QUEM SE JULGA ESTA GENTE
O caso BPN continua a queimar as mãos de muita gente. Tanto
que, quando alguém que esteve ligado ao banco vai para um lugar público e tem
de divulgar o seu curriculum, elimina cuidadosamente essa atividade do seu
passado.
Foi isto que fez Rui Machete, foi isto que fez Franquelim
Alves, passando aos jornalistas um atestado de incompetência e aos cidadãos um
atestado de estupidez.
Não está em causa a compra ou venda de ações de uma
instituição bancária. Mas está em causa saber 1) se toda a gente podia comprar
ações do BPN; 2) se toda a gente que comprou as viu recompradas pelo dobro ou
pelo triplo do seu valor original; 3) se esses ganhos assentavam na atividade
normal do banco.
Ora para quem não se lembra, o BPN não estava cotado em
bolsa. Por isso, só comprava ações do banco quem a administração convidava para
tal. Foi assim com Cavaco Silva, que comprou e vendeu ações do BPN tratando
diretamente do assunto com o presidente da instituição, Oliveira Costa.
Depois, a compra de ações de ações pelo banco por valores
muito superiores aos que as tinha vendido não resultava do livre funcionamento
do mercado - mas de uma decisão da administração e, em particular, de Oliveira
Costa.
Quer isto dizer que o presidente do BPN beneficiou quem quis
- e beneficiou seguramente os seus amigos. Não por acaso, todos (ou a
esmagadora maioria) os beneficiados com a venda de ações altamente valorizadas
ou com vultuosos empréstimos não reembolsados são membros ou simpatizantes do
PSD. E suponho que não é preciso dizer os nomes.
Por isso, se tudo fosse tão normal e transparente, Rui
Machete não teria eliminado do seu curriculum as funções que ocupou no BPN. Por
isso, também não devia ter dito que isto revelava a podridão da sociedade
portuguesa.
É que se este caso revela alguma coisa é a podridão com que
altas figuras do PSD ligadas ao Estado ganharam muito dinheiro com um banco
fantasma que era liderado por uma grupo de malfeitores.
E é esse dinheiro fácil que está agora a ser pago, com
língua de palmo, por todos os contribuintes. Mais de 4 mil milhões de euros dos
nossos impostos servem para pagar as mais-valias e os empréstimos não
reembolsados que o BPN concedeu.
Por isso, seria de muito bom tom que todos os que lucraram
com o BPN se calassem e que não nos tentassem convencer que tudo foi limpo e
transparente no dinheiro que ganharam. É que, como de costume, os senhores
privatizaram os lucros. E deixaram para os contribuintes a socialização dos imensos
prejuízos. Haja vergonha!
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