UMA REVOLTA PRECISA-SE
A QUE PROPÓSITO TEREMOS DE
SUSTENTAR ESTES CRIMINOSOS???
No texto de Pacheco Pereira que se segue, algumas das
desonestidades descritas, já foram referidas neste Blogue.
No entanto, dado que esta descrição, funciona como uma
valorização estatística do rol de malfeitorias, achámos bem, para memória
futura, não deixar de acrescentar mais este “relambório” de crimes, principalmente
por denunciar as cumplicidades dos “self-governantes” que têm passado pelo
"des"governo e Assembleia da Republica.
Só
com os criminosos pobres é que não se pode comer à mesa
Não estou a dizer que tudo tenha sido igual, mas muita
coisa não sendo igual, nem em dimensão nem em consequências, é demasiado parecida
para que não se anotem as semelhanças. Há excepções, com tanto mais mérito
quanto escapam à regra, mas são excepções. O que tudo isto tem em comum é em
primeiro lugar a completa promiscuidade com o poder político. Os Espírito Santo
frequentavam os gabinetes de Sócrates, elogiaram-no até ao dia em que o
derrubaram, quando os seus interesses estavam em causa pela ameaça de
bancarrota. O dinheiro fluiu nos contratos swap, usados e abusados pela
governação socialista, e as PPPs contaram com considerável entusiasmo da banca
nacional e internacional. Compreende-se porquê, quando mais tarde se veio a
saber detalhes dos contratos leoninos que deixavam milhões e milhões para
pagamento num futuro que já era muito próximo. O actual governo mereceu também
da banca todos os elogios e retribuiu em espécie, impedindo que qualquer
legislação que diminuísse os lucros da banca passasse no parlamento, ou ficando
como penhor de bancos que em condições normais iriam à falência, mesmo numa
altura em que já era difícil alegar crise sistémica. O governo actual manteve
todas as práticas de co-governação com a banca e as instituições financeiras
que já vinham do governo anterior, consolidando um efeito perverso, que não é
apenas nacional, de permitir que os principais responsáveis pela crise dos
últimos anos tivessem sido seus beneficiários principais. Para além disso,
mantém uma transumância de lugares e funções com a banca tanto mais reforçada
quanto a sua relação com os “mercados” passava pela intermediação financeira
quer em Portugal, quer fora, e a desertificação das chefias da função pública
baseadas no mérito, atiradas para a rua pela demagogia do diminuir os “lugares
de chefia”, entregou áreas importantes do estado a consultoras
financeiras e à advocacia de negócios. Os incidentes com secretários de estado
que vinham da banca e do sistema financeiro e que se transmutavam da venda de
swaps para negociadores de swaps, mostraram essa promiscuidade. E as decisões
revelam como ninguém quer beliscar uma banca de onde veio, onde pode voltar a
ir. A decisão de não ir a tribunal em nenhum caso mais grave de acordos
leoninos quanto a PPPs e contratos swaps, foi um dos maiores presentes que o
actual governo ofereceu à banca. Os provados que usaram a justiça, ganharam em
toda a linha, o estado encolheu-se perdeu muito. As privatizações reforçaram
esta promiscuidade, favorecendo uma captura do estado pelos interesses
financeiros sem comparação com o passado. No passado, havia interesses
industriais, agrícolas, manufactureiros, comerciais que partilhavam com a banca
essa proximidade com o estado, o governo e os partidos do “arco da governação”.
Agora, mesmo sectores em que as operações financeiras são relevantes, como a
distribuição, não tem nem de perto nem de longe a promiscuidade com o poder
político que tem a banca e por isso podem com maior liberdade falar
criticamente. Outro aspecto crítico, também atirado para debaixo do tapete é o
papel de elite cleptocrática angolana que se exerceu também em Portugal através
de uma colaboração estreita com a banca portuguesa que não se importou de
contar malas de dinheiro trazidas meio às escondidas, meio com a complacência e
colaboração das autoridades portuguesas, e assim permitir uma penetração na
economia portuguesa, na comunicação social e na política. Outra das coisas que
se vão sabendo é como a gestão dos bancos se fazia como se o dinheiro que lá
estava fosse pertença dos seus donos, gestores, administradores e dos seus
amigos, ao mesmo tempo que uma ríspida prepotência e intransigência é a
norma de tratamento dos clientes e depositantes, a quem não se desculpa nada.
Os milhares de casas, carros, empresas, bens que foram consumidos nesta voragem
da “dívida”, que tornou famílias e pessoas solventes naquilo que nunca
imaginaram que iam ser, insolventes, oferece um contraste flagrante com a
prática reiterada de evasão e fuga fiscal dos mais ricos com dimensões muito
significativas. E é crime sem castigo, ou com leve castigo, porque não se
percebe como banqueiros envolvidos em evasão fiscal e manipulação de contas
(para usar o politicamente correto, porque se não fosse assim seriam
falsificações de contas, contabilidades paralelas, “esquecimentos” de declarar
ao fisco milhões de euros, uso quotidiano de off-shores para esconder operações
financeiras, etc., etc.) não são imediatamente impedidos de exercerem
actividades na banca, acto que depende dos reguladores, mesmo antes da justiça
se pronunciar sobre os eventuais crimes cometidos, se é que vai alguma vez
pronunciar-se. A completa desresponsabilização sobre a crise dos últimos anos,
desencadeada pelo sistema financeiro, mas de que no fim este veio a beneficiar,
marca moralmente como uma doença a sociedade da crise em que vivemos. O que
choca as pessoas comuns e é uma fonte enorme de descrença da democracia e de
sentimento de injustiça propício a todos os populismos, é que ninguém imagina
que um ministro, primeiro-ministro ou Presidente se fosse sentar à mesa com
alguém que tivesse desviado uns poucos milhares dos seus impostos ou tivesse um
restaurante, uma barbearia, ou uma oficina de automóveis em modo de “economia
paralela”, enquanto todos os viram nos últimos anos, em plena crise, conviver
agradecidos e obrigados com estes homens que aparecem agora nos jornais como se
tendo “esquecido” de declarar milhões de euros ao fisco ou estando à frente de
instituições bancárias que emprestaram a amigos e familiares muitos milhões de
que não se sabe o rastro, e tinham contabilidades paralelas. É por isto tudo
que não aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e da
classe média, por terem vivido “acima das suas posses”, mesmo quando não o
fizeram. E mesmo quando havia uma casa a mais, um carro a mais, um ecrã plano a
mais, um sofá a mais, um vestido ou um fato a mais, umas férias a mais, uma viagem
a mais, recuso-me a colocar estes “excessos” no mesmo plano moral dos “outros”.
Algum moralismo salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos
e dos de cima com os pequenos vícios dos de baixo e do meio, tem como objectivo
legitimar sempre a penalização punitiva de milhões para desculpar as dezenas. É
por isto que esta crise corrompe a sociedade e vai deixar muitas marcas, mesmo
quando ninguém se lembre de Portas e de Passos.
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