SINFONIA Nº 1 DE DOMINGOS BOMTEMPO
CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) DE BEETHOVEN
Falámos ontem da obra de Stavisnky “A sagração da primavera”
e vamos hoje dizer alguma coisa, sobre as restantes obras que segundo o jornal “Avante”
constituem a parte da música erudita, do programa da Festa do Avante.
Entre as obras anunciadas, para serem igualmente
apresentadas no palco 25 de Abril, está a SINFONIA Nº 1 DE DOMINGOS BOMTEMPO
OP. 11 Interpretada pela ORQUESTRA ALGARVE, sob a DIRECÇÃO DE ALVARA CASSUTO.
A Domingos Bomtempo liga-me a memória da descoberta do seu
talento, na minha adolescência, por influência de um professor muito querido,
Gonçalves Simões, benemérito promotor da “Obra da criança” que se dedicava a ensinar
música a jovens com dificuldades financeiras e que funcionava nos sótãos da
velha Casa de Música Sasseti, então na esquina da rua do Carmo com as
escadinhas de Santa Justa.
Bem se esforçou esse
querido professor para que eu aprendesse violino, dado que juntamente com o violoncelo, eram os únicos instrumentos que se podiam aprender naquela instituição, mas como as minhas
preferências iam todas para o piano, acabámos por desistir.
Restam-nos a memória da forma apaixonada como nos falava da música e dos seus autores e a particular afeição que tinha por Domingos Bomtempo.
Suspeito que a particular simpatia que ele nutria por
Domingos Bomtempo, não assentava exclusivamente no seu reconhecido talento e no
facto de ser português, mas também pelo seu pendor republicano. Restam-nos a memória da forma apaixonada como nos falava da música e dos seus autores e a particular afeição que tinha por Domingos Bomtempo.
É um facto historicamente reconhecido, que Domingos Bomtempo
sempre considerou os valores da liberdade individual e da soberania da nação
portuguesa acima de tudo. Esta características eram certamente sublimadas por ter
vivido no tempo das invasões francesas e sofrer em França, onde viveu emigrado
durante muito tempo, as consequências funestas de ser português, numa altura em
que Napoleão já estava a ser derrotado pelas tropas anglo-portugueses (mais
anglo que portuguesas!!!).
Já agora, porque é uma memória muito querida e porque exerceu
grande influência, sobre a formação da consciência de muitos dos seus
alunos, não resisto a relatar o clima que se vivia no Liceu Passos Manuel.
Era uma instituição tradicionalmente anti-fascista, embora também
aí lecionassem alguns “fascistoides”, entre os quais José Hermano Saraiva, que
foi meu professor um ano.. Outro expoente situacionista era o comandante de
Bandeira da Mocidade portuguesa, Baltazar Rebelo de Sousa, pai de Marcelo Rebelo
de Sousa.
Entre a corrente dos
professores anti-fascistas, destacava-se particularmente o velho republicano
Lopes de Oliveira, o “pai Lopes”, que se dizia ser primo do Salazar e se gabava
de ter estado preso até 30 dias, mais de 30 vezes.
Este professor, que entre outras, tinha uma característica muito
pitoresca; quando chegava ao capítulo da História adotada oficialmente em todos
os liceus, de autoria do fascista António Matoso (julgo seja o pai do
historiador e ex-frade José João Mattoso) onde se abordava o salazarismo,
referia-se tradicionalmente a essa parte, que era designada no livro por “Apêndice”:
“Bem agora vamos tratar do “pénis”.
Não resisto a
contar um episódio que caracteriza a bondade e popularidade desse querido
professor, grande amigo e companheiro do professor Gonçalves Simões.
Sempre que
a sua aula era a última do dia, uma multidão de alunos rodeando-o, descia com
ele a rua do Liceu a caminho da Calçada do Combro, em amena algazarra.
Numa época em que o Fascismo simulava umas eleições, fazendo
de Salazar o seu candidato, encheram as paredes de cartazes com o seu retrato,
dizendo“VOTA SALAZAR”.
Lopes de Oliveira, rodeado de alunos, fazendo pilhéria sobre
as eleições, lá ia escrevendo em cada cartaz que encontrava pelo caminho; “QUEM
PAGA ESTES CARTAZES ???” e assinava LOPES DE OLIVEIRA, CONTRIBUINTE.
Sempre que terminava, uma assinatura, despoletava-se uma grande surriada que era acompanhada de uma enorme salva de palmas, dos alunos que o acompanhavam.
Sempre que terminava, uma assinatura, despoletava-se uma grande surriada que era acompanhada de uma enorme salva de palmas, dos alunos que o acompanhavam.
É claro que ao subir a a Calçada do Combro, onde havia um
quartel da Guarda Nacional Republicana, quando o fez em frente ao quartel, foi
levado lá para dentro e estivemos muito tempo sem aulas.
BEETHOVEN
CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) OP.73
Sobre o CONCERTO Nº 5 (IMPERADOR) OP.73 DE BEETHOVEN, só nos
resta dizer que é o nosso concerto favorito
Para que ficasse como um dos momentos mais notáveis da nossa
memória musical, até porque é na Festa do Avante, nada mais era preciso que em
vez de ser interpretado por Pedro Burmester, que muito admiramos, fosse pelo
nosso querido amigo Mário Laginha.
A nossa admiração pelo seu genial talento, não é um facciosismo
desculpável e até compreensível, pela amizade que nos liga desde a sua infância
e juventude, como amigo íntimo dos nossos filhos, quer na equipe nacional de
ginástica desportiva de então, quer nos estudos musicais que se seguiram e que
são hoje o modo de vida de todos eles.
Mário Laginha, para além do seu genial talento de pianista,
como compositor tem o extraordinário condão de ter sido beneficiado pela
natureza com o chamado “ouvido absoluto”, característica que só alguns raros privilegiados
possuíram, tais como Beethoven, Chopin, Toscanini, Leonard Bernstein, etc., o que
nos permite estar à vontade, quando o consideramos um dos maiores talentos
musicais do nosso tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário