigano ou não cigano”.
Por várias ordens de
razão, sendo que a primeira é a presunção de que não virá a escarafunchar
contentores do lixo, quanto mais não seja para imitar umas organizações
“beneficentes” que andam a escarafunchar os caixotes do lixo dos supermercados,
para com essa “generosidade” acalmar a fome a muitos portugueses, antes que
eles em desespero de causa, sejam levados a alterar a ordem pública, retirando-lhes o conforto em que se encontram.
Acrescento que pela minha parte, dada a evolução da situação
económica e a perseguição e roubo que estão a fazer aos reformados, eu e muita gente, nos vejamos na situação de ter de ir escarafunchar nos caixotes do lixo, para matar a fome.
7 – Discordo que se possa intitular “de esquerda” pelo
simples facto de ser “filho de operário.”
Conheço muitos filhos de operários que são do mais
reaccionário que se possa imaginar e filhos de gente rica que de facto são
orgulhosamente de esquerda.
Quanto ao facto de
não ter “ complexos do coitadinho, cigano ou não cigano” fez-me desconfiar que
assim não seja, mas dou de barato que esteja
enganado!!!
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