Mensagem

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quarta-feira, 4 de junho de 2014


      CUBA…É DE FACTO O MEU AMOR!!!     

Estamos a viver tempos de absoluta loucura, no que à realidade das coisas diz respeito.
O que era já pode não ser, a verdade pode ser interpretada de várias maneiras, a dignidade é uma palavra obsoleta, a razão depende... e manter a coerência só com grande esforço!!!!
Vem isto a propósito de uma carta de embaixadora (é mesmo assim que se diz!) de Cuba, que apanhada à má fila 10 minutos antes do programa “Sexta ás 9” do passado dia 30 de Maio, escreveu à responsável (julgo eu) do programa, a protestar pela indignidade com que Cuba e nomeadamente o seu povo foi tratado nesse programa e cujas consequências ainda estamos para ver.
O texto chegou-nos na língua espanhola original, mas dada a sua importância, resolvemos traduzi-lo para tornar mais acessível a compreensão do seu real conteúdo.
É um texto muito longo, mas certamente quando começar a lê-lo, vai ver que vale a pena, pela lição que representa, aos mais variados títulos.
Ainda pensámos dar destaque a cada frase mais impressiva escandalosa, ou dolorosa, mas resolvemos não o fazer para deixar ao critério de cada um, dar ás palavras da embaixadora, a importância que cada frase tem para cada qual.
No fundo consideramos que todo o texto é uma lição política, de dignidade, humanismo e solidariedade internacionalista e orgulho patriótico, com o qual nos identificamos totalmente.
Que assim o sinta você que me está a ler, são os nossos desejos. 

Carta da embaixadora de Cuba, Johana Tablada, a propósito da vergonhosa peça transmitida no passado dia 30 de Maio, no programa “Sexta às Nove”.

Para cadeia de televisão RTP1
Estimada Isabel Pereira Santos:
Peço-lhe que dê conhecimento ao Presidente da RTP 1, o texto da carta que lhe estou a escrever, depois de reflectir sobre o insólito programa que uma e outra vez se reproduz na RTP1, sem pudor, nem ligação com a verdade. Por puro milagre, pude expressar algumas opiniões nesse programa, pois só me avisaram minutos antes da entrevista e agora estou convencida de que estavam seguros, de que eu diria que não poderia fazer declarações, num prazo tão curto. Ainda assim, me alegro de tê-lo feito e novamente agradeço a oportunidade, embora considere que o programa já estava "montado”.
O programa é em grande parte uma fabricação e uma vergonha. Além de utilizar uma linguagem desrespeitosa e ofensiva para se referir ao meu país, ao meu povo e ao meu governo, sinto que fui usada e enganada para um programa deliberadamente destinado a reproduzir mentiras, que ignoram a essência do nosso sistema de saúde, da nossa sociedade, da nossa cooperação com Portugal e constitui uma enorme ingratidão perante a nossa contribuição para a saúde pública portuguesa e as principais verdades relativas a estes temas.
Eu não entendo como no caso de Cuba sempre se tem de procurar uma explicação política dos fenómenos econômicos, ignorando aspectos essenciais do contexto, forma e conteúdo.
Eu não entendo como podem atrever- se a falar de acordos secretos, quando se trata de documentos que toda a gente assinou e aceitou sem nenhuma coerção e com um claro benefício para todos os envolvidos, como deve ser em qualquer acto justo.
Considero inadequado e irresponsável afirmar uma e outra vez, sem escrúpulos, que os fundos que Portugal paga vão para “os cofres de Raul Castro ", ao referir-se a uma parte dos fundos que Portugal paga, pelo serviço dos médicos cubanos.
Estes fundos são utilizados para sustentar um dos melhores sistemas de saúde do mundo, que por coincidência preside actualmente por mérito próprio, à Assembleia Geral da OMS em Genebra, e dessa saúde beneficiam também, os médicos que trabalham em Portugal, seus familiares e milhares de pessoas que recebem a ajuda de um dos poucos países que " não oferece o que lhes sobra, mas comparte o que tem”".
Cuba é o país que formou 100 000 médicos, 40 mil dos quais, para ajudar o Terceiro Mundo.
O seu programa omite, que contrariamente a outros médicos estrangeiros que trabalham em Portugal, todos os médicos cubanos estudaram gratuitamente para se formarem em medicina.
Também omite, que essas pessoas receberam sem nenhum pagamento, cursos de formação na língua portuguesa e especialização para vir para aqui. Esquece o esforço de Cuba para procurar pessoal idóneo e do Ministério da Saúde de Portugal para entrevistá-los, examiná-los e trazê-los para cá. Ignora o fato fundamental de que a grande maioria dos cubanos que vieram trabalhar em Portugal cumpriu o seu contrato e regressaram a Cuba. Alguns, inclusivamente, voltaram a trabalhar em Portugal, na medicina privada, orgulhosos de terem contribuído para um convénio de Saúde, que beneficia população cubana e portuguesa.
Não entendo, como não conseguem compreender que muitas pessoas como nós e milhares de médicos cubanos, tenham outras motivações na vida, sem ser o dinheiro. Posso compreender que não compartilhem essa abordagem, mas creio que devem respeitar esta atitude, digna de elogio e não de ataque, por haver pessoas no mundo, que ainda apostam em trabalhar colectivamente, para alcançar o bem estar comum e não o de uns poucos. Cuba além disso, tem uma atitude digna e respeitosa para com Portugal.
Graças a essa maneira de estar, é que Cuba apresenta indicadores de desenvolvimento humano que estão entre os primeiros no Terceiro Mundo e com níveis de educação e saúde do primeiro mundo. Nenhuma das crianças que dormem nas ruas na América Latina é cubana, assim como nenhum dos que não têm casa, ou dos que morrem por doença ou fome.
No seu programa, até parecia que tudo se passa ao contrário e se atreveram a dizer que os nossos médicos passaram fome aqui. Isso é simplesmente mentira!
Não entendo como eles poderiam ignorar que existem 27 extensões de saúde em Portugal , na sua maioria velhinhos, que não teriam serviço de saúde se não fosse a presença dos médicos cubanos .
Não entendo como se atrevem a utilizar a suja palavra “escravidão” para falar sobre as pessoas que são livres em cada um dos seus actos cotidianos, como pode ser verificado na sua livre e plena integração na vida de Portugal, bem como a total irresponsabilidade e falta de ligação aos factos para se qualificar quem optou livremente para vir para Portugal e com a sua produção, ajudam aqueles que em Cuba cobrem a sua falta.
Peço-lhes que revejam no dicionário o significado da palavra escravidão e convidá-los a viajar a Cuba e a entrevistar a população e os médicos. Apesar de seus salários poderem ser aumentados, a qualidade de vida, os serviços que recebem, e as liberdades que desfrutam, são ainda um sonho para a maioria da população do planeta, cujos filhos vêm ao mundo sem ter nem metade do que é a garantido a um cubano ao nascer, apesar de ser um país agredido.
Não entendo como concordam que há médicos portugueses que cobram € 2000 aqui, podendo ganhar mais noutros países e vice- versa. A análise seria sempre diferente.
Não entendo, como em relação Cuba é mais fácil reproduzir sem questionar, a propaganda de um país que nos aplica o sistema de sanções mais sofisticado e abrangente que existe sobre a terra, só porque não queremos ter um regime neoliberal, como o que os Estados Unidos gostaria que tivéssemos aqui.  
Não entendo, como omitem o fato significativo de que os EUA tem um programa com fundos milionários para estimular a deserção dos nossos médicos em todo o mundo, com o único propósito de justificar uma política que ninguém apoia.
Enviamos-lhe o nome do programa que as embaixadas dos EUA no mundo inteiro aplicam, como ação de sabotagem, não só contra Cuba, mas contra a saúde pública de países da África, Ásia e América Latina. Neste caso, a sua cadeia de televisão, também é cúmplice dessas ações, que conspiram contra a saúde pública de Portugal.
Ontem cumpri 45 anos neste país que amo e respeito e é por isso que eu não quis utilizar o dia, para responder às calúnias e gostaria de compartilhar esta minha carta, com o presidente da cadeia de televisão.
Ao contrário do programa RTP, tive o privilégio de viajar em Janeiro e Fevereiro por mais de 20 cidades portuguesas e visitar 17 centros de saúde. O que eu vi e ouvi, nada tem a ver com a versão suja que reproduziu na RTP1.
Estou muito orgulhosa desses médicos que trabalham para ajudar suas famílias e também o seu país, conhecido e reconhecido internacionalmente pela sua solidariedade com o Terceiro Mundo e pela qualidade dos serviços que presta, fruto de uma formação acadêmica e ética que os distingue de muitos outros.
Essa atitude é vergonhosamente ignorada. Eu entrevistei também pacientes e colegas de trabalho, que os admiram pelo seu nobre trabalho.
Estranhamente, você pediu minha opinião no mesmo dia que tinha para me entrevistar, algo incomum para um programa tão elaborado e tão pouco documentado. Creio ser óbvio, que logicamente estaria à espera que eu lhe dissesse que não poderia dar-lhe uma entrevista, com uma antecedência de 10 minutos. Mas não foi assim que as coisas se passaram.
Entrevistou médicos espanhóis como se fossem cubanos, sem perguntar-lhes porque trabalhavam em Portugal e não no seu país.
Nunca nos solicitou apoio para entrevistar os cubanos e mentiu deliberada e abundantemente sobre as suas liberdades e as condições de estadia e circulação.
O Dr. José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos utiliza em vários momentos da entrevista a palavra " escravatura branca". Será que um médico profissional distinto como ele, não sabe o conceito da palavra escravidão? E se a submete em público, usando-a indiscriminadamente, pedimos-lhe que remeta ao muito famoso e prestigiado dicionário Larousse, a explicação do que é a escravidão e verá que não tem nada a ver com a situação de médicos cubanos .

ESCRAVIDÃO:

1 - ( SOCIOLOGIA ) Sistema social no qual algumas pessoas têm direitos de propriedade sobre outras.
2 - Situação da pessoa que pertence a um dono para quem trabalha e se encontra privado de todo o tipo de direitos.
3 – Dependência excessiva que uma pessoa tem de outra, ou de uma coisa, como por exemplo a escravidão das drogas.


 Processo de Seleção:
1 – Aos médicos cubanos, se lhes propõe sair e cumprir a missão médica no exterior, aceitando ou não com total liberdade de escolha.
2 – São lhes propostos os países onde podem ir, sendo livres de se candidatarem, tendo em conta os requisitos de cada país, como idioma, anos de experiência. Livre e espontaneamente decidem o país para onde querem ir.
3 – São lhes explicadas as condições de vida e trabalho, depois de conhecê-las, continuam o processo ou decidem não ir.
4 - Assinam um contrato antes de sair de Cuba, através do qual ficam estipuladas as condições de vida, horários de trabalho e a quantia que vão receber no país onde vão prestar serviço.
Remuneração:
Remuneração é o pagamento a uma pessoa por um trabalho ou um serviço. (dicionário Larousse).
Neste caso, valor a pagar para a alimentação e sustento no país onde prestem os seus serviços. O salário integral de médicos cubanos são respeitados e pagos mensalmente em nosso país, enquanto eles estão no exterior, incluindo o pagamento de férias.
Sabe o Dr. José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos e os dois médicos espanhóis sendo referido por um, que só falou com um médico cubano, não representativo, que em Cuba a saúde é gratuita, humana e de qualidade ????, sabe que a educação desde a infância até à universidade é gratuita e todos têm o mesmo direito a ela, independentemente da situação económica dos parentes????, sabem esses dois médicos espanhóis e o Bastonário que os nossos médicos que estão em Portugal e em outros países do mundo ou não pagaram os seus estudos ?????, sabem que não há impostos para as pessoas jurídicas no país ????, sabem que 82% das famílias são proprietárias das suas casas, pelo que não tem que pagá-las????, conhecem a realidade cubana, para questioná-la ou avaliá-lo com o parecer de uma só pessoa, que foi  sem dúvida, tergiversada pelos oradores e defensores dos médicos cubanos ????.
Pela minha parte, penso denunciar o programa, mas eu me senti obrigado a transmitir-lhe as minhas opiniões, pois pessoalmente me sinto por demais ofendida e acho que você e a sua equipa encontrou em mim uma pessoa sincera e e transparente. Para ser coerente com isso, começo por você para lhe expressar minhas opiniões.
Peço-lhe para cessar a produção para fins de propaganda deste programa de televisão, que é profissionalmente uma vergonha e politicamente, uma demonstração  de grande de ingratidão para com Cuba e os serviços médicos do meu país.
Na verdade, averigue quais foram as condições da primeira brigada que você afirma sem provas que só recebiam 300 euros por mês.
 Acontece que uma soma superior em moeda livremente conversível era depositado em bancos de Cuba em cada mês, a qual poderia ser desfrutada pela família em Cuba ou pelo médico a quando o seu regresso. Além desta quantia que é muito superior custo de vida e salários em Cuba, tem o seu salário integral.
Farei tudo o que está ao meu alcance para restabelecer a verdade de tudo isto e novamente expresso a minha insatisfação e indignação por este programa que parece ter sido feita nos estúdios da televisão Canal 41, em Miami.
Finalmente, posso garantir-vos que tenho recebido muitas mensagens de membros da nossa brigada médica, indignados com o tratamento RTP 1 lhes deu e também conheço médicos cubanos que depois de completarem as suas missões, voltaram a trabalhar em Portugal na medicina privada, porque aqui se pagar melhor do que em Cuba.
Quero dizer que todos estão unidos na gratidão a um sistema social que lhes permitiu, sem pagar nada, converterem-se nos profissionais que hoje são e você não vai encontrar muitos que possam apoiar essas calúnias, que tristemente uma vez ou outra como se fora a noticia do ano, a sua cadeia de televisão transmite, num gesto de ingratidão e vileza, como não havia conhecido desde que cheguei a este formoso país.
Em breve procurarei forma de fazer uma conferência de imprensa no sentido de restabelecer a verdade. Deixo às autoridades portuguesas a liberdade de explicar quais são as condições necessárias e úteis para a nossa presença.
É uma pena que você não tenha falado com os pacientes.
Agradeço a sua atenção, e peço-lhe por favor, que faça chegar as nossas palavras ao mais alto nível da sua cadeia de televisão.
Respeitosamente
Johana Tablada

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