DIA A DIA
EDITORIAL DO CORREIO DA MANHÃ, POR PAULO FONTE, CHEFE DE REDACÇÃO/REVISTAS DO CORREIO DA MANHÃ
A imagem de uma criança
pobre a espreitar pela janela da casa de um menino rico, na noite de Natal,
pode muito bem ser aplicada, com uma variação livre, àquilo de que a seguir se
dá conta.
O FMI ofereceu na sua faustosa sede de
Washington um jantar natalício onde houve de tudo menos a dura austeridade
aplicada aos outros. O repasto custou perto de 400 mil euros e dele constou um
menu de quatro páginas, com entrada de caviar e bebidas à discrição. Os países
com dívidas bem podem ser as crianças a olhar pelos vidros enquanto os senhores
do dinheiro se banqueteiam, muito à custa do pecúlio ganho com juros dos
empréstimos. O jantar, oferecido para funcionários e convidados do Fundo
Monetário, prolongou-se por cinco horas. Os cocktails apresentavam nomes como
‘Cumprimentos do Paraíso’ ou, pura ironia, ‘Mr. Grinch’, a irrequieta
personagem que rouba o espírito de Natal. É sabido estarmos nas mãos do FMI por
culpa própria, leia-se responsabilidade de quem nos governa (e governou). Mas
isso não anula um amargo de boca pelo ultraje a que estamos votados por parte
daqueles que se regem com princípios contrários aos que defendem para os países
resgatados.
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