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quarta-feira, 25 de maio de 2011

ABANDONO

Por:David Mourão Ferreira

Não sou propriamente um amante do fado
No entanto um dia destes, a propósito de um fado de Amália Rodrigues, com o título de “Abandono” de autoria de David Mourão Ferreira, foi-me chamada a atenção para o facto de ser a expressão acabada da forma como os autores conseguiam tripudiar a Censura, durante a ditadura salazarenta.
De facto a substância da letra refere um preso político, que afastado á força do seu amor, é cantado por esta, a saudade que dele sente, prisioneiro do forte de Peniche.
Ao recusar o aspecto panfletário de uma crueldade política, a poesia faz dela a forma mais expressiva de transmitir a emoção, de uma sensibilidade magoada.
LINDO!!!

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

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