Mensagem

Mensagem

segunda-feira, 1 de julho de 2013


SINFONIA Nº 1 DE DOMINGOS BOMTEMPO

CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) DE BEETHOVEN
Falámos ontem da obra de Stavisnky “A sagração da primavera” e vamos hoje dizer alguma coisa, sobre as restantes obras que segundo o jornal “Avante” constituem a parte da música erudita, do programa da Festa do Avante.
Entre as obras anunciadas, para serem igualmente apresentadas no palco 25 de Abril, está a SINFONIA Nº 1 DE DOMINGOS BOMTEMPO OP. 11 Interpretada pela ORQUESTRA ALGARVE, sob a DIRECÇÃO DE ALVARA CASSUTO.
A Domingos Bomtempo liga-me a memória da descoberta do seu talento, na minha adolescência, por influência de um professor muito querido, Gonçalves Simões, benemérito promotor da “Obra da criança” que se dedicava a ensinar música a jovens com dificuldades financeiras e que funcionava nos sótãos da velha Casa de Música Sasseti, então na esquina da rua do Carmo com as escadinhas de Santa Justa.
 Bem se esforçou esse querido professor para que eu aprendesse violino, dado que juntamente com o violoncelo, eram os únicos instrumentos que se podiam aprender naquela instituição,  mas como as minhas preferências iam todas para o piano, acabámos por desistir.
Restam-nos a memória da forma apaixonada como nos falava da música e dos seus autores e a particular afeição que tinha por Domingos Bomtempo.
Suspeito que a particular simpatia que ele nutria por Domingos Bomtempo, não assentava exclusivamente no seu reconhecido talento e no facto de ser português, mas também pelo seu pendor republicano.
É um facto historicamente reconhecido, que Domingos Bomtempo sempre considerou os valores da liberdade individual e da soberania da nação portuguesa acima de tudo. Esta características eram certamente sublimadas por ter vivido no tempo das invasões francesas e sofrer em França, onde viveu emigrado durante muito tempo, as consequências funestas de ser português, numa altura em que Napoleão já estava a ser derrotado pelas tropas anglo-portugueses (mais anglo que portuguesas!!!).
Já agora, porque é uma memória muito querida e porque exerceu grande influência, sobre a formação da consciência de muitos dos seus alunos, não resisto a relatar o clima que se vivia no Liceu Passos Manuel.
Era uma instituição tradicionalmente anti-fascista, embora também aí lecionassem alguns “fascistoides”, entre os quais José Hermano Saraiva, que foi meu professor um ano.. Outro expoente situacionista era o comandante de Bandeira da Mocidade portuguesa, Baltazar Rebelo de Sousa, pai de Marcelo Rebelo de Sousa.
Entre a corrente dos professores anti-fascistas, destacava-se particularmente o velho republicano Lopes de Oliveira, o “pai Lopes”, que se dizia ser primo do Salazar e se gabava de ter estado preso até 30 dias, mais de 30 vezes.
Este professor, que entre outras, tinha uma característica muito pitoresca; quando chegava ao capítulo da História adotada oficialmente em todos os liceus, de autoria do fascista António Matoso (julgo seja o pai do historiador e ex-frade José João Mattoso) onde se abordava o salazarismo, referia-se tradicionalmente a essa parte, que era designada no livro por “Apêndice”: “Bem agora vamos tratar do “pénis”.
Não resisto a contar um episódio que caracteriza a bondade e popularidade desse querido professor, grande amigo e companheiro do professor Gonçalves Simões. 
Sempre que a sua aula era a última do dia, uma multidão de alunos rodeando-o, descia com ele a rua do Liceu a caminho da Calçada do Combro, em amena algazarra.
Numa época em que o Fascismo simulava umas eleições, fazendo de Salazar o seu candidato, encheram as paredes de cartazes com o seu retrato, dizendo“VOTA SALAZAR”.
Lopes de Oliveira, rodeado de alunos, fazendo pilhéria sobre as eleições, lá ia escrevendo em cada cartaz que encontrava pelo caminho; “QUEM PAGA ESTES CARTAZES ???” e assinava LOPES DE OLIVEIRA, CONTRIBUINTE.
Sempre que terminava, uma assinatura,  despoletava-se uma grande surriada que era acompanhada de uma enorme salva de palmas, dos alunos que o acompanhavam. 
É claro que ao subir a a Calçada do Combro, onde havia um quartel da Guarda Nacional Republicana, quando o fez em frente ao quartel, foi levado lá para dentro e estivemos muito tempo sem aulas.

BEETHOVEN
CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) OP.73

Sobre o CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) OP.73 DE BEETHOVEN, só nos resta dizer que é o nosso concerto favorito
Para que ficasse como um dos momentos mais notáveis da nossa memória musical, até porque é na Festa do Avante, nada mais era preciso que em vez de ser interpretado por Pedro Burmester, que muito admiramos, fosse pelo nosso querido amigo Mário Laginha.
A nossa admiração pelo seu genial talento, não é um facciosismo desculpável e até compreensível, pela amizade que nos liga desde a sua infância e juventude, como amigo íntimo dos nossos filhos, quer na equipe nacional de ginástica desportiva de então, quer nos estudos musicais que se seguiram e que são hoje o modo de vida de todos eles.
Mário Laginha, para além do seu genial talento de pianista, como compositor tem o extraordinário condão de ter sido beneficiado pela natureza com o chamado “ouvido absoluto”, característica que só alguns raros privilegiados possuíram, tais como Beethoven, Chopin, Toscanini, Leonard Bernstein, etc., o que nos permite estar à vontade, quando o consideramos um dos maiores talentos musicais do nosso tempo.



Sem comentários: