O FIM DAS MULTINACIONAIS
Quando ontem nos deparámos com um texto que tinha por título "O FIM DA MULTINACIONAIS", não lhe demos muito
crédito inicialmente, por considerarmos a tese algo exagerada.
No entanto, a forma como traz à colação elementos fundamentais
para compreensão dos mecanismo usados pelos norte-americanos para transferir a
sua crise, não só para Europa, como para o resto do mundo, levou-nos a reflectir
que valeria a pena dá-lo a conhecer aos leitores do nosso Blogue.
De facto o texto tem a qualidade de definir em curto espaço,
a natureza e dimensão da crise, permitindo percecionar muitas das dificuldades
por que a humanidade ainda terá de passar, para pagar a desbunda financeira, em
que vive os Estados Unidos.
São estas as principais razões porque achámos por bem
traduzi-lo e publicá-lo.
Será bom acrescentar que um dos principais factores da crise
na Europa, deriva de muitas das suas empresas financeiras, terem investido muitos
do fluxos financeiros de que eram fieis depositários, em elementos
especulativos, criados pela banca dos Estados Unidos, atraídas pelos altos
juros que as obrigações e outro títulos financeiros, lhes proporcionavam.
Calcula-se que esse valor seja de cerca de 4 triliões de
euros, que vão ser “extraídos” à capacidade produtiva dos trabalhadores
europeus, com todo o cotejo de exploração, falências e desemprego a que estamos
a assistir.
Por outro lado os Estados Unidos, aproveitando o facto de
terem na Reserva Federal a máquina de imprimir dólares, que vai fabricando
consoante as necessidades, utilizaram-na para resolver de imediato a liquidez
dos grandes bancos, que caso contrário estariam igualmente condenados à
falência.
Como o Capitalismo e nomeadamente o governo dos Estados
Unidos, defendem o conceito que “havia bancos grandes demais para falirem”, toca
a fechar os olhos e deixar a Reserva
federal imprimir o dinheiro necessário, para lhes dar a liquidez que fosse precisa.
Daí a importância que se reveste o texto que se segue, para
fazer perceber a importância dos “QUATITATIVE EASINGS, 1, 2 E 3…por enquanto”
ou seja os QE1,QE2 e QE3, que mais não são que injecções de dinheiro
artificiais, para acorrer às necessidades financeiras mais imediatas, dos
grandes bancos privados americanos, verdadeiros donos e senhores da Reserva
Federal.
O FIM DAS MULTINACIONAIS
Em
1 de Agosto de 2013, o Standard and Poor 500(S & P 500) (Nota do tradutor- S&P 500, ou Standard
and Poor 500, trata-se de um índice composto por quinhentos ativos qualificados
devido ao seu tamanho de mercado, sua liquidez e sua representação de grupo
industrial), o mais importante de todos os índices bolsistas mundiais,
superou a barreira dos 1700 pontos percentuais pela primeira vez desde o início
da crise mundial do capitalismo. Nem sequer no auge da bolha do “sub-prime”
atingiu os 1.600 pontos do índice.
Quando começou a crise, o S & P 500 caiu 1,5 mil pontos
em 2007, 700 em 2008. As Corporações Multinacionais quebraram e os governos dos
países capitalistas começaram a realizar resgates. A partir daí, o S & P
500 começou uma subida sustentada, como resultado dos resgates implementadas
através de um movimento coordenado entre os governos do G-7, a Reserva Federal
dos EUA e os principais Bancos Centrais do mundo.
Os resgates são monstruosas injeções de capital fictício,
que incluiu três grandes acções: QEI, que começou em Novembro de 2008 até Março
de 2010, o QEII que começou em Novembro de 2010 até Junho de 2011, e QE3 Setembro
de 2012 até hoje (Nota do tradutor-QE1,QE2,QE3,quer
dizer “Quantitative Easing” que se traduz por “alívio quantitativo” – um
eufemismo financeiro, para o acto de imprimir de uma quantidade de dinheiro, com
a finalidade da inflacção que produz, possa diminuir os défices). A subida nas
Bolsas que se seguiu, não tem nada a ver com a economia real, onde todos os
índices, são de recessão e depressão e os débeis índices de crescimento que
aparecem, duram pouco tempo.
O S & P 500 nasceu em 1923 quando a empresa Standard and
Poor introduzido um índice que abrangia 233 empresas e em 1957 incluía as 500
maiores empresas do mundo. Este índice expressa melhor a situação das empresas
multinacionais que o índice Dow Jones ou o Nasdaq 100. Acontece que o grau de
distorção e decomposição do capitalismo causada pelos resgates é de tal
dimensão, que criam índices sem precedentes, na sua história. Os maiores índices
de colapso do comércio, o maior número de países com crescimento negativo simultaneamente,
a queda das taxas de juros para níveis de séculos passados, os maiores índices
de pobreza, miséria e destruição das economias de numerosos sectores da
população, em toda a história do Capitalismo. Todos os índices são muito
superiores a qualquer outra crise, com a qual se queira comparar, incluindo a
de 1929.
A taxa de lucro, medida como é definida pela taxa de juros da
Reserva Federal dos EUA está 0 ou -0, desde há 6 anos. Nunca na história do
capitalismo aconteceu com milhares de empresas e estados a irem à falência, mas
continuarem a operar como Zômbis, ou "mortos vivos". Nunca aconteceu,
tudo o que hoje vemos e na magnitude do que hoje acontece. O Tesouro dos EUA,
um bom de "refúgio" do capital, que nunca deram taxas de retorno
muito altas, estão subindo a uma escala nunca vista, transformado num ativo de
especulação e negócio, ao nível de qualquer corporação de grande lucro.
Todas as distorções dos índices e o caráter fetichista da
crise, expressam por sua vez a sobrevivência irracional de um sistema, que não
faz mais que agonizar. Por trás da subida do índice S & P 500 acima dos 1700
pontos, está a criação de uma ou mais bolhas, prontas para estourar. E como se
tudo isso não bastasse, quem conseguiu o efeito de "pausa" na crise e
que o seu impacto não seja perceptível, não evita que fique pior a cada dia que
passa, estando a chegar ao fim de seu mandato. E, é suposto não ser possível renová-lo.
O 31 de janeiro de 2014, termina o segundo mandato Benjamin
Bernanke, presidente da Reserva Federal (FED), que assumiu o comando do navio
que se afundava desde 2006, depois de quase quatro décadas de condução Alan
Grenspan. Manobrou a embarcação avariada com grande habilidade e passará à
história como o criador dos Resgates, que instrumentalizou o QE 3, que até
agora conseguiu superar a lei da gravidade. As Corporações Multinacionais e os
defensores do Capitalismo o saudarão com distinções e consideram-no como o
melhor presidente do Federal Reserve da história.
Mas o ex-professor de Princeton, já não quer continuar mais.
Que mais poderiam pedir-lhe os capitalistas? Conseguiu que uma depressão não
aparecesse como tal. Ele conseguiu que a maior crise da História passasse
despercebida para biliões de pessoas. Conseguiu o modo de produção capitalista
continuasse a funcionar apesar de seu colapso. Alguém poderá culpá-lo?
Ben Bernanke vai dizer adeus a Obama, que terá de escolher o
seu sucessor entre vice-presidente do FED,Janet Yellen, o presidente do FED de
St. Louis, James Bullard, e o ex-secretário de Estado do Tesouro Larry Summers.
Mas o sucessor será confrontado com essa dura realidade: Ben Bernanke evitou
tudo o que podia da Lei da Gravidade, mas um dia isso chega ao fim. Não se pode
violar sempre.
Os Resgates são um tipo de crédito. Mas eles não são um crédito
normal, são bombas de crédito, monstruosas emissões de crédito. E o efeito que
o crédito provoca no capitalismo, já o conhecemos, o crédito desenvolve até ao
extremo, todas as contradições do capitalismo. Quer isto dizer, Bernanke conseguiu
que a depressão não apareça como tal, que passe despercebido para milhões e tudo
siga funcionando.
Mas ele não podia evitar que nestes sete anos, tivesse
havido o maior conjunto de revoluções e levantamentos populares, que se deu ao
longo de toda a história do capitalismo. Que toda essa economia se afunda de
forma coordenada e que milhões de pessoas começam a odiar a palavra capitalismo,
superando barreiras linguísticas, raciais e geográficas, como raramente se viu na
história. Poderíamos dizer, em termos de Física: Até agora os líderes do
capitalismo conseguiram que a maçã de Newton não tenha tocado no chão. Porem
estão a deparar-se com uma deformação do campo gravitacional do espaço-tempo, a
uma escala que nem mesmo o próprio Einstein poderia imaginar.
E quando a maçã atingir o solo, apertem os cintos, porque o
melhor ainda está por vir. O fim das Multinacionais dará o passo final para a
explosão das bolhas, que por sua vez farão detonar as maiores mudanças
políticas e sociais da história. Estas apenas estão a germinar e o que está
para vir, é a pesada herança daqueles que acreditavam que a história tinha
acabado, para agora se encontrarem frente a ela, mais viva e gloriosa do que
nunca.
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